FOGO NO CORAÇÃO se desenrola no mundo da acupuntura
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 5 DE JULHO
DE 2025 – Quando fiz o curso técnico de Medicina Tradicional Chinesa (MTC),
na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc), em Brasília/DF – de 06/08/2013 a
12/07/2016 –, com 2.080 horas/aula presenciais e 440 horas de estágio no
ambulatório da ENAc e no Ambulatório Fernando Hessen, em um total de 2.520
horas/aula, observei que geralmente os alunos viam a Medicina Chinesa como
solução para todas as curas.
Certo dia, um de meus professores me confidenciou que
utilizou todo tipo de técnica da Medicina Chinesa na sua filha menor para
debelar uma gripe, sem conseguir minimizar o sofrimento da criança, então, de
madrugada, levou-a a um pronto-socorro, onde ela foi medicada e conseguiu
dormir.
A partir desse episódio, comecei a prestar atenção em uma
coisa. Imaginemos um povoado sem médico onde uma criança está moribunda. Chega
uma senhora com um galinho de arruda e benze a criança. Não demora e o menino
está brincando com outras crianças. Nesse caso, benzer foi a melhor terapia, a
mais oportuna e eficiente.
A Medicina Tradicional Chinesa é espetacular, mas não debela
sintomas agudos que podem levar à morte instantaneamente, não realiza cirurgias
ou transplantes, nem detém uma gama de conhecimentos modernos sobre o complexo funcionamento
do corpo humano.
Quando a Medicina Chinesa foi codificada, lá pelo século 200
antes de Cristo, o conhecimento anatômico e fisiológico que se tinha do corpo
humano era primitivo. Também nada se sabia sobre a química dos alimentos e,
muito menos, sobre microrganismos.
A Medicina Chinesa é a terapia da harmonia entre mente e corpo,
do funcionamento equilibrado dos sistemas nervoso central e endocrinológico.
Compreender isso é, talvez, o conhecimento mais importante da Medicina Chinesa.
Além disso, a MTC considera a existência dos corpos sutis, entre os quais a
centelha da vida: o espírito.
Tratei, certa vez, do caso de um senhor, idoso, que tivera
câncer no intestino grosso e o órgão fora removido. Quando o atendi, ele sofria
de diarreia crônica e baixava hospital toda semana. Expliquei a ele que seu
intestino grosso continuava incólume, mas no corpo etérico, que ia fazer uma
limpeza energética no meridiano do intestino grosso e tonificar energeticamente
todo o seu sistema fisiológico.
A vida está na mente, que é um conjunto de corpos, ou campos
vibratórios. Existem corpo físico e corpos sutis; estes, formam a aura. O corpo
físico é visível porque se trata de energia condensada, a que chamamos de
matéria. Os demais corpos são invisíveis porque não refletem a luz.
Basicamente, são: corpo etérico, ou fio de prata; corpo astral, ou das emoções;
e corpo espiritual, ou consciência.
Meu paciente sem o intestino grosso não baixou mais hospital
e três meses depois pediu alta. De modo que para alguns casos a Medicina
Chinesa é mais adequada. Mas não faz milagre. Aliás, nenhuma terapia faz
milagre. Toda cura tem uma razão de ser. Os pacientes que andam atrás de
milagre, que não querem sair da zona de conforto, sofrem, às vezes, a vida
inteira.
Outro dia, atendi um paciente com refluxo brabo. Perguntei-lhe
se ele já havia identificado os alimentos que lhe causavam refluxo. Respondeu
que sabia. Disse-lhe que seu caso estava resolvido: era só não comer os
alimentos que lhe faziam mal. Ele me respondeu, meio zangado, que não ia deixar
de comer esses alimentos porque gostava muito deles, e me perguntou se não
havia um remédio para curá-lo. Sim, há, respondi. É só não comer o que lhe faz
mal, ou pelo menos reduzir drasticamente a ingestão deles. Aí o paciente ficou
amuado. Mas o que se há de fazer em um caso desses?
Há também os que acreditam em milagre por duas razões: ingenuidade
ou mão fechada. Por exemplo: os picaretas proliferam em quase todas as
atividades humanas. Uma atividade que é exceção é a corrida espacial, na qual
não há lugar para picaretagem, pois é caríssima e qualquer erro pode ser fatal.
Na acupuntura, há clínicas em que o paciente, ou o plano de
saúde, paga dez sessões, nas quais o acupunturista apenas pergunta o que a
pessoa está sentindo e aplica 10 agulhas, repetindo o protocolo em cada sessão.
Isso e nada é a mesma coisa. Só faz bem para o dono do negócio.
Um mito muitíssimo difundido, e perigoso, é o dos
fitoterápicos. É comum um paciente perguntar se tal erva faz bem. Explico que tudo
em a natureza nem é bom nem ruim, tudo é relativo. Quando um fitoterapeuta
prescreve uma erva, ou um chá, para alguém, é porque chegou a um diagnóstico e
determinou a dosagem e periodicidade do fitoterápico.
Certa vez, prescrevi açafrão em cápsulas de 500 miligramas
três vezes ao dia e água saborizada com hortelã durante um mês para uma
paciente, após diagnosticá-la com deficiência energética de baço/pâncreas e fogo
no coração. Uma semana depois, atendi-a novamente e ela continuava com fogo no
coração, irritadíssima, falando muito, insone, constipada etc.
Fiquei intrigado, sem entender o que estava acontecendo,
pois o hortelã já deveria estar fazendo efeito sedativo. Conversa vai conversa
vem e ela me diz candidamente que estava tomando o açafrão juntamente com
gengibre, porque lhe disseram que o gengibre tornava o efeito do açafrão ainda
mais poderoso.
Gengibre é Yang puro e Yang é calor, movimento, agitação,
delírio. Expliquei isso da forma mais simples e clara a ela e a adverti que se
continuasse fazendo tudo o que qualquer pessoa acha que faz bem que sua data de
validade seria antecipada em décadas.
Chás, dependendo da dose, pode se transformar simplesmente em
veneno. E se uma pessoa tomar dois litros de água de uma vez os rins entrarão
em colapso. Há pessoas que se sentirem cheiro de camarão morrem com a garganta fechada,
devido à reação alérgica. Quanto a mim, como duzentos gramas de camarão com o
maior prazer. Outros, se beberem leite de vaca ou ingerirem glúten sofrem
diarreia grave. Cada pessoa é uma pessoa.
Terapeutas tecnocratas ou doentes não curam. Tecnocratas são
aqueles que aplicam apenas técnicas, mecanicamente. Nesse caso, não haverá
resposta na busca da cura, por causa de uma lei universal: a da sintonia. A
física já esclareceu que tudo o que existe no Universo é energia, que a energia
vibra e que a vibração entra em sintonia com vibrações semelhantes. Se não
houver ação com propósito não haverá resposta. Preste atenção na sua vida e
você vai identificar isso claramente.
Outro dia, um paciente de meia idade e sem recursos
financeiros confidenciou a mim que gostaria de ser astronauta, e me olhou como
quem está se perguntando se o acharia louco. Respondi com a maior simplicidade
e honestidade: começa a ler sobre astronáutica hoje mesmo, a pesquisar, a fazer
o necessário para se tornar astronauta. E lhe dei a grande informação: o mais
importante é o caminho, a caminhada rumo aos seu objetivo, o Tao. Quem caminha
para ser astronauta já é astronauta, pois estudar astronomia torna o estudioso
naquilo que ele busca. Então ele percebeu que podia ser astronauta a hora que
quisesse. Isso é propósito.
É a mesma coisa que ser rico. Basta nos sentirmos ricos. É isso
que atrai dinheiro, prosperidade.
E os terapeutas doentes? Já atendi reikianos bichados,
preocupados, angustiados, e me perguntei como é que uma pessoa naquelas
condições pode passar energia para alguém? Conheço reikianos que me pediram
para pegar suas mãos: eram quentes, agradáveis ao contato. Conheço um que me
disse que quando está atendendo sente suas mãos pegarem fogo. São pessoas morais
e amorosas.
Essa moralidade, que é mental, se reflete no corpo físico. De
vez em quando, no trabalho voluntário, acontece de senhoras idosas me pedirem
para deixá-las me abraçarem, e se demoram em abraços calorosos, sentindo-se
amadas; ou senhores baterem longos papos, felizes apenas por isso. Acho que é
porque lhes reservo meu melhor sorriso e utilizo todos os meus conhecimentos para
o encontro. É isso que eles procuram: sintonia fina, um estado de harmonia com
as leis do Universo, as quais garantem a existência da vida.
Mencionei fogo no coração. Este é o título do meu trabalho
de conclusão de curso. Trata-se do único TCC, pelo menos que eu saiba, que é um
romance. O curso de Medicina Tradicional Chinesa que eu fiz exigia TCC. Aí,
cogitei vários temas, mas todos já haviam sido explorados em livros. No meu
entendimento, TCC tem que explorar um ângulo novo do objeto estudado, ou fazer
uma abordagem por um caminho novo.
Ensaio parecia a mim muito mecânico e restritivo. Foi aí que
pensei: sou escritor, ficcionista, escrevo romances, por que não escrever um
romance como TCC? Aí, apresentei a ideia para o meu orientador, professo
Ricardo Antunes. Ele me deu sinal verde na hora. Então, escrevi FOGO NO CORAÇÃO,
um thriller policial, mas com estudo de caso e debate filosófico sobre Medicina
Tradicional Chinesa.
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