O momento do dia que mais me causa prazer é às 5 horas. É madrugada, e os sons do amanhecer pulsam como música de Mozart, até o sol iluminar as rosas. Levanto-me e pouco depois preparo café Três Corações, gourmet, e bebo três xícaras médias com leite em pó e, geralmente, como pão com passas. Então vou ao encontro das personagens de ficção com quem eu convivo. Neste sábado, minha rotina foi mais azul, pois ouvi, no melhor horário do mundo, os sons do acme, que arranquei, com minhas mãos de poeta, da mulher amada. Os sons do acme são combustível poderoso, que nos remete para a dimensão dos abismos de rosas, em voos tão inacreditáveis como o de um avião, tão redentores quanto o sorriso misterioso da mulher amada, na entrega total, naquele momento em que ela se torna a princesa que nunca deixou de ser.
Neste sábado, o jardim da minha casa é um cataclismo de rosas. Há tantas, e amarelas, que deixariam Gabriel García Márquez embriagado. Ouço agora Mireille Mathieu, Um monde avec toi, “no acme, contigo”, eu traduziria. Também vi fotos de Núbia Santana e li versos que falam de cavalos, maré e do próprio mar, de Elzita Maria de Lima. Tudo isso neste sábado. Também a mulher amada preparou pirarucu, um dos mais saborosos peixes do mundo, no tucupi e jambu. Delícia! Remete-me ao tacacá da banca defronte ao Colégio Nazaré, em Belém do Pará, e à Estação das Docas, trilha que leva a Macapá e ao Caribe. E assim avança o sábado, no seu rio azul como os poemas da Alcinéa Maria Cavalcante, filha do poeta Alcyr Araújo e afilhada do também mago prestidigitador de palavras Isnard Brandão Lima Filho.
Deus descansou no azul do sábado, segundo os judeus. Penso que o Pai repousou num jardim prenhe de rosas vermelhas, e já colombianas, ao som do riso de crianças, e os jasmineiros espargiam Chanel número 5.
Os sábados são pedras preciosas que nascem no relicário do meu coração, com as quais presenteio a todos que eu amo. Que o azul dos sábados invada a privacidade de todos que precisam me perdoar, para que se livrem de qualquer resíduo de mágoa que respingou na região pantanosa do subconsciente, e sintam-se livres para viajar na luz. Viver os sábados é preciso; viver não é preciso, porque o sétimo dia é feito de azul, tão azul que é branco, como a luz. Os sábados são todos os dias, é a própria vida, e são azuis.
Os sons do acme, misturados aos sons da madrugada, que ouvi hoje, são feitos de uma substância que só encontramos no primeiro beijo, no nascimento dos nossos filhos, na criação de personagens de ficção, na oração, no riso da mulher amada, na luz. São sons que só ouvimos com os tímpanos dos nervos e especialmente às 5 horas, que é a hora em que Deus, que nunca dorme, acorda.