sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Bolsonaro e Mourão precisam ir logo ao Amapá para visitarem o Porto de Santana e a BR-156


RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 28 DE AGOSTO DE 2020 – Em um ano e meio o Brasil já é outro. O presidente Bolsonaro pegou o país descarrilado em uma ladeira íngreme rumo a um mar de chorume e em 20 meses já reativou o parque industrial do Sudeste, levou água para o Nordeste, botou para correr as quadrilhas que vinham pilhando a Amazônia, está recuperando as rodovias brasileiras e logo começará dois megaprojetos: um ferroviário e outro portuário. É nesse contexto que tanto Bolsonaro quanto o vice-presidente, general Mourão, devem se obrigar a ler não somente este artigo, como meu romance ensaístico JAMBU, e, por consequência, visitarem o Porto de Santana e a BR-156. Eis por que. 

O mais estratégico porto brasileiro fica na Zona Metropolitana de Macapá/AP: o Porto de Santana/AP. Ele foi construído para embarcar o melhor manganês do mundo, o de Serra do Navio/AP, que foi estocado nos Estados Unidos como reserva estratégica, até exaurir a mina no Amapá. Depois, porto foi municipalizado. Sua profundidade é adequada a qualquer cargueiro transoceânico e é o porto brasileiro mais próximo, simultaneamente, dos mercados dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia via Canal do Panamá. Pode receber todas as commodities da Amazônia por hidrovias; do Centro-Oeste, por estradas e hidrovias; e do Sudeste e do Sul, por rodovias. Enquanto o PT preferiu construir um porto em Havana, Cuba, com dinheiro pilhado do Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atualmente o Porto de Santana é subutilizado. 

Mais: as commodities destinadas à América Central podem ser armazenadas em Santana/AP e de lá seguirem pela BR-156, que liga o porto à Caiena, a capital da colônia que os franceses chamam de departamento ultramarino, e de lá para toda a América Central. Mas o governo federal vem enviando dinheiro para a construção da BR-156 há 80 anos, e ela nunca foi concluída, o que se configura como espantoso recorde mundial dos governadores locais, de irresponsabilidade, preguiça e desprezo para com os amapaenses. No inverno amazônico, a parte inacabada da rodovia se transforma em um atoleiro; no verão, em um inferno de poeira. 

Mais: a rodovia termina na cidade de Oiapoque, no norte do Amapá, separado da Guiana Francesa pelo rio Oiapoque. Em 2008, começaram a construir uma ponte binacional, que ficou pronta em 2011, mas não foi inaugurada porque a BR-156 não estava pronta; tornou-se um enfeite até 20 de março de 2017, quando finalmente foi inaugurada, pois a BR-156, mesmo inacabada, constitui-se na única via de exportação utilizada por caminhoneiros. Também muitos turistas de automóvel utilizam a rodovia, mesmo com os perigos que ela apresenta, pois, para muitos brasileiros, principalmente da Amazônia, Caiena é a porta da Europa.

Também a costa do Amapá é a mais rica em todo tipo de criaturas do mar, a mais invadida por piratas internacionais e a mais mal guardada pela Marinha de Guerra. Mas isso é outro artigo.

No romance ensaístico JAMBU a Questão Amazônica é esmiuçada, e o Amapá, que é onde se passa a trama do livro, é examinado com microscópio. Leia dois trechos de JAMBU:

“Mas a Amazônia já está ocupada. Por exemplo: o Japão não importa mais apenas bauxita, mas alumina, produzida graças à energia de Tucuruí agregada ao produto. Uma das matérias da Trópico Úmido era sobre a New Steel, mineradora americana que levou de Serra do Navio, no Amapá, 40 milhões de toneladas do manganês mais puro do mundo, deixando um buraco gigantesco.

“Em 1943, o interventor do Território Federal do Amapá, capitão Janary Gentil Nunes, já sabia que na região dos rios Amapari e Araguari havia manganês, que entra na composição de várias ligas de aço, na fabricação de fertilizantes, no clareamento de vidros, no fabrico de pilhas secas e na produção de tintas e vernizes. Janary fora avisado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em 1945, ofereceu um prêmio em dinheiro para quem identificasse exatamente onde o minério estava. Um comerciante ribeirinho, chamado Mário Cruz, levou pessoalmente ao interventor algumas pedras que usara como lastro para seu barco, escuras e pesadas. O material foi analisado no DNPM, no Rio de Janeiro, pelo engenheiro Glycon de Paiva, que bateu o martelo: tratava-se de manganês de alto teor. Glycon foi então à região analisar os depósitos. Ele viu uma profusão de morros cobertos de floresta; um deles era um gigantesco bloco de manganês que lembrava a proa de uma embarcação. Então Janary convenceu o presidente Gaspar Dutra a criar uma reserva nacional englobando a mina de manganês e conferindo ao Território Federal do Amapá a competência para prospectá-la e explorá-la por meio de concessão. Três empresas responderam ao convite para explorar a mina: a subsidiária brasileira da United States Steel, Companhia Meridional de Mineração; a Hanna Coal & Ore Corporation; e a Sociedade Brasileira de Indústria e Comércio de Minérios de Ferro e Manganês (Icomi), fundada em 1942, com sede em Belo Horizonte e atuação em Minas Gerais, que venceu a concorrência. Só que depois de ganhar a concorrência, a Icomi se associou à americana Bethlehem Steel, maior consumidora mundial de manganês, formando a holding Caemi Mineração, criada por Augusto Trajano de Azevedo Antunes, paulistano nascido em 1906 e falecido na Cidade Maravilhosa, em 1996, formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica de São Paulo, em 1930. Com a guerra fria, a União Soviética deixou de suprir de manganês o mercado norte-americano, aumentando, assim, a cotação internacional do produto. Augusto Nunes, que já explorava o minério de ferro no pico do Itabirito, em Minas Gerais, criou então a Icomi, em 1947, e, em 1948, começou as atividades de mineração no Amapá. O contrato de exploração, assinado em 1947, previa que a Icomi teria de investir no Amapá pelo menos 20% de seu lucro líquido; a exploração de um perímetro máximo de 2.500 hectares, o equivalente a 0,17% do território amapaense, e o pagamento de 4% a 5% da receita totais em royalties ao governo do Amapá. Previa, ainda, uma área adicional de 2.300 hectares para a construção de instalações industriais, complexo ferroviário, e duas vilas, que dariam origem às cidades de Santana e Serra do Navio, as quais começaram a ser construídas em janeiro de 1957 e ficaram prontas em 1959. A Estrada de Ferro Amapá, inaugurada em 1957, tem 194 quilômetros, ligando Serra do Navio ao Porto de Santana. Em 1980, com o manganês de Serra do Navio, comprado a preço de banana, estocado nos Estados Unidos, a Bethlehem vendeu sua participação para a Caemi, que encerrou a exploração de manganês em 1997, embora, em 1953, no governo de Getúlio Vargas, a concessão para explorar o minério previa o prazo de 50 anos. Desde 2003, a Caemi  pertence à Companhia Vale do Rio Doce. Em março de 2006, a MMX Mineração e Metálicos, do empresário Eike Batista, assumiu o controle da Estrada de Ferro Amapá, por vinte anos. Em 2008, a MMX foi vendida para a Anglo American. Em 2013, o controle foi repassado para a mineradora inglesa Zamin, e, em 2015, para a Secretaria de Estado de Transportes, quando a linha ferroviária foi também paralisada. Hoje, o governo do Amapá acusa a Icomi de contaminar com arsênio o Porto de Santana e a Vila Elesbão. O morro que lembrava a proa de um navio desapareceu e se transformou numa cratera, até acabar o manganês de boa qualidade. “Não se previa que a exploração seria tão intensiva a ponto de esgotar totalmente a reserva” – comentou Aziz Ab’Sáber, titular do Departamento de Geografia e professor emérito do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). As escavações eram feitas 24 horas por dia. Algumas crateras formaram lagos, alimentados pelo lençol freático. O Morro do Navio foi transformado no Lago Azul. O fato é que a Icomi cumpriu o contrato, mas o poder público deixou que Santana e Serra do Navio sucumbissem. Os governos que passaram pelo Amapá, durante o reinado da Icomi, nunca aplicaram os royalties com sustentabilidade. Restou também o porto mais estratégico da Amazônia, Santana, de onde se pode exportar matéria-prima e produtos manufaturados e industrializados para todo o planeta. A rodovia Perimetral Norte, que deveria ligar Macapá a São Gabriel da Cachoeira, é hoje a única alternativa de transporte para Serra do Navio. A Anglo American comprou uma área da Icomi para a pesquisa de ouro no município vizinho de Serra do Navio, Pedra Branca do Mapari, e descobriu uma mina gigantesca”.

E: “Há duas rodovias federais no Amapá: a BR-210 e a BR-156. A BR-210 é, na verdade, um embrião; conhecida como Perimetral Norte, tem pouco mais que 471 quilômetros. Começa em Macapá e vai até Serra do Navio, terminando na divisa com o Pará. Mas a rodovia que realmente tem importância para o estado é a BR-156, que começou a ser pensada em 1932. Até 1945, somente nove quilômetros foram construídos. Ela começa no município de Laranjal do Jari, vai até a capital do estado, Macapá, e termina no município de Oiapoque, no extremo norte. São 595 quilômetros entre Macapá e Oiapoque, e 369 quilômetros entre Macapá e Laranjal do Jari, totalizando 964 quilômetros. Jamais foi concluída, mas é trafegada, desde sempre. Nos tempos heroicos, durante os seis meses de estiagem, transformava-se em um poeiral sufocante, e nos seis meses de chuva, em um inferno de lama. Em 2011, foi construída uma ponte binacional sobre o rio Oiapoque, ligando Macapá a Caiena, a capital da Guiana Francesa.

“Com 84 mil quilômetros quadrados, a Guiana Francesa é limitada ao norte pelo oceano Atlântico, a leste e a sul pelo Amapá e a oeste pelo Suriname. Foi colônia francesa até 1947, quando passou a departamento ultramarino francês, com representação no Senado e na Assembleia Nacional da França, e seus cidadãos participam das eleições para presidente da França. Como integrante da União Europeia, a moeda local é o euro. O Centro Espacial de Kourou serve à Agência Espacial Europeia desde 1968. Ou seja, a Guiana Francesa é o principal território da União Europeia na América do Sul. Vizinho da Guiana Francesa e fazendo fronteira com um pedacinho do Amapá, fica o Suriname, antiga Guiana Holandesa, e que tem como capital Paramaribo. Com pouco menos de 165 mil quilômetros quadrados, é o menor país da América do Sul. Em 25 de novembro de 1975, deixou o Reino dos Países Baixos para se tornar um estado independente. Limitado a norte pelo oceano Atlântico, a leste pela Guiana Francesa, ao sul pelo Brasil, é vizinha da Guiana, antiga Guiana Inglesa, a oeste, que, por sua vez, se limita com o Brasil ao sul e sudoeste, com a Venezuela a oeste, e com o oceano Atlântico ao norte. A Guiana, capital Georgetown, conquistou sua independência do Reino Unido em 26 de maio de 1966, constituindo-se o único estado-membro da Commonwealth na América do Sul.

“É neste cenário que a Fortaleza de São José de Macapá estava fadada a se tornar o mais emblemático cartão postal dos macapaenses, juntamente com dois marcos de grandeza planetária: a Linha Imaginária do Equador, que secciona a cidade, e o Canal do Norte do rio Amazonas, que a banha na margem esquerda. Enquanto o Equador é só uma linha imaginária, o rio Amazonas é a substância da cidade. Com descarga hídrica tão gigantesca que reduz a salinidade superficial do mar, pois despeja em média 180 mil metros cúbicos de água por segundo no Atlântico, dos quais 65% via Canal do Norte – 16% da água doce vazada para os oceanos do mundo. Assim, o rio invade o mar com 8,6 baías de Guanabara e espantosos 3 milhões de toneladas de sedimento a cada 24 horas, ou 1,095 bilhão de toneladas por ano. O resultado disso é que a costa do Amapá continua crescendo. A boca do Canal do Norte, escancarando-se do arquipélago do Marajó, no Pará, até a costa do Amapá, mede em torno de 240 quilômetros, onde o Amazonas penetra cerca de 320 quilômetros no mar, atingindo o Caribe nas cheias, e, juntamente com outros gigantes do Pará e Amapá, e extensos manguezais, contribui para que a Amazônia Azul setentrional seja a costa mais rica do planeta em todo tipo de criaturas marinhas”.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

O que é a dor? É possível extinguir a dor aguda só com acupuntura? E a dor crônica? E a causa?

O TCC de Ray Cunha na Escola Nacional de Acupuntura foi um inusitado romance

RAY CUNHA*

BRASÍLIA, 18 DE AGOSTO DE 2020 – A dor não está na matéria; está na mente. Essa observação é do filósofo japonês Masaharu Taniguchi, fundador da Seicho-No-Ie. Para comprovar isso, ele menciona um cadáver, que não sente dor, porque a mente já se desligou do corpo. Masaharu, que estudou a fundo o budismo, também afirma que a matéria não existe, o que foi confirmado por Albert Einstein. O que existe é vibração; a matéria é apenas um estado muito acelerado dessa vibração. 

A matéria não existe. O que existe é o espírito. Mas o que é o espírito? Geralmente pensamos o espírito como a energia vital que anima o corpo físico, e também como a mente, que é a consciência, o pensamento. O espírito é o ser por excelência, a vibração divina, digamos assim. Encarnamos para evoluir o espírito, pois a matéria é o estado mais primitivo do ser; é o reflexo da dor, que pode chegar a um nível tão insuportável a ponto de desejarmos extirpar a parte da matéria onde se situa o foco da dor. 

Comecei o curso técnico de Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (Enac), em Brasília/DF, no segundo semestre de 2013. Tive excelentes professores, entre os quais o especialista em analgesia em acupuntura e terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa clássica Francisco Vorcaro, que estuda medicina chinesa em mandarim, e Ricardo Augusto Comelli Antunes, um gigante no embate pela regulamentação da profissão de acupunturista no Brasil, e que aprovou meu trabalho de conclusão de curso, um inusitado romance policial, mas com estudo de caso: o de uma jovem portadora de uma colônia de miomas, com o devido protocolo de tratamento. Terminei o curso no primeiro semestre de 2016, mas comecei a clinicar em 2014, quando ouvi falar no astrofísico e médium Laércio Fonseca. 

Desde 2000, leio avidamente os livros de Masaharu Taniguchi e, mais para a frente, Allan Kardec, Chico Xavier, André Luiz etc. Entre 2014 e 2015, comecei a ouvir palestras proferidas por Laércio Fonseca no YouTub, além de frequentar a casa do meu amigo Jorge Bessa, espiritualista, ufologista, acupunturista, psicanalista, ex-chefe da contraespionagem do estado brasileiro, autor de mais de uma dezena de livros, que vão de acupuntura à política, de ufologia à espionagem. Também, sou atento à psicóloga Josiane Souza Moreira Cunha, especializada em pacientes oncológicos e em cuidados paliativos, e minha esposa. Isso me norteou como acupunturista. 

Norteou-me da seguinte maneira: talvez o melhor exemplo que posso dar é o de um paciente que atendi no Centro Espírita André Luiz (Ceal), no Guará I, onde, nas manhãs de domingo, uma equipe coordenada pelo acupunturista e jornalista José Marcelo Santos realiza trabalho voluntário em acupuntura e massoterapia. A ficha desse paciente já estava massuda; acho que ele havia passado por todos os terapeutas da equipe. Mas, naquela manhã, eu já vinha desenvolvendo o que eu chamo de acupuntura espiritualista. 

O paciente sofrera de câncer no intestino grosso, que fora extirpado, e vinha baixando hospital toda semana, pois tudo o que comesse lhe causava diarreia. Disse-lhe que, na verdade, seu intestino grosso continuava intacto. Ele me olhou incrédulo. Expliquei a ele que somos espíritos, compostos de várias camadas, chamadas de corpos; que o corpo material é a ponta do iceberg; que, ao se remover um órgão do corpo físico, ele permanece no duplo etério, que faz a ligação do corpo material com o perispírito, ou corpo astral. A prova disso, disse-lhe, é que, por exemplo, uma pessoa pode sentir coceira em um membro extirpado. Ele começou a entender. 

Aí, disse-lhe que o meridiano do seu intestino grosso, composto de um total de 20 acupontos, estava ali, intacto, e que eu iria fazer uma limpeza energética nele, por meio da acupuntura. Fiz isso, além de tonificar seu baço e de lhe fazer algumas recomendações em termos de alimentação. No domingo seguinte voltei a atendê-lo; ele não baixara hospital. Três meses depois ele mesmo pediu alta, bonzinho do problema digestivo. 

O filósofo, físico e matemático renascentista francês René Descartes, ou Renatus Cartesius, foi um dos gênios da Humanidade, um avatar. Para ele, a glândula pineal seria a sede da alma. Também conhecida como conarium ou epífise cerebral, a pineal, em forma de pinha, é uma pequena glândula endócrina encontrada no centro do cérebro dos vertebrados. Produz melatonina, um derivado da serotonina, que modula os padrões de sono. Os exotéricos a chamam de o terceiro olho, ou sexto chakra, Ajna, situado entre as sobrancelhas, o equivalente, em acupuntura, ao Yintang, um acuponto que, segundo Ysao Yamamura, acalma o espírito e clareia a mente, combatendo ansiedade, insônia, medo, vertigem, cefaleia e epistaxe. 

Minhas pesquisas mostraram que a pineal é a conexão do duplo etério, ou seja, é por onde o perispírito se conecta com o corpo físico. Vi também que o perispírito, ou corpo astral, é a sede das emoções, e é nas emoções que se situa a causa de todas as doenças. Então, quando acolhemos um paciente, a primeira coisa que se faz é extirpar a dor física, aquela que já passou para seus neurônios, e só depois lhe perscrutamos a alma. 

À medida que mergulho nesse tipo de trabalho que venho desenvolvendo sinto crescer em mim uma percepção extra-sensorial. Para mim, está claro como o sol do trópico que os mortos estão entre nós, os vivos. Não os vemos porque sua matéria é sutil e não refletem a luz, para que nossos olhos os decodificassem. Aqui, entre os vivos, é como se vestíssemos um escafandro e mergulhássemos no mar, para o aperfeiçoamento moral. E é nessa caminhada que sentimos dor. 

Para a Associação Internacional para o Estudo da Dor, “a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada ao dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tais danos”. Para o acupunturista, a dor é um sintoma. Afirmo que até a causa de um acidente é emocional. Como nada é por acaso, o acidente serve para chamar a atenção, e causa dor, que é um pedido de socorro, um berro, o grito. E é isso que lota as clínicas. Geralmente os pacientes são estupidificados de drogas, inclusive comida, na esperança de mitigar o latejar da dor, a agulhada da dor, até a dor mais profunda, mais insuportável, a loucura, o desequilíbrio da mente. 

A causa da dor está sempre nas emoções. Atendi uma paciente idosa que perdeu seu filho ainda adolescente por suicídio. Desde então, ao longo de décadas, ela passava os dias pensando nele, em um resgate inútil do passado, que poderia ser tão feliz. Quando a atendi ela já se tratava de um câncer no seio direito, o ponto onde o sofrimento causado pela perda absurda a atingiu na matéria. Câncer, para nós acupunturistas, é excesso de Yang e umidade, e tratamos isso, mas nela, tratei também do seu corpo astral, seriamente desequilibrado pela emoção avassaladora que portava. 

Corpo físico, ou soma, do grego, são apenas os tecidos da matéria. Assim, quando atendo os pacientes, a primeira e imediata investigação é sobre a dor, aquela manifestada no corpo físico e que, de alguma maneira, já o desfigurou, pois a dor é um sintoma corrosivo, que vai depauperando a matéria, até torná-la, embora ainda animada, um bolor monstruoso. Vi, certa vez, um amigo meu que tivera seu corpo todo cortado para extirpar câncer em metástase, que virara um Frankenstein, e, claro, faleceu em pouco tempo. Hoje, não se faz mais isso; o tratamento é mais voltado para a compreensão do paciente de que há uma cidade astral à sua espera. É claro que os psicólogos que trabalham junto aos médicos oncologistas se comunicam em termos científicos.

Se não houver recurso médico e tivermos que tratar de uma vítima do vírus chinês, por exemplo, sofrendo com falta de ar e dor de cabeça, não importa se sabemos que o vírus chinês é uma limpeza promovida pelo mundo espiritual, o que vamos fazer é tirar a dor do paciente e tentar o resgate da sua saúde. Podemos fazer a limpeza do meridiano do pulmão e tonificar os canais do coração e do baço, para purificar o sangue. E o Yintang, o vaso governador 20 e o circulação sexo 17 são sempre importantes, para abrir as janelas da alma.

RAY CUNHA é autor dos romances JAMBU e FOGO NO CORAÇÃO

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Os espíritos não me deixaram partir porque ainda tenho alguns romances para escrever

Ray Cunha batendo palmas para ele mesmo

BRASÍLIA, 7 DE AGOSTO DE 2020 – O silêncio da madrugada é, como sempre, um esvoaçar de rosas vermelhas, colombianas, compostas de subpartículas de átomo como em um sonho colorido, criado na paleta de Olivar Cunha em um dia em que ele amanheceu amando e então pintou a personagem central do meu romance JAMBU, Danielle Silvestre Castro, cafuza, ruiva de olhos verdes, tomando tacacá. Levanto-me, quase todos os dias, às 4h20. Até algum tempo atrás, tomava café 3 Corações, 100% arábica, gourmet, porém, como não o encontrei mais no Pão de Açúcar, passei a comprar 3 Corações 100% arábica do sul de Minas, que produz um dos melhores cafés do mundo. 

Levantava-me cedo para escrever, mas mudei o horário da escrita. Agora, depois de tomar uma ou duas xícaras do encorpado café coado faço minhas orações, juntamente com minha gata, Josiane. Duram em média uma hora e meia, basicamente de agradecimento a meus antepassados e parentes que já partiram para o mundo espiritual. Estou me acostumando a escrever à tarde, após a sesta. De manhã, caminho no Parque da Cidade ou nas diversas trilhas que tenho descoberto no meu bairro, o Sudoeste.

Depois das orações, vou à janela da sacada do meu quarto, defronte à pracinha do bloco onde moro. O sol é um convite. O tucano, que bate ponto junto com sua companheira, passa sozinho na altura do quarto andar do Le Triumph, no seu voo pesado; atravessa a pracinha, passa por cima da amoreira, que ele frequenta no outono, e some entre os prédios. Na sala, já arrumaram a mesa. É meu aniversário e me chamam. Há uma deliciosa torta de beterraba com creme de leite Ninho. Minha gata sempre pergunta o que eu quero de presente e minha resposta é a mesma: minha família. 

Ano passado, em novembro, sofri um infarto, mas sobrevivi. Foi como se os guardiões que me assistem do mundo espiritual, vendo que eu tenho ainda alguns romances para escrever, ordenassem uma limpeza na artéria entupida do meu coração. Assim, sobrevivi, mas se me perguntarem minha idade, não sei bem qual é, acho que porque vivo com um pé aqui outro lá, e lá não existe tempo, nem matéria, pelo menos do jeito que a conhecemos aqui.

Meu último romance foi JAMBU, uma história que se passa em Macapá, mas que tem como pano de fundo todo o Brasil, especialmente a Amazônia. Comecei a trabalhar em novo romance, e estou adorando escrevê-lo. Nunca as personagens vieram conversar tão facilmente comigo, sondando para ver se tomarão parte da história que estou escrevendo ou se estão fartas das minhas tramas. Mas algumas personagens gostam do que escrevo e sempre batem ponto nos meus romances ou contos.

Também me ocupo com pacientes, pois sou terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa. Tenho uma paciente, que, ao auscultar seu pulso, percebi que seus pulmões estavam desequilibrados; no dia seguinte, ela se submeteu a exame clínico e deu o vírus chinês. Então, fiz uma limpeza no seu meridiano do pulmão e o resultado foi espantoso: sua respiração voltou ao normal e a dormir bem.

Certamente, houve a intervenção dos guardiões não só porque escrevo livros, mas também porque realizo trabalho voluntário no Centro Espírita André Luiz, onde, com uma equipe de acupunturistas e massoterapeutas, atendemos muita gente, principalmente velhinhos como eu.