domingo, 7 de dezembro de 2025

Concerto para púbis angelical. Realidade ou sonho de uma noite de verão em plena ditadura?

Ray Cunha sonhando. Óleo sobre tela, de Olivar Cunha – 1981 

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 7 DE DEZEMBRO DE 2025 – Bebericamos Mateus Rosé e mordiscamos queijo do reino, ouvindo Dámaso Pérez Prado, Patrícia. Depois ouvimos Akira Miyagawa, a Quinta Sinfonia de Beethoven e Mambo Número Cinco de Pérez Prado, seguido de April in Portugal, também chamada The Whisp'ring Serenade, conhecida no Brasil como o fado Coimbra, com música de Raul Ferrão e letra de José Galhardo, de 1947, um dos grandes sucessos da portuguesa Amália Rodrigues. A letra na versão inglesa foi escrita por Jimmy Kennedy. Aí, ouvimos Sirtaki, ou Zorba, o Grego, de Mikis Theodorakis, e, depois, Concerto de Aranjuez, para violão e orquestra, do compositor espanhol Joaquín Rodrigo, durante a qual Alessandra deixou o roupão deslizar pelo seu corpo. Já vi toda espécie de beldade, mas aquela superava tudo o que experimentei. Degusto a visão, os cabelos deslizando como cascata de fogo, lambendo-a até a cintura. Alessandra tem olhos verdes, enormes, nariz ligeiramente arrebitado, rosto oval e simétrico, e lábios grandes e carnudos. Os seios erguem-se volumosos, sem serem excessivos, firmes como colunas de mármore, lembrando pequenos vulcões, pois as auréolas dos mamilos são enormes e rosadas. O umbigo é uma pequena fenda na barriga de tábua e, o púbis, ruivo como o sol se pondo. Do púbis, deslizo o olhar ao longo das pernas de jambo maduro, até os graciosos pés, as unhas pintadas de rosa. Ela dá um giro de 180 graus. A cascata de fogo cobre-lhe parcialmente as costas e desce-lhe até as ancas de potra, como um triunfo do escultor renascentista Gian Lorenzo Bernini. Beijo-a na boca. Sinto-me cair, lentamente, em um abismo. Sinto-me em outro plano da vida, onde a sensação do tempo não existe. O espaço-tempo parou de existir e as sensações são mais sublimes do que as dos cinco sentidos. Visão, tato, olfato, audição, paladar e o sexto sentido se fundem em um só sentido, fluindo para algum lugar inexistente na expansão infinita do Universo. Sinto, como descreveu Ernest Hemingway em Por Quem os Sinos Dobram, um latejar da Terra no espaço, uma vibração apenas no início. Desço para os vulcões; ora sugando colostro de um, ora de outro, ávido como um bebê que já se sente senhor de si, que já sabe o caminho das pedras, ou dos seios. Então desço para o púbis. Alessandra geme baixinho. Sonha.

Crônica adaptada a partir de personagem dos romances ensaísticos O CLUBE DOS ONIPOTENTES e O OLHO DO TOURO

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