sábado, 7 de agosto de 2021

Tempo de amar. Ou 7 de agosto de 1954


Ray Cunha e Josiane
RAY CUNHA

O físico Albert Einstein disse que “a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão”. Com efeito, percebemos que crianças de colo não têm a menor noção de tempo, bem como adultos portadores de certas doenças neurológicas ou psiquiátricas. Assim, a noção de tempo só existe devido à percepção dos sentidos, especialmente a visão, já que o tempo é influenciado pela luz, pois o tempo é mera sensação de movimento. 

Na escuridão, o tempo não passa; mas, na luz, é vertiginoso, a 300 mil quilômetros por segundo. Ao enxergar estrelas a 10 mil anos-luz de distância vemos o passado. Fotografias, o cinema, retém a luz dos acontecimentos, congela-os, imobiliza-os, anula o tempo. 

Iasmim, Ray Cunha e Eduardo
De formas que o tempo é uma sequência de movimentos, de dias e noites, noites e dias. O dia é dividido em 24 horas, as horas em 60 minutos, os minutos em 60 segundos. A rotação da Terra leva um dia; uma fase da Lua, uma semana; as fases da Lua, um mês; a translação da Terra, um ano. Uma década são 10 anos; um século, 100 anos; um milênio, mil anos.

Na nossa casa o tempo é um, mas na casa dos nossos pais, que fica às vezes em outra cidade, ou em outro país, o tempo é outro. Os ursos sabem quando hibernar; uma árvore explode em flores no momento certo. Há tempo dos ipês roxos, dos amarelos e dos brancos. Há tempo de frio e o da primavera, tempo de vacas magras e de abundância. Bater um pênalti requer percepção do tempo, tanto para o jogador quanto para o goleiro. Mas sempre é tempo de amar. 

Einstein criou a teoria do espaço-tempo. O espaço é referencial necessário para que haja tempo, pois o espaço influencia o tempo, de maneira que, para fora, o tempo é relativo, e, para dentro, é o agora eterno, e à medida que envelheço, desde as 5 horas daquela madrugada de 7 de agosto de 1954, sinto o tempo cada vez mais eterno. 

Tia Graça, Ray Cunha e João Pedro

Desde então, o tempo tem sido a sensação de escalar o Pico da Neblina e saltar, lá de cima, de asa delta, em Copacabana; de mergulhar no azul montado na luz; de cair em um abismo para cima, como leão de asas, sentir a mulher amada, ouvir o silêncio da madrugada, como se ouve Mozart, viajar, em velocidade quântica, ao Rio de Janeiro, Hong Kong ou Andrômeda. 

Mas isso só é possível porque meu alicerce está encravado no meu coração, o portão astral, onde só há um tempo, aqui e agora, povoado de lembranças do meu pai contando histórias de aventuras, a sensação do abraço da minha mãe, o azul cobalto do céu nas tardes de agosto, como um rio imenso que deságua em noites de 200 mil metros cúbicos do perfume dos jasmineiros, por segundo, em Macapá, e as mulheres da minha vida, faróis em meio à tempestade, sinalizando-me a segurança do porto. 

O tempo não existe. E não poderia ser diferente, já que sem matéria não há tempo, e a matéria é também uma ilusão, sonho dos espíritos. Sonhamos com primaveras, como a de hoje, com a presença de pessoas queridas, tortas, velas que são acesas, parabéns para você, alegria, a festa permanente da vida. Salud!

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