Marcos Machado*
Ray Cunha nunca decepciona quem busca mais do que paisagens e folclore ao tratar da Amazônia. Em JAMBU, o autor apresenta um romance-documentário que mistura crônica política, denúncia social e pinceladas de realismo fantástico, com o dom raro de transformar a floresta em personagem, cúmplice e testemunha. O título de seu livro (JAMBU) remete a um ingrediente típico da região, mas também sintetiza o efeito do livro: não precisa ter vivido a Amazônia para sentir seu gosto intenso, estranho e viciante.
A narrativa é conduzida com ritmo jornalístico, sem perder a densidade literária. A crítica é clara e corajosa: Ray desmonta discursos oficialistas sobre a causa indígena, expõe o tráfico humano, a exploração sexual de crianças e adolescentes, e o saque institucionalizado das riquezas naturais, com uma crueza que incomoda (e precisa incomodar). Nada escapa à sua lupa: das ONGs supostamente salvacionistas ao descaso das autoridades, o autor revela um cenário em que a floresta serve de biombo para práticas antigas de poder e conivência.
JAMBU não é só denúncia, é também fascínio. Os capítulos sobre a Operação Prato, missão militar brasileira para investigar fenômenos ufológicos no Pará, dão ao livro um tom misterioso e provocador, lembrando que a Amazônia continua sendo um território de enigmas geográficos, humanos e cósmicos. Ray Cunha sabe equilibrar o real e o insólito, sem jamais cair no sensacionalismo barato. Sua escrita é sóbria, certeira, e tem gosto de verdade.
No fim das contas, JAMBU é uma obra para ser saboreada com curiosidade e coragem, como o prato que lhe dá nome: tacacá.
JAMBU, o livro e o prato, não se consomem apressadamente. Ambos exigem tempo, entrega e um certo apetite pelo inusitado. Ray Cunha nos oferece isso com generosidade: uma Amazônia que não cabe em panfletos turísticos nem em mapas oficiais. Uma Amazônia para ser lida, pensada e, por que não, degustada.
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*Jornalista profissional diplomado, editor do portal Do Plenário, escritor, psicanalista, cientista político ocasional autoproclamado, analista sensorial, enófilo, adesguiano, consultor de conjunturas e cidadão brasileiro protegido (ou não) pela Constituição Brasileira, observador crítico da linguagem e da liberdade
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