As rosas azuis nascem em nossos corações, e são eternas
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 17 DE JUNHO
DE 2025 – Resolvi escrever sobre artrite, do ponto de vista da Medicina
Tradicional Chinesa (MTC), por duas razões: atendo pelo menos uma dezena de
pacientes sofrendo de artrite todos os meses. A outra razão é Paloma, uma
paciente de 92 anos, pintora, que ficou curada do que os médicos chamam de “artrite
reumatoide degenerativa”.
Tenho colegas que praticam MTC clássica, a medicina chinesa
baseada nos clássicos fundamentais da acupuntura, sistematizados em torno do
século 200 antes de Cristo. Sou hodierno, utilizo conhecimentos anatômicos e
fisiológicos atuais, levo em consideração o Trópico e imergi em uma linha metafísica
de trabalho.
Artrite reumatóide é uma doença inflamatória crônica e
autoimune, que pode degenerar as articulações; autoimune porque o próprio sistema
imunológico ataca as articulações, provocando inchaço, dor crônica, rigidez,
desgaste, deformações com alterações ósseas, dificuldade de movimento e
incapacitação nas mãos, pés, joelhos, cotovelos, ombros e quadris.
As causas são as mais variadas possíveis, como genética,
sobrepeso, impacto, movimentos repetitivos, falta de reposição de água, estilo
de vida, hábitos alimentares, atrito mental etc.
Paloma é uma mulher elegantíssima, 1,75 metro, 65 quilos. A
região que mais a incomoda são as mãos e ombros. Fumante. Rica, tem atrito com
um filho e três netos, que, segundo ela, estão só aguardando-a ir desta para
melhor. É nostálgica e melancólica. Conversei longamente com Paloma, artista
extraordinária e culta; no fim da conversa o diagnóstico estava mais claro do
que o Sol.
Quando falo em diagnóstico refiro-me a causas. A causa “artrite
reumatoide degenerativa” de Paloma era mental, ou melhor, espiritual. Ou
vibracional, como queiram. Nosso sistema imunológico é um exército de células
especializadas em eliminar do nosso organismo tudo o que representa perigo.
Quando o sistema imunológico enlouquece, ele se volta contra o próprio organismo
e começa a degenerá-lo. É isso doença autoimune.
Paloma foi uma mulher lindíssima e teve uma vida muito
romântica. Com a velhice, esse ambiente se foi e ela acabou estacionando no
passado. Como o passado não existe, viver em um lugar que não existe trás, é
claro, medo. A nostalgia lhe evocava emoções de outras épocas, seguidas de
vazios, medo. O medo é mortal.
Como sair disso? Viver no passado ou no futuro gera emoções
e expectativas de alguma coisa que não existe e o que não existe gera medo. Só existe
o agora. A eternidade é agora. Paloma é pintora. Sugeri-lhe pintar a
eternidade. Ela gosta de gatos e do azul. Ela poderia pintar um gato azul.
Segredei-lhe que os gatos azuis são eternos. E lhe disse que ela não estava se
amando, que ela não estava se olhando no espelho e vendo o brilho dos seus
olhos castanhos, nem prestando atenção no seu sorriso.
Quanto aos seus filho e netos, nas suas orações, deveria
lembrar-se que os ama e que eles, não importa o que pensem, são maravilhosos.
Isso não quer dizer que vá ceder aos caprichos deles, mas que são pessoas
amadas. Assim, o lado esquerdo dela, o masculino, que é o que mais dói, parará
também de doer.
Quando não nos amamos, quando não vivemos o agora, nosso
sistema imunológico confunde sua missão e começa a atacar tudo. E quando temos
atrito mental com alguém o corpo reflete o que se desenrola na mente e surge
artrite.
Aí, passei ao tratamento físico. Expliquei a Paloma que o
alento vem do alto, em forma de oxigênio, entra nos pulmões e é distribuído ao
corpo todo, e que o cigarro endurece os alvéolos, impedindo-os de absorverem
oxigênio. Que oxigênio era o principal combustível para que ela tivesse forças
para criar. Que a nicotina não poderia matar as rosas colombianas vermelhas que
Paloma pintava azuis, nem poderia estagnar a luz que emana das suas telas.
Setenta por cento do nosso corpo são compostos por água. Uma
pessoa adulta perde cerca de dois litros de água diariamente. Essa água precisa
ser reposta. Uma pessoa desidratada de forma aguda se não tomar soro morre
instantaneamente e uma pessoa desidratada de forma crônica morre aos poucos e
dolorosamente.
Paloma estava bebendo apenas um litro de água por dia.
Resultado: constipação intestinal, insônia, cefaleia, retenção de líquido e
artrose. Ensinei-lhe um truque: de manhã, após o café, separar dois litros de
água e monitorar no fim do dia o consumo dessa água, até que o cérebro crie uma
memória de dois litros de água por dia. Também ministrei-lhe, durante um mês,
água saborizada com hortelã. Já salvei uma paciente com água saborizada com
hortelã. Aviso: é necessário saber fazer a mistura.
Ela comia salada crua, frutas e derivados de leite à noite,
bem como tomava um pouco de álcool. Esse tipo de alimento é proibitivo entre 18
horas e 6 da manhã. Energeticamente falando. Estagnam a energia Qi, ou energia
vital. Lendo isso, um nutricionista me despachará para o Pinel. À noite, só se
deve comer o que vai ao fogo. É uma questão do Yin-Yang, que eu não vou
explicar, aqui.
Ministrei-lhe também açafrão, ou cúrcuma, mas tem que ser em
cápsula, de 500 miligramas, três vezes ao dia, durante um mês, após o qual
fazer pausa de uma semana e, se for o caso, voltar a tomá-lo. Trata-se do mais
potente anti-inflamatório em a natureza. Desinflama todo o corpo e depura o
sangue.
Com as agulhas e auriculoterapia, tratei as articulações
inflamadas, tonifiquei energeticamente os órgãos afetados e promovi relaxamento,
duas vezes por semana, durante cinco semanas. Aqui, dois acupontos são
fundamentais: VG20 e Yintang, ou Terceiro Olho, além do VC17, o ponto emocional
mais importante.
Também ministrei tuiná, a massagem terapêutica chinesa, massageando
Paloma principalmente na nuca, testa e no chacra do peito, o timo.
A última notícia que tive de Paloma foi que estava curtindo
sua casa na Ilha Grande, em Angra dos Reis, juntamente com seu filho e netos, e
pintando marlins-azuis.
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