sábado, 28 de agosto de 2021

Líderes do 7 de Setembro querem voto impresso, afastamento de 9 ministros e que tudo se resolva em até três dias. Brasília espera 3 milhões

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 28 DE AGOSTO DE 2021 – Fonte que transita nos bastidores do movimento 7 de Setembro dá conta de que após reunião na tarde deste sábado 28, no Rio de Janeiro, um oficial de alta patente da reserva das Forças Armadas garantiu que a adoção do voto que possa ser auditado e o afastamento de nove ministros que estariam conspirando contra a Constituição serão realizados em até três dias, a contar do 7 de setembro. 

Segundo a fonte, são aguardadas dia 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios e adjacências até 3 milhões de pessoas, número equivalente à população do Distrito Federal. Em todo o Brasil, são esperadas dezenas de milhões de pessoas, que, pacificamente, exigirão voto impresso e o afastamento imediato dos ministros que estariam sabotando a democracia. 

O Artigo 142 da Constituição pode ser exigido pelo povo, que, quando unido, está, na prática, acima de qualquer poder da nação. Essa informação vem sendo passada pelo presidente Jair Bolsonaro nos seus discursos para as multidões que o acompanham nas suas aparições públicas país afora. 

Diz o Artigo 142: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. 

Limparam o traseiro com a Constituição. Diante da ditadura da rapina, já instalada no país, o povo pode exigir intervenção militar, pois as Forças Armadas são o único poder, realmente moderador, capaz de devolver a democracia ao povo. 

O governo lulo-petista desviou trilhões de reais do país. Em 2018, estava tudo preparado para que esse esquema continuasse, tanto que quando viram que Bolsonaro ameaçava os fabianos elegendo-se presidente da República mandaram meter um facão nele que não o matou por um triz, e desde que tomou posse Bolsonaro vem sendo sabotado de todas as maneiras. Um dos sabotadores é a velha imprensa, que sempre mamou à farta na teta da burra. 

Políticos com cargo eletivo, jornalistas e youtubers que botam a boca no trombone para manifestar seu pensamento em favor da democracia estão ou foram presos, enquanto bandidos da mais alta periculosidade são soltos, pondo em risco as famílias. 

Para completar a situação, o Supremo Tribunal Federal (STF) desautorizou o presidente da República a tomar qualquer medida para defender o país da pandemia do vírus chinês, exigindo que ele apenas enviasse centenas de bilhões de reais para estados e municípios.

Resultado: roubaram grande parte desse dinheiro. Aí, o Supremo ordenou ao Senado que abrissem uma CPI para investigar Bolsonaro – que não rouba nem deixa roubar e implementou um desenvolvimento do Oiapoque ao Chuí que está deixando longe até os 50 anos em 5 de Juscelino Kubitscheck – pelos desvios e livrar os ladrões. Isso parece um thriller policial de segunda categoria, de tão inacreditável, mas está acontecendo no Brasil.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Romance ensaístico despe a Amazônia e mostra sua tragédia e beleza, inclusive o plano espiritual

Capa da edição do Clube de Autores

Por RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 23 DE AGOSTO DE 2021 Festival de Gastronomia do Pará e Amapá, no monumental Hotel Caranã, bairro do Pacoval, em Macapá/AP, a cidade mais emblemática da Amazônia. A Fortaleza de São José de Macapá, o maior forte colonial português, é também o maior ícone dos macapaenses, a tradução perfeita de Macapá. Construída por escravos, negros e índios, debaixo do látego do colonizador português, foi o cadinho no qual se forjou a etnia macapaense. 

Os portugueses cruzaram com africanos e geraram mulatos, e fornicaram com os índios, formando uma população de mamelucos; os africanos fundaram os bairros do Curiaú e do Laguinho, misturaram-se com os índios e legaram cafuzos; e mulatos, cafuzos e mamelucos misturaram-se, fechando o círculo, numa diversidade étnica viva nas ruas de Macapá, nas nuanças de peles que vão do alabastro ao ébano, passando pelo bronze e jambo maduro, unidos pelo sotaque caboco: a fusão do português falado em Lisboa, doces palavras tupis, línguas africanas, patoá das Guianas, tudo triturado em corruptela. 

Nesse cadinho étnico, o jambu é a erva que melhor sintetiza a Amazônia. Os amazônidas, sedados pelo sol equatorial, que, apesar dos 100% de umidade relativa do ar, esturrica tudo, e acossados pela grande floresta, microrganismos, insetos e animais peçonhentos, agem como as papilas gustativas entorpecidas por espilantol, presente no jambu, principalmente na sua flor: anestesiados, baixam a cabeça e se entregam aos seus carrascos, especialmente os políticos, que, independentemente de serem da própria terra, ou de fora, são inclementes como os antigos ibéricos. 

Os políticos uniram-se a um tipo de empresário escravocrata e que adora dinheiro, e passaram a gerir a senzala sem paredes, ampliando a Fortaleza de São José de Macapá a ventre da besta. A Amazônia está sempre coalhada de colonos e aventureiros: tecnocratas de Brasília; paulistanos que compram 90% das toras de árvores griladas; americanos que nunca desistiram de colonizar o subcontinente; japoneses ávidos em ampliar seu arquipélago; chineses acossados pela própria superpopulação; os europeus de sempre, além dos políticos, especialmente os comunistas, disfarçados de fabianos, sequiosos em vender – e embolsar o dinheiro – até a última árvore, a última pedra preciosa, e todas as mulheres e crianças que puderem. 

Nesse cenário, do suplício imposto pelos ibéricos, da morte decretada pelos microrganismos e o assalto e o desprezo perpetrado pelos políticos, os macapaenses se tornaram símbolo de um tempo antigo, persistente, de espanhóis e portugueses, colonos e colonizados, o drama que perpassa a Ibero-América, a tragédia da Amazônia, alicerçado pela crença de que os colonos são deuses e os colonizados, seres inferiores, que existem para servir aos sangues-azuis. 

Para os colonos, a Amazônia só serve para três fins: construção de hidrelétricas; extração de madeira e mineral; e reserva de caça, pesca e escravos, especialmente para a triste realidade de crianças e mulheres, que, diferentemente do mito das amazonas, são criaturas fracas, subjugadas, escravas compradas à base de comida, de uma boneca, de uma balinha. 

É julho, mês de férias de verão na Amazônia. Enquanto o Festival Gastronômico do Pará e Amapá revela ao mundo a cozinha mais saborosa do planeta, o oceanógrafo, arqueólogo, taxidermista e jornalista João do Bailique, editor da revista Trópico Úmido e que trabalha numa edição especial sobre a Hileia, juntamente com sua esposa, a chefe de cozinha e oceanógrafa Danielle Silvestre Castro, dona do Hotel Caranã, investiga também o tráfico de crianças e mulheres para escravidão sexual. Ambos estão à caça do traficante de crianças e de grude de gurijuba Jules Adolphe Lunier. 

Naquela já distante manhã, na Vila Progresso, Patrícia Valente Melo, 11 anos e seis meses, se levantou da rede e foi ao banheiro, olhou-se ao espelho e apreciou seu rosto, simétrico, olhos imensos, gateados, lábios de rosa vermelha, pele de jambo novo. Era extraordinariamente bonita, e sensual, embora tivesse apenas 11 anos de idade. Tudo aconteceu muito rápido. Um homem peludo entrou na casa, colocou algo no seu nariz e ela acordou em um barco, que, soube mais tarde, se chamava Virgem de Nazaré; levava crianças para a boate Senzala, especializada em servir europeus que atravessavam o rio Oiapoque, oriundos de Caiena. 

O carregamento, meninas sequestradas no Amapá e Pará, seria leiloado com lance inicial de mil euros para usufruto de uma semana, após o que seriam transportadas para Paramaribo. 

– Aquele francês louco, mas que paga muito bem, o tal de Humbert Humbert, já reservou a Patrícia. Ele vem exigindo uma menina assim igual a ela faz tempo. Ele vai pagar nada menos do que 6 mil euros para passar uma semana com ela na propriedade dele na Guiana Francesa, aí então a devolverá para o Caixinha de Pose, que é o dono da boate Senzala, em Oiapoque. Aí a pegarei de volta e a levarei para o Kunathi, por mais mil euros – contabilizou Jules Adolphe Lunier a Tota, capitão do barco. 

A manhã imobilizou-se, tensa como tumor maduro. Um raio chicoteou o céu quase noturno, seguido de trovoada. A tempestade desabou com toda a fúria. Cerca de 40 minutos depois passou completamente e o mar voltou a ficar calmo. Giselle e João do Bailique estavam pescando marlim azul na altura do Cabo Caciporé quando avistaram o ponto flutuando. Aproximaram-se e viram uma menina com salva-vidas, agarrada a um grande banco de madeira. Era Patrícia. 

Seis anos depois, Patrícia Valente Melo olhou-se ao grande espelho do seu quarto e apreciou o rosto, simétrico, olhos imensos, gateados, lábios de rosa vermelha, colombiana, pele de jambo novo. O corpo estava deformado; em vez dos 60 quilos de peso distribuídos em 1,70 metro de altura, seios e quadris enlouquecedores, pernas longas e bem torneadas, estava pesando bem mais, pois deveria parir por aqueles dias. 

Encontrava-se sozinha. O pai já havia saído para a revista Trópico Úmido e a mãe, para o Hotel Caranã. Juntou algumas mudas de roupa numa valise, apetrechos de higiene íntima, documentos, espargiu Chanel 5, chamou um Uber e se mandou para o Caranã, onde chegou poucos minutos depois. Desviou-se da Nave da Catedral, como era conhecido o amplo hall de entrada, e tomou por um caminho lateral, uma alameda de jasmineiros, rumo à marina. 

Nos salões do Hotel Caranã são servidos pratos da mais saborosa culinária do planeta: a paraense. Personagens de ficção misturam-se a personagens reais, vivas e mortas, como o pintor amapaense Olivar Cunha, que decora o cenário do Festival de Gastronomia do Pará e Amapá; o compositor paraense Waldemar Henrique; o filósofo japonês Masaharu Taniguchi; o escritor, astrofísico e médium Laércio Fonseca; o escritor, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa; os jornalistas Walmir Botelho e Carlos Mendes; a cantora lírica Carmen Monarcha etc. etc. etc. 

Assim, a Fortaleza de São José de Macapá, maior ícone dos macapaenses, é a tradução perfeita da cidade que se debruça sobre o maior rio do mundo, o Amazonas, na confluência da Linha Imaginária do Equador. Construída por escravos, negros e índios, sob o obsessivo domínio português, para resistir à marinha inglesa, embora só tenha sido atacada por malária, a Fortaleza de São José de Macapá foi o cadinho no qual se forjou a etnia macapaense. 

Os portugueses cruzaram com os africanos e geraram mulatos, e fornicaram com os índios, formando uma população de mamelucos; os africanos misturaram-se com os índios e legaram cafuzos; e mulatos, cafuzos e mamelucos misturaram-se, fechando o círculo, numa diversidade étnica viva nas ruas de Macapá, nas nuances de peles que vão do alabastro ao ébano, passando pelo bronze e jambo maduro, unidos pelo sotaque caboco: a fusão do português falado em Lisboa, doces palavras tupis, línguas africanas, patoá das Guianas, tudo triturado em corruptela. 

Neste romance, a Bacia Amazônia se espraia em vários planos, um dos quais o espiritual. Em segundo plano, surge uma Amazônia pouco conhecida: a dos Ovnis e ETs, com o resgate da Operação Prato, a maior aparição de Ovnis e ETs já registrada no Brasil, documentada pela Aeronáutica, e que se deu na costa do Pará. O que é que os ETs queriam? De onde vieram? E o que significa a data-limite, mencionada por Chico Xavier? 

Em terceiro plano, a Amazônia fica literalmente nua. Todas as questões que vêm sendo discutidas em torno da grande floresta são dissecadas. No caso de uma terceira guerra mundial, que papel a Amazônia teria? Resistiria a uma hecatombe nuclear? Seria ocupada pelos americanos? Também João do Bailique investiga essa questão, bem como analisa a soberania do Brasil sobre a região. 

A Amazônia é mesmo do Brasil? Afinal, o que é a Amazônia? João do Bailique dá as respostas em JAMBU (Clube de Autores e amazon.com.br, Brasília/DF, 190 páginas), meu último romance.

 

RAY CUNHA nasceu em Macapá e trabalhou por mais de uma década como repórter na Amazônia, baseado em Belém, Manaus e Rio Branco. Em Brasília, onde mora atualmente, dedica-se à literatura, jornalismo e à Medicina Tradicional Chinesa, na qual é formado pela Escola Nacional de Acupuntura (ENAc). 

É autor dos romances A CASA AMARELA, A CONFRARIA CABANAGEM, HIENA e FOGO NO CORAÇÃO; dos contos INFERNO VERDE, NA BOCA DO JACARÉ, A GRANDE FARRA, A CAÇA e LATITUDE ZERO; e do livro de poemas DE TÃO AZUL SANGRA.

 

Você pode adquirir JAMBU no site do Clube de Autores, link: 

https://clubedeautores.com.br/livro/jambu

 

Ou na amazona.com.br, link: 

https://www.amazon.com.br/Jambu-Ray-Cunha/dp/1697672590/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=Jambu+Ray+Cunha&qid=1629731445&s=books&sr=1-1

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

A eternidade do agora

O jornalista amazonense Isaías Oliveira inspirou
a personagem central do conto INFERNO VERDE

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 20 DE AGOSTO DE 2021 – Em 1975, em Manaus, o jornalista Isaías Oliveira me disse algo que remoí nos 25 anos seguintes: “O passado é feito do que há de melhor”. Tínhamos, então, 21 anos de idade, e Isaías Oliveira, ex guia de turistas na selva, começava, como eu, a carreira jornalística. Ele já me impressionava, sobretudo pela sua serenidade. A personagem central do meu conto Inferno Verde, o jornalista que duela com o psicopata Cara de Catarro, foi batizado de Isaías Oliveira, e tem os olhos grandes e expressivos do seu homônimo da vida real.

Criei, e utilizei em mais de um trabalho de ficção, uma frase que equaciona o que Isaías Oliveira me dissera décadas atrás: “O agora e o agora, o momento mesmo da vida”, no sentido de que não existe passado, nem futuro, mas somente a intensidade do agora.

Mas se não existe, por que Isaías Oliveira teria me dito que “o passado é feito do que há de melhor?” E aquela zona escura da nossa personalidade, que não confessamos nem para nós mesmos? E os crimes que cometemos, inconfessáveis, e que somente nossa consciência pode punir, por meio da angústia, às vezes tão aguda que sangra a alma? Como fugir dessa zona sombria, se ela está alojada no subconsciente, indelével? Podemos até esquecer esse inferno, mas, sempre que a oportunidade se apresenta, ele se manifesta.

Minha esposa, Josiane, preletora da Seicho-No-Ie e psicóloga, vive me dizendo: “Tudo o que realizamos deve ser feito como a coisa mais importante da nossa vida, com amor, para que beneficie o mais amplamente o maior número de pessoas”.

Ontem, li, em voz alta, o preceito de um calendário da Seicho-No-Ie, que diz: “Concentre-se no agora e viva plenamente. Você nasceu neste mundo para viver plenamente cada momento de sua vida. Aprimorou sua alma valorizando o passado e visualizando um futuro radioso. Concentre os esforços naquilo que deve ser feito agora. Só assim abrir-se-á a porta de seu futuro. É essencial cumprir bem a missão que lhe cabe no momento” (Seicho Taniguchi).

Minha filha, Iasmim, que me ouvia, disse: “Pai, o passado nós vivificamos; o presente, vivemos; o futuro, a gente constrói”. Com efeito, o passado é feito do que há de melhor, mas sem nostalgia, sem tentar resgatá-lo e estacionar nele, sem voltar ao passado para nos castigar e mergulhar na angústia, agonizar, morrer.

Se temos algum ajuste com o passado, só precisamos nos arrepender, ou seja, não cometer mais o que nos angustia tanto, e aceitar o resultado da colheita, por mais terrível que seja. De real, naquilo que já foi, só há os antepassados, nossas raízes, o riso mais cristalino de quando éramos criança. E o futuro será sempre o reflexo do agora e o agora, o momento mesmo da vida.

Já faz tempo que vivo cada dia, cada momento. Ainda tenho muitos livros para escrever, mas não estou preocupado com isso, não estou preocupado se conseguirei escrevê-los. Quero é ver telas novas de Olivar Cunha e ler um livro de contos de Joy Edson, quero ver crianças rindo e rosas que não se importam de se desnudarem na minha presença.

O momento mesmo da vida é o azul mais azul, intenso como a nudez das rosas vermelhas à luz de manhãs ensolaradas, como o primeiro beijo, como gemidos no silêncio da noite, ao voarmos na luz da mulher amada, na eternidade do agora.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O conto de Brasília. Latitude Zero

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 18 DE AGOSTO DE 2021Todas as Gerações – O conto brasiliense contemporâneo (LGE Editora, Brasília), um calhamaço de 516 páginas organizado pelo contista mineiro Ronaldo Cagiano, é uma tentativa de reunir escritores representativos de Brasília, brasilienses da gema ou de outras regiões do Brasil que vivem e produzem na capital, embora muitas vezes ambientem seus trabalhos nas suas regiões natais. 

Segundo a apresentação do livro na amazon.com.br, “a antologia pretendeu mapear os principais autores residentes em Brasília, desde os pioneiros até os mais recentes (inclusive os já nascidos na cidade), abarcando todas as gerações, temáticas e tendências formais e estéticas que animam o conto brasiliense. 

“Em nenhum momento pretendeu privilegiar a temática brasiliense, embora alguns contos abordem o tema. Oriundos de diferentes regiões brasileiras, os temas abarcam todo o país, desde os regionais aos urbanos, em linguagens que vão das mais tradicionais às mais atuais, sem nenhuma pretensão de uniformidade, reunidos por sua qualidade e representatividade”. 

“É, sem dúvida, a mais abrangente e mais completa coletânea de contos de autores da Capital Federal, superando a antologia anterior do próprio Cagiano. Certamente, constitui-se em documento inestimável para conhecer e estudar a literatura da cidade e que vai merecer análises adequadas dos estudiosos no futuro imediato ou remoto. Pela competência do antologista e pela excelência da edição, vai ser peça indispensável em bibliotecas e em coleções particulares”. 

Sou natural de Macapá/AP, cidade seccionada pela Linha Imaginária do Equador e banhada pela margem esquerda do maior rio do mundo, o Amazonas, na Amazônia caribenha, ou atlântica, e moro em Brasília. Convidado para participar da antologia Todas as Gerações, selecionei o conto Latitude Zero, já publicado no livro Trópico Úmido, e ambientado na minha cidade natal. 

Latitude Zero “fala de um grupo de jovens em descobertas sexuais em Macapá. Pode ser visto como um conto de formação, embora carregado do escancaro de Charles Bukowisk, o que é até compreensível em quem sobreviveu às teorias de Freud e à revolução sexual dos anos sessenta” – disse o escritor e jornalista Maurício Melo Júnior. 

Com efeito, muito da matéria-prima utilizada na invenção do conto foi retirada do mundo que gravitava em volta da minha adolescência, na Macapá dos anos 1960, até a primeira metade de 1972, quando caí fora da cidade, aos 17 anos, para voltar sempre, desesperado de paixão. 

Dos 14 aos 17 anos (1968-1971), muita coisa aconteceu na minha vida, e a mais importante delas foi a casa do poeta Isnard Lima Filho, na Rua Mário Cruz, onde morava com sua mãe, a pianista Walkíria Ferreira Netto de Lima; era uma porta aberta para a grande arte. 

Lá, eu encontrava artistas de todo o mundo, nos papos e nos livros. Conversávamos o tempo todo, mergulhados no oxigênio do realismo fantástico, e Isnard Lima Filho nos ensinava a ofertar rosas para a madrugada. Foi nesse tempo que minhas antenas de artista foram desencapadas.

Latitude Zero é uma de minhas histórias curtas mais violenta, e, provavelmente, a mais pornográfica, razão pela qual não deve ser lida senão por adultos. Segue-se o conto. 

O DEPÓSITO de madeira estava adormecido como tudo o mais na madrugada, exceto a luz do poste debatendo-se para escapar da névoa. A claridade lutava para libertar-se da neblina pegajosa, e como carnicão rompendo a película do tumor, vazava, arrastando-se até o depósito de madeira, infiltrava-se por uma fresta e incidia sobre o cenho franzido de um rapaz. Ele parecia morto, pois respirava imperceptivelmente. 

A luz do poste, agora, agonizava na claridade dúbia do amanhecer. Uma chuva pôs-se a cair, adensando o ar saturado de umidade. O rapaz mexeu-se, num gesto instintivo de quem tem frio. Encolheu-se mais, agasalhando as mãos entre as coxas. As tábuas sobre as quais deitara machucavam-no. Isto o despertou. Abriu os olhos como uma boneca: só as pestanas mexeram-se. O resto todo ficou imóvel. Depois procurou alguém com o olhar. Viu-o um pouco abaixo. Moacir Canto dormia ainda. O rapaz levantou-se, estremunhado, e ficou olhando para Moacir Canto. Apalpou o bolso traseiro à procura da carteira porta-cédula e não a encontrou. Meteu o polegar e o indicador no bolsinho da calça e puxou uma nota de cinquenta cruzeiros. Neste momento Moacir Canto despertou. 

– Perdi a bolsa – disse o rapaz, que se chamava Alexandre. – Mas tinha guardado cinquenta cruzeiros no bolsinho da calça. 

– Porra... – disse o outro. 

Olharam-se e depois cada qual olhou para si próprio. Haviam começado a farra no GEN, o bar do ex-policial, que ficava na Rua Tiradentes. Alexandre havia ganhado as obras completas dos irmãos Grimm em um concurso de contos e vendeu-as para a tia de Moacir Canto por duzentos cruzeiros. Separou uma nota de cinquenta, pô-la no bolsinho da calça e foram para o GEN. Tavares, o ex-tira, estava lá no lugar de sempre, diligente, servindo bebida a dois caras. Alexandre pediu meiota de Pitú. Tavares serviu-os com tira-gosto de jenipapo. 

Limitavam-se a beber. Moacir Canto incrustara-se no silêncio. Livrava-se do rancor que levava consigo cagando em cima dos outros. Certa vez, trepado numa árvore da Praça Veiga Cabral, deu uma cagada tão surpreendente na cabeça de um homem que o derrubou no chão. Quando o tipo recobrou-se, Moacir Canto já tinha se limpado, levantado as calças e se jogado de um galho mais baixo. Pôs-se ao fresco quase caindo de tanto rir. Certa noite, pediu a Alexandre para segui-lo de bicicleta. Moacir Canto ia na garupa de outra bicicleta, pilotada por Grosseiro. Ficaram andando um pouco pela Praça Nossa Senhora da Conceição, até que passaram por uma moça e uma menina. Grosseiro fez a volta, pedalando sem pressa, e tirou o fino da menina. Moacir Canto se ajeitou e deu tal soco nas costas dela que o barulho ecoou na praça inteira. Mas engraçado foi quando uma noite Moacir Canto achou uma folha de coqueiro e saiu à procura de vítimas com Grosseiro. Alexandre foi atrás para ver. Iam a certa altura da Rua Leopoldo Machado quando viram seis estudantes, uma ao lado da outra, ocupando a largura do passeio público e parte da pista. O tronco da folha de coqueiro ia pegar no pescoço dela. Era a mais alta; uma moça rosada e vigorosa. Ela se abaixou na hora e a folha de coqueiro passou voando por cima da sua cabeça. Moacir canto perdeu o equilíbrio e caiu. A moça pegou a folha de coqueiro e desferiu um golpe no queixo de Moacir Canto, que ia se levantando do asfalto. Grosseiro havia estacionado adiante e morria de rir. Alexandre passou por perto de Moacir Canto e salvou-o de seis mulheres furiosas. Para se vingar, Moacir Canto foi à sua casa, pegou um fio elétrico e saiu atrás das moças. Como não as encontrou, atacou uma velha, dando-lhe tal lambada no pescoço que a velha caiu com um grito horripilante. 

Ele era um cara assim mesmo. Seu ódio provinha da condição em que o pai deixara a família, na miséria, para enrabichar-se por uma menina de quinze anos, mas que o manobrava como uma puta experiente. No Dia dos Pais, Moacir Canto entrou lá e deu uma paulada na venta do velho, arrancando-lhe pelo menos um dente. O pai de Moacir Canto era policial. Telefonou para a polícia a fim de que pegassem o rapazinho, que devia estar drogado para fazer um negócio daqueles. Ficou por isso mesmo. A sorte de Moacir Canto era sua beleza. Tinha um belo queixo quadrado, o rosto oval, sobrancelhas bem feitas e cabeleira leonina. Seus olhos, entretanto, despertavam medo, sobretudo quando estava estupidificado de maconha. Certa vez, Alexandre, Moacir Canto, Grosseiro e Galego Demônio amanheceram na Praia do Barbosa. Alexandre e Grosseiro dormiam ainda. Moacir Canto e Galego Demônio já haviam acordado há algum tempo quando avistaram a menina. Correram em cima dela, agarraram-na e arrastaram-na para detrás de um aturiá. Alexandre e Grosseiro acordaram com os gritos, correram para lá e viram Moacir Canto tentando penetrar a menina por trás, enquanto Galego Demônio segurava-a pelos cabelos, pelejando para a menina chupar o pênis grande, mole e purulento que lhe empurrava no rosto. De todos eles, Alexandre era o único que tinha um pouco de sensatez, e Grosseiro o atendia como a um cão. E assim livraram dos répteis a menina. 

– Está na hora da gente se escafeder – disse Moacir Canto, no GEN. 

Pegaram a Rua Cândido Mendes e seguiram em direção ao Igarapé das Mulheres. Todas as noites Alexandre ia à casa de Angélica, Sílvia e Graciette. Angélica estava no portão da varanda. Era pequena e fofa. Usava os cabelos, de cor indefinido, bem curtos. Tinha os olhos da cor dos cabelos e era estrábica, e tudo chamava a atenção no seu rosto: o nariz arrebitado e os lábios vermelhos e entreabertos, como rosa despedaçada e sumarenta. Isto, e os olhos, davam-lhe um ar de avidez ninfomaníaca. Sílvia parecia uma fada morena. Tinha a pele cor de leite, os cabelos negríssimos e longos, e os olhos azuis, da cor dos olhos do pai. Vivia sorrindo, com seus lábios rosados. Tinha os dedos longos, ágeis ao piano. Era bem mais alta do que Graciette. Os olhos de Graciette ficavam entre castanho e verde. Usava unhas longas, que pintava de vermelho, e punha uma língua tão comprida na boca dos rapazes que os sufocava. Era ruiva. Puxava a mãe, uma potra ainda jovem que tinha o mesmo olhar canibalesco de Angélica. 

As duas outras garotas estavam na sala ouvindo os Beatles. Nem bem os dois chegaram, Sílvia foi logo convidando Alexandre para dançar. Ele ficou excitado. Sabia o jogo. Ela se encostava nele, os longos cabelos negros caindo pelo rosto e pelos ombros de Alexandre. Ela não usava soutien; os seios duros espetavam-no, e ele, de vez em quando, via os bicos rosados dos peitos através da blusa meio desabotoada. Alexandre ia ficando cada vez mais descontrolado. Ela batia com o púbis sobre o pênis de Alexandre, rijo como um osso, e ele aparava as batidas prestes a gozar. 

– Vamos para o quarto? – disse Alexandre. 

Ela não falou nada. Puxou-o pela mão em direção ao quarto amplo e bem arrumado. Sílvia era tão delicada! Desafivelou o cinto, abaixou o fecho éclair - ele não usava cueca –, pôs o pênis duro para fora. Ela, com seus olhos azuis, olhava maravilhada para o pênis. 

– Caralhinho lindo! – disse, e desceu, suavemente, seus lábios rosados sobre a glande vermelho-escura, que estava para estourar. Ele não aguentou muito tempo. Logo se desintegrou em um gozo suculento, inundando aquela boca de fada, respingando de esperma os lábios sedentos. 

Três pares de olhos acompanhavam tudo, sem perder nada. Ao ver o suco espermático escorrendo da boca da irmã, Angélica se despiu num piscar de olhos. Tinha a bundinha mais linda do mundo. Estava gozando só de ver. Possuía o dom dos gozos múltiplos. Pegou os cabelos de Alexandre e puxou-o para seu púbis. Cheirava a Mateus Rosé, e o líquido que escorria pela sua coxa tinha sabor de acme. Ao ver o traseiro de Angélica, Moacir Canto enfiou-se ali. Graciette masturbava-se com seus dedos de garras e chorava. 

Era meia-noite. Os cinco estavam banhados, na sala, bebendo vodka e ouvindo os Beatles, quando a mãe das meninas chegou. O pai delas, como sempre, fora a Belém. Dona Frênia deu um alô para os garotos, a caminho do seu quarto. 

– A velha está bêbeda – Moacir Canto cochichou para Alexandre. 

Foi neste momento que a garrafa de Wyborowa do pai das meninas, que Alexandre bebeu, subiu de uma vez para a cabeça dele. 

– Vou fodê-la – disse, ensaiando ir para o quarto da dona Frênia. 

Moacir Canto estava em melhor estado. Atirou-se de cabeça nele. As meninas jogaram-se também em cima dele. Acabou tudo numa risada geral. 

Quando Alexandre voltou a si estava deitado no meio da Rua Cândido Mendes, de braços estendidos como Jesus Cristo na cruz, gritando: fodam-se seus filhos da puta. Então começou a chover. O chofer do táxi não estava vendo as coisas muito bem e pegou um susto ao vislumbrar aquele vulto erguer-se do asfalto quase em cima do carro. Parou para averiguar do que se tratava. Alexandre entrou no táxi. Moacir Canto veio correndo da calçada, onde estivera vomitando, e entrou no carro. 

– Bar Caboclo – Alexandre disse ao motorista. 

A chuva engrossara. Da mesa onde estavam podiam ver a chuva estalar na calçada. Bebiam em silêncio a meiota, em pequenos goles de apreciadores de bebida. 

– Vamos voltar à casa das meninas? – Alexandre sugeriu. Moacir Canto levantou-se incontinenti. 

– Desta vez quem vai comer a velha sou eu – disse. 

– Está bem – Alexandre concordou, chamando o garçom e pagando a meiota. 

Saíram do bar na chuva, que estava mais fina agora. Atravessaram a Rua Cândido Mendes na altura do antigo Igarapé da Fortaleza. Escorregaram numa poça d’água no outro lado da rua. Chapinharam lá dentro, até que Moacir Canto conseguiu levantar-se e arrastar Alexandre para fora da poça. Andaram em direção ao rio Amazonas, mas pararam logo adiante, ao verem que alguém passava a chuva debaixo de uma marquise. Aproximaram-se. Era uma moça. Moacir Canto disse alguma coisa para a moça. Ela tentou falar, mas era muda. Moacir Canto pegou-a e começou a se esfregar nela. A moça tentava afastá-lo. Moacir Canto subiu a saia dela e depois desceu a calcinha. A muda começou a rir e depois procurou beijar Moacir Canto. Ele se desviava dos seus beijos e aquilo fazia Alexandre se torcer de rir. Quando parou de rir não viu mais a muda. Moacir Canto estava com uma calcinha na mão. De quem diabo era aquilo? Subiram por uma escada lá mesmo naquele prédio. 

– Conheço um cara que mora em um apartamento lá em cima – disse Moacir Canto. – É da polícia e é veado. 

Bateram lá e logo um sujeito branquela meteu a cara na porta entreaberta. 

– Oh! você! – disse para Moacir Canto, olhando também para Alexandre. – Entrem! Entrem! Vou preparar um drink para vocês. Por que vocês não tomam banho? 

Serviu duas doses generosas de whisky e foi ver o frango que pusera no fogo. O cheiro da canja empestava o ambiente, mas para os bêbedos nada importava. Sentaram-se, com o whisky ao lado, e puseram-se a bater papo.

– Tenho roupas secas... – interrompeu o escrivão, tentando atrair a atenção deles. 

– Basta o teu whisky – disse Moacir Canto. 

– Isto aqui é um buraco – dizia Alexandre, deixando o escrivão desconfiado. – Uma merda! Senão vejamos: que escritor temos aqui? Nenhum! Há o R. Lima, mas o R. Lima não escreveu mais do que um livro de poemas, que teve uma tiragem ridícula de quinhentos exemplares. E por quê? Porque não temos editora, porque não temos público, porque não temos aplauso. 

O escrivão ficou menos preocupado ao perceber que não falavam do seu apartamento. 

– É uma sepultura... – disse Moacir Canto. 

– Uma sepultura e uma fábrica de poetastros – disse Alexandre. – Vês o caso do Galego Demônio, que lança um livro mimeografado por semana... 

– Não sei como aquele traficante que banca as baboseiras dele ainda não percebeu que se trata de um psicopata mitomaníaco e megalomaníaco. 

– No seu livro mais recente ele resgata os últimos estupros que cometeu – disse Alexandre. 

– Nem a irmã dele escapou – disse Moacir Canto. – E com aquela gonorreia crônica... 

– Quis comer o diretor do Colégio Amapaense, o professor Olhudo. 

No dia em que isso aconteceu, Alexandre estava estudando em casa para fazer quatro provas logo mais à noite quando Galego Demônio chegou com seu livro Eu Imortal debaixo do braço. 

– Vamos já para Serra do Navio – disse a Alexandre. 

– Tenho quatro provas hoje à noite. 

– O estudo formal embota os neurônios. Já está tudo certo: vagão-leito especial no trem, suíte no hotel e duas professoras mineiras para uma bacanal. 

Alexandre ficou calado. 

– Partamos já para a aventura! A rotina é um veneno lento. O bar nos espera. Serra do Navio é um apelo irresistível com suas fêmeas mineiras. 

– Resolvi ir, mas não porque Galego Demônio tivesse me convencido a ir, com aquele papo dele. Estava entediado só de pensar nas quatro provas. 

Moacir Canto serviu novas doses de whisky e Alexandre pôs-se a contar o resto do caso. Já anoitecia quando ele e Galego Demônio saíram da casa de Alexandre, entraram no bar da esquina e pediram uma meiota. Não demoraram lá e foram a seguir para o Picolé Amigo, um bar onde R. Lima bebia de vez em quando. Com efeito, encontraram-no lá. 

– Lembro-me que no Picolé Amigo houve uma discussão entre R. Lima e Galego Demônio. Galego Demônio estava botando muita banca e R. Lima disse que seu livro deveria se chamar Eu Idiota, porque ao ler os originais de Eu Imortal encontrara jacaré com g.

– Do ponto de vista da linguística é possível - Galego Demônio se defendeu. - Sobretudo para um niilista igual a mim. 

– E foi com o niilismo dele que eu tomei no rabo - disse Alexandre para Moacir Canto. Acabara resolvendo, no Picolé Amigo, que deveria fazer as quatro provas, e não teve quem o dissuadisse da ideia. Galego Demônio foi com Alexandre para matar algumas questões. Ao chegarem ao Colégio Amapaense um inspetor disse-lhes que não podiam entrar senão uniformizados. Alexandre pediu para falar com o diretor. Impressionado, ou melhor, narcotizado com o bafo de bebida, o inspetor não opôs objeção em anunciá-los ao diretor, que estava ali perto fiscalizando ele próprio se os seus meninos encontravam-se devidamente uniformizados. Quando Alexandre e Galego Demônio se aproximaram do diretor ele estava atendendo um recruta do Exército que saíra do quartel diretamente para o Colégio Amapaense, de modo que não pudera vestir o uniforme de estudante. Levado pelo hábito, o rapaz se perfilou. 

– Ô idiota! Esse gajo não passa de um professor de História! - observou Alexandre para o recruta. 

– O quê?!  gaguejou o diretor. 

– Seu merda, foste tu que levaste A Galinha para o governador, aquele ditador do caralho  disse Alexandre, referindo-se ao jornalzinho que lhe rendera dez dias de suspensão. 

– Vou chamar a polícia  disse o diretor, com seus olhos que eram esbugalhados de nascença. 

Galego Demônio tinha visto umas fêmeas gostosas e tentou pegar no rabo de uma delas. A moça deu um grito que chamou a atenção do diretor; ele passou uma reprimenda em Galego Demônio. A reprimenda foi mesmo que nada. Galego Demônio já estava com o pau para fora e tentou metê-lo no diretor. 

– Foi uma cena muito engraçada aquele veado de uma figa correndo com o Galego Demônio atrás, com aquele pau mole dele, pingando gonorreia. Descemos correndo a escada, pois a polícia já fora chamada, e voltamos ao bar onde deixáramos R. Lima. Pedimos mais uma garrafa de Pitú. Iríamos cedo para Santana e de lá embarcaríamos para Serra do Navio. Mais ou menos à meia-noite R. Lima foi embora e ficamos só nós dois no bar. Tomamos mais duas e zarpamos. Daí não me lembro mais de quase nada. 

Alexandre cochilou. Acordou com uns respingos quentes no braço. Moacir Canto tinha se levantado, aberto a panela de canja e levou-a para a sala, quando a panela virou, espalhando canja pelo chão. O escrivão cantava alegremente no banheiro. Moacir Canto pegou o que ainda restava da canja na panela, foi até a porta do banheiro e jogou a canja lá para dentro. O escrivão deu um berro. Ao ouvir o grito, Alexandre levantou-se rapidamente pronto para correr. Antes de ir embora Moacir Canto olhou em volta e depois, como se lembrasse de algo, pegou a chave da porta. Nestas alturas o escrivão saiu do banheiro chorando e todo melado de canja. Moacir Canto saiu e fechou a porta por fora. Lá embaixo, jogou a chave no esgoto que cortava a rua longitudinalmente. 

– Vamos pegar um ar lá na amurada? – disse Alexandre. 

– Vamos pegar um rato podre no pescoço? – disse Moacir Canto, atirando nas costas de Alexandre uma ratazana morta, que encontrara na calçada, correndo depois para a amurada que dava para o rio, ao lado da Fortaleza São José de Macapá. 

Alexandre abaixou-se numa poça de água e lavou o pescoço. Depois andou em direção a um depósito de madeira. Moacir Canto veio também e entrou no depósito. Alexandre adormeceu recordando de A Galinha, o jornalzinho que não passou do primeiro número. Havia, em sala de aula, um ricaço. O pai era dono de boa parte da cidade. Ele se ofereceu para financiar o jornal. Foram, então, uma noite, para a casa do ricaço. O filho dele os levou para o gabinete de trabalho do velho. Lá pelas tantas Alexandre tirou o telefone do gancho e discou um número qualquer. Nestas alturas, o velho estava tomando soro no quarto dele e apanhou a extensão para saber do que se tratava àquela hora da noite, quase onze horas. 

– Alô! – disse uma voz de mulher, sonolenta. 

– Quem é? 

– Solange – disse a voz. 

– Oh! Solange! Minha doce cadelinha, vaquinha linda, minha bocetinha fedendo a merda, vou já aí para empurrar meu caralho na doçura do teu jardim de trás... 

O ricaço arrancou a agulha da veia, pegou um cinto e irrompeu no escritório. O velho entrou dando lambada no filho dele. Havia, além de Alexandre, outro redator, um garotão de cabeça raspada, que montou na sua bicicleta e se evaporou. 

O primeiro número do jornal, e único, saiu com uma matéria sobre o governador, o general ditador do Amapá. Dizia que ele passava o dia de binóculos por trás das persianas da sua sala, no Palácio do Setentrião, tentando ver, do outro lado da Praça da Bandeira, as calcinhas das estudantes que se sentavam sobre o muro do Colégio Amapaense. Sobre o diretor do educandário dizia que tinha um acordo tácito com algumas de suas alunas, de modo que lhes dava nota dez se elas se arreganhassem e o deixassem ver suas calcinhas nas aulas de História. Na mesma edição foram escolhidos os dez mais punheteiros. O diretor enviou um exemplar do jornal ao secretário de Educação, que o enviou ao governador. Mas nesse trâmite o exemplar desapareceu. Houve um inquérito e os responsáveis por A Galinha, que na expectativa dos rapazes deveria pôr ovos de ouro, acabou rendendo-lhes dez dias de suspensão.

Quanto a Galego Demônio, naquele mesmo dia tropical úmido em que Alexandre ganhou as obras completas dos irmãos Grimm, o poeta entrou no Gato Azul e pediu uma dose de rum Montilla. Fazia aquilo ordinariamente e bebia até o anoitecer. Então voltava para casa, jantava e saía. Naquele dia bebera além do normal. Ao retornar a casa não encontrou ninguém. Estava sozinho. O pai fora comprar açaí no arquipélago do Marajó; a mãe estava em Belém; a irmã, sabe Deus. Foi ao fogão. Comeu nas próprias panelas. Sentia-se pesado. Foi ao quarto. Deitou-se. Dormiu. Canguru Sem Freio, a irmã, estivera escondida, espreitando-o. A claridade da luminária do poste vencia o piche da noite sem estrelas e entrava no quarto, banhando os móveis com um manto irreal. Galego Demônio dormia de peito para cima. Assim, dormindo, era belo como qualquer jovem da sua idade. A primeira machadada pegou no lado do pescoço. Galego Demônio acordou como se estivesse impulsionado por molas. Tentou agarrar-se em alguma coisa e começou a gorgolejar como porco sangrando. Canguru Sem Freio ligou a lâmpada e olhou para Galego Demônio. Ergueu de novo o machado. Galego Demônio fitou-o aterrado e começou a arrastar-se para um dos lados da cama, já empapada de sangue. Canguru Sem Freio depôs o machado no chão, com o cabo encostado na cama, desafivelou o cinto de Galego Demônio e arriou sua calça, juntamente com a cueca. O pênis de Galego Demônio estava com os curativos purulentos como sempre. A machadada deixou-o apenas pendurado pela pele do escroto. A próxima machadada seccionou-o. Depois, Canguru Sem Freio aprumou bem o machado, como se fosse dar o golpe final em um tronco que estivera tentando partir ao meio, e desceu-o. A cabeça de Galego Demônio pulou e foi bater na parede. Canguru Sem Freio arrastou o corpo mutilado, desceu as escadas, caminhou até o monturo e atirou-o sobre o monte de caroços de açaí. Chovia como o diabo. Canguru Sem Freio voltou ao quarto de Galego Demônio, levando seu pistom, e pôs-se a tocar O Silêncio.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Adquira os romances, contos e poemas de Ray Cunha no Clube de Autores e na amazon.com.br

Ray Cunha e telas de Olivar Cunha e Giovani Bellinazo

Edição do Clube de Autores

BRASÍLIA, 17 DE AGOSTO DE 2021 – Ray Cunha é romancista, contista e poeta amazônida, natural de Macapá/AP, na esquina da Linha Imaginária do Equador e o maior rio do mundo, o Amazonas, na Amazônia Caribenha. Estreou como escritor aos 17 anos, em 1971, ao participar de XARDA MISTURADA, volume de poemas assinados também pelo poeta e contista José Edson dos Santos (Joy Edson) e o poeta José Montoril, com prefácio do poeta e cronista Isnard Brandão Lima Filho. O livro teve sessão de autógrafos na Associação Comercial do Amapá, em dezembro daquele ano.

Em 1975, aos 21 anos, em Manaus/AM, Ray Cunha começa a pôr comida na mesa com jornalismo, iniciando, ali, uma carreira que dura até hoje, trabalhando, inicialmente, durante uma década e meia, em todos os grandes jornais da Amazônia Clássica. 

Em 2015, em Brasília/DF, onde mora atualmente, conclui o curso técnico em Medicina Tradicional Chinesa, na Escola Nacional de Acupuntura (Enac), e publica, como trabalho de conclusão de curso, um surpreendente thriller policial, FOGO NO CORAÇÃO, porém com estudo de caso e todos os requisitos acadêmicos requeridos pela Enac, e contemplados pelo autor, que exerce também a profissão de terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa.

Os romances e contos do escritor são ambientados na Amazônia profunda e nas grandes cidades da Hileia, e também em Brasília e no Rio de Janeiro. Entre os títulos comercializados pelas livrarias virtuais do Clube de Autores e da amazon.com.br, estão os romances: JAMBU, A CASA AMARELA, FOGO NO CORAÇÃO, HIENA e A CONFRARIA CABANAGEM.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Editora do Clube de Autores publica INFERNO VERDE, do ficcionista amapaense Ray Cunha

Capa da edição do Clube de Autores

BRASÍLIA, 16 DE AGOSTO DE 2021 - O conto INFERNO VERDE, de RAY CUNHA, foi publicado domingo 15 pelo Clube de Autores, em volume único. Antes, foi publicado no livro TRÓPICO ÚMIDO, de 2000.

A trama deste thriller é a seguinte: Isaías Oliveira, repórter do jornal Observador Amazônico, em Belém do Pará, investiga o sinistro traficante Cara de Catarro, que sequestra a filha do jornalista. Isaías Oliveira recebe ajuda da bela aventureira Boca de Sacola e se concentra no resgate da menina, em um duelo que atravessa a baía do Marajó e acaba nas brenhas da maior ilha marítimo-fluvial do planeta.

RAY CUNHA nasceu em Macapá/AP, na Amazônia Caribenha. Jornalista, trabalhou nos mais importantes jornais da Hileia. É autor dos romances: JAMBU, A CASA AMARELA, FOGO NO CORAÇÃO, HIENA e A CONFRARIA CABANAGEM.

Réquiem pelas meninas do mundo


RAY CUNHA

 

As mulheres e meninas do Afeganistão

São tiradas de casa, ou estupradas na sala

Civis são castrados e apanham até agonizar,

Crivados de bala.

O Afeganistão foi retomado pelo Talibã

Fundamentalistas islâmicos nacionalistas

Depois de duas décadas de guerra.

A embaixada dos Estados Unidos foi abandonada

E todos os americanos fugiram, junto com Ashraf Ghani,

As mulheres e meninas voltaram a ser escravas sexuais

E as velhas são mortas nas ruas vermelhas.

 

O Afeganistão fica no centro da Ásia

Tem cerca de 38 milhões de habitantes e mede 652.230 quilômetros quadrados.

Em 1996, o Talibã estabeleceu no país um regime totalitarista radical,

Até 2001, quando foi derrubado pelos Estados Unidos,

Após os atentados terroristas da al-Qaeda, em 11 de setembro de 2001.

Os americanos invadiram o Afeganistão atrás dos terroristas,

Que se homiziaram lá.

 

George W. Bush exigiu que o Talibã entregasse seu líder, Osama bin Laden

E expulsassem a al-Qaeda.

O Talibã disse não; aí choveu fogo sobre eles.

 

Em 2020, os americanos começaram a se retirar do país.

O Talibã foi avançando

Até que em maio de 2021 a situação se tornou infernal.

Agora, são como os hunos, não deixam pedra sobre pedra

São como os comunistas, desarmam a população, tomam suas propriedades

Estupram, torturam e matam

Como na Venezuela

Como nos sonhos do Foro de São Paulo.

Agora mesmo, no Afeganistão, o Talibã arranca meninas

E as estupra; um, dois, três, muitos homens se servem delas

O último, as deixam vivas ou as mata, conforme deseje.

A ONU não está nem aí para elas, nem para as meninas africanas

Muito menos para as crianças venezuelanas.

 

Quem julgará isso? A suprema corte do mundo?

As meninas do planeta correm perigo

Pois a suprema corte do mundo é comunista

Fabiana, pois não passa de totalitária, como a China.

O que sabemos da China? Nada.

O que sabemos da corte?

Apenas que as redes sociais choram lágrimas de sangue. 

 

Brasília, 16 de agosto de 2021

sábado, 14 de agosto de 2021

Bolsonaro pedirá impeachment de Barroso e Moraes. E o 7 de setembro vai parar o país

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 14 DE AGOSTO DE 2021 – O presidente Jair Messias Bolsonaro anunciou hoje que pedirá, na próxima semana, ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, a instauração de processo de impeachment contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), fundamentado no Artigo 52 da Constituição, que estabelece como competência privativa do Senado Federal processar e julgar os ministros do STF por crime de responsabilidade. 

“Todos sabem das consequências, internas e externas, de uma ruptura institucional, a qual não provocamos ou desejamos. De há muito, os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, extrapolam com atos os limites constitucionais” – escreveu Bolsonaro em suas redes sociais. 

“Na próxima semana, levarei ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido para que instaure um processo sobre ambos, de acordo com o Artigo 52 da Constituição Federal, que se refere a crimes de responsabilidade contra ministros do STF, membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o procurador-geral da República e o advogado-geral da União. 

“O povo brasileiro não aceitará passivamente que direitos e garantias fundamentais, como o da liberdade de expressão, continuem a ser violados e punidos com prisões arbitrárias, justamente por quem deveria defendê-los" – escreveu, sobre Moraes, que vem acusando, prendendo, julgando e condenando arbitrariamente qualquer cidadão que ouse criticá-lo. 

Quanto a Barroso, que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negociou com deputados na Câmara para impedir que os votos nas eleições passem a ser auditados. Depois que Bolsonaro apresentou provas de que do jeito que está as eleições podem ser facilmente fraudadas, Moraes instaurou inquérito contra Bolsonaro por utilizar o documento da investigação da Polícia Federal com as evidências de que as urnas eletrônicas brasileiras são tão confiáveis quanto um chupa-cabra. 

Também Barroso determinou que o Senado instalasse uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar crimes de responsabilidades de Bolsonaro com relação à pandemia do vírus chinês. Pacheco se ajoelhou diante de Barroso. Ora, todos sabem que se não fosse Bolsonaro o país teria afundado com a pandemia. Assim, a CPI, que virou um circo, não conseguiu apurar nada, pois se recusou a investigar a farra que governadores e prefeitos fizeram com o dinheiro que Bolsonaro enviou para estados e municípios combaterem a pandemia, a mando do Supremo. 

A CPI, que ainda estertora, tem como presidente e vice os notórios Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e como relator o famigerado Renan Calheiros (MDB-AL). Conclusão: vão acusar Bolsonaro de curandeirismo! É du ca... 

Para completar, em 5 de agosto, o presidente do Supremo, Luiz Fux, cancelou reunião agendada com o presidente Jair Bolsonaro porque ficou ofendido com a apresentação das provas do Mito sobre as extraordinárias urnas eleitorais brasileira. E o negócio foi institucional. Fux leu uma nota no final da sessão plenária do tribunal rompendo as relações entre o Supremo e o Poder Executivo. 

Diz a nota: “Como presidente do Supremo Tribunal Federal, alertei o presidente da República, em reunião realizada nesta corte, durante as férias coletivas de julho, sobre os limites do exercício do direito da liberdade de expressão, bem como sobre o necessário e inegociável respeito entre os poderes para a harmonia institucional do país. 

“Contudo, como tem noticiado a imprensa brasileira nos últimos dias, o presidente da República tem reiterado ofensas e ataques de inverdades a integrantes desta corte, em especial os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, sendo certo que quando se atinge um dos integrantes se atinge a corte por inteiro. 

“Além disso, sua excelência mantém a divulgação de interpretações equivocadas de decisões do plenário bem como insiste em colocar sob suspeição a higidez do processo eleitoral brasileiro. Diante dessas circunstâncias, o Supremo Tribunal Federal informa que está cancelada a reunião outrora anunciada entre os chefes de poder, entre eles o presidente da República. 

“O pressuposto do diálogo entre os poderes é o respeito mútuo entre as instituições e seus integrantes. Como afirmei em pronunciamento por ocasião da abertura das atividades judiciais deste semestre, diálogo eficiente pressupõe compromisso permanente com as próprias palavras o que infelizmente não temos visto no cenário atual. 

“O STF, de forma coesa, segue ao lado da população brasileira em defesa do estado democrático de direito e das instituições republicanas e se manterá firme em sua missão de julgar com independência e imparcialidade sempre observando as leis e a Constituição”. 

No dia 13 de agosto, Moraes mandou prender o presidente do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro, além de determinar o bloqueio de conteúdo postado por Bob Jefferson nas redes sociais, a apreensão de armas e munições, computadores, tablets e celulares. 

Bob Jefferson vinha convocando a população brasileira para a partir de 7 de agosto parar tudo no Brasil até que haja a reforma da Suprema Corte e as próximas eleições já sejam auditáveis. Com a prisão de Bob, o movimento explodiu. Caminheiros garantem que vão parar o país inteiro e ocupar Brasília exigindo uma intervenção militar contra a ditadura da toga. 

Alerta o jurista Evaldo Campos: “O que nós temos assistido nos últimos tempos é a implantação de um único poder, o da ditadura da toga. Um ministro sozinho afasta do cargo, decreta a prisão, e isso significa colocar os demais poderes de joelhos, humilhados, considerando-os de segunda classe, segunda categoria”. 

Outro jurista, Ruy Barbosa, disse: “A pior de todas as ditaduras é a ditadura da toga”. 

Mas por que tudo isso? Não era para Bolsonaro tomar posse como presidente da República, tanto que, ainda candidato, Adélio Bispo de Oliveira, que fora filiado ao PSOL, meteu uma peixeira nos intestinos de Bolsonaro que só escapou com vida por milagre. Desde que Bolsonaro tomou posse, em 1 de janeiro de 2019, não deixou ninguém roubar, e roubavam-se bilhões de reais por mês, ano após ano. Como não conseguiram matá-lo, o plano agora é desmoralizá-lo e prender a ele e familiares seus. 

Mas não combinaram com os russos. Ignoraram que estamos em 2021, em plena era da internet, que as mentiras propaladas pela grande mídia de rabo preso não colam mais e que o papo doce dos comunistas azedou.