RAY CUNHA
O coração das trevas, obra-prima de Joseph Conrad, é um pequeno
romance, de pouco mais de 150 páginas, “o mais intenso de todos os relatos que
a imaginação humana jamais concebeu”, disse o labiríntico Jorge Luís Borges. A
ação se passa no Congo, África, no século 19. Francis Ford Coppola o transpôs
para os revolucionários meados do século 20, para a guerra do Vietnã, no
clássico dos clássicos dos filmes de guerra, Apocaypse Now. O Coração das
Trevas cai, como luva, à Amazônia. Como golpe de navalha seccionando tecido
humano, obsceno como ataque de hienas, a face obscura da Amazônia, o Inferno
Verde, o latejar da escuridão, espasmos da alma amazônida, a loucura e o
malogro da civilização colonialista.
De repente, o mundo se volta,
raivoso, para a Amazônia, como lobo em pele de cordeiro, pele surrada, a lã
bastante suja, repetindo que quer o bem da Amazônia, mas, que, na verdade, quer
seus bens. A Amazônia, o mais belo realismo fantástico da Terra, a mais rica
província mineral do mundo, a maior diversidade biológica do planeta, é
saqueada desde o século XVI. Potências europeias, americanos, o Foro de São
Paulo, todos têm repasto garantido na Amazônia. É assim que o subcontinente vem
sendo assaltado, estuprado, currado, desde sempre.
Mas, verdade seja dita, o
incêndio mais infame que ocorre na floresta dissemina-se na mente dos próprios amazônidas:
a mentalidade de colonizado, o curvar-se a políticos e empresários corruptos. Essa
é a corrupção mais crônica na colônia, causa e perpetuação de uma das nódoas
mais negras da humanidade: a escravidão sexual de crianças. Nos dias de hoje,
leva-se, de lá, a floresta, energia hidrelétrica, minérios, pedras preciosas,
animais, mulheres e crianças. A Amazônia é um dos locais onde mais se escraviza
hoje no mundo. A Interpol francesa calcula que a rede internacional de tráfico
de pessoas movimenta cerca de US$ 9 bilhões por ano.
Um caso que aconteceu em novembro
de 2007, em Abaetetuba, cidade no quintal de Belém, constitui-se uma metáfora
da Amazônia. Delegados da Polícia Civil do Pará, com a conivência de gente do
Judiciário, atiraram uma menina a dezenas de criminosos na cadeia da cidade.
Essa criança foi currada, dia após dia, durante um mês. Assassinos,
estupradores, espancadores de mulheres e crianças, ladrões, arrombadores,
batedores de bolsa de velhinhas, psicopatas, drogados, caíram em cima da
garotinha como hienas, e os policiais, ali perto, ouvindo e vendo tudo.
Os berros de terror eram ouvidos
pelos delegados e pelos moradores da cidade, já que a delegacia era um prédio
velho praticamente aberto para a rua, e ninguém moveu uma palha pela menina.
“Minha filha tinha cabelos lindos e encaracolados que iam até o meio das
costas” – disse a mãe da jovem. “Cortaram o cabelo dela com um terçado (facão)
para disfarçar que se tratava de uma menina. Cortaram é modo de dizer,
escalpelaram a minha filha.” O tempo todo, L ficou com as roupas que usava ao
ser presa, uma saia curta e blusinha, cobrindo seios adolescentes. Ela media
1,40 metro. “Aqui, no Pará, colocar homem e mulher na mesma cela é mais comum
do que se imagina” – disse, na época, frei Flávio Giovenale, bispo de
Abaetetuba. Há caso de atirarem uma mulher a 70 presos.
“Era um show isso daqui. Todo
mundo sabia que a menina estava lá no meio daqueles homens todos, mas ninguém
falava nada” – disse uma mulher na delegacia a jornalistas. “Antes de comer, os
presos se serviam dela” – afirmou outra mulher, explicando que a menina só
comia se não dificultasse a curra. “Ela gritava e pedia comida para quem
passava, chamava a atenção para si, e, como ela era conhecida por aqui, não
dava para ignorar” – afirmou outra mulher, explicando que era possível ver e
ouvir da rua muito do que se passava na delegacia.
Seis delegados estiveram na
delegacia durante o suplício da jovem. A delegada plantonista responsável pelo
flagrante foi Flávia Verônica Monteiro e o delegado titular de Polícia de
Abaetetuba, Celso Viana. “Embora ela estivesse misturada com os homens, o setor
onde ela estava é aberto e permite uma ampla visão de qualquer policial” –
declarou o delegado Celso Viana. Flávia Verônica Pereira e três policiais
tinham conhecimento dos estupros. Nada fizeram. E policiais ameaçaram a menina
de morte se não participasse de fraude em cartório para lhe alterar a idade na
certidão de nascimento.
O delegado Celso Viana alegou em
depoimento que a adolescente disse ser maior de idade e afirmou que a
responsabilidade da prisão da menor seria do sistema penal, e a delegada Flávia
Verônica Monteiro afirmou que foi enganada ao ver o documento falso da jovem,
indicando que ela tinha 20 anos. Flávia disse ainda que não transferiu a
adolescente da delegacia para outra instituição porque esse procedimento só
poderia ser feito com ordem judicial.
Em 27 de novembro de 2007,
durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, o
então delegado-geral do estado do Pará, Raimundo Benassuly Maués Júnior,
insinuou que a jovem é que foi responsável pelo episódio e que devia ter
“alguma debilidade mental” por não ter dito que era menor de idade. “Não sou
médico legista nem tenho formação na área, mas essa moça tem certamente algum
problema, alguma debilidade mental. Ela, em nenhum momento, declarou sua
menoridade penal” – afirmou o gênio.
No dia 3 de outubro de 2013, leio
na mídia que a juíza Clarice Maria de Andrade Rocha, que atuava em Abaetetuba
quando a adolescente esteve presa, fora promovida, um dia antes, pelo Tribunal
de Justiça do Pará, a titular da Vara de Crimes contra Crianças e Adolescentes
de Belém. Segundo portaria da desembargadora Luzia Nadja Guimarães Nascimento,
o critério para a promoção de Clarice foi por merecimento.
Clarice Maria de Andrade foi
considerada omissa pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) durante o período em
que a jovem paraense foi supliciada, e recebeu a punição de aposentadoria
compulsória, em 2010. Mas a Associação dos Magistrados do Pará (Amepa) recorreu
da decisão e a aposentadoria foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
que entendeu que a punição foi exagerada, já que a magistrada não teria como
saber da situação da carceragem da delegacia de Abaetetuba.
O fato é que quando o caso
estourou na mídia, em novembro de 2007, a então governadora do Pará, a petista
Ana Júlia Carepa, tratou-o com habitual alienação, e tudo mergulhou no
esquecimento. Aliás, crianças são emblemáticas na tragédia da Amazônia.
Em 1979, fiz, para o antigo
mensário Varadouro, em Rio Branco,
extremo oeste da Hileia, reportagem sobre o tráfico de meninas pela BR-364,
espinha dorsal do Acre, ligando o estado ao resto do país. Frequentei boates e
bares, pontos de encontro de caminhoneiros, entrevistei prostitutas e
rodoviários, e pesquisei em registros policiais, concluindo que parte dessas
meninas que sumiam em Rio Branco era atirada em prostíbulos de Porto Velho,
Manaus e Goiânia. Outras, simplesmente fugiam da miséria. Quarenta anos depois
a situação piorou, e muito. A tragédia, que afeta toda a Amazônia, foi ampliado
em escala assustadora.
Foram identificadas 76 rotas de
tráfico de mulheres, crianças e adolescentes na Amazônia, segundo a Pesquisa
sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins Sexuais,
coordenada pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e
Adolescentes (Cecria) e pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da
Exploração Sexual, do Congresso Nacional.
Nesse comércio negro, assim como
ocorre com políticos corruptos, a imunidade, digo, impunidade, é garantida. O
holandês Kunathi, um dos maiores traficantes de pessoas, em atividade na
Amazônia, já foi preso em flagrante no Pará, mas a Justiça o soltou para
responder ao processo em liberdade. Não deu outra, Kunathi fugiu para o
Suriname, antiga Guiana Holandesa, onde é dono de boate na qual só trabalham
brasileiras, muitas delas do Pará e do Amapá.
Em 2006, adolescentes de
Altamira, no Pará, que caíram nas garras de uma quadrilha de exploração sexual
e a denunciaram, foram ameaçadas de morte se falassem na Justiça. A polícia
paraense, despreparada, não pôde dar segurança às vítimas e só conseguiu provas
contra três dos 15 acusados. A ação da quadrilha envolvia inclusive um político
e empresários. “É uma rede complexa de exploração sexual, com várias vítimas e
vários adultos envolvidos; é preciso que haja vontade política para que se
chegue aos outros envolvidos” – disse, à época, Ana Lins, advogada da Sociedade
Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH).
Em março daquele ano, a polícia
de Altamira localizou várias adolescentes, algumas dadas como desaparecidas por
suas famílias, em uma chácara, onde eram embebedadas e servidas em banquetes
sexuais fotografados. As fotos eram divulgadas na internet. As orgias ocorriam
também em motéis da cidade e em imóveis de um dos acusados, além de chácaras e
balneários no município, onde as bacanais duravam dias.
Ameaçadas de morte, vítimas, suas
famílias e testemunhas, desdisseram nos depoimentos à Justiça as declarações
prestadas no inquérito policial. Uma das vítimas contou que foi ameaçada na
porta da escola onde estuda, e sua família recebeu bilhetes com ameaças de
morte. A jornalista Iolanda Lopes, que denunciou a quadrilha em várias
reportagens, disse que recebeu três telefonemas ameaçadores.
As adolescentes foram, ainda,
humilhadas na Câmara de Altamira, onde tiveram seus nomes divulgados durante
sessão plenária. “A vergonha, a humilhação, o sentimento de desesperança e a
depressão são alguns sintomas encontrados em várias das vítimas desse tipo de
crime” – comentou a advogada Ana Lins. “A revitimização é o calvário de ter que
reviver os momentos do crime ao ter que relatá-los várias vezes. Esse calvário
vai desde não ser atendida dignamente na delegacia, às vezes esperando horas e
horas, até conseguir registrar a ocorrência policial, a realização de exames
periciais sem a devida humanização do servidor responsável, até ver os algozes
soltos livremente e voltando a delinquir em alguns casos.”
Em janeiro de 2005, o Jornal
Nacional, da TV Globo, publicou uma série de reportagens intitulada Povos das Águas, na qual focalizou o
trânsito de balsas em Breves, na ilha do Marajó, Pará. Nessas balsas, na cabine
de carros, crianças marajoaras serviam de repasto sexual durante o cruzamento
do rio. De um modo geral, os municípios marajoaras são miseráveis, apesar da
natureza pujante da maior ilha flúvio-marítima do mundo. O Marajó, uma das mais
belas regiões do planeta, é do tamanho da Suíça. A ilha é banhada pelos rios
Amazonas e Pará e pelo Oceano Atlântico.
O comércio de crianças amapaenses
e paraenses é intenso na Guiana Francesa e no Suriname, ao norte do Amapá,
principalmente em cidades como Kourou, onde fica a base francesa de lançamento
de satélites; o balneário de Montjoly e Saint Laurent. Meninas e meninos
amapaenses e paraenses são bastante apreciados para bacanais, corrompidos por
promessas de casamento com franceses ou pela possibilidade de ir para a Europa,
onde imaginam que possam ganhar até 100 euros, cerca de R$ 500, por programa,
escapando, assim, da miséria.
Dos 200 mil habitantes da Guiana
Francesa, 50 mil são brasileiros ilegais, amapaenses em sua maioria, que fogem
do Amapá, estado assolado pela miséria social, roubalheira de colarinho branco,
nepotismo, corrupção endêmica e imigração insuportável. A capital, Macapá, é
reflexo do desleixo administrativo. Cidade sem esgoto, cheia de ruas
esburacadas, com fornecimento precário de energia elétrica e água encanada,
apesar de se situar na margem do maior rio do mundo, o Amazonas, a cada dia
fica mais inchada e violenta.
Próximo de Caiena, a capital da
colônia francesa na Amazônia, localiza-se a cidade amapaense de Oiapoque. Antes
de as meninas seguirem para as três Guianas, passam, geralmente, por um estágio
em Oiapoque. Boates locais são internatos de meninas e meninos para o abate.
Assim, guianenses que atravessam
o rio Oiapoque atraídos por sexo são recebidos na cidade de braços abertos –
inúmeros bares nos quais o lenocínio prospera, de manhã à noite, açougues onde
é possível comprar crianças de, em média, 13 anos. No Amapá, cidades como
Laranjal do Jari, Tartarugalzinho, Calçoene e Santana, esta, na zona
metropolitana de Macapá, são, como Oiapoque, vitrines de carne infantil. O
jornal O Liberal, de Belém, o mais
influente da Amazônia, contém, no seu banco de dados, várias reportagens que
confirmam o que eu estou dizendo, com nomes, lugares e datas.
SEREIAS – Madrugada de 16 de setembro de 2004, marina da Ponta
Negra, Manaus, Amazonas. A bordo do iate Amazonian,
de 25 metros de comprimento, 15 políticos e empresários de Brasília e de São
Paulo aguardam um carregamento para zarpar rio Negro acima, aparentemente para
uma pescaria em Barcelos, a 450 quilômetros da capital amazonense, em passeio
organizado pelo dentista paulista Flávio Talmelli. Era o terceiro ano que o
alegre grupo de políticos e empresários candango-paulistas se reunia.
Finalmente o carregamento chega.
São sereias servidas antes mesmo da pescaria: 17 meninas, a maioria delas
menor, aliciadas em casas noturnas de Manaus. O programa de dois dias e duas
noites renderia R$ 400 a cada uma, fora gorjetas. As garotas foram conduzidas
ao iate pela cafetina Dilcilane de Albuquerque Amorim, conhecida como Dil, então
com 33 anos, e que ganharia R$ 100 por garota.
Domingo 19. As meninas se
dividiram em dois grupos para o retorno a Manaus. O Amazonian, com os políticos e empresários, seguiu rio Negro acima,
com destino a um hotel na selva. Doze meninas retornaram a Manaus. No fim do
dia, as cinco meninas restantes retornaram também, no barco Princesa Laura. O barco naufragou
naquele mesmo domingo, entre Manaus e Barcelos, com 100 passageiros. Morreram
13 pessoas, entre as quais as cinco garotas que participaram da orgia: Amanda
Ferreira Silva, 20 anos; Marlene Cristina dos Santos Reis, 19; Suzie Nogueira
Araújo, 18; Taiane Barros, 17; Hingridy Florêncio Viana, 16.
Dois dias antes do acidente,
alguns pais queixaram-se à polícia sobre o desaparecimento de suas filhas.
Agentes da Delegacia Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao
Adolescente de Manaus (Deapca) descobriram que as meninas mortas haviam
participado de uma bacanal e eram as mesmas que estavam sendo procuradas pelos
pais. Depois, localizaram algumas meninas que retornaram a Manaus, do Amazonian. Descobriu-se, então, que três
homens que estavam no Amazonian
deixaram a embarcação em Barcelos e, dia 23 de setembro, retornaram a Manaus,
em avião da Apuí Táxi Aéreo.
Foi aí que identificaram o então
presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputado distrital
Benício Tavares da Cunha Melo, do PMDB, que adotou o nome Benício Mello
(prenome e último sobrenome); Randal Mendes (Sérgio Randal), cunhado de Benício
Tavares e então chefe de gabinete da presidência da Câmara Legislativa do DF; e
o advogado brasiliense Marco Antônio Attié.
Uma das menores ouvidas pela
polícia disse que Benício Tavares manteve relações sexuais com pelo menos duas
menores, uma das quais Taiane Barros, 17 anos, mãe de um bebê de sete meses, e
que morreu afogada no Princesa Laura.
Outra garota afirmou, em depoimento à polícia, que manteve relações sexuais com
Benício, que teria pago R$ 500 a ela. Uma menor disse que Benício lhe ofereceu
R$ 500 para manterem relações sexuais, mas ela recusou. Seis das moças que
estiveram a bordo do Amazonian
garantem que Benício chegou a pagar valores entre R$ 200 e R$ 1 mil para
manterem relações sexuais com ele, inclusive com as menores de idade.
Das 17 meninas contratadas para a
bacanal seis afirmaram, em depoimento à delegada Maria das Graças Silva,
titular da Delegacia Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao
Adolescente, que Benício Tavares esteve no iate nos dias 17, 18 e 19 de setembro,
e que manteve relações sexuais com várias garotas, entre as quais pelo menos
duas menores. A delegada garante que coletou elementos suficientes para provar
a participação de Benício Tavares em turismo sexual. Maria das Graças Silva
mostrou, dia 27 de setembro, fotografias de Benício Tavares a três meninas que
participaram da orgia. Elas identificaram imediatamente o parlamentar,
paraplégico.
Três meninas ouvidas pela polícia
garantem que no iate Amazonian havia
bebida alcoólica e drogas, e que foram realizados desfiles de garotas nuas e
sorteio de brindes aos participantes. Em depoimento à polícia, a cafetina Dil
declarou que a bacanal foi contratada pelo dentista paulista Flávio Talmelli.
“Ele disse que o passeio seria muito divertido e que todas as despesas, desde
hospedagem a alimentação, seriam pagas por seus amigos. Somente convidei
algumas amigas” – defendeu-se Dil. As garotas disseram à polícia que foram
enganadas por Dil. O combinado é que receberiam R$ 400, mais gorjetas, mas, a
bordo, receberam somente R$ 200.
Em nota oficial, divulgada no dia
27 de setembro de 2004, Benício Tavares confirmou a viagem a Manaus, de 16 a 22
de setembro, para pescar no rio Negro, hobby até então insuspeito. Confirmou
também o voo Barcelos-Manaus. Negou relacionamentos sexuais com garotas menores
de idade. Para fazer a viagem turística, Benício se licenciou da presidência da
Câmara por 10 dias, embora a casa estivesse votando uma pilha de matérias e sua
presença fosse importante. Foi confirmada também a presença, no iate, do chefe
de gabinete da presidência da Câmara, Randal Mendes, cunhado de Benício
Tavares, e do advogado brasiliense Marco Antônio Attié.
Em 2004, em Brasília, o plenário
da Câmara Legislativa do Distrito Federal fechou os olhos e arquivou processo
contra o então deputado Benício Tavares (PMDB), que respondia na Justiça por
turismo sexual no estado do Amazonas. Benício foi liberado por 14 votos
favoráveis e 10 abstenções. Em 2007, o então governador de Brasília, José
Roberto Arruda, deu a Benício Tavares a Administração Regional de Ceilândia, o
maior colégio eleitoral da cidade-estado. O povo se revoltou, pois, além da
acusação de corruptor de menor, Benício Tavares era acusado de desvio de
dinheiro. Arruda teve de tirá-lo do cargo. Em 2009, o Conselho Especial do
Tribunal de Justiça do DF (TJDF) instaurou processo penal contra Benício, em
ação movida pelo Ministério Público, e o absolveu. Benício Tavares foi reeleito
deputado distrital.
Em 2010, o governador José
Roberto Arruda foi preso, acusado de comandar um esquema de corrupção. Em
novembro de 2011, Benício Tavares perdeu o mandato de distrital no exercício da
sexta legislatura, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que
considerou, por unanimidade, que o deputado coagiu eleitores e praticou abuso
de poder econômico.
Como se vê, não se vai à Amazônia
apenas por energia hidrelétrica, minerais e madeira.