sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O Olho do Touro

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 28 DE NOVEMBRO DE 2025 – Segue capítulo do romance O OLHO DO TOURO. 

COPACABANA dormitava anestesiada aos 45 graus centígrados, sufocada pelo miasma de esgoto estourado, moradores de rua e sucateamento. No Beco, fazia 21 graus centígrados e a Cerpinha estava enevoada. Bond, que fazia, juntamente com Alex, a revisão final do capítulo sobre o establishment, do livro O Sistema, iria se encontrar, no início da noite, com o filósofo Olavo de Carvalho. 

– O estamento do Estado, o status quo, o establishment, não tolera intrusos e Bolsonaro é um outsider no ninho, uma ameaça à ordem estabelecida, como Donald Trump – Bond comentou. – Os bancos, as grandes empreiteiras, os sindicatos, o funcionalismo público, as grandes indústrias e empresas e o Judiciário estão na cabeça do establishment, em uma relação de troca de favores com os políticos, os burocratas, as famílias tradicionais – que formam a nova aristocracia –, a Igreja, os intelectoides, os jornalistas que mamam com prazer a mandioca dos que dão as cartas a troco de manterem seus empregos e o silêncio das Forças Armadas. Esse pessoal é que deu poder a Alexandre de Moraes. Para derrubar isso, só a guerra ou a fome. 

– Só que a elite governante, devido às inovações tecnológicas, está perdendo o controle das comunicações, da educação e do planejamento civil – disse Alex. 

– Sim, e essa é a razão pela qual uma postura anti-establishment só será bem-sucedida se tiver o respaldo de ideias pró-liberdade. Temos de pensar na Suíça. Para nós, brasileiros, a Suíça pode parecer um país sem graça. Pode ser, mas a Suíça é protótipo da democracia – Bond respondeu. 

Enquanto degustava a melhor cerveja do mundo, Alex lembrou-se de suas passagens no pequeno país europeu, encravado nos Alpes, uma república federal integrada por 26 estados, chamados, lá, de cantões. Berna é sua capital. Situado na Europa Central, faz fronteira com a Alemanha a norte, com a Áustria e o principado de Liechtenstein a leste, com Itália a sul e com a França a oeste. Sua área é de 41.285 quilômetros quadrados, praticamente o tamanho da ilha de Marajó, ao sul da foz do Rio Amazonas, no Estado do Pará. Sua população é de 8,5 milhões de habitantes. Suas maiores cidades são Zurique e Genebra. Seu PIB per capita é de 92 mil dólares americanos. Neutra desde 1815, a Suíça sedia várias organizações internacionais, como o Fórum Econômico Mundial, a Cruz Vermelha e a Organização Mundial do Comércio. Os suíços falam alemão, francês, italiano e romanche, mas são unidos pelo federalismo, democracia direta e neutralidade. 

Antes ainda do nascimento do Império Romano, em 500 a.C., tribos celtas viviam no Centro-Norte da Europa, entre elas a dos Helvécios, que vieram a ser dominados pelos romanos, até cerca do ano 400, quando o território suíço foi invadido por tribos germânicas, até 1033, quando integrou o Sacro Império Romano-Germânico. Em 1 de agosto de 1291, é fundada a Confederação Helvética, mas engolfada em guerras internas, até 1782, quando Napoleão Bonaparte instaurara a aristocracia em Genebra. Espelhados pela Revolução Francesa (1789), em Lausanne, os suíços fazem sua revolução, em 1798, causada pela corrupção e abuso do poder da monarquia. Mas Anexada por Napoleão, a Suíça só faria sua independência após a derrota do imperador na Batalha de Waterloo, em 1815, e, durante o século XIX, com uma guerra civil, em 1847, a Confederação Helvética se torna uma democracia moderna, regida pela Constituição Federal de 1848. 

Da mesma forma do sistema norte-americano, a Suíça adotou a Declaração dos Direitos Humanos, duas câmaras parlamentares – senado e câmara federal –, governo federal e um tribunal de Justiça Suprema. O país cresceu economicamente a partir da Revolução Industrial de 1850, quando começou a estabelecer direito aos trabalhadores. Cada um dos 26 cantões tem autonomia político-econômica, sob o sistema federal, que se ocupa das relações políticas com o exterior, a economia nacional e as Forças Armadas. Já o poder cantonal administra sua própria polícia e os sistemas de saúde e de educação. O presidente da Confederação Helvética é eleito para mandato de um ano apenas, mas quem manda são as instituições. Na Suíça, a democracia é direta, por meio de referendo. Uma lei aprovada em um cantão pode não ser aprovada em outro cantão. No nível federal, a Constituição defende, basicamente, a paz entre as nações, o respeito pelos direitos humanos, a democracia, a lei, os recursos naturais e o desenvolvimento econômico. 

– Não é à-toa que Paulo Coelho escolheu a Suíça para morar – Alex observou. 

– Os petistas, como, de resto, os comunistas, gostam de conforto – Bond respondeu. – Embora Paulo Coelho tenha seus méritos: é um dos maiores vendedores de livros do mundo e entrou na Academia Brasileira de Letras porque tinha como alicerce O Alquimista, diferentemente de alguns comunistas que se infiltraram lá, seguidores do cefalópode de nove garras. 

Olavo de Carvalho chegou. Viera em jato particular de Richmond, Virgínia, Estados Unidos, especialmente para aquele encontro, como consultor da Intelligentsia. Vivo ou morto, tornara-se o filósofo dos conservadores, autor, em 1996, de O Imbecil Coletivo, e, em 2013, de O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota. Identificara algo interessante para quem quisesse começar a combater os idiotas úteis: a esquerda brasileira conseguiu dominar a universidade, a mídia, a cultura e a política do país, sem revolução, seguindo método de Antonio Gramsci. Em 1996, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, no telejornal da TV Globo, Bom Dia Brasil, o filósofo profetizou que, apesar do colapso socialista na URSS, a esquerda brasileira iria ascender ao poder, pois, desde a década de 1960, adotaram a estratégia gramsciana, de primeiramente fazer a revolução cultural e depois a revolução política. Olavo de Carvalho advertiu o presidente Jair Messias Bolsonaro para algo que acabou se concretizando e que foi o que alicerçava a ditadura do ministro do Supremo, Alexandre de Moraes: ao longo do seu governo, Bolsonaro foi sempre “aconselhado por generais covardes ou vendidos”. Esses generais-melancia, verdes por fora e vermelhos por dentro, odeiam Bolsonaro, em parte inconformados por ele ser apenas capitão, mas, principalmente, porque Bolsonaro não deixa roubarem o erário, por isso é que foi entregue a Lula a chave da burra, a fim de que o butim ocorra em paz.

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