RAY CUNHA
Sinto cheiro de mulher nua
Ostra com Antarctica enevoada, em julho, às 9 horas
No ar saturado de mulheres lindíssimas e suadas, em Salinas
Tu precisas me lamber com teus olhos verdes como lápis-lazúli
Para eu sentir o acme
Precisas apenas sorrir e tocar nos meus finos lábios
Para que eu morra como as rosas, que não morrem nunca
Porque são imortais na sua explosiva beleza
Imobilizo minha amante pelos cabelos
Beijo-a na boca, faço-a gritar de prazer
Ela é a própria noite
Café noturno, cheio de mulheres misteriosas de tão lindas
Que dizem oi quando passo
O cheiro de púbis ruivo
Inunda meu olfato, meu paladar, meu cérebro.
Degusto Antarctica, com Jorge Tufic, em Manaus, no Nathalia
Lambo o rosto da Tharcilla
Beijo os lábios carnudos e mordo o pescoço da Mara
Como fez Isnard Brandão Lima Filho, oferto rosas para a madrugada
Ao extrair gemidos da mulher amada, percorrendo sua pele de jambo
E sonho com leões caminhando na praia, ao amanhecer
Igual Picasso, com seus olhos negros, nonagenários
Sou como pássaro que nunca envelhece
Nasci com asas invisíveis
Que se equilibram no éter, como avião de caça
Riscando um golpe vermelho no azul
Do livro DE TÃO AZUL SANGRA

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