domingo, 8 de junho de 2025

Homens fortes não querem controlar ninguém

Jessica Rabbit é só um desenho, mas seu poder transcende a arte

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 8 DE JUNHO DE 2025 – Poder, do latim potere, é a capacidade pessoal de força, de ação, de deliberação, de exercer autoridade, soberania, sobre os outros. A capacidade de impor condições, de conquistar. A força pode ser bruta, ou apenas aparente. As ferramentas do homem poderoso são argumentação, carisma, charme, além de força bruta. Mas há um poder que transcende tudo isso: é o poder genuíno.

Aparentemente, o maior dos poderes é a beleza física. Aliada ao carisma, a beleza nos tornam atraentes, irresistíveis, fascinantes, magnéticos. Sei disso, além da teoria, pela prática, também. Sou testemunha e eu mesmo fui protagonista dessa situação. Na minha juventude tive um amigo extraordinariamente belo e também culto. As mulheres ficavam hipnotizadas na presença dele, incluindo mulheres casadas. Todas queriam dar para ele.

No meu caso, eu morava em Manaus, nessa época, e tinha 21 anos de idade. Os jovens são todos belos e imortais. Era o meu caso, também. Mas eu trabalhava como jornalista, já tinha livro de poemas publicado e frequentava o Clube da Madrugada. Tinha amigos como o cineasta José Pereira Gaspar, homem do mundo, experiente e culto, com quem varava, às vezes, a noite, conversando sobre literatura, cinema, boxe, aventuras, mulheres.

Assim, embora baixinho, andando de ônibus e frequentemente sem dinheiro para jantar, as mulheres acompanhavam a tempestade da minha vida com alegria. Tempestade porque eu vivia intensamente, mais até do que agora, quando minha vida é mais mental do que física; vivia apenas o momento mesmo da vida, o agora e o agora, amando as mulheres, essas obras de arte confeccionadas por Deus, até a medula. Foi nessa época que uma mulher casada, linda, suplicou para que a levasse ao Nirvana.

Esse tipo de poder não se dilui com o tempo. Não me refiro à redução de energia física, ao rosto murcho, à falta de interesse por sexo, mas à mente, aos conhecimentos, às experiências, que tornam a vida tão intensa. O mundo, a realidade, a vida, só existem, de fato, na mente. O corpo é apenas um escafandro apropriado para a atmosfera terrestre, um estado da matéria, no qual o espírito se materializa para sentir a experiência das emoções.

Outro poder é o financeiro. Nada é mais atraente a uma mulher, ou a um homem, do que a beleza física, e, em segundo lugar, o dinheiro. Sei de casos de mulheres lindas que se casaram com um homem que não amam, e até asquerosos, porque são ricos e generosos com elas.

Ditadores tratam de saquear seu país, pois exercem poder precisamente para o saque, que, além de os enriquecerem, serve também para corromper e pagar as forças armadas.

Perpassa, em toda a obra do escritor Nobel, Gabriel García Márquez, a solidão do poder, mas, aqui, trata-se do poder do ditador, poder ambicionado por todos, e, portanto, sempre ameaçado. É, por conseguinte, um poder falso. O verdadeiro poder está na mente e não no Estado. Por exemplo: eu tenho o poder de criar. Enquanto eu tiver saúde mental, mãos firmes e um computador, poderei criar e produzir. Um escritor, mesmo na cadeia, pode criar, e mesmo que esteja acamado, mas se puder pagar uma secretária, poderá ditar para ela. Esse poder não pode ser retirado.

Não pode ser retirado porque o verdadeiro poder é como o das rosas colombianas vermelhas. Elas são delicadas, frágeis, mas sua beleza é uma explosão atômica, porém, eterna em seu ápice. Assim, o poder é localizado por trás da representação. É simbólico, mas alicerçado na transcendência da terceira dimensão.

O poder da matéria é posse. Efêmero. Como gozo sexual, dura alguns segundos. Já o poder genuíno transcende a matéria. Localiza-se no espírito. E o maior poder é o despertar, é o da luz. Luz, neste caso, quer dizer lucidez e, despertar, a capacidade de enxergar a realidade em pleno agora.

Um homem assim não pode ser abalado, atingido, destruído. Nada pode destruir a mente lúcida, um espírito desperto. Nem o Sol pode destruí-lo, pois o estado da matéria de que é feito o Sol pertence a uma dimensão inferior a do espírito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário