sábado, 12 de abril de 2014
sexta-feira, 11 de abril de 2014
RAY CUNHA AUTOGRAFA NA BOCA DO JACARÉ-AÇU, TRÓPICO ÚMIDO E O CASULO EXPOSTO NA BIENAL BRASIL DO LIVRO


Estarei autografando três livros e lerei contos no estande
da Livraria do Chico da UnB, no número 33 do Pavilhão A, instalado na direção
do Teatro Nacional Cláudio Santoro: o recém-lançado Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela É (Ler Editora,
Brasília, 153 páginas, R$ 25); Trópico
Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília, 116 páginas, R$
30); e O Casulo Exposto (LGE/LER Editora,
Brasília, 153 páginas, R$ 28).
Estarei na Livraria do Chico, quarta-feira 16, a partir das
18 horas, e sábado 19, a partir das 15 horas.
VEJA ENTREVISTA DE RAY
CUNHA AO PROGRAMA TIRANDO DE LETRA, DA UNB TV
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Os embaixadores Jozef Smets, da Bélgica, e
Milena Smit, da Eslovênia, no lançamento do
livro Na Boca do Jacaré-Açu, no Sebinho
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Ray Cunha lê conto no bar Faixa de Gaza da
galeria Olho de Águia, em clic do premiado
fotógrafo Ivaldo Cavalcante
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Ray Cunha, fotografado pelo artista plástico André Cerino,
em dezembro de 2013, no ateliê do pintor.
Ao fundo, acrílica sobre tela da fase Cidade
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segunda-feira, 7 de abril de 2014
Uma ou duas orientações a uma jovem repórter
Cara Polyana. O mais importante de tudo é o velho prazer que
sentes ao realizar teu trabalho, prazer que cresce quando tens a sensação de
que és lida e de que tuas matérias lançam luz, de alguma forma, aos teus
leitores. A isso podemos chamar de talento.
Fundamental, Polyana, para o que fazemos, é a retidão.
Jamais, coisa alguma deverá corromper a missão do jornalista. Nunca recebas presente,
muito menos dinheiro, para mentir; a verdade é teu único objetivo. Anotas tudo,
observas teus interlocutores nos olhos, ouves todas as partes, checas tudo, para
se aproximar o mais perto possível da verdade, essa velha dama pantanosa.
Mergulhas na tua língua natal como nos braços do teu amado,
apreendes seus murmúrios e fruis suas palavras e as nuances das palavras, como a
música do voo. É preciso que escrevas como amas, porque o amor é sempre
perfeito.
Lê gigantes como Machado de Assis, Graciliano Ramos,
Euclides da Cunha, Jorge Amado, pois eles, e todos os outros, resumem o Trópico.
Lê também, e se possível nas suas línguas nativas, Ernest Hemingway, Norman
Mailer, Joseph Conrad, Kurzio Malaparte, Tomasi Di Lampedusa e Gabriel García
Márquez, para começar.
É porque, Polyana, os grandes livros contém toda a dimensão
humana, e nos livram, a todos nós, de preconceito e de intolerância.
És muito jovem e tens tanto para viver. Por isso, aprendas
idiomas, curtas o trabalho dos grandes artistas, viajas, batas longos papos com
os que tu amas e, principalmente, ouça-os. Isso, além de nos enriquecer, tira,
às vezes, da fossa, até suicidas.
A missão do jornalista é muito importante, Polyana, pois na
busca da verdade e da justiça lança luz sobre o pântano das trevas, e onde há
luz é impossível haver treva.
Os salários baixos, as incontáveis horas de trabalho, as
dificuldades inerentes à profissão, a insalubridade da investigação policial, o
confronto com políticos corruptos, o convívio com pessoas arrogantes e de quem
dependemos ou a quem temos que nos submeter, nada disso é maior do que a consciência
do dever do repórter.
E depois, que dinheiro pode ser mais valioso do que o dever
cumprido? Haverá alguma coisa superior à paz de espírito?
Eu te desejo todo o sucesso, Polyana, e que a tua luz
ilumine o riso das crianças.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
RAY CUNHA AUTOGRAFA TRÊS LIVROS NA II BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA
MARCELO LARROYED*
O escritor Ray
Cunha autografará três livros e lerá contos na Livraria do Chico da UnB, no Pavilhão A, Estande 33 da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, de 11 a 21 de
abril, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília: o recém-lançado Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela
É (Ler Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 25); Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília,
116 páginas, R$ 30); e O Casulo Exposto
(LGE/LER Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 28).
Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia Como Ela
É está à venda no Sebinho, complexo de livraria, cafeteria
e restaurante na 406 Norte, Bloco C; além do site www.lereditora.com.br, que atende a qualquer região do
planeta, incluindo o Distrito Federal, com a entrega do livro em casa.
Também pelo site da Ler Editora pode ser adquirido o livro O Casulo Exposto. Livreiros devem fazer pedidos pelo e-mail: atendimento@lereditora.com.br, ou pelo telefone: (55-61) 3362-0008, ou ainda diretamente na Ler Editora, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 3, Lote 49,
Bloco B, Loja 59 – Brasília/DF
– CEP 70610-430.

“O conto que dá
título ao livro, Na Boca do Jacaré-Açu,
é o mergulho suicida do arqueólogo Agostinho Castro nos abismos do Mundo das
Águas, a confluência dos rios Amazonas, Pará, Tocantins e Guamá, e o oceano
Atlântico, abocanhando o arquipélago de Marajó, mais de mil ilhas, a maior
delas do tamanho de Portugal. Jacaré-açu atinge mais de 6 metros de comprimento
e meia tonelada de peso; no conto Na Boca
do Jacaré-Açu, representa a morte, na pessoa do pai de Agostinho, Castro e
Castro” – observa o escritor.

Inferno Verde conta a história do
repórter Isaías Oliveira, num duelo com o sinistro traficante Cara de Catarro.
A trama se passa em Belém e na ilha de Marajó. Latitude Zero se desenrola em Macapá, cidade situada no estuário do
maior rio do planeta, o Amazonas, na cofluência com a Linha Imaginária do Equador.
Um punhado de jovens começa a descobrir que a vida produz também ressaca. A Grande Farra narra peripécias do jovem
repórter e playboy Reinaldo. Candidato a escritor, ele gasta seu tempo
trabalhando como repórter, bebendo e se envolvendo com inúmeras mulheres. O
conto tem sua geografia em Manaus, encravada no meio da selva amazônica, e em
Rio Branco, no extremo oeste brasileiro.
Segue-se artigo
do jornalista, escritor e crítico literário Maurício Melo Júnior, que apresenta
o programa Leituras na TV Senado,
sobre Trópico Úmido.
OBSESSÕES AMAZÔNICAS DE RAY CUNHA – “A
literatura brasileira está numa encruzilhada. Cada autor atira para um lado e
ninguém consegue formatar o que no passado se chamou de movimento. Mesmo em
lugares onde se pratica uma literatura regional intensa – Pernambuco e Rio
Grande do Sul, por exemplo – não há o senso de união. Isso, se por um lado
favorece a diversidade temática, por outro, paradoxalmente, desagrega autores e
enfraquece o trabalho de formação de leitores. Embora o ato de escrever seja um
exercício de solidão, são a vivência e a convivência que dão ao escritor o estofo
necessário para a composição do texto.
“O escritor Ray
Cunha, nascido na beirada da floresta amazônica, sofre do mal que vitimou parte
de seus colegas a partir dos anos setenta: é um escritor desagregado, carente
de grupos com quem possa discutir temas, estéticas e formas. Isso fica muito
claro em seu livro Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos, no qual, apesar de
uma certa obsessão geográfica, sente-se a ausência da região em sua plenitude.
O leitor mais exigente terminará a leitura carente do sotaque e das cores
amazônicas, embora fique saciado com o desenvolvimento bem resolvido da trama.
“O conto que
abre o livro, Inferno Verde, conta a história do repórter Isaías Oliveira em
duelo sangrento e perverso com o traficante Cara de Catarro. O segundo texto,
Latitude Zero, fala de um grupo de jovens em descobertas sexuais em Macapá.
Pode ser visto como um conto de formação, embora carregado do escancaro de
Charles Bukowisk, o que é até compreensível em quem sobreviveu às teorias de
Freud e à revolução sexual dos anos sessenta. Finalmente, o último conto do
volume, A Grande Farra, conta a história de Reinaldo, um repórter que sonha ser
escritor, mas, milionário, gasta a vida em bebedeiras e aventuras sexuais.
“A linha que
liga todos os textos, além da região amazônica, é mesmo a temática da
sexualidade. No entanto, este sentimento está muito próximo das práticas vindas
com a liberação sexual dos anos sessenta, unidas a um certo sadismo dos
personagens. Num pobre exercício de paráfrase com os Atletas de Cristo, que
trazem halos angelicais para os nossos atletas do futebol, podemos dizer que os
personagens de Ray Cunha são Atletas de Sade. É impressionante a obsessão por
um ato doloroso e imposto. Há sempre dominação do macho sobre a fêmea, mesmo
quando ela, também filiada à revolução sexual, escolhe seu parceiro. Ainda
assim prevalece a força do macho.
“Esses
personagens construídos pelo autor, por conta da defesa de uma geração perdida,
terminam por carregar cores muito iguais. São todos hedonistas, amantes do
prazer sobre todas as coisas. Por conta desse sentimento entram de cabeça na
vida sem medir qualquer consequência. E fica clara aí a influência de Bukowisk,
o velho safado, embora a sensualidade das ninfetas traga para os textos uma
certa lembrança de Nabokovisk, o velho também safado, mas um pouco mais pudico.
Sobrevive disso tudo um mundo excessivamente cruel, posto que o prazer é o que
menos importa aos moços. Todas as relações têm como objeto a sujeição do
parceiro.
“O poeta Augusto
dos Anjos falava em um de seus sonetos da “obsessão cromática”, do que chamava
de fantástica visão do sangue se espalhando por toda parte. Ray Cunha trás para
a literatura um pouco dessa obsessão, que faz a festa dos repórteres policiais.
Há muitas cenas cruéis, com requintes de crueldade, dignos das páginas dos
romancistas policiais americanos da década de cinquenta, um período no qual a
fineza britânica de Conan Doyle foi substituída pela inspiração de Bram Stoker.
“Finalmente, há
obsessão geográfica. Para um livro passado na Amazônia isso é bem interessante.
No entanto o autor poderia descrever mais e citar menos. Explica-se. É comum
por todo o texto o nome de ruas onde moram, vivem e rodopiam os personagens. O
problema é que a citação pura e simples do nome da rua simplesmente não remete
a qualquer impacto sobre o leitor que não conhece as ruas. O autor poderia
descrever as ruas, o que daria uma informação a mais ao leitor, situando-o até
no ambiente por onde transitam os personagens.
“Fica do livro,
entretanto, a construção da história. Há pontos de prisão do leitor no jogo de
curiosidades desvendadas aos poucos. O autor sabe manipular bem a trama,
levando o leitor ao clímax. Com isso, resgata uma das maiores carências da
literatura brasileira atual: o bom contador de história. É que os nossos novos
escritores, buscando a universalidade linguística de Guimarães Rosa, esqueceram
que ele sabia contar bem uma história. Resultado: renunciaram à narrativa e não
ganharam a inventividade estética.
“Ray Cunha
consegue contar bem suas histórias. No entanto poderia ter trazido o mundo mais
amazônico para suas páginas; poderia deixar um pouco as influências
estrangeiras e seguir a trilha de autores como Benedicto Monteiro. Isso pode
transformá-lo no grande representante da literatura amazônica moderna. Aquele
que conseguirá traduzir boa linguagem com boa narrativa, e tudo temperado em um
bom caldo de tucupi.”

Segue-se
prefácio de Maurício Melo Júnior: “O escritor Jorge Amado costumava se queixar
de algumas ausências da literatura brasileira. E dizia que a mais gritante
delas era a falta de romances sobre o ciclo do café, como os que foram escritos
sobre os ciclos da cana-de-açúcar e do cacau. Também podemos dizer que ainda
não surgiram os escritores que tomaram o desafio de contar as sagas da busca da
borracha na Amazônia e da construção de Brasília em pleno cerrado goiano.
“Neste seu novo
livro de contos e novelas, o escritor Ray Cunha, nascido no Amapá e vivente de
Brasília, passa longe da narrativa de homens perdidos na solidão da floresta ou
na poeira das construções incansáveis. O que interessa ao escritor são os
resultados daquelas experiências, são os personagens que ficaram depois das
epopeias.
“Os homens e
mulheres que saltam destas páginas são bastante curiosos. Têm a política no
sangue, embora apenas transitem em torno dela. Veem o poder bem de perto, mas
não participam de suas benesses. Também calejados pelas dores impostas pela
opressão da floresta, já nada os surpreende e a violência pode ser uma forma de
defesa ou sobrevivência. Sim, os escrúpulos são poucos. Ou, citando Jarbas
Passarinho, um acriano que fez carreira política no Pará, “às favas com o
escrúpulo”. Em compensação, a sensualidade aflora na pele dessa gente. O perigo
é que também este poder de encantar e seduzir é instrumento de dominação.
“Naturalmente
que a visão que temos aqui está superdimensionada pelos requisitos da
literatura, mesmo assim sua base tem intensos pontos de realismo. E Ray ainda
lhes dá um tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até
cruel. No entanto, este humor nasce do clima noir, o clima dos filmes e livros
policiais surgidos nos anos de 1940.
“Sem saudosismos
e com muito suspense, os contos e novelas de Ray Cunha nos põem diante dos
brasilienses, esses seres nascidos da junção plena de todos os brasileiros. E
vale muito a pena conhecê-los”.

*MARCELO LARROYED é escritor e mestre
em língua portuguesa
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