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Em JAMBU jornalista investiga traficante de crianças e de grude de gurijuba durante o Festival de Gastronomia do Pará e Amapá |
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 28 DE
FEVEREIRO DE 2025 – Leitora pergunta que fim levou o manganês de Serra do
Navio, município do Amapá, e o que é a Margem Equatorial. Vamos lá! A mineradora
americana
New Steel levou de Serra do Navio, distante 208 quilômetros de Macapá, no
Amapá, 40 milhões de toneladas do manganês mais puro do mundo, deixando um
buraco gigantesco, que se transformou na Lagoa Azul.
A escavação para extração de manganês alcançou o lençol
freático e a mina foi inundada com água cristalina e própria para banho, cor de
anil devido à presença de carbonato de manganês. Essa é a Lagoa Azul, com até
80 metros de profundidade.
Em 1943, o interventor do então Território Federal do Amapá,
capitão Janary Gentil Nunes, já sabia que na região dos rios Amapari e Araguari
havia manganês, que entra na composição de várias ligas de aço, na fabricação
de fertilizantes, no clareamento de vidros, no fabrico de pilhas secas e na
produção de tintas e vernizes. Janary fora avisado pelo Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM). Em 1945, ofereceu um prêmio em dinheiro para quem
identificasse exatamente onde o minério estava.
Um comerciante ribeirinho, chamado Mário Cruz, levou
pessoalmente ao interventor algumas pedras que usara como lastro para seu
barco, escuras e pesadas. O material foi analisado no DNPM, no Rio de Janeiro,
pelo engenheiro Glycon de Paiva, que bateu o martelo: tratava-se de manganês de
alto teor.
Glycon foi então à região analisar os depósitos. Ele viu uma
profusão de morros cobertos de floresta; um deles era um gigantesco bloco de
manganês que lembrava a proa de uma embarcação. Então Janary convenceu o
presidente Gaspar Dutra a criar uma reserva nacional englobando a mina de
manganês e conferindo ao Território Federal do Amapá a competência para
prospectá-la e explorá-la por meio de concessão.
Três empresas responderam ao convite para explorar a mina: a
subsidiária brasileira da United States Steel, Companhia Meridional de
Mineração; a Hanna Coal & Ore Corporation; e a Sociedade Brasileira de
Indústria e Comércio de Minérios de Ferro e Manganês (Icomi), fundada em 1942,
com sede em Belo Horizonte e atuação em Minas Gerais, que venceu a concorrência.
Só que depois de ganhar a concorrência, a Icomi se associou
à americana Bethlehem Steel, maior consumidora mundial de manganês, formando a
holding Caemi Mineração, criada por Augusto Trajano de Azevedo Antunes,
paulistano nascido em 1906 e falecido na Cidade Maravilhosa, em 1996, formado
em Engenharia Civil pela Escola Politécnica de São Paulo, em 1930.
Com a guerra fria, a União Soviética deixou de suprir de
manganês o mercado norte-americano, aumentando, assim, a cotação internacional
do produto. Augusto Nunes, que já explorava o minério de ferro no pico do
Itabirito, em Minas Gerais, criou então a Icomi, em 1947, e, em 1948, começou
as atividades de mineração no Amapá.
O contrato de exploração, assinado em 1947, previa que a
Icomi teria de investir no Amapá pelo menos 20% de seu lucro líquido; a
exploração de um perímetro máximo de 2.500 hectares, o equivalente a 0,17% do
território amapaense, e o pagamento de 4% a 5% da receita total em royalties ao
governo do Amapá.
Previa, ainda, uma área adicional de 2.300 hectares para a
construção de instalações industriais, complexo ferroviário e duas vilas, que
dariam origem às cidades de Santana e Serra do Navio, as quais começaram a ser
construídas em janeiro de 1957 e ficaram prontas em 1959.
A Estrada de Ferro Amapá, inaugurada em 1957, tem 194
quilômetros, ligando Serra do Navio ao Porto de Santana. Em 1980, com o
manganês de Serra do Navio, comprado a preço de banana, estocado nos Estados
Unidos, a Bethlehem vendeu sua participação para a Caemi, que encerrou a
exploração de manganês em 1997, embora, em 1953, no governo de Getúlio Vargas,
a concessão para explorar o minério previa o prazo de 50 anos.
Desde 2003, a Caemi
pertence à Companhia Vale do Rio Doce. Em março de 2006, a MMX Mineração
e Metálicos, do empresário Eike Batista, assumiu o controle da Estrada de Ferro
Amapá, por vinte anos. Em 2008, a MMX foi vendida para a Anglo American. Em
2013, o controle foi repassado para a mineradora inglesa Zamin, e, em 2015,
para a Secretaria de Estado de Transportes, quando a linha ferroviária foi
também paralisada.
Hoje, o governo do Amapá acusa a Icomi de contaminar com
arsênio o Porto de Santana e a Vila Elesbão. O morro que lembrava a proa de um
navio desapareceu e se transformou numa cratera, até acabar o manganês de boa
qualidade. “Não se previa que a exploração seria tão intensiva a ponto de
esgotar totalmente a reserva” – comentou Aziz Ab’Sáber, titular do Departamento
de Geografia e professor emérito do Instituto de Estudos Avançados da Universidade
de São Paulo (USP).
As escavações eram feitas 24 horas por dia. Algumas crateras
formaram lagos, alimentados pelo lençol freático. O Morro do Navio foi
transformado no Lago Azul. O fato é que a Icomi cumpriu o contrato, mas o poder
público deixou que Santana e Serra do Navio sucumbissem. Os governos que
passaram pelo Amapá, durante o reinado da Icomi, nunca aplicaram os royalties
com sustentabilidade.
Restou também o porto mais estratégico da Amazônia, Santana,
de onde se pode exportar matéria-prima e produtos manufaturados e
industrializados para todo o planeta. A rodovia Perimetral Norte, que deveria
ligar Macapá a São Gabriel da Cachoeira, é hoje a única alternativa de
transporte para Serra do Navio. A Anglo American comprou uma área da Icomi para
a pesquisa de ouro no município vizinho de Serra do Navio, Pedra Branca do
Mapari, e descobriu uma mina gigantesca.
Após a retirada da Icomi, o poder público abandonou Serra do
Navio, hoje, um município do Estado do Amapá, na Amazônia Oriental, com 7.713
quilômetros quadrados e mais de 5,5 mil habitantes, criado em 1 de maio de
1992. A Vila de Serra do Navio foi tombada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2010.
Serra do Navio virou uma cidade fantasma. O que fazer nela?
Um empresário descobriu: turismo. O empreendedor Wirley Almeida, natural de Serra
do Navio, se especializou como mateiro, guiando amigos e pesquisadores por
trilhas que poucos conheciam na floresta que circunda a cidade.
– Houve uma grande fuga das pessoas daqui indo pra cidade
grande procurar emprego. Então, a gente sempre escutou isso: Serra do Navio é
uma cidade fantasma. Isso deixava a gente bastante triste, porque não é para
quem vive aqui, nasceu aqui, tem sua família aqui. A gente fica até chateado de
ouvir um negócio desses – comentou Wirley Almeida.
Nessa época, ele descobriu a fotografia, com foco na
paisagem e nos animais.
– Comecei a ver que eu tinha um dom, comecei a fotografar e
aprendi tudo na internet. Abri a minha primeira rede social e ali eu já comecei
a jogar algumas fotografias que eu já tinha e vi que muita gente se interessou
– disse.
As fotos começaram a fazer sucesso nas redes sociais.
– Quando a minha rede social bateu os 5 mil seguidores,
percebi que existiam turistas na minha página, que falavam: Eu quero ir aí, com
quem eu falo? Comecei a analisar os dados das fotografias, as pessoas estavam
gostando muito do pôr do sol e nascer do sol, da neblina e da nossa Lagoa Azul
– e começou a montar um roteiro turístico.
Wirley Almeida criou uma agência de turismo ecológico e
investiu 20 mil reais no negócio, em barracas, mochilas e artigos que aluga e
são utilizados nos passeios. Resultado: vem atendendo cerca de mil turistas por
ano, nos quatro anos da agência.
Agora, vamos à Margem Equatorial. Trata-se de um lençol de
petróleo em alto mar, entre a foz do Rio Oiapoque, no Amapá, e o Rio Grande do
Norte, uma continuação da jazida de petróleo e gás da costa da Guiana,
abrangendo cinco bacias: Foz do Rio Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas,
Ceará e Potiguar, em uma extensão de 2.200 quilômetros.
Guiana, Suriname, Guiana Francesa e a Margem Equatorial
Brasileira formam a Margem Atlântica Equatorial Sul-Americana (Maesa). A
primeira descoberta na Maesa ocorreu em 2011, no campo Zaedyus, com reserva
estimada em 11 bilhões de barris, na Guiana Francesa, onde trabalham,
atualmente, 24 empresas. Até 2027, instalarão seis plataformas, com produção de
1,2 milhão de barris por dia, superior ao campo de Tupi, maior produtor
brasileiro.
A Guiana, ex-colônia da Espanha, Holanda e do Império Britânico,
era um dos países mais pobres do mundo, até 2015, quando descobriram petróleo
na sua costa e a ExxonMobil e a Hess, dos Estados Unidos, e a CNOOC, da China,
começaram a explorar o óleo, 11 bilhões de barris, a 200 quilômetros do litoral
e a uma profundidade de 1.690 metros. Agora, a Guiana cresce 45% ao ano, o
maior índice de expansão econômico do planeta, segundo o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
No lado brasileiro se discute os riscos ambientais na
exploração da Margem Equatorial, estimada em 10 bilhões de barris de petróleo.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) disse não à Petrobras para exploração de petróleo a 175 quilômetros da
costa do município de Oiapoque/AP e a 500 quilômetros da foz do rio Amazonas.
O Amapá é um dos Estados mais pobres e violentos e o mais
isolado do Brasil, carente de energia elétrica, saneamento básico e
infraestrutura tecnológica, em país assolado pela corrupção e narcotráfico. A
Margem Equatorial seria sua redenção.
O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União
Brasil) é do Amapá, mas ele está mais preocupado em blindar de um possível
impeachment o ditador Alexandre de Moraes.
O líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (PT),
também foi eleito pelo Amapá, mas seu foco, no momento, é defender o presidente
Lula da Silva, de quem é conterrâneo, garanhuense/PE.
Condenado por corrupção em três instância e preso, Lula foi descondenado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e eleito presidente da República pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Em dois anos de desgoverno, o país está afundando em gastança desenfreada, corrupção, inflação e avanço do crime organizado.
Como se não bastasse, Lula vem destruindo a história de parceria entre os Estados Unidos e o Brasil, chamando o presidente americano, o republicano Donald Trump, líder mundial da Direita, de fanfarrão fascista e se aliando a ditadores e terroristas.
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