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Leonardo DiCaprio é bem-intencionado, mas para conhecer verdadeiramente a Amazônia precisa ler o romance ensaístico JAMBU antes de ir à COP30 em Belém do Pará e tomar tacacá |
RAY
CUNHA
BRASÍLIA, 13 DE JUNHO 2025 – Em 2004, Leonardo DiCaprio, então com 30 anos, esteve na Amazônia, no Parque do Xingu, no Mato Grosso, juntamente com a então namorada, a modelo gaúcha Gisele Bündchen. Provavelmente foi a partir daí que começou a demonstrar preocupação com o desmatamento e incêndios na Amazônia. Era o segundo ano do governo Lula da Silva, que mergulhou a Hileia na sua fase mais devastadora. Atualmente, no quinto governo, comunista, do PT (Partido dos Trabalhadores), a Amazônia está virando carvão.
DiCaprio procura se informar sobre a Amazônia. Inclusive a história de que ele teria dito que há girafas na região é mito. É usada simbolicamente, porque DiCaprio pode ter informações geográficas, geológicas e biológicas sobre a Hileia, mas não sabe nada sobre os 27,8 milhões de habitantes no Trópico Úmido: índios, caboclos, ribeirinhos, quilombolas e descendentes de europeus, especialmente portugueses.
Para DiCaprio, a Amazônia é uma espécie de pulmão e refrigerador do planeta, produzindo oxigênio e a regulando o clima global. É fato que regula o clima global, mas não é o pulmão do mundo. Em 1971, o biólogo alemão Harald Sioli disse em entrevista a um repórter americano que a floresta amazônica absorve cerca de 25% do CO2 da atmosfera. Na sua matéria, o repórter trocou CO2 por O2 e deu a entender que a Amazônia produzia 25% do oxigênio do planeta. Mas as algas marinhas, especialmente fitoplâncton, é que produzem cerca de 98% do oxigênio atmosférico.
A Amazônia produz também oxigênio, por meio da fotossíntese, mas também o consome. Contudo, absorção grandes quantidades de dióxido de carbono, ajudando a refrigerar o clima global, além de influenciar as chuvas na América do Sul.
De 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém do Pará, na Amazônia Oriental, será realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30. Os Estados Unidos estão fora, pois o presidente Donald Trump viu que a COP atende à agenda comunista, de manter os países pobres para instalarem ditaduras e melhor assaltarem suas populações. Mas o grande ator americano disse que vai. Talvez prove a mais emblemática iguaria da região: tacacá.
Segundo o antropólogo Luís da Câmara Cascudo, tacacá deriva de um mingau indígena, mani poi, preparado com goma de tapioca temperada com tucupi, cebola, alho, cheiro-verde, jambu e camarão. Há a teoria de que teria surgido em Itacoatiara/AM, conforme relata o médico e explorador alemão Robert Christian Barthold Avé-Lallemant, autor do livro No Rio Amazonas, e que esteve na Amazônia e visitou a Vila de Serpa, atual Itacoatiara, em 1859.
Robert classificou o tacacá como “a bebida nacional dos Mura”, uma das etnias que enfrentaram os portugueses e espanhóis com a mesma valentia e crueldade dos ibéricos. O etnólogo Kurt Nimuendaju escreveu: “De todas as tribos da Amazônia, a dos Mura foi a que mais extenso território ocupou, espalhando-se das fronteiras do Peru até o Rio Trombetas”, que limita o Amazonas com o Pará.
Os Mura habitavam as bacias do Médio Amazonas, Solimões e Madeira, desde cerca de 1.450 a. C., até o século XVIII, quando foram trucidados pelos ibéricos. Seus remanescentes, cerca de mil famílias, habitam os municípios de Autazes e Itacoatiara, no estado do Amazonas.
O padre jesuíta João Daniel registra no livro Tesouro Descoberto do Rio Amazonas, escrito entre 1757 e 1776, que os “índios do Rio Amazonas… tapuias do Amazonas… povoadores do Amazonas… usam da bebida tacacá… o tucupi é um sumo venenoso extraído da raiz da mandioca... cozido, perde o veneno, e então é servido como tempero de vários guisados e bebidas”.
A iguaria, tal como é servida, hoje, é composta de goma de mandioca, tucupi, camarão seco e salgado, jambu, sal, alho e pimenta de cheiro a gosto. É servido em cuias. Coloca-se primeiramente um pouco de tucupi e um pouco de caldo da pimenta-de-cheiro com tucupi, a gosto, acrescenta-se goma, arranjam-se ramos do jambu, colocam-se camarões e acrescenta-se mais tucupi.
Toma-se tacacá (não se diz beber) muito quente, na cuia, assentada em uma pequena cesta, para proteger as mãos. Utiliza-se um palito de madeira para fisgar o camarão e o jambu (Acmella oleracea), este, o tempero por excelência da Amazônia, utilizado em pratos que vão de pizza até bebida como cachaça. Faz os lábios tremerem de prazer. É rico em cálcio, fósforo, ferro, vitaminas C, B1, B2 e B3.
Mascar jambu adormece o nervo trigêmeo e alivia dores de garganta e de dente. Em forma de chá ou macerado é diurético e ajuda a dissolver cálculos da vesícula biliar. A única contraindicação é para mulheres grávidas, pois provoca contrações do útero. É originário do Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela, e é conhecido também como agrião-do-pará, agrião-do-norte, agrião-do-brasil e jambuaçu. Cresce na várzea, até 30 centímetros de altura, formando uma folhagem densa e bem verde. As flores são amarelas e hermafroditas.
Em Macapá/AP, minha cidade natal, cresce como mato nos quintais.
O óleo essencial do jambu, rico em propriedades antioxidantes, diuréticas e anti-inflamatórias, é utilizado nas indústrias farmacêutica, cosmética e de higiene pessoal. Seu princípio ativo mais importante é o espilantol, extraído das flores, folhas e caule do jambu. Este arbusto começou a ser plantado em outras regiões do Brasil, como nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, destinado à indústria cosmética. Cultiva-se jambu também em Madagascar, Índia e China.
É habitual consumir-se o tacacá no fim da tarde, em torno das bancas das tradicionais tacacazeiras, figura típica das ruas de diversas cidades da Amazônia. As vendedoras de tacacá têm ponto fixo em diferentes locais das cidades, permanecendo muitas vezes por décadas, de avós para netas, com clientela cativa.
Em Belém, o tacacá é vendido em bancas ou quiosques, do meio da tarde para a noite. A mais ilustre tacacazeira foi dona Maria do Carmo Pompeu dos Santos, falecida em 3 de julho de 2014, aos 75 anos. Seu tacacá é o melhor do mundo; agora, são seus filhos, entre os quais José da Conceição Soero, o Bito, que levam adiante a banca, na Avenida Nazaré, esquina da Quintino Bocaiúva, onde dona Maria trabalhou por 45 anos. Hoje, a Banca de Tacacá da Avenida Nazaré está presente em guias turísticos e gastronômicos do mundo todo.
Sugiro a DiCaprio tomar o tacacá da Banca da Avenida Nazaré, e levar para o hotel uma fatia de bolo de macaxeira, o autêntico, e mais saboroso do mundo.
JAMBU, deste escritor, é um romance ensaístico. Tem como trama um enredo fictício, mas é ambientado na Amazônia profunda e trás personagens de carne e osso, vivas ou mortas, além das personagens de ficção.
Conheço bastante a Amazônia. Nasci em Macapá, cidade banhada pelo maior rio do mundo, o Amazonas, e seccionada pela Linha Imaginária do Equador. Durante uma década e meia, trabalhei nos maiores jornais impressos da Hileia, como repórter, redator e editor. Muitos dos meus romances e contos são ambientados na Amazônia e sou um leitor voraz de livros científicos e literários sobre o Trópico Úmido.
A Amazônia está à deriva, como se os presidentes da República, e os governadores da região, quisessem se desfazer dela, vendê-la, para gastar o dinheiro na Europa ou nos Estados Unidos. É uma zona de eterna colonização.
Em entrevista que o coronel Gelio Fregapani concedeu a mim, para o site ABC Politiko, de Brasília, em fevereiro de 2005, ele afirmou que a reserva Ianomâmi, do tamanho de Portugal e na tríplice fronteira, em litígio, Brasil, Venezuela e Guiana, é a maior e mais rica província mineral do planeta, e que já havia manifestação na Organização das Nações Unidas (ONU) de torná-la nação independente do Brasil.
Fregapani foi o mentor da Doutrina Brasileira de Guerra na Selva e fundou e comandou o Centro de Instrução de Guerra na Selva. No seu livro Amazônia – A Grande Cobiça Internacional (Thesaurus Editora, Brasília, 2000, 166 páginas), Fregapani critica ONGs como a WWF (Wold Wildlife Found).
– Os Ianomâmi são uma nação verdadeira ou forjada? – perguntei-lhe.
– Absolutamente forjada. São quatro grupos distintos, linguisticamente, etnicamente, e, por vezes, hostis entre eles. A criação dos ianomâmis foi uma manobra muito bem conduzida pela WWF com a criação do Parque Ianomâmi, para, certamente, criar uma nação que se separe do Brasil. O Parque Ianomâmi é uma região do tamanho de Portugal, ou de Santa Catarina, onde, segundo afirmação da Funai (Fundação Nacional do Índio), há 10 mil índios. A Força Aérea, que andou levando o pessoal para vacinação, viu que os índios não passam de 3 mil. Ainda que fossem 10 mil, há motivo para se deixar a área mais rica do país virtualmente interditada ao Brasil? O esforço deveria ser no sentido de integrá-los na comunidade nacional. Nenhuma epidemia vai deixar de atingir índios isolados. A única salvação, nesse caso, é a ciência médica. A área ianomâmi é imensa e riquíssima, está na fronteira e há outra área ianomâmi, similar, no lado da Venezuela. Então, está tudo pronto para a criação de uma nação. Um desses pretensos líderes, Davi Ianomâmi, orientado naturalmente pelos falsos missionários americanos, já andou pedindo na Organização das Nações Unidas (ONU) uma nação, e a ONU andou fazendo uma declaração de que os índios podem ter a nação que quiserem – respondeu.
Ianomami é uma palavra criada por antropólogos, com o significado de “ser humano”. No Brasil, os índios que os ingleses denominam de ianomâmi ocupam as montanhas da fronteira com a Venezuela numa área contínua de 9.419.108 hectares, mais de duas vezes o estado do Rio de Janeiro, constituindo-se na região mais rica da Terra em minerais preciosos, e que as potências hegemônicas, com ajuda da ONU, querem transformar em colônia.
Na Venezuela, os ianomâmis ocupam uma área de 8,2 milhões de hectares. Somando-se as duas áreas, dá um total de 192 mil quilômetros quadrados, abrangendo terras das bacias dos rios Amazonas e Orinoco, território coberto por densa floresta e as serras Parima e Pacaraíma, com solos inadequados à agricultura. O Pico da Neblina, ponto culminante do Brasil, dorme na Terra Indígena Ianomâmi e Parque Nacional do Pico da Neblina, na fronteira do Brasil com a Venezuela.
O Projeto Radar da Amazônia (Radam), operado entre 1970 e 1985 pelo Ministério das Minas e Energia, coletou imagens aéreas de radar especialmente para análises geológicas, inclusive da Terra Indígena Ianomâmi. Entre 1987 a 1992, a região sofreu invasão de 45 mil garimpeiros, que sempre são acompanhados de todo tipo de aventureiros; queriam principalmente ouro. Cerca de 1.800 ianomâmis sucumbiram à invasão, principalmente vítimas dos microrganismos letais que os garimpeiros conduziam, além da violência.
Em julho de 1993, garimpeiros invadiram uma aldeia ianomami, fuzilaram e mataram a golpes de facão 16 índios, entre os quais idosos, mulheres e crianças. Pela primeira vez, a Justiça brasileira condenou os réus por genocídio. Em novembro de 2014, uma equipe de pesquisadores visitou 19 aldeias e coletou 239 amostras de cabelo dos indígenas, e 35 amostras de peixes; 92% das amostras apresentaram alto índice de contaminação por mercúrio.
O livro A Farsa Ianomâmi, do coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto, ex-comandante do Segundo Batalhão Especial de Fronteira, em Roraima, e ex-secretário de Segurança do antigo Território Federal de Roraima, procura provar que os ianomâmis são tribos indígenas espalhadas ao longo da fronteira do Brasil com a Venezuela, e não uma única tribo.
O almirante Braz Dias de Aguiar, que morreu em 17 de setembro de 1947, dedicou 30 anos à Amazônia, ajudando na demarcação dos 10.948 quilômetros que a separam dos países vizinhos. Relatório de Braz de Aguiar dão conta de que as tribos indígenas do Vale dos Rios Negro e Branco pertencem às famílias aruaque e caribe.
Segundo Menna Barreto, uma jornalista e fotógrafa suíça, Claudia Andujar, mencionou, pela primeira vez, em 1973, o grupo indígena por ela denominado “ianomâmi”, numa faixa na fronteira entre Brasil e Venezuela. Ela não agiu por conta própria, mas sob a orientação da Christian Church World Council, ou Conselho Mundial de Igrejas, sediada na Suíça, e dirigida por um Conselho Coordenador formado por seis entidades internacionais: Comitê International de la Defense de l´Amazon; Inter-American Indian Institute; The International Ethnical Survival; The International Cultural Survival; Workgroup for Indigenous Affairs; e The Berna-Geneve Ethnical Institute.
Consta, nas diretrizes da Christian Church World Council: “É nosso dever garantir a preservação do território da Amazônia e de seus habitantes aborígines, para o seu desfrute pelas grandes civilizações europeias, cujas áreas naturais estejam reduzidas a um limite crítico”.
Claudia Andujar promoveu a criação da organização não-governamental Comission for the Creation of the Yanomami Park, que, durante 15 anos, pressionou o governo brasileiro no sentido de criar uma área exclusiva para aqueles índios, que, na época, totalizavam pouco mais de 11 mil indivíduos. Em 1992, a organização foi vitoriosa. Fernando Collor de Mello, ex-presidente defenestrado do Palácio do Planalto, foi quem homologou a reserva Ianomâmi, em 25 de maio de 1992. São 97 mil quilômetros quadrados para um punhado de índios, além de ocupar faixa de fronteira, passando por cima da Constituição.
A área contém as maiores jazidas de nióbio do planeta. O nióbio é de alto valor estratégico. Mais leve que o alumínio, adicionado ao aço é mais resistente do que aço amalgamado com cromo-niquelado. Além do seu uso na indústria aeroespacial, o nióbio é valioso na indústria bélica. A construção de cosmonaves e satélites depende de nióbio, resistente ao frio cósmico e ao impacto de pequenos meteoritos, além de ser um grande condutor de energia, em celulares, computadores e turbinas de aviões; 98% do nióbio do mundo estão na Amazônia.
Ongs estrangeiras se amontoam na Amazônia, exatamente sobre gigantescas jazidas de minérios, especialmente nióbio. O presidente Lula da Silva homologou outra reserva, imensa, em Roraima, a Raposa Serra do Sol, onde só vivem índios aculturados. A Raposa e Serra do Sol mede 1.743.089 hectares para abrigar outro punhado de índios aculturados.
Localizada no nordeste do estado de Roraima, a Raposa e Serra do Sol abrange terras dos municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã, entre os rios Tacutu, Maú, Surumu e Miang, e a tríplice fronteira com a Venezuela e a Guiana. Nela, vivem cerca de 20 mil índios, ingaricós, macuxis, patamonas, taurepangues, uapixanas e patamonas. A maior parte da reserva é de cerrado; a porção montanhosa culmina com o monte Roraima, marco na tríplice fronteira Brasil, Venezuela e Guiana; o Monte Caburaí, onde fica a nascente do rio Ailã, ponto extremo do norte do país, também fica na reserva, demarcada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, e homologada pelo seu sucessor, Lula da Silva, em 2005.
Nos anos de 1970, colonos começaram a plantar arroz nas terras, chegando a produzir 160 mil toneladas de grãos por ano, em uma área de 100 mil hectares, às margens do rio Surumu, na borda sul da reserva. Em junho de 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a desocupação da reserva; em março de 2008, a Polícia Federal iniciou a Operação Upatakon III. Houve resistência, sob o argumento de que a área ocupada pelos arrozeiros correspondia a 1% do total da reserva, mas responsável por 6% da economia do estado Roraima.
Em abril de 2008, o governo de Roraima entrou com representação no STF reivindicando a suspensão da ordem de desocupação. O governo federal enviou tropas da Força de Segurança Nacional, mas a representação foi acatada por unanimidade no Supremo e a Operação Upatakon III foi suspensa. Em 20 de março de 2009, o Supremo confirmou a homologação da Terra Indígena Raposa e Serra do Sol, determinando a retirada dos não indígenas da região. Na época, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, então comandante Militar da Amazônia, perguntou: “Como um brasileiro não pode entrar numa terra porque é uma terra indígena?”
As reservas indígenas na Amazônia constituem uma inacreditável província mineral, mas é nelas que cerca de 100 mil Ongs estrangeiras deitam e rolam sobre esse tesouro brasileiro, segundo o general Durval Nery, do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, e que comandou durante vários anos um Batalhão de Forças Especiais na Amazônia. Essas Ongs teriam a missão de desestabilizar o governo brasileiro e provocar uma intervenção internacional na Amazônia?
É impensável, hoje, a Inglaterra, ou os Estados Unidos, ou seja lá quem for, tomar na marra a Amazônia, embora seja aparentemente fácil ocupar o próprio Brasil. Bastaria bombardearem Itaipu, Tucuruí e mais duas ou três hidrelétricas para invadir o país quase sem resistência. Não temos navios de guerra, nem submarinos, nem caças, muito menos mísseis.
A New Steel, mineradora americana que levou de Serra do Navio, no Amapá, 40 milhões de toneladas do manganês mais puro do mundo, deixando um buraco gigantesco.
Em 1943, o interventor do Território Federal do Amapá, capitão Janary Gentil Nunes, já sabia que na região dos rios Amapari e Araguari havia manganês, que entra na composição de várias ligas de aço, na fabricação de fertilizantes, no clareamento de vidros, no fabrico de pilhas secas e na produção de tintas e vernizes. Janary fora avisado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Em 1945, ofereceu um prêmio em dinheiro para quem identificasse exatamente onde o minério estava. Um comerciante ribeirinho, chamado Mário Cruz, levou pessoalmente ao interventor algumas pedras que usara como lastro para seu barco, escuras e pesadas. O material foi analisado no DNPM, no Rio de Janeiro, pelo engenheiro Glycon de Paiva, que bateu o martelo: tratava-se de manganês de alto teor.
Glycon foi então à região analisar os depósitos. Ele viu uma profusão de morros cobertos de floresta; um deles era um gigantesco bloco de manganês que lembrava a proa de uma embarcação. Então Janary convenceu o presidente Gaspar Dutra a criar uma reserva nacional englobando a mina de manganês e conferindo ao Território Federal do Amapá a competência para prospectá-la e explorá-la por meio de concessão.
Três empresas responderam ao convite para explorar a mina: a subsidiária brasileira da United States Steel, Companhia Meridional de Mineração; a Hanna Coal & Ore Corporation; e a Sociedade Brasileira de Indústria e Comércio de Minérios de Ferro e Manganês (Icomi), fundada em 1942, com sede em Belo Horizonte e atuação em Minas Gerais, que venceu a concorrência.
Só que depois de ganhar a concorrência, a Icomi se associou à americana Bethlehem Steel, maior consumidora mundial de manganês, formando a holding Caemi Mineração, criada por Augusto Trajano de Azevedo Antunes, paulistano nascido em 1906 e falecido na Cidade Maravilhosa, em 1996, formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica de São Paulo, em 1930. Com a guerra fria, a União Soviética deixou de suprir de manganês o mercado norte-americano, aumentando, assim, a cotação internacional do produto.
Augusto Nunes, que já explorava o minério de ferro no pico do Itabirito, em Minas Gerais, criou então a Icomi, em 1947, e, em 1948, começou as atividades de mineração no Amapá. O contrato de exploração, assinado em 1947, previa que a Icomi teria de investir no Amapá pelo menos 20% de seu lucro líquido; a exploração de um perímetro máximo de 2.500 hectares, o equivalente a 0,17% do território amapaense, e o pagamento de 4% a 5% da receita totais em royalties ao governo do Amapá.
Previa, ainda, uma área adicional de 2.300 hectares para a construção de instalações industriais, complexo ferroviário, e duas vilas, que dariam origem às cidades de Santana e Serra do Navio, as quais começaram a ser construídas em janeiro de 1957 e ficaram prontas em 1959.
A Estrada de Ferro Amapá, inaugurada em 1957, tem 194 quilômetros, ligando Serra do Navio ao Porto de Santana. Em 1980, com o manganês de Serra do Navio, comprado a preço de banana, estocado nos Estados Unidos, a Bethlehem vendeu sua participação para a Caemi, que encerrou a exploração de manganês em 1997, embora, em 1953, no governo de Getúlio Vargas, a concessão para explorar o minério previa o prazo de 50 anos.
Desde 2003, a Caemi pertence à Companhia Vale do Rio Doce. Em março de 2006, a MMX Mineração e Metálicos, do empresário Eike Batista, assumiu o controle da Estrada de Ferro Amapá, por vinte anos. Em 2008, a MMX foi vendida para a Anglo American. Em 2013, o controle foi repassado para a mineradora inglesa Zamin, e, em 2015, para a Secretaria de Estado de Transportes, quando a linha ferroviária foi também paralisada. Hoje, o governo do Amapá acusa a Icomi de contaminar com arsênio o Porto de Santana e a Vila Elesbão.
O morro que lembrava a proa de um navio desapareceu e se transformou numa cratera, até acabar o manganês de boa qualidade. “Não se previa que a exploração seria tão intensiva a ponto de esgotar totalmente a reserva” – comentou Aziz Ab’Sáber, titular do Departamento de Geografia e professor emérito do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). As escavações eram feitas 24 horas por dia. Algumas crateras formaram lagos, alimentados pelo lençol freático. O Morro do Navio foi transformado no Lago Azul.
O fato é que a Icomi cumpriu o contrato, mas o poder público deixou que Santana e Serra do Navio sucumbissem. Os governos que passaram pelo Amapá, durante o reinado da Icomi, nunca aplicaram os royalties com sustentabilidade. Restou também o porto mais estratégico da Amazônia, Santana, de onde se pode exportar matéria-prima e produtos manufaturados e industrializados para todo o planeta. A rodovia Perimetral Norte, que deveria ligar Macapá a São Gabriel da Cachoeira, é hoje a única alternativa de transporte para Serra do Navio. A Anglo American comprou uma área da Icomi para a pesquisa de ouro no município vizinho de Serra do Navio, Pedra Branca do Mapari, e descobriu uma mina gigantesca.
A Jari Florestal e Agropecuária, fábrica de celulose à margem do rio Jari, foi criada em 1967, pelo bilionário norte-americano Daniel Keith Ludwig e seu sócio Joaquim Nunes Almeida. A fábrica de celulose foi construída no Japão, em Kobe, usando tecnologia finlandesa: duas plataformas flutuantes para a produção de celulose e de energia, 55 megawatts, usina alimentada por óleo de petróleo e cavacos de madeira, tudo ao custo de 200 milhões de dólares.
A fábrica de celulose e a usina foram rebocadas do Japão, num percurso de 25 mil quilômetros, em 53 dias, até as terras que Ludwig adquiriu, na divisa entre Pará e Amapá, 16 mil quilômetros quadrados, quase o estado de Sergipe, para a instalação do projeto, onde o americano construiu porto, ferrovia, estradas e uma cidade, Monte Dourado, que alcançou, em 1982, ano em que Ludwig se desfez do projeto, 30 mil habitantes.
Ele planejava plantar gmelina e ampliar as atividades para mineração, pecuária e agricultura. Em 1982, Ludwig já havia desembolsado no Jari 1,15 bilhão de dólares. Em 2000, o Projeto Jari passou a ser controlado pelo Grupo Orsa, e, em 2004, recebeu certificação da Forest Stewardship Council, como um empreendimento viável. Isso poderia ter acontecido com Serra do Navio, ou com Fordlândia, se houvesse interesse político.
O fato é que a Amazônia já está ocupada. Por exemplo: o Japão não importa mais apenas bauxita, mas alumina, produzida graças à energia de Tucuruí agregada ao produto.
Para os índios a saída é a aculturação. Estradas, ferrovias, pontes, linhas de transmissão elétrica, represas, minerações, posseiros, garimpeiros, desmatamento, entorno desfigurado, poluído, e todo tipo de aventureiros tornam as terras indígenas colchas de retalhos, um faz de conta. Assim, as reservas indígenas ao norte da Amazônia só servem para garantir o saque estrangeiro.
Cada vez mais índios procuram a cidade grande em busca de escola, emprego, saúde, de misturar-se e amalgamar-se ao cadinho étnico brasileiro, embranquecendo-se, mesmo expondo-se à discriminação, à prostituição, ao alcoolismo, ao uso de entorpecentes e ao suicídio. Em Manaus, por exemplo, pelo menos 90% da população são indígenas.
Na Amazônia, crianças ribeirinhas, quando não são devoradas por microrganismos, são capturadas por uma teia de predadores, entre os quais familiares, incluindo os pais, e terminam nas mãos dos seus carrascos, e são estupradas até morrerem. Nas pequenas cidades, povoados no meio da selva, adolescentes são jogadas em prostíbulos dos quais nem o diabo já ouviu falar, mas todos os garimpeiros, caminhoneiros, grileiros, políticos, toda a bandidagem na Hileia sabe onde é. E nesses locais o único universo que conhecem é a escravidão e a dor.
Relato publicado em JAMBU: “Eu tinha sete anos quando meus padrinhos apareceram em Calçoene (AP) e pediram ao meu pai para eu ir com eles para Macapá. Eu não queria ir, e chorei muito, mas não teve jeito, o meu pai achava que era melhor para mim. Quando chegamos a Macapá, minha madrinha começou a me ensinar a cuidar da casa; era muito trabalho e eu apanhava muito porque demorava a aprender e não dava conta de tudo. Eu dormia em um quartinho no quintal, separado da casa.
“Logo depois que cheguei, toda noite meu padrinho ia ao meu quarto, com o filho dele mais velho, de 17 anos, e ensinava ao rapaz como ele deveria me estuprar. Eu chorava demais, porque doía muito. Tenho certeza que minha madrinha ouvia meu choro e sabia o que estava se passando, mas fazia de conta que não sabia nada. Vivi naquele inferno durante 9 anos; engravidei cinco vezes, mas a maldita da minha madrinha me dava remédio e eu abortava”.
Meu site (raycunha.com.br) é mais lido nos Estados Unidos, onde, um dos meus leitores é o vereador em Arlington, no Texas, o paulistano Maurício Galante, primeiro brasileiro eleito vereador nos Estados Unidos, onde trabalha com paraquedismo e golfe, além de ser palestrante sobre empreendedorismo e comentarista político.
Quem sabe Maurício Galante traduza JAMBU e dê um jeito de
enviar a tradução para o famoso ator de Hollywood, Oscar por O Regresso! JAMBU põe a Amazônia
nuazinha, ali, à frente do leitor, como um abismo.
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