quinta-feira, 15 de maio de 2025

A eternidade surge aos 70 anos, no outono

Josiane Souza Moreira Cunha, Ray Cunha e Iasmim Moreira Cunha Morya

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 15 DE MAIO DE 2025 – Meu amor e eu tomamos café, hoje, na Biscoitos Mineiros do Sudoeste, na Quadra 304, Bloco C, um local muito distinto. Eu havia tomado café às 4h30, antes de começar a escrever. Atualmente, trabalho no terceiro volume de uma trilogia. Já publiquei O CLUBE DOS ONIPOTENTES e O OLHO DO TOURO. O atual volume será concluído em 2026. De modo que na Biscoitos Mineiros não comi muito, apenas uma empada de camarão, uma torta de nozes e café médio. Tudo de primeira categoria. Meu amor comeu uma empada e um quiche de camarão, uma torta de morango, chá de frutas vermelhas e suco de laranja.

Comemoramos, hoje, 37 anos de namoro. Certa tarde, em 15 de maio de 1988, levei-a ao cinema. Ela tinha 19 anos e eu, 33. Era uma menina. Fomos ver, no cinema que havia no Conjunto Nacional, Cine Márcia, O Último Imperador da China, de Bernardo Bertolucci.

Outro dia, conversando com meu amigo Marcos Machado, na Pães e Vinhos, na 103 do Sudoeste, que é o bairro onde moro, lembramos que quase todos os nossos velhos companheiros de redação e parentes mais próximos estão mortos ou dementes, e lá estávamos nós, conversando sobre os editores virtuais do Clube de Autores e da Amazon, sobre livros que pretendemos publicar, sobre a língua portuguesa, sobre café.

E aí, pensando, hoje, descobri que não envelhecemos, nem morremos. A vida, ou consciência, é eterna. Apenas algumas pessoas demoram a descobrir os caminhos que levam à eternidade. A passagem da infância para a adolescência é um desses caminhos. É preciso que o descubramos, senão viramos Peter Pan, até descobrirmos o caminho, o que é inevitável, mas pode demorar bastante.

Aí, vem a passagem da adolescência para a vida adulta. Outro caminho. Na velhice é que fazemos as maiores descobertas. Mas as descobertas da velhice são, geralmente, mais difíceis. Fáceis quando lemos muito, quando damos asas à nossa criatividade e descobrimos que podemos voar como as aves, e daí para montar a luz é um passo, e mergulhar no azul e viajar no éter, para as estrelas de outras galáxias.

A morte é outra passagem. Na morte, nossa consciência se manifesta em uma dimensão que transcende a matéria e o tempo, até chegar a um estado em que podemos ascensionar para uma dimensão quântica. De modo que nunca morremos. Quem morre são corpos.

A consciência encarnada é composta de espírito e mente. A mente, por sua vez, é composta por corpos. Existe o corpo físico e o ego. O ego é a personalidade do indivíduo. E há os corpos sutis, que compõem a aura, ou campo energético que envolve o corpo físico. O corpo etérico, ou cordão de prata, liga o corpo físico ao corpo astral, que é o corpo das emoções.

Tudo isso descobri neste outono, aos 70 anos, ao lado da minha amada. Como disse, ela era uma menina quando a descobri, e continua sendo uma menina no meu coração. Quando a conheci, eu não enxergava nada além do meu nariz e ao lado dela fiz tantas descobertas que fico tonto só de pensar nisso.

Jamais quis ser dono dela e ela também não é minha dona. Apenas, como toda mulher, como toda mãe, vê seu homem como um filho especial, aquele que precisa de mais cuidados. Basicamente, nós dois apenas gostamos da companhia um do outro, mesmo em silêncio. Gostamos de conversar. Conversamos sobre tudo. E somos leões quando se trata da nossa princesa, de casa.

Este ano, o outono está mais frio do que em outros anos. Quando cheguei a Brasília, em 1987, punha casaco quando fazia 21 graus. Agora, quando faz 17 graus, uma camisa de mangas compridas basta. A gente vai se acostumando. Se a temperatura cai para 14 graus, aí uso meu casaco azul, quente, que comprei a Expotchê, uma feira anual que os gaúchos realizam em Brasília. De madrugada, quando me levanto para escrever, uso um casaco surrado.

Gosto de todas as estações do ano. Observo-as e comparo-as, a cada ano, e, se viajo, observo também as estações do ano em outras localidades. Adoro geografia. Mas, em Brasília, gosto mais do outono e do inverno, quando a temperatura é, quase sempre, agradável. Há invernos mais frios, que exigem que usemos meias grossas em casa.

Adoro a vida. O pintor Olivar Cunha observou que a vida é um tesão. Também acho. O escritor e compositor Fernando Canto, que era como um irmão para o Olivar e eu era outro que vivia intensamente. Viver intensamente é viver agora. O Fernando Canto já partiu para o azul. Segundo o médium e astrofísico Laércio Fonseca a vida no astral é mais sofisticada do que aqui, no mundo físico. É mais poética.

Hoje de manhã descobri, aos 70 anos, que, na minha vida, não há ontem nem amanhã, só agora se eternizando. A música que ouço é o som do éter, azul por toda parte.

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