segunda-feira, 5 de maio de 2025

Uma cantora americana pop, fãs estupidificados, uma cidade violenta e um prefeito populista

Lady Gaga: irrepreensível no seu papel. O problema é o Rio

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 5 DE MAIO DE 2025 – Lady Gaga já se mandou do Trópico para sua terra, os Estados Unidos, ao meio do dia 4, domingo. No dia anterior, levou 2,1 milhões de fãs em show defronte ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Segundo a Prefeitura do Rio, mais de 500 mil eram turistas. Ela chama seus fãs de monstrinhos, e os monstrinhos ficaram isolados da sua deusa por uma cerca de contenção a 150 metros do palco. Imagine quem estava mais longe. De acordo com a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), os fãs deixaram 392 toneladas de lixo. 

Lady Gaga é hipnótica. Quando ela chegou ao Rio, às 4h50 de sexta-feira 29, mandou apagar as luzes da área externa do desembarque para entrar no carro, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, e, acreditem, foi obedecida. Não queria ser vista após horas de voo? Mesmo nesse horário alguns fãs a aguardavam, atrás de um cercado, para ver mais de perto o brilho da estrela. O carro de Lady Gaga foi escoltado por batedores até o Copacabana Palace, para evitar assalto ou sequestro, pois, afinal, o Rio é o Rio. Ao chegar ao hotel, entrou pelos fundos, evitando esbarrar em uma multidão de fãs enlouquecidos na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. 

Segundo o prefeito Eduardo Paes o show foi grátis. Grátis? 

O esquema todo mobilizou 5 mil agentes só na segurança, drones, dois aviões jumbos e equipe de 250 técnicos, além de dezenas de toneladas de equipamentos e um palco circense de 1.260 metros quadrados. Tudo isso custou a bagatela de 92 milhões de reais, segundo o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, 15 milhões dos quais dinheiro do contribuinte carioca, conforme o Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro, cidade que precisa de todo tipo de investimento, assolada que está pelo narcotráfico, transporte caótico, serviços de saúde precários e enxames de moradores de rua, principalmente em Copacabana, onde aconteceu o show. 

A cantora, compositora e atriz Stefani Joanne Angelina Germanotta, Lady Gaga, é novaiorquina de 28 de março de 1986. Aprendeu a tocar piano aos quatro anos de idade e escreveu sua primeira canção aos 13 anos. Aos 14 começou a se apresentar de graça em casas noturnas e a fazer pontas na televisão. Aos 17 anos, começou a estudar música para valer. Aos 22 anos, lançou seu primeiro álbum, The Fame. A partir daí, ganhou vários Globo de Ouro e Grammy Award e foi ascendendo até o teto. Já vendeu mais de 100 milhões de discos e mais de 250 milhões de singles no mundo. No Rio, cumpriu seu papel com rigor profissional. 

Eduardo da Costa Paes, carioca de 14 de novembro de 1969, é bacharel em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com especialização em Políticas Públicas e Governo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e prefeito do Rio em quarto mandato, desde 2009, filiado ao Partido Social Democrático (PSD). 

Na juventude, fez figurações em novelas da TV Globo. Começou sua carreira política no início dos anos 1990, filiado ao Partido Verde (PV), nomeado subprefeito da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro, pelo então prefeito Cesar Maia. Em 1996, é eleito vereador pelo Partido da Frente Liberal (PFL), e, em 1998, elege-se deputado federal, filiando-se, no ano seguinte, ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), até 2001, quando retorna ao PFL e é nomeado secretário do Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro pelo prefeito Cesar Maia, com quem rompe um ano depois. Em 2002, é novamente eleito deputado federal. Em 2003, filia-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). 

Em 2006, concorre ao governo do Estado, mas não levanta voo; no segundo turno, declara apoio ao peemedebista Sérgio Cabral Filho, que vence a eleição e indica Paes para a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer. Em 2007, Cabral o convida a filiar-se ao PMDB e sair candidato a prefeito do Rio de Janeiro, em 2008. Elege-se, derrotando o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira, do seu antigo PV. Reelege-se em 2012. Em 2018, é candidato ao governo do Rio de Janeiro, mas foi derrotado por Wilson Witzel, que sofreu impeachment em 30 de abril de 2021. 

Cabral assalta o Rio de Janeiro, é condenado a 425 anos de cadeia, mas é solto pelo Supremo Tribunal Federal (TSE) e já pensa voltar para a política. 

Em 2020, Paes volta à Prefeitura do Rio de Janeiro, agora pelo Democratas. Em 2024, é reeleito, derrotando o candidato do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, Alexandre Ramagem, do Partido Liberal (PL). 

Eduardo Paes é amado pelo eleitor carioca, pois conhece profundamente a alma do povo: o povo quer pão e circo. E é isso que Paes dá aos cariocas. Pão, nem tanto, pois a inflação está batendo na porta dos brasileiro. Enquanto isso, o Rio está afundando. Ai de ti, Rio de Janeiro! O Rio está afundando em um pantanal abismal, de violência e impunidade.

A maior medida que um prefeito deve tomar com urgência no Rio é criar um centro de inteligência para provar perante as instituições democráticas do país e internacionais que o crime organizado está enraizado no Estado brasileiro. Para isso, é claro que o prefeito não pode ter rabo preso e deve ter total compromisso com a cidade. 

Outro nó que precisa ser desatado é o do transporte público. É hora da construção do túnel ligando o Rio a Niterói por debaixo da Baía de Guanabara, a Linha 3 do Metrô, e a baía precisa, com urgência urgentíssima, passar por um processo de despoluição total. O quarto problema básico é o do fornecimento de água tratada. O Rio precisa resolver isso, agora. 

Shows como o de Lady Gaga são bem-vindos em qualquer lugar do mundo. E não é qualquer cidade que pode abrigá-los. Mas do jeito que o Rio está, os cariocas que pagam impostos estão sendo feitos de otários. Durante todo o ano os moradores do Rio sofrem em uma das cidades mais violentas do planeta, com trânsito caótico e os cariocas com os nervos à flor da pele. Mas cada cidade tem o prefeito que merece.

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