domingo, 31 de dezembro de 2023

O triunfo do agora

Eu, em Alagoas, em fevereiro de 2023. 2024 oferece mais

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 31 DE DEZEMBRO DE 2023 – Este ano de 2023 teve a duração de 24 horas na minha cabeça. A questão política está por conta dos profissionais. É briga de tiranossauro e sou apenas escritor. E jornalista, como todo mundo. Hoje, os jornalistas das redes sociais têm mais credibilidade do que os da velha imprensa, que só noticiam mentiras. 

Foi um ano muito intenso. A intensidade é o triunfo do agora. Terminei um romance, um thriller histórico ambientado no Rio de Janeiro, desde quando a Baía de Guanabara era habitada por tupinambás. Os primeiros cariocas eram mamelucos. Não vou dizer agora o título do romance, mas ele será publicado no próximo ano. E já comecei outro romance, continuação de O CLUBE DOS ONIPOTENTES (Clube de Autores e amazon.com.br). 

Publiquei, este ano, em Macapá/AP, o romance JAMBU (Clube de Autores e amazon.com.br), que será lançado também no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 2024. Também no próximo ano publicarei um livro de contos reunindo a trilogia A GRANDE FARRA, TRÓPICO ÚMIDO – TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS e NA BOCA DO JACARÉ (amazon.com.br). 

Em Brasília, onde moro, alguns jornalistas, entre os quais, eu, liderados pelo jornalista e pioneiro Wílon Wander Lopes, estão trabalhando para a criação da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo do Distrito Federal (Abrajet/DF).

Nossa pauta, aqui, é grande. Além de escrevermos sobre turismo no DF, especialmente turismo histórico, há também pautas nacionais que terão o protagonismo da Abrajet/DF, devido à nossa proximidade com o Congresso Nacional. Por exemplo: a regularização dos cassinos. E há também as embaixadas. 

Como terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa, 2023 foi muito produtivo. Integro duas equipes de terapeutas em trabalho voluntário, no Ambulatório Fernando Hessen, coordenado pelo professor Ricardo André, no Centro Comunitário da Candangolândia, aos sábados de manhã, e no Centro Espírita André Luiz, coordenado pelo professor José Marcelo, no Guará I, aos domingos de manhã. Em ambos, foram realizados cerca de 3 mil atendimentos ao longo do ano. 

Das trilhas que crio nas minhas caminhadas, uma é atravessar o Parque da Cidade e fazer novas descobertas. As cidades são como as mulheres: por mais que as conheçamos, escondem, sempre, mistérios. Descobrir uma nova cafeteria, um sebo, a visão de novo ângulo de uma velha rua, um local frequentado por velhos amigos, tudo é uma aventura.

No próximo ano, voarei de asa delta, como sempre, do Monte Roraima até Copacabana, e almoçarei no Belém Belém Amazônia. E ouvirei, como sempre, o som redentor das madrugadas, observando personagens de ficção caminhando sobre suas próprias pernas. Mas o melhor de tudo é, o tempo todo, mergulhar para cima, o triunfo do azul. O Éter. O acordar do espírito. O voo da luz.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Belém é Joelma, tacacá, jambu. A porta de entrada da Amazônia precisa de um prefeito

Mercado do Vero-O-Peso, em Belém do Pará: porta de
entrada da Amazônia (óleo sobre tela de Olivar Cunha)

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 30 DE DEZEMBRO DE 2023 – Um dos artistas que mais divulgam o Pará é Joelma, 20 milhões de álbuns vendidos. Nascida em 22 de junho de 1974, em Almeirim, município do Pará que faz divisa com o Amapá e é banhado pelo Rio Amazonas, Joelma é cantora, dançarina, coreógrafa, compositora e empresária. Canta calipso, merengue, cúmbia, zouk, lambada, carimbó e brega. No palco, é uma pororoca. Ela aparece no meu romance HIENA (Clube de Autores e amazon.com.br).

Em 2016, a cantora lançou o álbum Joelma, com uma composição que estourou: Voando pro Pará, composta por Chrystian Lima, Isac Maraial, Nilk Oliveira e Valter Serraria. A letra cita um dos maiores ícones da Amazônia: o mercado e feira do Ver-O-Peso, além da Estação das Docas e o Mangal das Garças. E tacacá, pupunha e açaí. 

Tacacá, pupunha e açaí estão presentes no meu romance JAMBU (Clube de Autores e amazon.com.br, 190 páginas), lançado este ano em Macapá/AP e, no próximo, será lançado no Rio de Janeiro. O tacacá é a iguaria mais representativa da Amazônia. Segundo o antropólogo Luís da Câmara Cascudo, deriva de um mingau indígena, mani poi, preparado com goma de tapioca temperada com tucupi, cebola, alho, cheiro-verde, jambu e camarão. 

Há a teoria de que teria surgido em Itacoatiara/AM, conforme relata o médico e explorador alemão Robert Christian Barthold Avé-Lallemant, autor do livro No Rio Amazonas, e que esteve na Amazônia e visitou a Vila de Serpa, atual Itacoatiara, em 1859. Classificou o tacacá como “a bebida nacional dos Mura”, uma das etnias que enfrentaram os portugueses e espanhóis com a mesma valentia e crueldade dos ibéricos. 

O etnólogo Kurt Nimuendaju escreveu: “De todas as tribos da Amazônia, a dos Mura foi a que mais extenso território ocupou, espalhando-se das fronteiras do Peru até o Rio Trombetas”, que limita o Amazonas com o Pará. Os Mura habitavam as bacias do Médio Amazonas, Solimões e Madeira, desde cerca de 1.450 a. C., até o século XVIII, quando foram trucidados pelos ibéricos. Seus remanescentes, cerca de mil famílias, habitam os municípios de Autazes e Itacoatiara, no estado do Amazonas. 

O padre jesuíta João Daniel registra no livro Tesouro Descoberto do Rio Amazonas, escrito entre 1757 e 1776, que os “índios do Rio Amazonas… tapuias do Amazonas… povoadores do Amazonas… usam da bebida tacacá… o tucupi é um sumo venenoso extraído da raiz da mandioca... cozido, perde o veneno, e então é servido como tempero de vários guisados e bebidas. 

A iguaria, tal como é servida, hoje, é composta de goma de mandioca, tucupi, camarão seco e salgado, jambu, sal, alho e pimenta de cheiro a gosto. É servido em cuias. Coloca-se primeiramente um pouco de tucupi e um pouco de caldo da pimenta-de-cheiro com tucupi, a gosto, acrescenta-se goma, arranjam-se ramos do jambu, colocam-se camarões e acrescenta-se mais tucupi. 

Toma-se tacacá (não se diz beber) muito quente, na cuia, assentada em uma pequena cesta, para proteger as mãos. Utiliza-se um palito de madeira para fisgar o camarão e o jambu (Acmella oleracea), este, o tempero por excelência da Amazônia, utilizado em pratos que vão de pizza até bebida como cachaça. Faz os lábios tremerem de prazer. É rico em cálcio, fósforo, ferro, vitaminas C, B1, B2 e B3. 

Mascar jambu adormece o nervo trigêmeo e alivia dores de garganta e de dente. Em forma de chá ou macerado é diurético e ajuda a dissolver cálculos da vesícula biliar. A única contraindicação é para mulheres grávidas, pois provoca contrações do útero. É originário do Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela, e é conhecido também como agrião-do-pará, agrião-do-norte, agrião-do-brasil e jambuaçu. 

Cresce na várzea, até 30 centímetros de altura, formando uma folhagem densa e bem verde. As flores são amarelas e hermafroditas. Em Macapá, Cresce como mato nos quintais. O óleo essencial do jambu é rico em propriedades antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias, utilizado nas indústrias farmacêutica, cosmética e de higiene pessoal. 

Seu princípio ativo mais importante é o espilantol, extraído das flores, folhas e caule do jambu. Este arbusto começou a ser plantado em outras regiões do Brasil, como nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, destinado à indústria cosmética. Cultiva-se jambu também em Madagascar, Índia e China. 

É habitual consumir-se o tacacá no fim da tarde, em torno das bancas das tradicionais tacacazeiras, figura típica das ruas de diversas cidades da Amazônia. As vendedoras de tacacá têm ponto fixo em diferentes locais das cidades, permanecendo muitas vezes por décadas, de avós para netas, com clientela cativa. 

Uma das personagens femininas mais sensuais que criei como romancista é a chefe de cozinha e oceanógrafa Danielle Silvestre Castro, “a cafuza mais estonteante do planeta”, como lhe diz o jornalista João do Bailique, seu marido. Ela é a protagonista do romance JAMBU. Da cor de jambo bem maduro, entre o tom de canela e rosa vermelha, cabelos ruivos e olhos verdes, é neta de holandês e de índia por parte de mãe, e de português e negra por parte de pai. 

Sua mãe, a mameluca Danielle Galibi Silvestre, era filha de um holandês anônimo do Suriname e de uma índia Galibi da Guiana Francesa, e seu pai, o mulato João Paulo de Souza e Castro, descendia de escravos usados na construção da Fortaleza São José de Macapá e que fugiram para o quilombo do Ambé, próximo ao rio Pedreira, em terras do município de Macapá; filho da negra Maria Justo Souza e do aventureiro e empreendedor lisboeta Waldemiro Cunha e Castro, que, ao chegar a Macapá, casou-se com Maria Justo Souza e juntos encontraram um veio de ouro nas imediações do morro do Salamangone, na Serra Lombarda, município de Calçoene, dando início ao Grupo Fortaleza, que João Souza e Castro herdou e ampliou, sediado agora em Belém. 

Seus avós se mudaram de Calçoene para Macapá levando consigo o conceito do restaurante Cachoeira do Firmino, que fundaram em Calçoene. Graduada em Nutrição e Oceanografia, ambos os cursos pela Universidade Federal do Pará (UFPa), e chefe de cozinha com passagens pelo antigo Hilton Belém e Tropical Hotel Manaus, Danielle Silvestre e Castro era herdeira do bilionário Grupo empresarial Fortaleza, integrado por um estaleiro em Santana, na zona metropolitana de Macapá; uma frota de três navios de passageiros navegando nas linhas Santana-Belém, Santana-Caiena e Belém-Santarém-Manaus, e um de carga, na linha Santana-Belém-Santarém-Manaus-Porto Velho, além de moderníssimo barco de pesca nas costas do Amapá; uma empresa regional de transportes aéreos, baseada no Aeroporto de Macapá, com um jatinho, um avião anfíbio tipo Catalina, três monomotores e um helicóptero; exportação de açaí, piramutaba e grude de gurijuba, empresa sediada em Belém; uma fazenda na ilha de Marajó, com mais de 6 mil búfalos; mil búfalos no Palma, no município de Macapá, à margem da BR-156, e o Hotel Caranã, porta do Grupo Fortaleza para a Europa, via Caiena. 

Isso dava suporte ao trabalho social que Danielle realizava: o hotel era o paraíso para estagiários das universidades federais de toda a Amazônia, nas áreas de culinária, turismo, oceanografia e história e literatura da Amazônia; o programa de treinamento e emprego para jovens carentes; o sistema de coleta de alimentos para o Lar dos Velhinhos; a distribuição de sopa e caldo de abóbora no início da noite na rodoviária da cidade; o programa de transporte gratuito de passageiros pré-selecionados abarcando toda a Amazônia; e o Festival de Gastronomia do Pará e Amapá, os dois estados que integram a Amazônia oriental, ou atlântica. 

Naquele verão, completara 45 anos de idade; sentia-se no apogeu mental e físico. Com 1,65 metro de altura, mantinha-se há anos em torno dos 64 quilos de peso, sua pele lembrava jambo-rosa, tinha os olhos prenhes de clorofila, lábios grandes, nariz arrebitado, os cabelos desciam-lhe em nuanças naturais entre o negro e o vermelho, como arbusto, até as ancas africanas. Seu hobby eram a pesca em alto mar, a culinária paraense e o Tao, a que se dedicara durante os três anos em que vivera em Hong Kong, estudando Medicina Tradicional Chinesa e O Tao do Jeet Kune Do, de Bruce Lee. 

Em Belém, o tacacá é vendido em bancas ou quiosques, do meio da tarde para a noite. A mais ilustre tacacazeira foi dona Maria do Carmo Pompeu dos Santos, falecida em 3 de julho de 2014, aos 75 anos. Seu tacacá é o melhor do mundo; agora, são seus filhos, entre os quais José da Conceição Soero, o  Bito, que levam adiante a banca, na Avenida Nazaré, esquina da Quintino Bocaiúva, onde dona Maria trabalhou por 45 anos. Hoje, a Banca de Tacacá da Avenida Nazaré está presente em guias turísticos e gastronômicos do mundo todo. 

Belém é Joelma, tacacá, jambu. Recrio-a no meu romance A CONFRARIA CABANAGEM (Clube de Autores e amazon.com.br). Vista de madrugada, a bordo de um jato prestes a pousar no Aeroporto de Val-de-Cães, Belém emerge da Baía de Guajará como uma península de luzes, cada vez mais tangível à medida que o avião se aproxima do chão, até tocá-lo, num choque no concreto, amortecido pela borracha maciça dos gigantescos pneus da aeronave. 

Aparentemente a cidade dorme, mas seu ventre ferve na madrugada, e escorre, cedo, na manhã, espalhando sua podridão no meio-fio das ruas e quedando-se, morto, à medida que o sol surge e os belenenses começam a se mover e a expelir dejetos. Almas penadas, andarilhos da madrugada, vendedores ambulantes, mendigos, caminhantes, comerciários, povoam o Ver-O-Peso, o calçadão da Praça da República, o Terminal Rodoviário Hildegardo da Silva Nunes, a Praça do Operário, o Mercado de São Brás, a Praça Batista Campos, a Doca de Souza Franco, todos os pontos preferidos dos exilados na noite, porque, de uma forma ou de outra, esses locais lhes proporcionam luz, segurança e esperança. 

A periferia se move como piolho no caldeirão da manhã, a caminho do centro da cidade, nas avenidas atulhadas de carros, sob a fumaceira dos ônibus, que empesta o ar. Ambulantes vendem de tudo nas suas bicicletas de padeiro, estacionadas em esquinas e calçadões estratégicos. Uma índia velha, obesa, seminua, dorme, bêbeda, sobre um banco decrépito, protegida pelas mangueiras gigantescas que pontilham a Praça da República, e pela indiferença da manhã ao triunfo do sol. O odor mefítico se espalha pela cidade, adocicado, de cavalo morto exposto ao sol e à chuva, anestesiando o olfato. Os dias amanhecem calorentos e, à tarde, chove sempre. 

Belém do Pará era a cidade brasileira mais desenvolvida e uma das mais prósperas do planeta, no século 19, a Belle Époque, e continua sendo uma das mais atraentes e movimentadas do Brasil. Fundada em 12 de janeiro de 1616, precisa desesperadamente de um prefeito, que a entenda, que seja honesto, democrático e empreendedor. Que a ame. Seus um milhão e meio de habitantes certamente ficarão muito gratos, pois há décadas os alcaides tratam o Portão de Entrada da Amazônia como se fosse sanitário público. 

A Cidade das Mangueiras é uma península que avança na baía de Guajará, no trópico equatorial, como um pórtico para o Mundo das Águas, o arquipélago de Marajó: o maior rio do mundo, o Amazonas, ao norte; os rios Tocantins e Guamá, ao sul e sudeste; o rio Pará, a sudoeste, e o Atlântico, a nordeste. O Amazonas fertiliza o Atlântico com pelo menos 200 mil metros cúbicos da sua água túrgida de húmus, por segundo. Assim, a Amazônia Azul do setentrião é a maior província piscosa e de frutos do mar do planeta, e a mais mal guardada do Brasil. Mas isso é outro artigo. Agora, precisa-se de prefeito na principal cidade da Hileia. 

A esmeralda mais preciosa do Trópico Úmido precisa de um prefeito que não seja covarde, como os das cidades que todos os anos vão para o fundo. Precisa de um prefeito, que, além de recuperar os prédios tombados, implemente nova infraestrutura básica na urbe e saneie as favelas erguidas sobre fossas. É um sonho embarcar em Mosqueiro, numa lancha coletiva pública, com parada na Vila Sorriso, na Escadinha do Cais, no Porto do Sal e no campus do Guamá, da Universidade Federal do Pará, e fazer a linha de volta, cruzando com outras lanchas coletivas, de outras linhas, os passageiros sentados como se estivessem num ônibus. É um sonho recorrente na Cidade Morena, minha amante. 

São 7 horas. Aprecio o dorso dos peixes enfileirados no mercado do Ver-O-Peso, maior feira livre da Ibero-América. A mais fantástica variedade de peixes de água doce do planeta, além dos do mar, é enfileirada em balcões de mármore. Há deles de todos os tamanhos e tons, sem falar nos frutos do mar, com seu cheiro de aventura. A cidade dos tupinambás precisa de um prefeito que dê ao Ver-O-Peso a dimensão desse cheiro de romance, que os viajores procuram avidamente. 

No meu delírio, quedo-me na Estação das Docas. Uma portuguesinha em vestido de seda passa e deixa um rastro de esperança. Ouço merengue, distante, talvez de um quarto de hotel no sétimo andar, e a tarde me leva, como um rio, para a dimensão do sonho. A chave do sonho é uma cuia de tacacá, jambu, que se entranha na minha memória e desnuda minha amante. 

Vivi um mergulho em Belém do Pará, transitando desde o ventre dos seus palácios aos lixões. Casei-me e exilei-me do lar; trabalhei ao lado dos melhores jornalistas da cidade e caí na clandestinidade do desemprego; fartei-me da culinária mais inacreditavelmente deliciosa do planeta e forjei o espartano que há em mim durante um período de fome; compartilhei camas perfumadas e percorri labirintos femininos intermináveis, mas também escorreguei no negro limo da fossa. Conheço, pois, alguns humores desta península que avança na baía de Guajará como um navio iluminado, e é minha amante. 

Amo todas as cidades nas quais já vivi, e até Brasília, onde moro, pois não se pode viver numa cidade sem a amar; não por muito tempo. E se as amamos, o reencontro provoca o cataclismo do primeiro beijo, sacolejam-nos, lançam-nos no espaço, como nos sonhos, que, às vezes, povoam minhas noites, como se estivesse correndo numa planície de zínias e rosas, cortada pelo maior rio do mundo e desaguando na noite, prenhe de jasmineiros que choram perfume. As cidades que amamos evocam amores, madrugadas, papel em branco, álcool, imortalidade. 

Namorei Macapá, minha cidade natal, durante os primeiros 17 anos da minha vida, até que um dia peguei o rio e a estrada e rolei para Copacabana. Nosso namoro continua firme, mas agora só no coração. Também amo o Rio de Janeiro, por quem fui seduzido para sempre. Manaus é a mesma coisa, e em cada cidade a vida se multiplica infinitamente. Como em Brasília, onde nasceu Iasmim, a princesinha que encanta todos os dias da minha vida. 

Mas Belém emerge do rio como mulher nua, que deixa um rastro de maresia, Chanel 5, Dom Pérignon, safra de 1954, e rosas vermelhas. Tento alcançá-la, temeroso de perdê-la. Porém ela se volta e pronuncia meu nome. Sua voz é como o pulsar da música de Mozart. Alcanço-a, pego-a pelo cogote e a beijo, e sinto o sabor de acme. 

Nem os ratos – que se dedicam a te assaltar, a te depredar, a te estuprar, que te mordem os seios – conspurcam tua beleza, nem reduzem tua eternidade, desde 12 de janeiro de 1616, quando lusitanos, comandados por Francisco Caldeira Castelo Branco, desembarcaram numa enseada na foz do rio Guamá e começaram a construir uma fortaleza, o Forte do Presépio, em torno do qual a cidade foi emergindo, e a ela chamaram de Santa Maria de Belém. 

Os tupinambás não deram descanso aos invasores. Mas os portugueses dominavam armas de fogo, a Igreja e doenças letais. E em 1626, assumiu o comando Bento Maciel Parente. Os colonizadores eram brutais, mas pareciam gentis diante da loucura de Bento Maciel Parente; ele que mandava amarrar os membros de tupinambás capturados, em cavalos ou canoas, até serem rasgados, vivos. Estima-se que pelo menos 2 milhões de índios foram mortos na Amazônia, escravizados em nome de Jesus Cristo, atingidos por doenças europeias, degolados, esquartejados ou fuzilados. 

No começo do século 20, a borracha tornou Belém a cidade mais rica do país. Em 1910, os ingleses começaram a produzir látex no sudeste asiático, causando a débâcle da borracha na Amazônia. Aí começou o declínio de Belém. Hoje, é uma cidade sucateada, inchada, violenta, infestada de bandoleiros e ratazanas, as ruas emporcalhadas de esgoto escorrendo no meio-fio, cidadela corrompida, refém da corrupção, letal como câncer metastático. 

Mesmo assim, Belém é como as mangueiras de dezembro, que se curvam prenhes de frutos, doces como seios de mulher na rede. É assim que ela vive no meu coração. Quando chegamos ao amanhecer, pela baía do Guajará, nós, que a amamos, vemo-la se despir, aos poucos, da névoa, até emergir, de repente, salpicando água, nuazinha; se chegamos de avião e é noite, as luzes na península, como miríade na noite que desaba sobre a baía, anunciam-se como óvnis, até pousarmos no bolsão de sol noturno de Val-de-Cães. Subitamente, os gigantescos pneus do jato se chocam no chão de concreto e a nave começa a taxiar rumo ao terminal de passageiros.

Já não controlo meu coração. Faço desjejum no Ver-O-Peso, café recém-coado com tapioquinha amanteigada, e depois vou apreciar os peixes dispostos nos balcões de mármore do mercado – os pirarucus são, talvez, os mais bonitos, os filhotes são enormes e os meros, imensos, há sempre piramutaba, pescada, tucunaré, curimatã, tamuatá, mapará, gurijuba, camarão e toda sorte de frutos do mar. Almoço camarão com pirão de açaí no Ver-O-Peso, ou filhote no Restaurante Remada, ou ventrecha de dourada com vinagrete e farofa na Vila Sorriso, ou pirarucu ao molho de castanha-do-pará no Mangal das Garças. 

À tarde, o céu sangra de tão azul. Vagabundeio, tomo tacacá na banca do Colégio Nazaré e sorvete de tapioca na Cairu, e, à noite, janto caldeirada de filhote no Remada e bebo Cerpinha no banheiro do hotel, enquanto me arrumo para o encontro com a madrugada. Assim, os dias se sucedem com cheiro de maresia, mulheres caminhando, merengue, bebedeiras, o rio. 

Belém é a Catedral da Virgem, rosas para a madrugada, lembranças guardadas numa prece, o desfile interminável das mulheres mais bonitas do mundo, que exalam perfume das virgens ruivas e espargem um rastro de devaneio, que só podemos sentir com o coração. Ungido pelos deuses, penetro neste santuário e dele engravido para sempre. Belém, como as mulheres muito bonitas, inesgotáveis de tão intensas, desencadeia, na minha memória, um cataclismo de rosas colombianas, jasmineiros chorando em noite tórrida, o céu de julho na Amazônia, que sangra no azul na tarde. 

Caminho nas suas ruas rumo aos segredos que só eu posso decifrar, como ouvir o anoitecer na Estação das Docas, ver passar as mulheres mais bonitas do mundo enquanto tomo tacacá defronte ao Colégio Nazaré, ouvir o rio, beber o perfume de gim inglês no Cosa Nostra, a alegria das mulheres no Kalamazoo, ao som de merengue e da madrugada, e fazer uma declaração de amor desesperado, porque as cidades, como as mulheres, não podem ser decifradas; precisam apenas que as amemos, pois só para isso existem, como poemas escritos por Deus. 

Da mesma forma que as mulheres, as cidades são redes intermináveis de labirintos, abismos de segredos, pelos quais voamos, sempre perdidos, mas firmemente guiados pelo azul mais azul. Cidades, exatamente como as mulheres, iluminam nossos sentidos, e as cavalgamos como se monta a luz. 

Sentado no calçadão defronte ao Colégio Nossa Senhora de Nazaré, ao embalo das 6 horas da tarde, caminho ao lado de cada uma das mulheres que passam, e que deixam um rastro de espilantol, sintetizando todo o mistério sob seus vestidos de seda, estampados. Então, descubro o segredo da Hileia, deslindo o mistério, e, assim, o amplio: toda a Amazônia está contida no espilantol de um ramo de jambu. E, aos iniciados, Belém se revela em toda a sua poesia, como mulher ao toucador, absorta, nua.

Agora estou sentado na Estação das Docas. A tarde morre. Ouço murmúrios – risos distantes, preces, merengue. Pedi à Virgem de Nazaré que proteja as crianças e as flores. A tarde morre, escorre como um rio de luzes que se afogam no mar da noite, para ressurgir no ventre da cidade, como uma boca. Acomodado numa cadeira de palhinha, observo o rio e a tarde morrendo. Ouço o riso das mulheres mais sensuais do mundo, trotando nos calçadões, sentadas, tomando tacacá, naquele momento em que a noite cai lentamente, se acamando, até as luzes tremeluzirem, como composição de Debussy, e sinto o sabor do leite da mulher amada, lábios de rosas vermelhas, esmigalhadas. 

Um navio parte. Talvez vá para Macapá, ou Trinidad e Tobago. Talvez vá para Caiena. Ou para Mosqueiro. Ou Salinas. De qualquer forma, haverá de ir para um lugar lindo, pois a tarde é povoada de mulheres em vestidos de seda, como uma negra caribenha, sílfide equina, que passa, iluminando o mundo. Vindo de algum lugar, remoto, penso ouvir merengue. O mundo gira. Sinto a vertigem de missa na Catedral; a noite é como o mistério feminino, e, assim, tenho certeza de que estou em Belém.

Então, faço uma prece: Belém precisa de um prefeito, que a ame, e que seja competente, e honesto. A Cidade das Mangueiras está inchada como um cavalo morto, dias a fio, sob a chuva e exposto ao sol, e no ventre da besta, assassinos espreitam. As repartições também estão inchadas; até as aves, urubus, com seus bicos longos e coloridos, estão inchados. Por Deus, Belém precisa de um prefeito.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Godzilla ataca no Brasil. Qualquer semelhança de fatos com essa resenha é mera coincidência

O bicho precisa de um cirugião plástico para dar um trato nele

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 28 DE DEZEMBRO DE 2023 Godzilla Minus One, em cartaz na cidade, é um dos melhores filmes de monstro que já vi, ombreando-se com Jurassic Park, de Steven Spielberg, mas com muito mais drama. Trata-se de uma besta apocalíptica atômica. Só tem paralelo com o comunismo, que, no Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, avança inexorável, sem arma alguma que possa apeá-lo. 

A história é a seguinte: o piloto camicase Koichi (Ryunosuke Kamiki) sente medo de morrer e pousa seu avião em uma ilha, onde mecânicos tentam consertar o avião. À noite, recebem a visita de Godzilla, um lagarto com 50 metros de altura já conhecido na ilha como Gojira. Koichi sobrevive e consegue retornar a Tóquio, devastada, com o povo passando fome, e conhece Noriko (Minami Hamabe) e seu bebê. 

O roteirista e diretor Takashi Yamazaki criou uma história de monstro redonda, um drama de primeira categoria, e ainda proporciona uma visão do Japão pós-guerra, um povo que conseguiu se tornar a segunda maior economia do mundo, ultrapassado, depois, pela China e Alemanha, além dos Estados Unidos. 

Este Godzilla sai do Pacífico para destruir Tóquio, mas Koichi, um morto-vivo, está disposto a enfrentar a besta. Morto ele já está. Então... Fazendo um paralelo com o Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, o ataque é de outra ordem: censura, desarmamento da população, gastança desenfreada, cabide de emprego, melancias, ditador narcotraficante querendo invadir vizinho, analfabetismo nas escolas, invasão de propriedades privadas e Constituição-Geni.

Alguns jornalistas, como Augusto Nunes, ousa enfrentar Godzilla, e alguns que se exilaram nos Estados Unidos. Só que o Godzilla tupiniquim, diferentemente do monstro japonês, é muito, mas muito mais poderoso. Enquanto a besta nipônica só conta com um sopro de bomba atômica e uma couraça que se regenera, o tupi conta com 2,081 trilhões de dólares.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O que é a vida, o sofrimento e a iluminação

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 21 DE DEZEMBRO DE 2023 – A vida vem de Deus, a lei que rege o Universo. Como ninguém sabe como começou o Universo, ou se ele não teve início, e como terminará, se terminar, então o Universo pode ser infinito. Se Deus é a lei universal, logo é uma consciência, onipresente, onisciente, onipotente, absoluta e eterna. Incognoscível.

Essa Grande Consciência está presente em todas as coisas do Universo, por meio do éter, ou campo, ou matéria escura, vibração que liga os planos espiritual e físico, mantendo a ordem no Universo. O Universo observável contém mais de um trilhão de galáxias. Se olharmos em qualquer direção, as regiões visíveis mais distantes distam cerca de 46 bilhões de anos-luz da Terra.

As mônadas surgem da Grande Consciência. São individualidades indissolúveis e indestrutíveis, partículas básicas de todas as coisas, únicas, cada uma delas. Absolutas. São consciências. Vida. Espírito. O espírito, quando encarna no corpo de qualquer ser das muitas raças que há no Universo, é uma alma. Encarna para progredir, para se tornar sábio e ascender para planos cada vez mais sutis, eternamente.

Se as mônadas surgem da Grande Consciência, logo são consciências também, começaram a ter ciência da sua existência e a se ampliar. O plano físico, material, foi criado para ampliar a consciência. Nosso corpo físico, os planetas, a natureza, enfim, tudo é artificial, foram criados por agentes de Deus, espíritos de luz, para que espíritos primitivos, em estado cármico, possam ampliar mais rapidamente suas consciências.

Para que, isso, só Deus sabe, mas sabemos que Deus é amor, e sobre o amor sabemos, intuitivamente, que é um sentimento muito, muito bom.

A ligação entre o espírito e o corpo físico, o perispírito, é um corpo vibracional, etéreo, e se conectam por meio da glândula pineal, ou epífise, em forma de pequena pinha, do tamanho de um caroço de laranja, medindo 5 por 8 milímetros nos humanos, com massa de 150 miligrama, uma glândula endócrina, localizada no epitálamo, entre os dois hemisférios, no centro do cérebro dos vertebrados. Produz melatonina, hormônio derivado de serotonina, que controla o ciclo circadiano e sazonal. É o terceiro olho, ou olho espiritual.

O filósofo René Descartes acreditava que a pineal seria a “sede da alma”. Mediunidade, clarividência e telepatia ocorrem via pineal. Em Missionários da Luz, pelo espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier, a pineal é descrita como a glândula da vida espiritual e mental, fazendo a conexão entre os corpos etéreo e físico, o que forma a mente, o pensamento.

Assim, há 40 mil anos, hordas de espíritos começaram a ser transportadas em naves quânticas grandes como cidades para o plano astral da Terra, para encarnarem no plano material. E aí começa a jornada da raça humana, com toda a complexidade do plano físico, e o maior drama do ser humano: o sofrimento.

A essência do budismo são as Quatro Nobres Verdade:

1 – O sofrimento existe. “Esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento; apego é sofrimento” – Buda pregou.

Sofremos porque não temos algo e o desejamos; sofremos porque conseguimos algo e tememos perdê-lo; sofremos porque temos algo que nos parecia bom, mas já não é tão bom assim; e sofremos porque temos algo de que queremos nos livrar e não conseguimos nos desvencilhar dele. As coisas, as ideias, os conceitos, os pensamentos, são impermanentes. Até a felicidade pode se tornar sofrimento.

2 – O sofrimento é causado pela ignorância, ou trevas.

3 – Mas o sofrimento pode ter um fim, por meio da iluminação.

4 – Via Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta. O caminho do meio, baseado na moderação e na harmonia, sem cair nos extremos. O equivalente a levar uma vida estoica. Um treinamento que erradica a ganância, o ódio e a ilusão, e leva à iluminação.

sábado, 16 de dezembro de 2023

Uma história de terror. Os comunistas tentam matar Deus. Acorda, Brasil, antes que seja tarde

O CLUBE DOS ONIPOTENTES, edição do Clube de Autores

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 16 DE DEZEMBRO DE 2023 – O comunismo de fato eclodiu na Rússia, em 1917. O estopim foi uma passeata feminina em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, em fevereiro daquele ano, que se alastrou em greves de milhares de trabalhadores exigindo a abdicação do tzar e o fim da participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial. 

Em Petrogrado, soldados começam a se juntar à rebelião e em março de 1917, o tzar é aconselhado pelos seus generais a abdicar ao trono, o que ocorreu no dia 15 desse mês, dando fim a três séculos da Dinastia dos Romanov. A família imperial partiria para o exílio na Inglaterra, ou na França. Nicolau II tentou ainda garantir a Dinastia dos Romanov nomeando seu irmão, Miguel da Rússia, para sucedê-lo, honra que foi recusada. 

Imediatamente, a Duma elegeu um Governo Provisório, formado principalmente por liberais e socialistas moderados, com a responsabilidade de escrever uma constituição e tirar o país do lodaçal em que se metera. Mas a guerra prosseguia e Nicolau e sua família foram postos sob custódia pelo novo governo. 

Em outubro de 1917, os bolcheviques e socialistas revolucionários tomaram o poder do estado, sob o slogan: “Paz, pão e terra”. Vladimir Ilitch Ulianov, Lênin, o revolucionário bolchevique e marxista exilado na Suíça por causa de suas atividades subversivas, com o apoio secreto do inimigo alemão, retornara secretamente à Rússia e lançou a palavra de ordem: “Todo o poder aos sovietes”. 

Lênin chegou a Petrogrado em 16 de abril de 1917, disseminando que o Governo Provisório era incapaz de atender aos desejos e necessidades do proletariado russo e defendendo uma organização política baseada no controle dos meios de produção, a nacionalização das empresas estrangeiras e o controle do estado pelos trabalhadores, como forma de implementar o socialismo na Rússia, prometendo pão, ou seja, alimento para todos; paz, a saída da Rússia da guerra; e terra, a reforma agrária. 

Começa aí o rosário de promessas que jamais são cumpridas pelos líderes comunistas. 

Em 7 de novembro de 1917 (25 de outubro no calendário antigo), uma insurreição armada começa em Petrogrado contra o Governo Provisório, culminando na invasão do Palácio de Inverno, a antiga residência do tzar e sede do Governo Provisório, pelos bolcheviques, que se declararam os novos governantes da Rússia. Esse episódio foi o início da Grande Revolução de Outubro de 1917, como é chamada pelos comunistas. 

Em 3 de março de 1918, Lênin assina com os alemães o tratado de Brest-Litovsk, encerrando a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, entregando a Finlândia, a Polônia, as províncias do Báltico, a Ucrânia e a Transcaucásia às potências centrais, um terço da população do antigo império, um terço de suas terras agrícolas e três quartos de suas indústrias. 

Os russos anti-bolchevistas aliados ao Governo Provisório revoltaram-se contra o tratado, começando uma guerra civil, mas os bolchevistas utilizaram o terror de forma implacável. Foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), com a missão de disseminar o comunismo e o ateísmo de estado em todo o planeta. 

Após a abdicação, Nicolau Romanov foi detido em Tsarskoe Selo, por ordem do chefe do governo provisório, o príncipe Georgy Lvov. Ele e sua família seriam enviados para a Inglaterra, mas os revolucionários bolchevistas do Soviete de Petrogrado impediram isso e enviaram Nicolau e família para Tobolsk, na Sibéria Ocidental, e, depois, em maio de 1918, para Yekaterinburg, nos Urais. 

Tanto a França como a Inglaterra – Nicolau era primo do rei inglês George V e sua esposa, Alexandra, neta da rainha Vitória –, antigos aliados do tzar deposto, se recusaram a recebê-lo e à sua família, por medo de provocar espíritos revolucionários em casa, pois o comunismo estava se espalhando como rastilho de pólvora. 

Os Romanov receberam inicialmente garantias de vida por parte do novo líder do governo, Alexander Fyódorovich Kérensky, que substituíra o príncipe Lvov, último primeiro-ministro do Governo Provisório Russo, exercendo o cargo entre 21 de julho e 8 de novembro de 1917. Com a Revolução de Outubro, Kerensky foi forçado a renunciar. Assim, a família imperial ficou refém dos comunistas, só aguardando o momento em que seriam executados, para porem fim, definitivamente, na dinastia dos Romanov. 

A família imperial foi aprisionada em Yekaterinburgo, na Casa Ipatiev, que os bolcheviques chamavam de “casa para fins especiais”. O Conselho Regional do Governo dos Trabalhadores e Camponeses de Yekaterinburgo solicitou ao presidente do Comissário do Povo, Vladimir Lenin, para assassinar a família Romanov. Lênin concedeu a autorização, mas exigiu sigilo, pois não queria passar para a História como o assassino da família imperial da Rússia. 

Na madrugada de 17 de julho de 1918, a família imperial foi acordada às pressas e levada ao porão da Casa Ipatiev. Nicolau II foi despertado pelo médico da família, Eugene Botkin, que lhe transmitiu a ordem para descerem, pois todos seriam transferidos: Nicolau, Alexandra, os filhos Olga, Tatiana, Maria, Anastásia e Alexei, o médico, o criado Alexei Trupp, a camareira Anna Demidova e o cozinheiro Ivan Kharitonov, que por escolha própria acompanhavam a família imperial destronada. 

Foram reunidos no porão, sob a desculpa de que iriam tirar uma fotografia para provar no exterior que estavam vivos. Nicolau II, Alexandra, os cinco filhos do casal e os quatro servidores foram agrupados. Alexandra sentou-se. As filhas e Demidova estavam ao lado dela. Alexei estava sentado na poltrona ao lado delas. Atrás dele, o dr. Botkin, o cozinheiro e os outros estavam de pé. Nicolau ficou em frente a Alexei. Então, o comissário Yakov Yurovsky leu: 

– Nikolai Alexandrovich, seus parentes reais e próximos dentro e fora do país estão tentando salvá-lo. Diante do fato de que seus parentes continuam seus ataques contra a Rússia Soviética, o Soviete de Deputados Operários decidiu fuzilá-los – e ordenou o fuzilamento.

– O que?! O que?! – tartamudeou Nicolau. 

Uma saraivada de tiros ecoou e o pequeno porão ficou tão saturado de pólvora que os atiradores foram obrigados a sair para não sufocarem. Quando o tiroteio parou descobriu-se que os filhos de Nicolau II, Alexei, Olga, Tatiana, Maria e Anastasia, além de Alexandra, estavam cobertos de sangue, mas ainda vivos. O tiroteio recomeçou e Alexandra e Alexei foram mortos, mas embora as filhas de Nicolau também tivessem sido baleadas, elas ainda continuavam vivas. 

Na esperança de serem libertados em transferências de localidade como aquela, todos os membros da família haviam colocado por debaixo das roupas as joias que escondiam zelosamente e que serviria para recomeçarem a vida em outro país. As joias haviam prolongado por alguns segundos a vida das princesas. As balas ricocheteavam nas joias escondidas sob as roupas. Então, foram mortas a coronhadas e golpes de baioneta. 

Quando despiram os corpos descobriram que Alexandra, Olga, Tatiana, Maria e Anastasia usavam corpetes feitos quase inteiramente de diamantes, esmeraldas, alexandritas e outras pedras preciosas e joias de ouro. Os corpos foram levados de caminhão até uma fossa cavada e queimados com benzeno e ácido sulfúrico. 

Os comunistas mantiveram por muitos anos a farsa de que Nicolau, Alexandra e seus filhos estavam vivos em local seguro. Lênin jamais assumiu o crime, imputando-o ao Soviete Regional dos Urais. 

De 1918 a 1921, outros membros da família Romanov que não conseguiram fugir, como o grão-duque Miguel, irmão de Nicolau, tios e sobrinhos do imperador, foram também assassinados pelos bolcheviques. 

A Guerra Civil Russa se prolongou até 1922, quando a Rússia deixou de existir como país e foi substituída pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. 

No dia 17 de julho de 1998 – 80 anos depois de terem sido executados –, os restos mortais dos Romanov foram levados para a cidade de São Petersburgo e sepultados em um enterro solene na cripta da Catedral de São Pedro e São Paulo. 

Começava, aí, o assassinato de centenas de milhões de pessoas. Em O Livro Negro do Comunismo, Stephane Courtois registra o número de pessoas assassinadas pelo comunismo no século XX: URSS, 20 milhões; China, 65 milhões; Vietnã, 1 milhão; Coreia do Norte, 1 milhão; Camboja, 1 milhão; Europa Oriental, 1 milhão; América Latina, África e Afeganistão, 3,5 milhões. 

Para Walter E. Williams, professor de economia na George Mason University, de 1917 até seu colapso, a União Soviética assassinou 61 milhões de pessoas, a maioria delas seus próprios cidadãos; de 1949 a 1976, o regime de Mao Zedong, da China comunista, matou 78 milhões de seus próprios cidadãos. 

O comunismo não passa de um fenômeno psicológico através do qual pessoas ressentidas e vingativas culpam os outros pelos seus fracassos e tentam prejudicá-las. Muitos historiadores mostram que Marx era um perdedor em sua vida pessoal, um homem que nunca trabalhou e que vivia às custas da própria esposa e do amigo Friedrich Engels. 

Em seus poemas, ele se fixava em ver pessoas destruídas, trabalhando com imagens infernais. Mas o que muitos não sabem, ou preferem não saber, é que Karl Marx, esse profeta criador do caos, era um dos generais das forças demoníacas que desceram à Terra no fim do século XIX para incendiá-la e riscar Deus do mapa, em um planejamento realizado pelos maiorais das chamadas forças das trevas, ou demônios do inferno, se assim preferirem. 

Com efeito, Karl Marx publicou vários livros ao longo da sua vida, e os mais conhecidos são o Manifesto Comunista, de 1848, e O Capital, publicado em três volumes, entre 1867 e 1894, no qual Marx faz uma profunda análise crítica ao capitalismo, identificando-o como a causa de todos os males da humanidade. 

Marx era originário de uma família de rabinos, mas se tornou um ardoroso antissemita. Quando muito jovem, seguia o cristianismo, e no seu primeiro livro, A união dos fiéis com Cristo, defende os valores e a prática dos ideais cristãos. Após ter frequentado a Universidade de Bonn e depois a Universidade de Berlim, virou ateu, e começou a teorizar que o que empobrecia as massas era o capitalismo, bastando derrubar esse sistema para que surgisse uma sociedade fraterna, sem revoluções e guerras, na qual todos trabalhariam de acordo com suas aptidões, em fábricas e fazendas pertencentes à coletividade, sendo remunerados de acordo com suas necessidades. Homens-robôs, destituído de ambições pessoais. 

Esse pensamento conquistou, e ainda conquista, muitos pensadores e até líderes religiosos, que veem nisso uma nova mensagem de Cristo. Só que também, no pensamento de Marx, desapareceriam as religiões, que ele considerava o ópio do povo. Conforme expressou na Introdução à Crítica da Filosofia do Direito, de Hegel: “A extinção da religião, como a felicidade ilusória do homem, é uma exigência para sua felicidade real. O chamado para que ele abandone as ilusões a respeito da sua condição é um chamado para abandonar uma condição que requer ilusões. A crítica à religião é, portanto, a crítica a este vale de lágrimas do qual a religião é a auréola”. 

O lobo se revela claramente no poema Orgulho Humano, no qual Marx confessa que seu objetivo não é melhorar a humanidade, mas arruiná-la. Marx era obcecado pela destruição de Deus. Ele queria ser Deus, e, para isso, teria que destruir Deus. Por isso, Marx era obcecado por Fausto, a peça teatral de Goethe, na qual o personagem central faz um pacto com Mefistófeles, o próprio diabo. Fausto inspirou-o a escrever o drama Oulanem, uma Tragédia, encenado e representado pelo próprio Marx. Oulanem é um anagrama de Emanuel, nome bíblico para Jesus, que em hebraico significa “Deus conosco”. 

Inversões de nomes são típicas da magia negra. O drama é perpassado pelo ódio e o desejo de destruir a humanidade. A peça dá voz a um anjo caído, um exilado planetário, que, na Terra, falhou na sua reabilitação espiritual e sabe que sofrerá novo exílio, mas que antes de partir destruirá a obra de Deus: “Arruinado, arruinado. Meu tempo esgotou-se... E breve bradarei gigantescas maldições sobre a humanidade... Se existe algo que nos devora/Entregar-me-ei para ser engolido por ele, embora deixando o mundo em ruínas/Este mundo que se avoluma entre mim e o Abismo/Eu o reduzirei a pedaços com as minhas contínuas maldições... Nós somos os macacos de um Deus frio”. 

No poema Invocação de Alguém em Desespero ele manifesta a intenção de se vingar de Deus: “Deus tirou tudo de mim... Nada me restou a não ser a vingança!... Vou construir o meu trono muito acima de todos/Frio e monstruoso será o seu topo./Sua base será o pavor sobre-humano/E a negra agonia será o guia./Quem olhar para ele com um olhar são/Cairá para trás, atingido mortalmente, pálido e bestificado./Será tomado por cegueira e frieza mortal”. 

Ele tinha uma visão diabólica do mundo, uma malevolência diabólica. Às vezes, parecia estar consciente de estar realizando as obras do diabo – disse Robert Payne, um dos biógrafos de Marx. 

Marx achava que era um deus criando um mundo; ele não queria ser a criatura. Ele não queria ver o mundo sob a perspectiva de uma criatura. Ele queria ver o mundo a partir do ponto da coincidentia oppositorum, isto é, da posição de Deus – disse o filósofo Eric Voegelin. 

No poema Orgulho Humano, Marx diz: “...Então, caminharei semelhante a um deus, triunfante/Entre as ruínas do mundo... Eu me sinto igual ao Criador”. 

Ou seja, o comunismo é o resultado do ódio de Karl Marx a Deus – afirma o pensador espiritualista Jorge Bessa. 

Interessante é a transformação física de Marx. 

De jovem esbelto ele se transformou num tipo atarracado, de lábio inferior incomumente grosso e de tez amarelo-sujo, acentuada pelos cabelos negros e espessos que pareciam brotar-lhe de quase todos os poros da face, dos braços, da orelha e do nariz. Cabeludo, com sua juba negra retinta e olhos enlouquecidos por um espírito de fogo perverso, Marx era a imagem de Lúcifer, o anjo decaído – disse Karl Heinzen, um jornalista que trabalhou com Marx na Gazeta Renana. 

Se Deus existisse, seria necessário destruí-Lo... Nesta revolução, teremos que despertar o demônio nas pessoas, incitar as paixões mais vis – disse o teórico revolucionário anarquista Mikhail Aleksandrovitch Bakunin. 

Nós alcançamos o conhecimento apesar Dele, alcançamos a sociedade apesar Dele. Cada passo à frente é uma vitória, na qual derrotamos o Divino... Deus é estupidez e covardia; Deus é hipocrisia e falsidade; Deus é tirania e pobreza; Deus é o mal. Nos lugares em que se inclina diante de um altar, a humanidade, escrava de reis e sacerdotes, será condenada. Eu juro, Deus, com a mão estendida para os céus, que não és nada mais do que o algoz da minha razão, o espectro da minha consciência... Deus é essencialmente anti-civilizado, antiliberal, anti-humano” – declara outro amigo de Marx, Pierre-Joseph Proudhon, autor de Sobre a Justiça na Revolução e na Igreja (Philosophie de  la Misére). 

Para Antonio Gramsci, ideólogo comunista italiano, o cristianismo era a grande barreira para que as revoluções comunistas se alastrassem no Ocidente, e que até que o cristianismo fosse quebrado não haveria sucesso em revolução proletária. 

Marx criou uma religião secular e com ela conseguiu capturar corações e mentes, confundindo-se com o cristianismo. Mas enquanto o cristianismo preconiza amor e paz entre as pessoas, o comunismo prega revolução e ódio entre as classes; enquanto aquele preconiza fé em Deus, o marxismo prega a destruição de Deus e o amor a líderes assassinos e genocidas. 

No início do século XX, o Império Russo era o maior país cristão ortodoxo do mundo. Cerca de 90 milhões de pessoas, de uma população total de 125 milhões, identificaram-se como ortodoxas no censo de 1897, e havia quase 50 mil igrejas espalhadas pela Rússia. Vladimir Lênin, o novo tzar, advertia: “Adorar qualquer deus é uma necrofilia ideológica”. 

Documento intitulado Revelações dos Arquivos Russos: Campanhas Antirreligiosas, arquivado na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, dá conta de que a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi o primeiro estado a ter como objetivo ideológico a eliminação das religiões, institucionalizando o ateísmo nas escolas. A partir de janeiro de 1918, Lênin desapropriou todos os bens da Igreja Ortodoxa. Foram assassinados aproximadamente 25 bispos, 3 mil sacerdotes, 2 mil monges e freiras, e 15 mil fiéis, e outro tanto foi enviado para campos de trabalho forçado. Também a Igreja Católica Apostólica Romana foi extinta na URSS.

Os ataques ao judaísmo ganharam novo impulso e a prática organizada do judaísmo tornou-se secreta. Os evangélicos também foram perseguidos. Todas as religiões foram banidas, inclusive o Islã. Templos foram assaltados e demolidos. 

Entre 1922 e 1941, foi criada pela Liga dos Ateus Militantes a revista mensal Bezbozhnik, Sem Deus, com tiragem de 200 mil exemplares, para ridicularizar as religiões. Os Ateus Militantes, 3,5 milhões de membros, usaram de todos os meios – palestras, jornais e filmes – para difundir que religião era um resíduo nocivo do passado. 

Com a entrada da Rússia na Segunda Guerra Mundial, Josef Stálin afrouxou o arrocho à Igreja, pois precisava, naquele momento, de todo o apoio, inclusive de Deus. E também o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, exigiu, naquele momento de conturbação global, que Stálin concedesse aos cidadãos soviéticos mais liberdade religiosa, ameaçando retirar o apoio econômico e militar dos EUA durante a guerra se o líder soviético não atendesse à sua solicitação. 

Além disso, os alemães abriam igrejas em territórios soviéticos ocupados para conquistar os corações e mentes dos fiéis ortodoxos. De pronto, 22 mil igrejas ortodoxas russas foram ativadas, pois sempre estiveram apenas amoitadas, aguardando, pacientemente, que o comunismo, como toda fera seriamente ferida, se tornasse um gatinho, até ser ferida de morte e virar um gato morto. 

O líder comunista Vladimir Lênin comentou que o proletariado da Rússia teria atingido uma altitude gigantesca com a Revolução Bolchevista, comparando-a, em magnitude, à tomada da Bastilha, em 1789, à execução de Luís XVI, em 1793, e à Comuna de Paris, em 1871. Pouco antes da Revolução Francesa, o povo francês estava passando fome, enquanto a aristocracia viva uma eterna bacanal. No ar, pairava o Iluminismo, um grito de liberdade, igualdade e fraternidade. Confiar na autoridade e em tudo o que se ouvisse era perigoso; devia-se desenvolver o pensamento crítico e nunca surfar na onda dos governantes e da Igreja Católica Apostólica Romana, esta, perigosíssima. 

Só que, mesmo dentro do comunismo, há luta de classes. É por isso que o comunismo é um regime totalitário, brutal, pois simplesmente mata os contrários. 

Na França revolucionária havia os Girondinos, representantes da alta burguesia francesa e que defendiam a instalação de uma monarquia constitucional em substituição ao absolutismo, e os Jacobinos, que representavam a baixa burguesia e defendiam participação popular no governo. Os Girodinos ocupavam a parte direita do salão da Assembleia Nacional e os Jacobinos, o lado esquerdo. 

Os Girondinos defendiam uma revolução liberal, a abolição dos privilégios da nobreza e igualdade perante a lei; já os Jacobinos defendiam o fim dos privilégios para nobreza e do clero, mas queriam a instalação de um regime centralizador. Maximilien de Robespierre, o líder dos Jacobinos, era radical e se transformou em um tirano sanguinário, liderando perseguições políticas e assassinatos de desafetos políticos, um período revolucionário de terror, autorizando, inclusive, a morte de seu antigo companheiro de ideias e líder da Revolução, Georges Danton, que perdeu a cabeça na guilhotina, assim como milhares de pessoas. 

O Período de Terror durou até 1795, quando foi instalado um governo burguês garantido na nova Constituição, abrindo caminho para a ascensão do general francês Napoleão Bonaparte, nomeado para controlar a convulsão social. Napoleão gostou e se autoproclamou primeiro-cônsul e depois imperador da França, seguindo-se um festival de nepotismo. Napoleão invadiu outros países e nomeou seus parentes para reinarem em outras cortes. Assim, depois de milhares de mortos tudo voltou a ser como antes na França, processo que se repetiu na Revolução Russa, entre Mencheviques e Bolcheviques. 

A Revolução Francesa inspirou a criação da primeira organização comunista internacional do proletariado, fundada em 1847, em Londres, pelos pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels, que criaram um modelo de socialismo dito científico apenas para se diferenciar do socialismo utópico: o marxismo, uma proposta revolucionária de implementação de uma sociedade socialista por meio da ditadura do proletariado, a Liga dos Comunistas, com um programa bem definido, o Manifesto do Partido Comunista, sob o lema: “Proletários de todos os países, uni-vos!” 

Mas a Revolução Francesa removeu os últimos entraves ao desenvolvimento do capitalismo e do liberalismo, o que beneficiou a classe burguesa, que já controlava o capital e os meios de produção, razão pela qual ela se tornou o inimigo número um dos comunistas. Mostrou ainda que a tentativa de mudanças radicais, como as desejadas por Danton e Robespierre, desaguam em violência, opressão, dor e sofrimento. 

No comunismo, os meios de produção e o mercado são estatizados e o povo, igualado na base, passa a ter os mesmos direitos, isto é, nenhum, pois o poder fica na mão do partido único, comunista, ou socialista, ou popular, ou com qualquer nome, mas sempre um Cavalo de Tróia fabiano. Marx e Engels beberam no filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, especialmente no seu Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens e Do Contrato Social, de 1762, que diz: “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Esse discurso bonitinho é utilizado ad nauseam pelos comunistas. 

Para Marx e Engels, a História é uma sucessão de lutas entre as classes trabalhadoras, desprovidas de recursos, e as classes exploradoras, proprietárias dos meios de produção, os capitalistas. Observou o revolucionário russo Leon Trotsky: “Quem não vê que a luta de classes conduz inevitavelmente a um conflito armado é um cego”. 

Já o cientista político Francis Fukuyama conclui, no seu livro O Fim da História e o Último Homem, que o liberalismo político e econômico saiu vitorioso na batalha contra o socialismo e o comunismo. Para ele, o liberalismo econômico é o ápice da evolução econômica da sociedade contemporânea, por meio do qual chegamos à plena democracia e à igualdade de oportunidades, com liberdade para a realização dos seus objetivos, alertando, porém, que os países pobres, ou com alta corrupção, são vulneráveis aos regimes totalitários. 

Para Marx, a burguesia, que sucedeu à aristocracia, passou a dominar os meios de produção, numa situação em que os trabalhadores, ou proletários, vendiam a sua força de trabalho, o que considerava uma injustiça, razão pela qual os burgueses deviam ser eliminados. A liberdade, a igualdade e a fraternidade só seriam conquistadas pela morte daqueles que produzem bens. 

Quando Vladimir Lenin assumiu o poder na Rússia, em 1917, a ala bolchevista do Partido Operário Socialdemocrata Russo mudou para Partido Comunista Russo, ideologia que se espalhou para vários países, como a China. O século XX foi flagelado por essa maldição: um terço da população mundial viveu sob regimes comunistas, com partido único e economia planificada, em que a propriedade dos meios de produção é controlada pelo Estado e os burocratas determinam salários, preços e metas de produção, algo tão ineficiente que leva, inevitavelmente, ao colapso da economia; trata-se do experimento social mais trágico da História, resultando em incalculável perda de vidas humanas e na destruição de economias ricas, como aconteceu na Venezuela. 

O filósofo Olavo de Carvalho bem que alertou: Um povo que procura resolver seus problemas materiais antes de cuidar do espírito permanecerá espiritualmente rasteiro e nunca se tornará inteligente o bastante para acumular o capital cultural necessário à solução daqueles problemas. O desconhecimento do plano espiritual, o desprezo pelo conhecimento, a subordinação da inteligência aos interesses partidários são causas do fracasso dos comunistas, que devoram países em questão de décadas, enquanto as nações capitalistas duram séculos. 

Disse o ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill: “O socialismo é a filosofia do fracasso, a crença na ignorância, a pregação da inveja. Seu defeito inerente é a distribuição igualitária da miséria”. 

A Revolução Francesa contou com a participação das classes trabalhadoras, mas desembocou na ditadura do imperador Napoleão Bonaparte. A Comuna de Paris foi o resultado da derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, que derrubou Napoleão, substituído por um governo republicano presidido por Adolphe Thiers. Eleita a Assembleia Nacional, a maioria dos deputados pertencia à ala conservadora, ligada aos proprietários rurais. 

Dois meses depois da instalação da Assembleia Nacional, em março de 1871, uma insurreição popular derrubou o governo republicano e instalou a Comuna de Paris, que pretendia realizar melhorias nas condições de vida e de trabalho dos operários e trabalhadores de baixa renda, como o ensino gratuito e obrigatório, o controle dos preços dos alimentos e a igualdade civil entre homens e mulheres, mas o sonho durou somente 74 dias, devido a brigas internas ocorridas entre anarquistas e marxistas. Cerca de 35 mil comunards, os membros da Comuna, foram mortos em combate ou execuções, 7.500 foram deportados e 15 mil foram presos. Thiers comemorou: “Agora o comunismo está morto para sempre!” 

Apesar de natimorta, a Comuna de Paris foi o estopim da grande tragédia do século XX, como inspiração para a Revolução Russa de 1917, que deu início, na prática, ao comunismo. Marx dizia: “O proletariado é o coveiro da burguesia”. Para isso, era necessário que essa mudança se processasse de forma brusca e violenta, por meio de revoluções armadas. Só que a Rússia tzarista praticamente não tinha proletariado. A maioria da sua população vivia na miséria, analfabeta e, geralmente, escravizada pelos grandes proprietários de terra, diferentemente de países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, onde, segundo Marx, haveria, aí sim, condições para uma revolução socialista. Outra falácia de Marx. 

Em torno do ano 30 da era cristã, Jesus Cristo pregou, em terras do hoje Israel, a igualdade entre os homens, mas por meio do amor, e não pelo terror. 

Em janeiro de 1849, Marx e Engels deixavam claro na revista Neue Rheinische Zeitung seu desprezo por povos que eles consideravam sociedades primitivas da Europa, como os Bascos, Bretões, Sérvios e Escoceses, os quais achavam que deveriam ser destruídos, pois se constituíam em “lixo racial”. Marx afirmava que “as classes e as raças muito fracas para enfrentar as novas condições de vida devem se retirar; elas devem perecer no holocausto revolucionário”. 

Lenin seguiu à risca as instruções de Marx e Engels. Enquanto Adolf Hitler assassinou pessoas de outros países, Lenin e Stalin assassinaram seu próprio povo. Mas houve um momento em que Hitler e Stalin se uniram, assinaram o Pacto Ribbentrop-Molotov, para invadir a Polônia, o que deu início à Segunda Guerra Mundial. Por meio do pacto, Stalin autorizou Hitler a se apropriar de parte da Europa, enquanto os soviéticos ficariam com o resto. 

Assim, em 1 de setembro de 1939, as tropas de Hitler invadiram a Polônia pela fronteira oeste, e, 16 dias depois, os soviéticos a invadiram pela fronteira leste, encontrando-se no centro da Polônia e dividindo o país entre eles, assim como deveria ser feito com toda a Europa. Depois os soviéticos invadiram a Finlândia e assim por diante. A maior máfia do mundo expandia-se pelo planeta. 

A perfeição soviética durou até 26 de dezembro de 1991, quando a URSS implodiu, encerrando 74 anos do “paraíso” na Terra. A Rússia, embora uma potência atômica, só ressuscitaria, já como democracia, mesmo capenga, por intermédio de Vladimir Putin, o tzar dos tempos modernos. As “democracias populares” eram uma enganação, uma forma contemporânea dos velhos impérios. Segundo o cientista social norte-americano Carlton Hayes, o totalitarismo monopoliza todo o poder, exerce uma grande força de fascinação nas massas, lança mão de todos os meios de propaganda e procura desmoralizar a cultura histórica do Ocidente. 

O teórico alemão Carl Joachim Friedrich, professor da Harvard University, juntamente com Zbigniew Brzezinski, no livro Totalitarian Dictatorship and Autocracy, lançado em 1956, aponta as seguintes características de um estado totalitário: partido único; sistema de terror baseado no controle da polícia secreta; monopólio dos meios de comunicação de massa e de armas; e economia estatal. 

Zbigniew Brzezinski, autor do livro The Grand Failure: The Birth and Death of Communism in the Twentieth Century (A Grande Falha: O Nascimento e a Morte do Comunismo no Século XX, em tradução livre do inglês), lançado em 1989, afirma: “A noção de se criar uma sociedade perfeita, ao ir contra a natureza humana, está morta, porque o erro básico do comunismo foi simplesmente não compreender a natureza humana”. 

O romeno Vladimir Tismaneanu, historiador do comunismo e autor de O Diabo na História – Comunismo, Fascismo e Algumas Lições do Século XX, observa que da mesma forma que a massa é manipulada por meio do fanatismo religioso, no comunismo a massa sofre uma lavagem cerebral que a leva a morrer pelo partido único. 

Em 1919, Lenin criou a chamada Terceira Internacional, ou Internacional Comunista, braço do Movimento Comunista Internacional, transformando a URSS na Meca da luta revolucionária comunista, o início de um projeto hegemônico de proporção mundial. A Primeira Internacional, ou Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, aconteceu em Londres, em 28 de setembro de 1864. A Segunda Internacional, ou Internacional Operária e Socialista, ocorreu em 14 de julho de 1889, em Paris, congregando partidos social-democratas e trabalhistas. 

A Terceira Internacional Comunista foi dissolvida em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, por pressão dos aliados da URSS, principalmente os Estados Unidos e a Inglaterra. Durante sua vigência, pode-se observar as brigas intestinas. Ao primeiro sinal de discordância o partido único expulsa o dissidente, uma característica do comunismo. 

Desde que assumiu o poder, Lenin deixou claro que jamais admitiria discordância na condução do movimento comunista. Exigia fidelidade canina. Sem ditadura interna não poderia haver ditadura do proletariado. Os teóricos marxistas Nikolai Bukharine e Evgueni Preobrazhensky registram no livro ABC do Comunismo que os antigos partidos socialistas se dividiram, em quase todos os países, em três correntes: os social-patriotas, traidores confessos e cínicos; os traidores dissimulados e hesitantes, chamados centristas; e os que permaneceram fiéis ao socialismo, em torno dos quais se organizaram, mais tarde, os partidos comunistas. 

Embora nos seus discursos os líderes só falem em povo e massas, são intelectuais, vaidosos dos seus conhecimentos teóricos, que não colocam a mão na massa, não conhecem o povo e evitam as massas. Napoleão Bonaparte já advertia: “A vaidade fez a revolução, a liberdade foi apenas o pretexto”. 

Na China, entre 1949 e 1976, derrotadas as forças de Chiang Kai-Shek para os comunistas de Mao Tsé-Tung, o número de chineses que morreram executados, de fome e trabalhos forçados é de 100 milhões. O Grande Salto para Frente, programa econômico e sociopolítico implementado por Mao, entre 1958 e 1960, que visava transformar a China de um país agrário para uma potência industrial, foram ceifados até 75 milhões de chineses. 

No fim da década de 1950 e início dos anos 1960, calcula-se que mais de 30 milhões de chineses morreram de fome, devido a ordens insanas de Mao Tsé-Tung. Por fim, faminta, a China de Mao mergulhou de cabeça no capitalismo, embora submetido ao totalitarismo do Partido Comunista, mas se tornando a segunda economia mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. 

A revolução comunista chinesa, em 1949, enviou capitalistas, trabalhadores e intelectuais para campos de reeducação, e tudo ficou pior, até 1978, com as reformas de Deng Xiaoping, que deram início ao processo de abertura capitalista do país e o surgimento de centenas de bilionários e milhares de milionários, embora, no outro lado da moeda, o estado totalitário mantenha a maioria da população na miséria e mate a seu bel-prazer. Exemplo: o Massacre na Praça da Paz Celestial, com 10 mil manifestantes contra o comunismo esmagados por veículos blindados e perfurados a baioneta pelos soldados do Exército Chinês, em junho de 1989. 

A Tcheka, polícia secreta de Lenin, tinha a missão de reprimir e liquidar qualquer coisa considerada contrarrevolucionária e inimigos do regime. A espada e o escudo da Revolução foram mantidos no escudo do KGB, órgão que substituiu a Tcheka, que tinha o assassinato como rotina, às vezes assassinatos em massa. Julgamento era luxo. E outro tanto da população era jogado em campos de trabalhos forçados, de extermínio. 

De 1917 até a primeira metade de 1919, a Tcheka matou em torno de 7 mil pessoas e enviou 90 mil para a escravidão, chefiada por Felix Dzerzhinksy, implacável e brutal assassino, escolhido a dedo por Lenin. Por decreto de Lenin, a Tcheka estava fora do controle do Judiciário e assim podia matar à vontade. Sua única obrigação era informar suas ações ao Conselho dos Comissários do Povo e ao poderoso Comitê Executivo Central da Rússia. Os métodos de tortura da Tcheka só perdem para os da Santa Inquisição. 

Lenin era brutal com os kulaks, os pequenos empresários agrícolas. Quando deflagrou a chamada prodrazvyorstka, a política de confisco de grãos e outros produtos agrícolas dos camponeses, o saque de todo o fruto do seu trabalho, na localidade de Penza, próxima de Moscou, ordenou: “Camaradas! A revolta dos kulaks deve ser suprimida sem piedade. O interesse de toda a revolução exige isso, porque já temos diante de nós a nossa batalha decisiva final com os kulaks. Precisamos dar um exemplo. Você precisa pendurar, sem falhar, e fazê-lo para que o público veja, pelo menos 100 kulaks notórios, os ricos e os sanguessugas. Publique seus nomes. Retire todo o seu grão. Execute os reféns – de acordo com o telegrama de ontem. Isso precisa ser realizado de tal forma que as pessoas por centenas de quilômetros ao redor vejam, tremam, conheçam e gritem: vamos sufocar e estrangular aqueles kulaks sugadores de sangue. Telegrafe-nos reconhecendo o recebimento e a execução deste. Lenin. P.S.: Use as pessoas mais brutais para isso”. 

Lenin declarou, em meados de setembro 1918: “Para vencer os nossos inimigos, devemos ter o nosso próprio militarismo socialista. Temos de carregar conosco 90 milhões dos atuais 100 milhões da população da Rússia Soviética. Quanto ao resto, não temos nada a dizer a eles. Eles devem ser aniquilados”. 

Essa era a ordem do homem que conseguiu inspirar e cooptar milhares de campesinos russos prometendo “pão, paz e terra” para que se juntassem a ele e ao seu projeto revolucionário. Na realidade, a fome era tanta que campesinos começaram a comer cadáveres de crianças, que tinham a carne mais palatável. 

No total, entre 1918 e 1919, os bolcheviques já tinham matado 1.700.000 dos seus patrícios. 

Em 23 de janeiro de 1918, Lenin rompe oficialmente com a Igreja Ortodoxa Russa, mandou assinar líderes religiosos, pilhou seus imóveis e substituiu o ensino de religião por ateísmo nas escolas públicas. Padres, monges e freiras foram crucificados, atirados vivos em caldeirões de piche fervente, escalpelados, estrangulados e afogados em buracos no gelo. 

O método de supressão da oposição política pelo “Terror de Massa”, o “Terror Vermelho”, foi padronizado e continuado pelo sucessor de Lenin: Josef Stalin. Era a ditadura contra o proletariado. 

Em 21 de janeiro de 1924, Lenin morre. Assume o poder totalitário Josef Stalin, que trapaceou Leon Trotsky, desterrando-o para o México, onde foi assassinado a mando de Stalin. 

Durante a invasão alemã na Segunda Guerra Mundial, o que restava da Igreja Ortodoxa incorporou a estrutura da Igreja Greco-Católica, que também sofreu brutal repressão na União Soviética, com todos os seus bispos enviados para campos de concentração e alguns assassinados logo. Mas, em 1959, o então tzar Nikita Khrushchev começa novamente a arrasar com os frangalhos da Igreja Ortodoxa Russa, fechando 12 mil delas. 

Em 1985, menos de 7 mil igrejas ainda abriam as portas, porém com membros da hierarquia da Igreja presos ou expulsos e seus lugares ocupados por clérigos dóceis, com ligações com o KGB, o órgão de inteligência do governo soviético. Nas décadas de 1970 e 1980, a Igreja vivia nas sombras. Aí veio o tzar Mikhaíl Gorbatchov, que governou entre 1985 e 1991, e deu liberdade aos fiéis ortodoxos. 

Acredito que o comunismo fascina os psicopatas porque nele não há Deus, tudo é permitido. É “the opium of the intellectuals”, “o ópio dos intelectuais”, como dizia o filósofo francês Raymond Aron, para quem nenhuma outra doutrina criou no homem uma “ilusão da onipotência” como o marxismo. E os comunistas velhos, viciados, fecham os olhos para as atrocidades do comunismo, vivem a angústia de não admitirem que se enganaram, temem as patrulhas ideológicas, o desprezo dos companheiros e da mídia fabiana, ou continuam acreditando no engodo por teimosia, burrice, interesses econômicos, ou simplesmente para ficar bem na foto, pois, afinal, comunistas são como o Papa, não podem se enganar, são infalíveis. 

O mais famoso romancista brasileiro, o baiano Jorge Amado, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), em São Paulo, em 1946. Mas, desde o início, ele demonstrou que se equivocara com o comunismo, pois foi o autor da emenda que garantiu liberdade religiosa, já que estava ciente do sofrimento que era, naquele Brasil da primeira metade do século XX, de seguir seus cultos, especialmente os descendentes dos escravos africanos. Em 1956, desligou-se do PCB e se dedicou exclusivamente à sua missão: escrever romances. 

A falácia de que o comunismo seria a ditadura do proletariado é brilhantemente rebatida pelo professor Paulo Afonso Carvalho: a ditadura do proletariado nunca existiu. É, de fato, a ditadura de um partido só, que age em nome do proletariado. Na verdade, a ditadura do proletariado é a ditadura do líder supremo de um partido único. O proletariado é apenas massa de manobra para se chegar ao poder; em lá chegando, que o proletariado se exploda. 

Além do proletariado, os líderes comunistas são eminentemente fascistas, pois buscam manejar a seu favor as decepções e inconformidades sociais existentes, seduzindo minorias lançadas na marginalidade, na ignorância e no desespero, fazendo dessas minorias uma força de choque contra os cidadãos conscientes, que pagam direitinho seus impostos. Assim, a contracultura popular se torna um instrumento impulsionador de cada trabalhador, canalizada para o objetivo da revolução. E aos que não aceitam isso a palavra de ordem é matar, eliminar, destruir. 

De modo que comunismo e nazismo são faces da mesma moeda. A diferença é que enquanto Hitler promoveu o genocídio de outros povos, Lênin e Stalin assassinaram o seu próprio povo. Onde quer que tenha se instalado – Rússia, Cuba, Venezuela –, a ideologia comunista sobrevive graças ao terror, a repressão feroz aos seus opositores, e ao crime organizado. 

O sonho acabou; só restam os pesadelos. Muitos intelectuais e políticos, que não admitem terem se enganado e embarcado em uma canoa furada preferem continuar em sono agitado. 

Como política econômica, o comunismo não se sustenta, mas quando o povo se dá conta disso já é tarde; está escravizado, esmagado pela sombra da morte. 

Acorda, Brasil!

Texto baseado nos livros O CLUBE DOS ONIPOTENTES, de Ray Cunha, e MARXISMO: O ÓPIO DOS INTELECTOIDES LATINO-AMERICANOS, de Jorge Bessa.

MARXISMO: O ÓPIO DOS INTELECTOIDES LATINO-AMERICANOS