terça-feira, 3 de junho de 2025

A tarde

Ray Cunha na redação do jornal A Crítica, em Manaus/AM, em 1977

RAY CUNHA

A TARDE é um conto curto ambientado e escrito em Manaus/AM. Foi publicado no livro AMAZÔNIA, à venda  no Clube de Autores, amazon.com.br e amazom.com

O TEMPO adormecia, morno, em Adrianópolis. Um vulto branco, desfocado, tornou-se o vestido de uma criada no labirinto de sebes erguendo-se do lençol de grama, aparado como cabelo recém-cortado. Surgiu uma mulher, que foi sentar-se à mesa em que a criada servira o chá. Seus olhos eram ligeiramente estrábicos; os lábios, quase indecentes, e tinha o nariz arrebitado. Esperava alguém, e supunha ouvir rumores. Movia vivamente a cabeça e, no balé, os cabelos descobriam uma joia cintilando, a tremer junto ao pescoço. Uma folha se desgarrou, o vento levou-a, caiu na mesa, Tharcilla apanhou-a e brincou com ela. A tarde era silenciosa naquele bairro de Manaus. A criada foi avisá-la de que Al a esperava. Correu. No quarto, flutuava tênue perfume. Al tocou-a. Ela respirou ofegante. Beijaram-se e o rapaz ficou muito excitado. Era uma mulher bonita demais. Desprendeu-se de Al e se despiu. Depois deitou-se na cama. O púbis, negro, contrastava com o regaço de Tharcilla, que chupava, absorta, um dedo. Fez um leve movimento com as coxas e colocou mais um dedo na boca, agarrando com a outra mão os cabelos de Al, que bebia sua calidez, as mãos imobilizando-a nos quadris, e depois explorando-a até deter-se nos seios palpitantes, ela arfando a se lamentar de prazer. Ingressara em um mundo onde as cores se confundem e as palavras se perdem nos murmúrios da tarde.

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