RAY CUNHA
Rafael fez uma pesquisa bibliográfica e antropológica de tirar o chapéu, e identificou sítios arqueológicos e a origem de topônimos de bairros do Rio de Janeiro, cidade que ele conhece como ninguém, e de cidades do entorno da Baía de Guanabara, como Niterói. O resultado é que tomamos consciência, com clareza, de que somos uma nação tupi, portuguesa e africana, e tudo começou no Rio.
Tribos do tronco linguístico tupi-guarani migraram da Amazônia, há milhares de anos, para o litoral e o Sul. Quando os europeus começaram a visitar o litoral, havia, na Guanabara, cerca de 82 aldeias tupinambás, ou tamoias, entre as quais a Carioca, a mais importante delas, situada à margem do Rio Carioca, que deságua na orla do Flamengo.
As mulheres tupinambás eram bonitas e quando os europeus as viram andando nuas pelas praias ficaram doidos, e não demorou a surgir uma geração de mamelucos. Aí vieram os portugueses, o governador geral Mem de Sá e seu sobrinho, Estácio de Sá, que fundou o Rio de Janeiro. Mais mamelucos.
A Baía de Guanabara era, no século XVI, estratégica para os portugueses, daí porque trataram de exterminar os franceses da França Antárctica e fundar uma cidade. O livro, de quase 500 páginas, vai até aí. Da primeira à última página, Rafael Freitas da Silva conduz o leitor à cultura tupinambá, e começamos a viver com eles, chegamos a sentir o cheiro da comida, a embriaguez pelo caxiri, participamos dos rituais, sentimos a tensão das batalhas sangrentas e curtimos uma Baía de Guanabara paradisíaca – o que nunca deixou de ser.
No século XVIII, encontraram ouro e diamante em Minas Gerais, que ia para Portugal via Rio de Janeiro. Aí, o Rio passou a ser a capital da colônia. No século XIX, o então príncipe dom João fez o imperador da França, Napoleão Bonaparte, de otário. Quando o general Junot entrou em Lisboa para saquear Portugal e de lá tentar invadir a Inglaterra ainda viu os navios que levavam dom João e sua corte para o Rio de Janeiro. Foi uma jogada de mestre. Do Rio, dom João pôde organizar, juntamente com a Inglaterra, a resposta a Napoleão. Assim, o Rio passava a ser a capital do Império do Brasil, Portugal e Algarves.
Penso que o Rio de Janeiro é a cidade mais importante do planeta, por diversas razões. De longe, é a cidade mais bonita do mundo, e, a cada ano, fica mais bonita ainda. Suas praias, montanhas e avenidas são de tirar o fôlego. E fica na região mais aprazível do globo, a zona tropical. É a cidade-luz do Trópico. Tanto que é a cidade que mais recebe turistas no Hemisfério Sul.
Em termos de Brasil, foi a partir de lá que o país começou a
se tornar uma nação. De modo que o Rio de Janeiro é, para a civilização
brasileira, o equivalente à Grécia para o Ocidente. Assim, o Rio é o maior
difusor da cultura brasileira. O Rio Antes do Rio me deixou orgulhoso de
ser brasileiro, me fez compreender que o Brasil é um legado português e
jesuíta, e que Estácio de Sá, ao fundar o Rio, lançava a pedra fundamental do Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho. O Rio Antes do Rio me fez amar ainda mais
o Rio de Janeiro.