quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Thriller de Ray Cunha mistura realidade e ficção



BRASÍLIA, 2014 – Conhecedor da Amazônia profunda e ciente de que a tragédia do Trópico Úmido é a mentalidade de colonizado da maioria dos amazônidas, o senador Fonteles, que lidera nas pesquisas eleitorais, se tornou a esperança dos que querem tirar o Pará da Idade Média, concorrendo ao governo contra o ex-governador Jarbas Barata, que governa das sombras o estado. Porém, uma organização clandestina, a Confraria Cabanagem, que luta pela democracia e o desenvolvimento do Pará, detecta uma conspiração para assassinar o senador Fonteles, e convoca o único homem capaz de deter o assassino: o ex-delegado de polícia e detetive particular Apolo Brito, que mora em Brasília.

Some do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) um frasco com ínfima porção de homobatracotoxina, o mortal veneno do Phyllobates terribilis, juntamente com um muiraquitã, branco, de jadeíta, de 50 milímetros, pesando 42 gramas, de 2.500 anos, uma peça tapajônica sem preço. Em conversa com o assessor de imprensa do museu, o jornalista Montezuma Cruz, Apolo Brito descobre indícios de que estariam traficando água do rio Amazonas, e mergulha na chamada questão amazônica, e em símbolos caros aos paraenses, como o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, o Ver-O-Peso, a Estação das Docas, o tacacá.

Neste romance ensaístico, personalidades vivas transitam entre personagens de ficção, como é o caso do lendário jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, um dos maiores intérpretes mundiais do enigma da Amazônia, que se encontra com o fictício detetive Apolo Brito no restaurante Restô do Parque, na ex-residência oficial dos governadores do Pará, na Avenida Magalhães Barata 830, antiga Avenida Independência, no bairro de São Brás, palácio erguido no início do século passado, em estilo eclético, em que predomina o neoclássico, e elementos de art nouveau, e que, em 1998, passou a ser chamado de Parque da Residência, onde moraram os dois mais ilustres governantes da história recente do Grão-Pará: Lauro Sodré (1917-1921) e Magalhães Barata (1888-1959).

Outra personalidade que aparece neste romance ensaístico é o coronel do Exército Gelio Fregapani, mentor da Doutrina Brasileira de Guerra na Selva e fundador do Centro de Instrução de Guerra na Selva. Em entrevista à coluna Enfoque Amazônico, do site ABC Politiko, Fregapani  faz uma declaração polêmica: “O problema crucial da Amazônia é que ainda não foi ocupada. Ledo engano é supor que a região pertence de fato ao Brasil. Será, sim, do Brasil, quando for desenvolvida por nós e devidamente guardada. Daí porque às potências estrangeiras não interessa o desenvolvimento da Amazônia. Por enquanto, Estados Unidos, Inglaterra e França, principalmente, lançam mão, com esse objetivo, da grita ambientalista. Com a região intocada, matam dois coelhos com uma cajadada: mantêm os cartéis agrícolas e de minerais e metais. Dois exemplos: a soja da fronteira agrícola já ameaça a soja americana; e a exploração dos fabulosos veios auríferos da Amazônia poriam em cheque as reservas similares americanas e poderia mergulhar o gigante em recessão.

“O outro coelho é que, despovoada, inexplorada e subdesenvolvida, não haverá grandes problemas para a ocupação militar da região. Aliás, tudo já está preparado para isso. A reserva Ianomâmi – etnia forjada pelos ingleses –, do tamanho de Portugal e na tríplice fronteira em litígio Brasil, Venezuela e Guiana, é a maior e mais rica província mineral do planeta. As Forças Armadas e a Polícia Federal não podem nela entrar, por força de lei. Pois bem, já há manifestação na Organização das Nações Unidas (ONU) de torná-la nação independente do Brasil, por força de armas, se necessário”.

Eis a trama do novo romance de Ray Cunha, A CONFRARIA CABANAGEM, lançado agora em setembro, pelo Clube de Autores e pela Amazon.com. Como romance ensaístico, a questão amazônica permeia a trama político-policial deste thriller de tirar o fôlego, com ação intensa que lembra outros trabalhos do escritor nascido em Macapá, na Amazônia Caribenha, e residente em Brasília, como, por exemplo, os romances A CASA AMARELA e HIENA, e os contos INFERNO VERDE, NA BOCA DO JACARÉ-AÇU, A CAÇA e A GRANDE FARRA.

*MARCELO LARROYED é escritor, mestre em Teoria Literária pela UnB