Por MARCELO LARROYED*
BRASÍLIA, 2014 – Conhecedor
da Amazônia profunda e ciente de que a tragédia do Trópico Úmido é a
mentalidade de colonizado da maioria dos amazônidas, o senador Fonteles, que lidera
nas pesquisas eleitorais, se tornou a esperança dos que querem tirar o Pará da
Idade Média, concorrendo ao governo contra o ex-governador Jarbas Barata, que governa
das sombras o estado. Porém, uma organização clandestina, a Confraria
Cabanagem, que luta pela democracia e o desenvolvimento do Pará, detecta uma
conspiração para assassinar o senador Fonteles, e convoca o único homem capaz
de deter o assassino: o ex-delegado de polícia e detetive particular Apolo
Brito, que mora em Brasília.
Some do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) um frasco com ínfima
porção de homobatracotoxina, o mortal veneno do Phyllobates terribilis, juntamente
com um muiraquitã, branco, de jadeíta, de 50 milímetros ,
pesando 42 gramas ,
de 2.500 anos, uma peça tapajônica sem preço. Em conversa com o assessor de
imprensa do museu, o jornalista Montezuma Cruz, Apolo Brito descobre indícios
de que estariam traficando água do rio Amazonas, e mergulha na chamada questão
amazônica, e em símbolos caros aos paraenses, como o Círio de Nossa Senhora de
Nazaré, o Ver-O-Peso, a Estação das Docas, o tacacá.
Neste romance ensaístico, personalidades vivas transitam
entre personagens de ficção, como é o caso do lendário jornalista paraense
Lúcio Flávio Pinto, um dos maiores intérpretes mundiais do enigma da Amazônia,
que se encontra com o fictício detetive Apolo Brito no restaurante Restô do
Parque, na ex-residência oficial dos governadores do Pará, na Avenida Magalhães
Barata 830, antiga Avenida Independência, no bairro de São Brás, palácio
erguido no início do século passado, em estilo eclético, em que predomina o
neoclássico, e elementos de art nouveau, e que, em 1998, passou a ser chamado de
Parque da Residência, onde moraram os dois mais ilustres governantes da história
recente do Grão-Pará: Lauro Sodré (1917-1921) e Magalhães Barata (1888-1959).
Outra personalidade que aparece neste romance ensaístico é o
coronel do Exército Gelio Fregapani, mentor da Doutrina Brasileira de Guerra na
Selva e fundador do Centro de Instrução de Guerra na Selva. Em entrevista à
coluna Enfoque Amazônico, do site ABC Politiko, Fregapani faz uma declaração polêmica: “O problema
crucial da Amazônia é que ainda não foi ocupada. Ledo engano é supor que a
região pertence de fato ao Brasil. Será, sim, do Brasil, quando for
desenvolvida por nós e devidamente guardada. Daí porque às potências
estrangeiras não interessa o desenvolvimento da Amazônia. Por enquanto, Estados
Unidos, Inglaterra e França, principalmente, lançam mão, com esse objetivo, da
grita ambientalista. Com a região intocada, matam dois coelhos com uma
cajadada: mantêm os cartéis agrícolas e de minerais e metais. Dois exemplos: a
soja da fronteira agrícola já ameaça a soja americana; e a exploração dos
fabulosos veios auríferos da Amazônia poriam em cheque as reservas similares
americanas e poderia mergulhar o gigante em recessão.
“O outro coelho é que, despovoada, inexplorada e
subdesenvolvida, não haverá grandes problemas para a ocupação militar da
região. Aliás, tudo já está preparado para isso. A reserva Ianomâmi – etnia
forjada pelos ingleses –, do tamanho de Portugal e na tríplice fronteira em
litígio Brasil, Venezuela e Guiana, é a maior e mais rica província mineral do
planeta. As Forças Armadas e a Polícia Federal não podem nela entrar, por força
de lei. Pois bem, já há manifestação na Organização das Nações Unidas (ONU) de
torná-la nação independente do Brasil, por força de armas, se necessário”.
Eis a trama do novo romance de Ray Cunha, A CONFRARIA CABANAGEM, lançado agora em setembro, pelo Clube de Autores e pela Amazon.com. Como romance ensaístico, a questão amazônica permeia
a trama político-policial deste thriller de tirar o fôlego, com ação intensa que
lembra outros trabalhos do escritor nascido em Macapá, na Amazônia Caribenha, e
residente em Brasília, como, por exemplo, os romances A CASA AMARELA e HIENA, e
os contos INFERNO VERDE, NA BOCA DO JACARÉ-AÇU, A CAÇA e A GRANDE FARRA.
*MARCELO LARROYED
é escritor, mestre em Teoria Literária pela UnB