A jornalista Cristina Segui lembra seu colega brasileiro Augusto Nunes: é uma celebridade no seu país e não tem medo de enfrentar figurões |
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 29 DE OUTUBRO DE 2021 – No início deste mês, a jornalista espanhola Cristina Segui, especializada em política ibero-americana, afirmou durante entrevista ao Jornal da Record que o narcotráfico financiou partidos de esquerda latino-americanos e europeus. O gatilho da declaração foi a prisão, em setembro, na Espanha, o ex-chefe da Inteligência de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, Hugo Carvajal, conhecido como El Pollo, o Frango, foragido desde 2019.
Segundo a jornalista, o Centro Nacional de Inteligência da Espanha, administrado por partidos socialistas financiados pelo narcotráfico da América Latina, sabia onde o Frango estava escondido e teria acobertado sua fuga. Para Cristina, regimes políticos de esquerda da Ibero-América estão ligados ao crime organizado pelo Foro de São Paulo.
– O Foro de São Paulo e todos os que estão ao seu redor e que se opõem às ideias de liberdade e prosperidade das pessoas vivem da criminalidade, do tráfico de armas, do tráfico humano, do tráfico de drogas – comentou, afirmando que os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT, teriam se melado na grana do narcotráfico.
Certamente Lula, Dilma e o PT processarão a jornalista. Por enquanto, Lula se defendeu em nota: “O ex-presidente Lula foi investigado, teve todos os seus sigilos quebrados e nenhuma irregularidade foi encontrada. Venceu na justiça todas as falsas acusações feitas contra ele. Lula não tem nenhuma condenação e tem plenos direitos políticos”.
É verdade. Depois de ter sido condenado em todas as instâncias e preso, o Supremo Tribunal Federal (STF) libertou Lula, que, de bandido, virou santo.
Natural de Valência, Cristina Segui é uma das mais conhecidas jornalistas da Espanha, como, por exemplo, Augusto Nunes aqui no Brasil. Atenta aos bastidores da política ibero-americana, viu logo que as esquerdas da América-Latina andam de braços dados com o narcotráfico.
O ex-chefe da Inteligência da Venezuela (1999-2013), o general Hugo Carvajal, o Frango, 61 anos, fugiu para Portugal desde setembro de 2019, quando o governo espanhol autorizou sua extradição para os Estados Unidos, a pedido do Drug Enforcement Administration (DEA, órgão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos responsável pelo controle e combate das drogas), acusado de tráfico de drogas, em sociedade com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), uma quadrilha que tocava o terror na Colômbia.
Em 2011, Frango foi acusado de coordenar, em 2006, o embarque de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para o México; a droga tinha destino final nos Estados Unidos. Segundo o FBI, Frango fazia parte de uma organização conhecida como Cartel de los Soles, liderado por Hugo Chávez, que morreu de câncer, em 2013, em Cuba. O cartel passou a operar com as Farc a partir de 1999 e Frango seria encarregado da segurança dos carregamentos de drogas da Venezuela para os Estados Unidos.
O envolvimento de comunistas ibero-americanos com o narcotráfico é velho. No seu livro Marxismo – O Ópio dos Intelectoides Latino-Americanos, o ex-chefe dos Departamentos de Contra-Espionagem e de Contra-Terrorismo da antiga Secretaria de Inteligência da Presidência da República, atual Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e espião brasileiro em Moscou durante a Guerra Fria, o escritor Jorge Bessa, lembra um episódio envolvendo o herói das esquerdas latino-americanas, o ditador Fidel Castro.
Em 2 de abril de 1989, o líder soviético Mikhail Gorbachev desembarcou em Havana, onde disse para Fidel que a União Soviética não poderia mais pôr no seu bolso os 10 bilhões de dólares anuais que há décadas vinha despejando em Cuba, para manter o enclave soviético nas costas dos Estados Unidos. A União Soviética agonizava, vítima do próprio comunismo. Fidel empalideceu, pois se acostumara a mamar, tornando-se, graças ao comunismo, um dos maiores playboys do mundo. E agora, como sustentar seu vidão, com sua máfia sediada em Cuba, a Disneylândia das esquerdas na América Latina?
Fidel Castro não demoraria a descobrir: acobertado pela celebridade internacional do seu nome, como o revolucionário que desafiou os Estados Unidos, fez um pacto com traficantes de cocaína da Colômbia para que Cuba se tornasse o principal entreposto comercial da droga rumo aos Estados Unidos. Mas foi desmascarado pela DEA. Vários cubanos detidos confessaram como o esquema operava. As investigações da DEA conduziram ao Cartel de Medellín e ao governo cubano.
John Jairo Velásquez, o Popeye, homem de confiança tanto de Fidel como de Pablo Escobar no Cartel de Medellín, fez um relato minucioso sobre o envolvimento dos irmãos Castro com a droga de Pablo Escobar à jornalista Astrid Legarda, que escreveu o livro El Verdadero Pablo. Popeye assegura que Raúl Castro, irmão do ditador de Cuba e que o sucederia na chefia da ditadura cubana, era quem recebia os carregamentos de drogas, pois era então o comandante das Forças Armadas. Eram embarcados de 10 a 15 toneladas de droga em cada operação.
O historiador britânico Richard Gott, em seu livro Cuba – Uma Nova História, confirma a razão que levou Fidel e Raúl Castro a se envolveram no tráfico de cocaína com Pablo Escobar, do Cartel de Medellín. Segundo ele, Cuba estava em crise por causa do afastamento da União Soviética.
Assim, para se livrarem da prisão nos Estados Unidos, os irmãos Castro acusaram o general Arnaldo Ochoa, herói da revolução cubana e um dos militares mais condecorados da história do país, além de ser um dos grandes líderes militares de Cuba, e que temiam ameaçar o controle total dos cubanos, de ser o comandante das operações de narcotráfico com Pablo Escobar e condenado por “alta traição à pátria e à revolução”.
Os irmãos Castro mataram então dois coelhos com uma só cajadada: livraram-se de uma invasão americana e sua prisão e afastaram Ochoa da sucessão de Fidel. Ochoa foi preso, em 1989, dois meses depois da visita de Gorbachev, sob a acusação de comandar as operações de tráfico de drogas do Cartel de Medellín, e foi fuzilado.
Mario Riva, ex-tenente-coronel do Exército cubano e que hoje vive em Portugal, afirma que Arnaldo Ochoa foi usado como bode expiatório, que Fidel aproveitou para se livrar dele devido às críticas que vinha fazendo ao regime. Arcou com o narcotráfico autorizado pelo regime possivelmente para salvar a vida de seus familiares.
Riva disse ao jornal Diário de Notícias, de Portugal, em sua edição de 13 de julho de 2009, que Tony La Guardia, também executado, estava envolvido no tráfico. Tony: “Eu tinha conhecimento dos aviões que aterravam em Cuba vindos da América Central, mas Ochoa não”.
No livro El Magnífico — 20 Ans au Service Secret de Castro, Juan Vivés, ex-agente do serviço secreto cubano, afirma que Raúl Castro era o chefe do acordo com Pablo Escobar. Vivés revelou, ainda, que Raúl mantinha relações com narcotraficantes das Farc e que os sandinistas da Nicarágua também estavam envolvidos com o tráfico, por meio do capitão cubano Jorge Martínez, subalterno de Ochoa e contato entre Raúl Castro, o ex-presidente nicaraguense Daniel Ortega e Pablo Escobar.
Assim, Fidel Castro, “um homem dominado pela febre do poder absoluto e pelo desprezo ao povo cubano”, segundo o cubano Juan Reinaldo Sánchez, guarda-costas de Fidel por 17 anos, precisava pensar em novo meio de manter sua boa vida. E que tal sua própria União Soviética?
A solução: o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, também ególatra, narcisista e ávido por poder e fama, e que, se bem trabalhado, tinha potencial para se tornar presidente do Brasil, o celeiro do mundo e maior país da Ibero-América, um continente que poderia se tornar a União Soviética tropical, um grande puteiro das esquerdas.
Era só criarem um
organismo que, a exemplo do Comintern de Lênin, serviria para apoiar movimentos
comunistas em todo o continente, para o que só precisariam criar uma base de
apoio confiável e com gente confiável: o Brasil de Lula. E assim foi criado o ninho
das serpentes: o Foro de São Paulo. Fidel não perdeu tempo e começou a
financiar Lula e o PT.
Tudo começou com o Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe, organizado pelo PT, de 1 a 4 de julho de 1990, no extinto Hotel Danúbio, na cidade de São Paulo, com representantes de 48 partidos e organizações de 14 países latino-americanos e caribenhos, visando debater a nova conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim e elaborar estratégias face ao embargo dos Estados Unidos a Cuba. Estava criado o ninho das serpentes.
No ano seguinte, o encontro foi realizado na Cidade do México, com a participação de 68 organizações e partidos políticos de 22 países. Na ocasião, o encontro se tornou conhecido como Foro de São Paulo. Em 1993, já em Havana, o encontro reunia 30 países e várias organizações de esquerda. As reuniões são realizadas a cada um ou dois anos, em diferentes países da América Latina. A Declaração de São Paulo, documento aprovado no fim do primeiro encontro, ressalta que o objetivo do foro é avançar na luta anti-imperialista e popular no após queda do Muro de Berlim.
Recentemente, no estado do Amapá, no setentrião da costa brasileira e fronteira com a América Central, o narcotráfico brasileiro sofreu mais um abalo. Isaac Alcolumbre, primo do senador Davi Alcolumbre (DEM/AP), foi preso pela Polícia Federal na Operação Vikare, que investiga o tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A família Alcolumbre é poderosa no Amapá.
Um aeroporto particular de Isaac é suspeito de fornecer apoio logístico para aeronaves envolvidas com o tráfico de drogas entre a Colômbia, Venezuela e Brasil. “Com o aprofundamento do trabalho da PF no Amapá, chegou-se a uma grande e articulada organização criminosa com participação de brasileiros e estrangeiros, voltada à prática de diversos crimes, notadamente o tráfico internacional de drogas, por meio de uma rota que passava por países da América do Sul, principalmente Colômbia e Venezuela e tinha o estado do Amapá como uma de suas bases logísticas fundamental” – divulgou a Polícia Federal.
Foram
apreendidos 95 veículos, entre carros, caminhões e motos, 3 aeronaves, 19
embarcações e imóveis em nome de 41 pessoas físicas e jurídicas, e foram
bloqueados 5,8 milhões de reais.