quinta-feira, 22 de maio de 2025

O Tesouro dos Jesuítas do Morro do Castelo: 67 toneladas de ouro e ninguém sabe, ninguém viu

Ray Cunha em visita ao túmulo de Estácio de Sá  que fundou a cidade
do Rio de Janeiro e 
expulsou os franceses da Baía de Guanabara , na Igreja dos Capuchinhos, no bairro da Tijuca, em 29 de fevereiro de 2024

Marcos Machado*

Um romance que exige do leitor atenção, reflexão e um mínimo de curiosidade histórica. Pois bem, A Identidade Carioca, de Ray Cunha, é isto: uma insurgência literária e um convite para uma caça ao tesouro, literalmente. Não qualquer tesouro, mas um com prováveis 67 toneladas de ouro supostamente escondidas no Morro do Castelo, coração simbólico e sepultado da antiga cidade do Rio de Janeiro. 

O livro mistura com habilidade romance, a lenda urbana e a história não oficial baseada em documentos escritos em português arcaico, aquela história que não entra nos currículos escolares, sabe-se lá por quais convenientes motivos. Enquanto a escola brasileira se limita a repetir a versão dos vencedores, Ray Cunha vai fundo nos subterrâneos do Brasil, revelando os bastidores da nossa formação colonial com um olhar crítico e, por vezes, desconcertante.

O que A Identidade Carioca oferece, no entanto, é o contrário do silêncio: é um grito narrativo. A trama gira em torno da busca por um tesouro jesuíta enterrado – ou talvez nunca enterrado – no antigo Morro do Castelo, demolido em nome do “progresso” no início do século XX. Essa destruição física e simbólica do morro é também a metáfora perfeita da nossa tendência de soterrar a própria memória. Ali, os jesuítas teriam escondido 67 toneladas de ouro antes de serem expulsos pela Coroa portuguesa, em 1759, segundo reza a lenda. Ninguém sabe, ninguém viu, mas Ray Cunha nos faz ver, ainda que seja com os olhos da ficção, qual era, e onde estava, o tesouro.

A Identidade Carioca não é um simples enredo de caça ao tesouro, mas de uma reconstrução crítica da identidade carioca (e, por extensão, brasileira), através de personagens que transitam entre o passado e o presente, entre o real e o possível. A narrativa não dá trégua ao leitor preguiçoso; aquele acostumado a resumos provavelmente não passará do segundo capítulo, e talvez seja melhor assim, porque o livro exige envolvimento, como toda boa leitura deveria exigir.

A narrativa de Ray Cunha é ágil, mas densa. Leve, mas provocadora. Cada capítulo traz uma nova camada de revelações, sempre amparadas por dados históricos pouco ou nunca divulgados, e detalhes urbanos que passam despercebidos: a influência dos jesuítas na formação do Brasil, os interesses por trás da demolição do Morro do Castelo, a omissão deliberada de certos eventos na historiografia oficial. Tudo isso com o ritmo de um romance de aventura, mas com o peso de 67 toneladas de questões mal resolvidas.

O final surpreendente, como todo bom desfecho de trama bem construída, amarra o enredo sem recorrer à obviedade. O leitor sai instigado a investigar mais sobre a cidade que habita. Quantos cariocas sabem que boa parte da sua história foi literalmente demolida com britadeiras? Quantos brasileiros sabem que há mais lendas reais em nossas fundações do que em qualquer ficção estrangeira?

A Identidade Carioca é, portanto, mais do que um romance: é um manifesto contra o esquecimento nacional. Um lembrete de que há muito tesouro escondido por aí, nem sempre no subsolo, mas frequentemente enterrado sob as versões oficiais da nossa história.

O tesouro está reservado apenas para quem tem coragem de escavar, pois muitas famílias cariocas estão, literalmente, sentadas sobre ele.

Adquira A Identidade Carioca no Clube de Autores, amazon.com.br e amazon.com

*Jornalista, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira

Nenhum comentário:

Postar um comentário