quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Conheça o Brasil em 27 livros de ficção; o Amapá, pelo romance A CASA AMARELA


BRASÍLIA, 31 DE JANEIRO DE 2018 – O romance A CASA AMARELA terá nova edição, pela Amazom.com e pelo Clube de Autores. Lançado em 2004, pela Cejup, de Belém/PA, as tiragens que a editora colocou no mercado estão esgotadas. A história – que tem início com o golpe militar de 31 de março de 1964, início da Ditadura dos Generais, que durou até 1985 – é ambientada na Macapá dos anos 1960. Subjacente à cidade e aos acontecimentos, o Trópico Úmido permeia, latente, toda a história.
A Fortaleza de São José de Macapá, o maior ícone dos amapaenses, é palco da tragédia que fornece o argumento do romance: a tortura e morte do presidente do Grêmio Literário Rui Barbosa, acusado de ser comunista. Ao fundo, a cidade ribeirinha, seccionada pela Linha Imaginária do Equador, afoga-se na margem esquerda do estuário do rio Amazonas, quando o gigante se avoluma para lançar no Atlântico 180 mil metros cúbicos de água por segundo, 16% da água doce despejada nos oceanos do mundo; em maio, sobe para 260 mil metros cúbicos por segundo, e, em novembro, cai para 100 mil metros cúbicos por segundo.
Os Picanço Cardoso vivem na Casa Amarela, em torno da qual há um jardim prenhe de rosas e zínias, e onde predominam uma seringueira, uma mangueira e um cajueiro, cercados pelo muro do Colégio Amapaense. A casa e as árvores têm sentimentos humanos e o Quartinho é frequentado também por mortos, como Ernest Hemingway, ou Antoine de Saint-Exupéry.
Os bailes reunindo a juventude dourada macapaense, no clube conhecido como Piscina Territorial, a bela esposa infiel de um milionário, lutas de boxe, o aterrorizante Velho Rocha, o apolínio Alexandre Cardoso e o trágico Alexandre filho, o prostíbulo Suerda, o campeão onanista Pentelho de Vaca, o Colégio Amapaense, são personagens que compõe uma espécie de concerto com três movimentos, no qual se destaca A Casa Amarela.

“Para quem acredita na máxima de que os livros nos fazem viajar, nada como aproveitar a literatura para conhecer o país. O UOL selecionou 27 livros que mostram características locais dos diferentes Estados brasileiros e do Distrito Federal” – recomenda o site, citando A CASA AMARELA como o livro de ficção que melhor retrata aquilo que podemos entender como a alma da capital do estado do Amapá, situado no setentrião brasileiro, a Amazônia atlântica, e caribenha.


RAY CUNHA é autor também dos romances:


E dos livros de contos:

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Livrarias

BRASÍLIA, 12 DE JANEIRO DE 2018 – A primeira vez que tive a sensação de estar numa grande livraria foi em Niterói/RJ, em 1982, aos 27 anos, quando encerrei 10 anos na estrada, ou de barco na Amazônia. Na minha cidade natal, Macapá/AP, não havia livraria quando saí de lá, em 1972. Havia papelaria. Leitores compravam livros em Belém, no Rio ou em São Paulo, tomavam livros emprestados, ou frequentavam a Biblioteca Pública; meu caso. Naquela época, conheci Gilberto Araújo, Betão, leitor voraz. Um dia, ele me falou de um escritor americano chamado J. D. Salinger, e do seu livro O Apanhador no Campo de Centeio.

Em 1982, eu vivia em Belém, e estava casado há dois anos. Foi meu primeiro casamento. No lançamento do meu livro de poemas Sob o Céu Nas Nuvens, numa livraria que ficava no centro de Belém, minha ex-mulher estava tão furiosa comigo que não apareceu lá. Reconheço que eu era como um predador que fugiu do zoológico – ele se esconde e ataca, e todos fogem dele, até que os bombeiros o acertam com um dardo e o levam de volta para a jaula. Eu achava tudo uma mesmice; não suportava nem a mim mesmo. Não deu outra: separamo-nos. E toda separação produz um vácuo, do qual podemos nos recuperar logo, ou não; meu caso.

Só me recuperei totalmente em 1987, quando parti de Belém para o Rio, mas acabei ficando em Brasília, por insistência do jornalista Walmir Botelho, que me convidou para ajuda-lo na edição da capa do extinto Correio do Brasil, do qual era diretor de Redação. Naquela época eu já estava domesticado, já não era mais um predador em fuga; apenas continuava bebendo muito, mas muito mesmo.

Pois bem, quando me vi no vácuo, fiquei completamente desorientado, pois no vácuo podemos ir para qualquer lado, para cima ou para baixo, ou ficar parados, à mercê do vazio. A única coisa que me veio à cabeça foi voltar a fazer o que fizera durante a década anterior, embora já não tivesse a mesma ousadia dos 17 anos. Mesmo assim, tomei a estrada e fui para Niterói, e me hospedei na casa de uma das pessoas que mais me apoiaram: o compositor Luiz Tadeu Magalhães.

Meu ganha-pão era Sob o Céu nas Nuvens, que eu vendia em pequenas sessões de autógrafos e em bares. Certa tarde, senti-me feliz e saí, fui procurar uma livraria. Encontrei uma linda livraria, com cafeteria e tudo o mais. Percorri os corredores, observando as capas e as lombadas dos livros, até topar com O Apanhador no Campo de Centeio. Comprei-o, escolhi uma mesa no bar e pedi uma Bohemia. Foi o Beto que me falou também da Bohemia. Era a primeira vez que iria prová-la. Essa experiência é um dos tesouros mais valiosos da minha alma. Obrigado, Gilberto!

Aqui em Brasília, um dos meus programas prediletos é passar horas em livrarias. São horas intensas, e estimulantes, pois, ao ver tantos escritores importantes, tantos livros tão bem editados, meu propósito de ser escritor fica mais forte. A maior livraria de Brasília é a Cultura da Casa Park, um shopping que tem até cinema de arte. Autografei lá Na Boca do Jacaré-Açu. Conta com um bom café e discoteca, além de uma revistaria com títulos que só vemos em São Paulo e Rio.

A Fnac fica no ParkShopping. É também bastante grande. No Pátio Brasil, no início da Avenida W3 Sul, há uma Livraria Leitura, muito agradável, também com um bom café, e mesinhas, e, noutro espaço, poltronas. Quando vou lá, às vezes peço um espresso, sento-me e fico ouvindo as pessoas conversando: estrangeiros, homens velhos cantando mulheres jovens, famílias, adolescentes cochichando, grudados nos seus celulares, todo tipo de pessoas. Já li muito trecho de livro, lá, livros que não posso comprar no momento, mas que tenho urgência em conhecer. E também já cochilei bastante nas poltronas da Leitura do Pátio Brasil, no conforto dos 21 graus centígrados. Certa vez quase li todo o romance A Noite dos Casacos Vermelhos, de Rey Vinas.

A Leitura do Conjunto Nacional, meu shopping predileto, já teve cafeteria; não tem mais, e não tem local para lermos. Leio em pé. A editora LGE, que é hoje a Libri Editorial, conseguiu colocar 10 exemplares de O Casulo Exposto, lá; vendeu tudo. O ambiente é meio silencioso e há uma variedade grande de gêneros e autores, e a saída dela dá para um dos locais mais aprazíveis de Brasília: a praça de alimentação do Conjunto Nacional.

Mas minha livraria favorita é a Saraiva, ao lado da cafeteria Copenhagen, também minha predileta. Na Saraiva há sempre uma música muito alta, geralmente rock atual, isto é, uma sequência de gritos andrógenos em inglês, mas deixo para lá, porque a livraria conta com um espaço onde puseram uma mesa e duas cadeiras, e o ar condicionado funciona que é uma beleza. Assim, leio a Veja inteira, bem como a Superinteressante, além, é claro, de trechos de livros. De modo que só me dou conta dos cantores andrógenos quando já estou cansado de ler. Então, procuro um local para comer, ou então já está na hora de escafeder-se.