Capa da edição da amazon.com: erotismo em ebulição
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 8 DE MAIO DE 2025 – Morei em Manaus de 1975 a 1977. Tinha 21 anos de idade e foi lá que comecei a trabalhar como jornalista, primeiramente como repórter policial do Jornal do Commercio, passei por A Notícia, como repórter geral e colunista de arte, e, finalmente, por A Crítica, como repórter de Educação e Cultura. Foi uma das fases mais ricas e intensas da minha vida.
A maior parte do tempo morando em Manaus vivia em uma casa repleta de telas de Hahnemann Bacelar, pertencente ao artista plástico Álvaro Pascoa, amigo do cineasta José Pereira Gaspar, que foi quem conseguiu a casa para eu morar, pois éramos amicíssimos, o Gaspar e eu. Durante quase todo o tempo minha vida se dividia em quatro atividades: o jornal, beber à noite, escrever – principalmente contos – e mulheres.
Captei esse ambiente para criar A GRANDE FARRA, publicado em 2000 no livro TRÓPICO ÚMIDO – TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS e depois em volume próprio, com 81 páginas, em 2021. A história, fictícia, se passa em Manaus, nos idos dos anos 1970. Conforme a sinopse da edição do Clube de Autores, “Reinaldo é jornalista em Manaus. Tem 21 anos, é milionário e aspira a se tornar escritor, mas leva uma vida de dissipações, em uma bacanal sem fim, até que, a bordo do seu iate, no rio Negro, a caminho de um ponto onde pretende caçar onças, tem um encontro com o destino”.
Segue trecho do livro:
FRÊNIA tinha retornado de Maués. Reinaldo levantou-se e foi ao banheiro. Frênia entrou pouco depois. “Essa mulher tem o corpo maravilhoso” – pensou Reinaldo, com a excitação que ela lhe causava. Diante do seu corpo diabólico Lívia Maria era angelical; se Lívia Maria era frágil, Frênia transmitia vigor; onde Lívia era complexa, Frênia era simples; enquanto nos aproximávamos com delicadeza de Lívia, Frênia só se contentava se fôssemos rudes. Lívia era fluida, Frênia era carne. Tinha os tornozelos descaradamente belos, as pernas eram longas e um abismo se formava no púbis. Das alvas coxas cor de leite dava-se um mergulho no negror do púbis. A cintura era fina, anormalmente fina, pondo em relevo a bela bunda de potra. Os seios eram duas bolas empinadas, com enormes mamilos rosas. Quando punha os lábios ali era como se Frênia sentisse uma chicotada. Tinha uma coisa em comum com Lívia: o sabor das coxas, da pele, do púbis – um sabor de rosas, que é mais um cheiro, que bebemos, que mitiga nossa sede e nos deixa sedentos.
Ela o sugava, sugava tudo, até a última gota, e o conduzia ao seu mundo de sensações e de vertigens. Ele a mordia no pescoço, puxava seus cabelos, mordia seus ombros até sentir gosto de sangue, cavalgado por aquele imenso peixe que se sacudia sobre ele, no chão atapetado do hall do banheiro. Reinaldo mergulhava de novo naquela atmosfera sem gravidade, sentindo-se desmanchar nas mãos de Frênia. Incansável, ela se esfregava no rosto dele, na boca, e logo ele estava de novo desejoso de entrar nela, de ouvir seus gemidos. Frênia levantava-se de súbito, deitava-se com o rosto na poltrona e empinava a maravilhosa bunda. Reinaldo punha a mão entre as coxas dela, demorava-se nas curvas, sentindo o cheiro do sexo. Explorava-a com todos os dedos, mordia-a e entrava nela, tentando rasgá-la, sentindo carnes se afastando, até não poder mais entrar dentro dela. Sentia a maciez, firme, das suas nádegas chocando-se contra si. Parava um pouco, agarrado à sua cintura, e procurava vê-la. Às vezes, estava sorrindo. Às vezes, sonhando.
Procurava fazer durar aquilo uma eternidade. Era uma eternidade que passava logo, diluída em fogo e primavera, em sol e flor, em azul e mar, em carne e abismo, em turbilhões e vertigens, um mundo imerso em sons indistintos, diluindo-se lentamente, até que os sentidos voltavam e ele se sentia dentro de Frênia.
Ficaram longamente deitados um ao lado do outro. Ela sempre se virava de costas para ele, os cabelos a seus pés. Ele se punha a ver, minuciosamente, as coxas e a bunda de Frênia. Gostava disso.
– E vovó? – perguntou-lhe.
– Ficou em Maués. Mandou-me para cuidar de ti.
Dormiram. Reinaldo acordou. Ficou olhando para a lâmpada. Prestou atenção nos sons que vinham do igarapé. Ouviu o motor de uma embarcação que parecia ir rio afora. A sensação de vazio voltou, como uma dor de cabeça despropositada. Fechou os olhos, querendo espantar a sensação de vazio. Ao reabri-los, notou a presença de Frênia. Ela estava no mesmo lugar e na mesma posição. Era capaz de passar horas deitada sem se mover. A visão de sua carne maravilhosa o excitou e a teve assim mesmo como Frênia estava, de lado. Mantinha-a segura pelos cabelos como se fossem rédeas e lhe mordia as cosas. Ouvia seus gemidos enlouquecedores. Logo se desfez nela.
– Tenho fome – disse.
Ainda ficou ali um pouco, até que, em um tremendo esforço, dirigiu-se para o banheiro e tomou uma ducha fria. Massageou-se com a toalha, grande e felpuda, penteou-se cuidadosamente. Ainda tinha o rosto de 21 anos, com aquela seriedade que o envelhecia um pouco.
– Está na mesa – ouviu Frênia dizer.
Reinaldo levantou-se da cadeira. Ainda estava nu. Pôs o robe. Frênia vestira uma camisola de seda rosa e rescendia a sabonete. Tomou-a pela cintura e a conduziu consigo. Gostava de fazer as refeições na cozinha, onde podia sentir o cheiro de alimentos e de limpeza, podia gozar da iluminação e pensamentos agradáveis lhe afluíam à memória.
– Vou sair – disse à Frênia.
A GRANDE FARRA está à venda nas livrarias
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