segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Arilda Costa McClive entrevista o romancista amapaense Ray Cunha para o Brazilian Times

Ray Cunha é um escritor brasileiro de Macapá/AP conhecido
por seus romances que desvendam a Amazônia e o Trópico

ARILDA COSTA MCCLIVE

21 DE DEZEMBRO DE 2025 Ray Cunha é um escritor brasileiro nascido em Macapá, Amapá, Amazônia, conhecido por suas obras que exploram a Hiléia e o Trópico como elementos centrais de sua literatura. Ele é autor de romances como A CASA AMARELA, JAMBU, A IDENTIDADE CARIOCA, O CLUBE DOS ONIPOTENTES, O OLHO DO TOURO; das coletâneas de contos TRÓPICO e AMAZÔNIA; e do livro de poemas DE TÃO AZUL SANGRA, todos disponíveis na amazon.com, amazon.com.br e Clube de Autores.

Ray Cunha também é jornalista e terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa, e suas obras refletem sua conexão com a cultura e a natureza da Amazônia. Ele é um dos escritores que buscam resgatar a identidade cultural da região e explorar temas como a chamada “Questão Amazônica”.

Ray Cunha é um exemplo de escritor que investiga a cultura e a história do Brasil, especialmente da Amazônia, em busca da identidade do povo brasileiro. 

Quais são as principais influências literárias que moldaram sua escrita e como elas se refletem em suas obras? 

Ernest Hemingway foi um dos que mais me ensinaram a escrever, utilizando o ritmo jornalístico na criação literária. Ruan Rulfo e Gabriel García Márquez me mostraram como misturar os planos material e espiritual. Rubem Fonseca me orientou quanto a misturar pessoas reais a personagens de ficção, e a descrever cenas de violência, como um cirurgião descreve os tecidos, à medida que os vai seccionando. Joseph Conrad me deu uma aula de como ouvir gemidos de angústia da alma em Coração das Trevas. Benedicto Monteiro despertou em mim o olfato, de modo que comecei a sentir o cheiro da Amazônia. A Amazônia cheira a água. Franz Kafka ensinou todos nós a ver o que realmente um homem é; às vezes, um inseto. E também mostrou o absurdo da vida. Márcio Souza me ensinou que a ficção está na própria Amazônia e na História, em Mad Maria. O cinema, também, tem sido um mestre para mim. Escrevo sequências inteiras como se aquilo se passasse em um filme. Contudo, todos os livros que lemos, tudo o que fazemos, é matéria-prima para a criação literária. 

Em seus livros a Amazônia é um cenário vivo e pulsante. Como você vê a relação entre o ser humano e a natureza na sua obra? 

É condição sine qua non que o homem se integre ao meio-ambiente, seja em uma megalópoles, seja na Hileia. Na Amazônia, o caboclo, o índio, o ribeirinho, o citadino, está inteiramente integrado à selva. Conhece os caminhos a trilhar, o que comer e os remédios, e o que evitar. Porém, os perigos são imensos: a selva é o coração das trevas e o gringo, um traficante em potencial, que trafica também crianças para abastecer os puteiros das brenhas. Então, o homem depende da selva, de modo que procurará se aliar a ela, a compreender sua mecânica. E isso é a mesma coisa que acontece às pessoas que vivem em cidades com dezenas de milhões de habitantes. Se não compreendê-las, é engolido por elas. 

Como você descreve o seu processo criativo? É um processo solitário ou você se inspira em interações com outras pessoas e lugares? 

Como dizia Hemingway: o escritor é como um pugilista no ringue. No tablado, o boxeador só depende dele mesmo. Nem seu treinador poderá ajudá-lo. É ele e sua solidão. Mas aí é que está: por causa da solidão ele encontrará uma saída, mesmo que seja a derrota. Assim é o escritor. Ninguém pode ajudá-lo quando ele se senta para escrever, ou fica em pé, mesmo, como era o caso de Hemingway. Quanto à inspiração, considero-a mais um entusiasmo momentâneo, um começo, o primeiro passo de um livro, de um capítulo, de um poema, um passo que desemboca no caminho. Para resumir, quero dizer que meu processo criativo é sentir-me perturbado por alguma coisa e começar a inventar uma história a partir dessa perturbação. 

Sua obra é profundamente enraizada na cultura brasileira. Como você acredita que a literatura pode contribuir para a compreensão e valorização da identidade nacional? 

Boa pergunta! Certa vez, em palestra na Academia de Letras do Amapá (AAL), da qual sou sócio correspondente em Brasíllia/DF, disse que o maior objetivo da instituição era armazenar, proteger e difundir, por meio da literatura, a cultura local, pois a cultura é a identidade. Assim deve ser com a Academia Brasileira de Letras (ABL), que vem sendo vilipendiada nessa missão, aparelhada que está por canhoteiros da Ditadura da Toga. Quanto à identidade de uma nação, é um sentimento pátrio que se localiza no nosso tutano. No meu romance A IDENTIDADE CARIOCA utilizo, como argumento, a revelação do mistério que envolve a maior lenda urbana do Rio de Janeiro, o Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo. Destrinçado o mistério surge a identidade. 

Quais são os maiores desafios que você enfrenta como escritor e como você os supera? 

Creio que o maior desafio que um escritor pode enfrentar é a falta de memória. Também doenças e fome pode liquidá-lo. Não sofro de nenhum desses problemas. Como sou formado em Medicina Tradicional Chinesa, sigo uma disciplina taoista. Por exemplo: como duas castanhas-do-pará todos os dias, após o café. São ricas em selênio, que tonifica os neurônios e, por conseguinte, lubrifica as sinapses. Como só o essencial e já me considero livre da fome. Já passei fome, mas isso é passado. 

Como você reage às críticas e comentários sobre sua obra? Eles influenciam sua escrita ou você segue seu próprio caminho? 

Se o comentário parte de uma pessoa iluminada, levo-o em consideração, do contrário entra por um ouvido e sai pelo outro. Quando me perguntam qual é a minha religião, respondo que é Ray Cunha. Eu mesmo oficio a missa, como a hóstia e bebo o vinho. 

Quais são os seus próximos projetos literários e o que podemos esperar deles? 

Estou sempre escrevendo e procuro manter-me em disciplina espartana, por uma razão: acho que escrever é preciso, viver não é preciso. 

Qual conselho você daria aos mais jovens para convencê-los que a leitura é fundamental para o desenvolvimento pessoal e cultural?

Nenhum. Se eu desse um conselho diria para lerem. Mas isso, se não for estimulado pelos pais, de nada adiantará. Quando minha esposa, Josiane, estava grávida da minha filha, Iasmim, já líamos contos infantis clássicos para a princesinha. Ingleses e americanos fazem com que seus filhos leiam os clássicos na infância e adolescência, pois a identidade está aí. 

Como você se conecta com seus leitores e o que você espera deles em termos de interação e feedback? 

Não espero nada dos meus leitores. Nem de ninguém. Apenas faço o que sei fazer. Antes da internet, quando algum jornal publicava algo meu, ou liam no rádio um poema meu, em vibrava de alegria. Hoje, com a internet, a Amazon, o Clube de Autores, minha vida é uma verdadeira atmosfera de eletros. Algumas pessoas leem o que eu escrevo e adoram, emocionam-se, aprendem alguma coisa, e isso é tudo. 

Como você gostaria que sua obra fosse lembrada e qual é o legado que você espera deixar para a literatura brasileira? 

A vida na matéria é uma ilusão, porque a matéria é impermanente. A vida de verdade acontece do plano astral para cima. Na verdade, quando alguém diz que quer ser lembrado por determinada obra de arte está dizendo que gosta daquela obra. Gosto de muitas coisas que criei, porque tocam mais os nervos da minha alma, contudo as obras de arte, os livros, se são verdadeiros, têm vida própria, e duram mais do que seus criadores. Gosto de pensar que alguém matou uma charada lendo um livro meu, ou que ajudei alguém a exorcizar um demônio que o torturava, ou que uma mulher muito linda sonhou com rosas vermelhas colombianas ao ler uma poesia minha.

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