quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Escritor apresenta romance como trabalho de conclusão do curso de Medicina Tradicional Chinesa da Escola Nacional de Acupuntura

Capa na edição do Clube de Autores

Capa na edição da Amazon.com
BRASÍLIA, 15 DE DEZEMBRO DE 2016 – O romance FOGO NO CORAÇÃO, de Ray Cunha, foi publicado hoje no Clube de Autores e na Amazon.com. Após pedido, o livro chega ao endereço do comprador em torno de uma semana. FOGO NO CORAÇÃO é como um iceberg. Na parte submersa, move-se o universo da Medicina Tradicional Chinesa, alicerçando a trama da novela: O delegado de Repressão a Homicídios, Ricardo Larroyed, também acupunturista e professor no Instituto Holístico, investiga o suicídio e o assassinado de três modelos de moda, ocorridos ao longo de 2016, em Brasília. Todas elas eram pacientes em acupuntura, sendo que duas delas foram atendidas no Instituto Holístico. O principal suspeito é o professor do Instituto Holístico, mestre em artes marciais e poeta Emanoel Vorcaro, sócio de Ricardo Larroyed na Clínica de Terapias Holísticas, onde Vorcaro atende a estonteante modelo Rosa Nolasco.

FOGO NO CORAÇÃO é ambientado no dia-a-dia do mundo da Medicina Tradicional Chinesa. Por trás da trama, fluem várias questões vivenciadas por quem estuda, leciona ou trabalha no âmbito da MTC. Por isso, Ray Cunha adverte: “Todas as personagens desta novela são fictícias, assim como a ambientação foi inventada, com exceção do escritor, pesquisador, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa, que também trabalhou na área de inteligência e serviu ao Brasil em Moscou. Bessa aparece no romance com um perfil biográfico ligeiramente modificado; trata-se de uma homenagem a um amigo que tem minha admiração, especialmente pelo seu trabalho de pesquisa no campo espiritualista”.

Ray Cunha (Foto: Rodrigo Cabral/2012)
É a primeira vez que um aluno de MTC apresenta como trabalho de conclusão de curso uma peça de ficção. Tudo começou na primavera de 2013, quando, orientado por Jorge Bessa, o jornalista e escritor Ray Cunha começou o curso de Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc), em Brasília. Durante o curso, ele observou que o grande desafio dos acupunturistas no Brasil é o desconhecimento, por parte da população, das técnicas da MTC.

Foi assim que resolveu desafiar a tradição da academia e apresentar um inusitado, surpreendente, trabalho de conclusão de curso, orientado pelo professor-acupunturista Ricardo Antunes, com a missão de divulgar a Medicina Tradicional Chinesa, essa ilustre desconhecida no Brasil, inclusive vista por muitos, ainda, como bruxaria. O autor entendeu que um romance com foco no universo da MTC tem o poder de divulgar essa filosofia e ciência terapêutica na mesma medida do sucesso editorial da novela.

Neste contexto, FOGO NO CORAÇÃO aborda várias questões no âmbito da MTC, desde o estudo de caso de uma paciente de mioma até a técnica de inserção de agulha e questões existenciais e transcendentais, como o misterioso Qi, numa abordagem ampla do que é a Medicina Tradicional Chinesa.

RAY CUNHA é autor dos romances HIENAA CONFRARIA CABANAGEM e A CASA AMARELA (esgotado), e das novelas NA BOCA DO JACARÉ, INFERNO VERDE (que integra o livro O CASULO EXPOSTO) e A GRANDE FARRA (esgotada).

E-mail do autor: raycunha@gmail.com

TRECHO DE FOGO NO CORAÇÃO

“Em conversa com uma colega major, que fazia o Curso de Medicina Tradicional Chinesa no Instituto Holístico, Francisco Nolasco foi orientado a levar sua irmã, Rosa Nolasco, para ser atendida, segundo a major, pelo professor mais brilhante do curso, Emanoel Vorcaro. Rosa Nolasco era tão linda que os homens com o dom do olhar clínico desejavam engoli-la, engravidar-se dela, e sentir o eterno e intenso triunfo da maternidade. Brasiliense da gema, filha de diplomata americano e uma potra de Belo Horizonte, era dessas mulheres que param o trânsito, literalmente, daí porque raramente são vistas caminhando na rua; escondem-se em automóveis indevassáveis, de onde saltam para atravessar apenas uma calçada, sempre de óculos escuros. E seu elemento é a noite. Ruiva, os cabelos caindo como ervas daninhas numa cascata caudalosa até ancas africanas – herança da mistura entre um lusitano e uma princesa moçambicana em uma geração bem anterior à sua –, a pele rosada, olhos verdes como folhas de jambu, lábios grandes, grossos e vermelhos, nariz arrebitado, e um sorriso que era uma queda para cima, foi estuprada a primeira vez aos 14 anos, idade em que a mulher ainda é criança, prestes a se transformar em borboleta. Depois dessa primeira vez, o autor, um tio de 40 anos, estuprou-a mais oito vezes, até ela engravidar e ser conduzida a um matadouro, onde sangrou a ponto de quase morrer, resgatada pelo seu irmão, Francisco Nolasco, major da Polícia Militar do Distrito Federal, atirador de elite. O tio, um tal de José Antônio, foi encontrado com os bagos e o pênis destroçados a tiros e uma bala na hipófise, flutuando no Lago Paranoá, onde, a bordo de um iate, promovia bacanais pantagruélicas. Aos 17 anos, Rosa, uma flor de 1,80 metro e 70 quilos, iniciava a profissão de modelo, em plena tragédia, pois quase todo mundo que gravitava em torno dela queria predá-la, incluindo mulheres invejosas, mas seu maior predador era ela mesma. Passara por muitas camas, abortos e a exploração mais abjeta, porém seu corpo tinha a invulnerabilidade das rosas, que são frágeis, mas eternas. Sua tragédia perpassava pelo histórico das mulheres da família: o mal instalara-se com fúria no seu útero: uma colônia de miomas.

“Quando Rosa Nolasco chegou, o professor Emanoel Vorcaro a aguardava. Ele dividia seu tempo entre a Universidade de Brasília, o Instituto Holístico, a Clínica de Terapias Holísticas e sua casa, na 703 Sul. Estava lendo alguma coisa quando os irmãos entraram no consultório. Vorcaro deixou de lado o que estivera lendo e pousou os olhos mortos nos olhos dela, e assim permaneceu por tempo excessivo, como um especialista em iridologia perscruta a alma do paciente, mergulhando nos subterrâneos labirínticos, nos pântanos, nas pradarias, nos jardins, no sol, nos olhos de Rosa Nolasco, que, de manhã, assumiam uma nuança azul; à medida que o dia avançava, e quanto mais calor fizesse, então as esmeraldas surgiam em meio aos arbustos rubros; e, à noite, eram como jambu, prenhes de espilantol. Emanoel Vorcaro gemeu. Provavelmente o gemido foi mental. A eternidade daqueles segundos o inebriara: sentiu cheiro de mar, ouviu risos de crianças, a voz de Frank Sinatra em alguma alcova perdida na paisagem vista da janela daquele quarto de hotel, em Paris, ao cair da noite, naquele momento e condições que tornam gentil todo o mundo, e viu sua esposa com seu filho imaginário no colo, rindo o riso cristalino das mulheres lindíssimas, e que o perseguia aonde quer que fosse.”