terça-feira, 23 de dezembro de 2025

As rosas foram feitas para amar, e eu também

Ray Cunha fotografado pelo pintor André Cerino (2013)

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 23 DE DEZEMBRO DE 2025 – A vida é sonho e o tempo, ilusão. Este ano tem sido uma noite insone, com ditadura da toga, desvio de trilhões de reais, presos políticos, assassinos à espreita, chefões do narcotráfico impunes e aposentados do INSS assaltados. Contudo, não há somente pesadelo. Donald Trump foi empossado em 20 de janeiro e depois de amanhã é Natal. Digam o que disserem do Natal, mas é Natal.

O tempo é uma ilusão e não posso mais me iludir. Não posso passar uma noite inteira amando, arrancando lamentos de alegria de uma mulher, nem beber Cerpinha enevoada até ficar bêbedo, nem lutar boxe. Mas posso escrever e reler livros de Ernest Hemingway, Stieg Larsson, David Lagercrantz, Dan Brown, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, Gabriel García Márquez, Ruy Castro, Isnard Brandão Lima Filho, uma infinidade de autores!

Sonho com crianças jogando bola em um campinho improvisado. Estou sentado ali perto, atento, como um cão guardando ovelhas. Se a bola cai longe, vou buscá-la, se surge um desentendimento entre elas, acalmo-as e procuro a solução mais salomônica, e se uma delas se machuca, acalanto-a. Cuido para que joguem com alegria e retornem seguras para seus lares.

Passei o ano todo trabalhando em dois livros: um deles é o último de uma trilogia de romances políticos que começou com O CLUBE DOS ONIPOTENTES e O OLHO DO TOURO, e que ficará pronto no ano eleitoral de 2026; e um volume de filosofia da Medicina Tradicional Chinesa, a ser publicado no próximo mês. Em 2026, trabalharei em novo romance.

Faço planos o tempo todo. Pretendo bater perna no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Valência, na Espanha, em qualquer ponto do Litoral. Pretendo comprar livros que desejo ler desde que eu era imortal. Todo jovem é imortal. E creio que ainda terei força para atender pacientes em trabalho voluntário nas manhãs de sábado e domingo. José Aparecido, em sua generosidade, publicará A IDENTIDADE CARIOCA em formato de folhetim, no seu Conexão Minas.

De modo que 2026 se apresenta com muitas possibilidades. Especialmente no campo político. Se Jair Messias Bolsonaro aguentar mais um pouco ao assassinato diuturno a que é submetido, deverá ser libertado no próximo ano. Até lá, Trump terá retirado do convívio da Humanidade o monstro venezuelano, Nicolás Maduro, e o regime cubano terá derretido como vampiro hollywoodiano ao sol.

É provável que tenhamos uma sequência de John Wick e um novo 007, e filmes com Léa Seydoux e Ana de Armas, e que a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet) consiga realizar seu quadragésimo primeiro congresso em Brasília/DF. A propósito, assim que o regime da toga cair vou, como abrajetiano, voltar a escrever artigos pela volta dos cassinos. Legalizar o jogo de azar, agora, é o mesmo que entregá-lo para a máfia. E a Associação Brasileira de Jornalistas e Associados (Ajoia) estará funcionando a todo pano.

Não sei se irei a Macapá/AP, minha cidade natal. Quando o escritor Fernando Canto estava vivo, sempre que eu ia a Macapá fazíamos uma farra pantagruélica, mas meu irmão Fernando Canto foi para o azul, e deve beber, agora, na companhia de Hemingway, García Márquez e outros escritores chegados a um balcão de bar. Macapá está tomada por comunistas – universidade, imprensa, políticos – e eu sou conservador.

Os meus maiores planos é fisgar um marlim azul de 637 quilos e 5 metros em Guarapari, Espírito Santo; convencer Olivar Cunha a pintar uma cafuza cor de jambo, de olhos verdes e cabelos ruivos como cascatas de fogo descendo-lhe até as ancas africanas, tomando tacacá, para a capa do meu romance JAMBU, e também pintar Santa Rica de Cássia abençoando Roberto Carlos, nos anos 1960.

Há coisas que não planejamos, simplesmente acontecem. Se eu encontrar o José Aparecido conversaremos sobre tudo e ficarei bêbedo. Continuarei amando a mulher amada, as estrelas, as rosas que o poeta ofertou para a madrugada e as madrugadas. E ouvirei Mozart, Frank Sinatra, Pérez Prado e o som da Terra no espaço. Espero, também, escrever um poema. E sentir o perfume de jasmineiros chorando no ar azul do tempo, e rosas se abrindo.

Um sentimento que desconfio que somente as rosas sentem toma conta de mim. Tenho consciência de que sou frágil, mas forte como as rosas. Que são as rosas senão flores fragilíssimas, mas quem pode enfrentar a fortaleza das rosas? Ninguém, pois nada pode contra o amor, que é liberdade, luz, sintonia fina, o éter, o azul. As rosas foram feitas para amar, e eu também.

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