sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Cor de jambo maduro, ruiva, de olhos verdes

RAY CUNHA 

Ser escritor tem suas pequenas vantagens. Mas são vantagens puramente psicológicas. Uma sátira que fazemos de alguém real, um soco na boca de um deputado-rachadinha, que levou 24 mil reais de um assessor, exterminar um corrupto com um lápis, fincando o lápis no olho dele, até atingir o cérebro. Ou degolando-o com uma katana. Mas é tudo ficção. 

É comum as pessoas confundirem o autor com personagens de ficção; quanto menos entendem de literatura, mais acham que aquele assassino ou aquele estuprador é o próprio autor do livro. Se assim fosse, quantos escritores estariam atrás das grades! 

Mas há as personagens deliciosas, como a de pele cor de jambo maduro, ruiva, de cabelos como cascata de fogo e que lhe alcançam os quadris de potra. Tem os olhos verdes como duas esmeraldas e gosta de música. Ou é a música que está presente na trama, como se fosse parte natural em determinadas sequências. 

Porém, as beldades que criamos não as levamos para a cama. Apenas as criamos. Até porque a vida real é muito diferente da vida dentro de um livro de ficção. No livro, a coisa é intensa, como uma sequência inesperada no thriller político-policial O CLUBE DOS ONIPOTENTES: 

O SOM de respiração ofegante e odor de suor enchiam o quarto. Alesão media 1,67 metro e pesava 49 quilos. Chegaram ao apartamento de Alex antes das 22 horas, pois, naquela noite, deixaram cedo a Trópico. Começaram bebericando Mateus Rosé, mordiscando queijo do reino e ouvindo Dámaso Pérez Prado, começando por Patrícia. Alesão ensaiou alguns passos de mambo. Beijaram-se. Um beijo interminável. Ele lambeu o rosto dela. 

– Vou ao banheiro – ela disse. 

– Vou pegar toalha e um roupão para você! 

Enquanto ela tomava banho ele continuou bebericando vinho e mordiscando queijo do reino, ouvindo o japonês Akira Miyagawa, que combinou a Quinta Sinfonia de Beethoven com o Mambo Número Cinco, de Pérez Prado. Havia selecionado várias gravações do Rei do Mambo; a próxima foi April in Portugal, também chamada The Whisp'ring Serenade, conhecida no Brasil como o fado Coimbra, com música de Raul Ferrão e letra de José Galhardo, de 1947, um dos grandes sucessos da portuguesa Amália Rodrigues. A letra na versão inglesa foi escrita por Jimmy Kennedy. Aí, a seleção pulou para Sirtaki, ou Zorba, o Grego, de Mikis Theodorakis. Sempre que ouvia essa música entrava imediatamente no romance Zorba, o Grego (1946), de Nikos Kazantzakis, e também no filme homônimo (1964), dirigido por Michael Cacoyannis, com Anthony Quinn. A canção seguinte foi o Concerto de Aranjuez (1939), para violão e orquestra, do compositor espanhol Joaquín Rodrigo, durante a qual ela entrou no quarto, dentro do alvo roupão, descalça. Pôs-se entre a cadeira onde ele se sentara e a cama, e deixou o roupão deslizar pelo seu corpo. Reinaldo já vira toda espécie de beldade, mas aquela superava tudo o que já experimentara. Degustou, devagarinho, a visão, a fragrância das magnólias, o cantar dos pássaros e o jorrar dos chafarizes na primavera, não dos jardins do Palácio Real de Aranjuez, mas a visão da cafuza ruiva. O concerto estava no segundo movimento, Adagio, esculpido em melodia suave e ritmo lento, uma conversa, tão íntima que só poderia se desenrolar na alcova, entre violão, fagote, oboé e trompa. Ela tomara o cuidado de não molhar os cabelos, que deslizavam como uma cascata de fogo, lambendo-a até a cintura. Tinha os olhos enormes, verde-água, nariz ligeiramente arrebitado, rosto oval e simétrico, e lábios grandes e carnudos. Os seios erguiam-se volumosos, sem serem excessivos, firmes como colunas de mármore, lembrando pequenos vulcões, pois as auréolas dos mamilos eram enormes e rosadas. O umbigo era uma pequena fenda na barriga de tábua e o púbis, ruivo como o sol se pondo. Do púbis, deslizou o olhar ao longo das pernas de jambo maduro, até os graciosos pés, com unhas pintadas de rosa. Ela deu um giro de 180 graus. A cascata de fogo cobria-lhe parcialmente as costas e descia-lhe até as ancas de potra, como um triunfo do escultor renascentista Gian Lorenzo Bernini. Ele a conduziu para a cama e pôs-se a beijá-la. Sentia-se cair, lentamente, em um abismo. O adagio agonizava. Sentiam-se agora em outro plano da vida, onde a sensação psicológica do tempo não existia. Estaria em que mundo, se o espaço-tempo parara de existir? As sensações eram, agora, mais sublimes do que as dos cinco sentidos – visão, tato, olfato, audição, paladar e o sexto sentido se fundiram em um só sentido, fluindo para algum lugar inexistente na expansão infinita do Universo. Sentia, como descreveu Ernest Hemingway em Por Quem os Sinos Dobram, um latejar da Terra no espaço, uma vibração apenas no início. Desceu para os vulcões; ora sugava colostro de um, ora de outro, ávido como um bebê que já se sente senhor de si, isto é, que já sabe o caminho das pedras, ou seja, dos seios. Ela começou a gemer baixinho. Sonhava os sonhos mais ousados. Ele se demorou na barriga. 

Ouvia-se, agora, o Concerto Para Piano e Orquestra, em Ré Menor, de Mozart. Da barriga, ele desceu para os pezinhos, fitou-os, beijou-os, lambeu-os, e foi subindo, vagarosamente, até chegar ao púbis, onde imergiu em um mergulho paciente, embora a paciência fosse tensa, naquele ponto em que o equilíbrio se desequilibra e surge o caos do prazer. Ela gemia alto, agora, a cada sugada mais forte dele, imerso no cheiro das virgens ruivas, de rosas esmigalhadas nas fábricas de perfume, misturado ao odor dos jasmineiros nas noites de agosto, em Macapá, cidade da Amazônia atlântica seccionada pela Linha Imaginária do Equador, e misturado ao sabor de Mateus Rosé, à visão do mar de cobalto de Angra dos Reis e à abertura, allegro, do Concerto Para Piano e Orquestra, em Ré Menor, de Mozart. O primeiro movimento foi um voo vertiginoso até a borda do Universo, quando ele a encaixou, sem pressioná-la, sem pressa, ao ritmo do segundo movimento, romanza, sereno, sonhador, um diálogo entre o piano e a orquestra, um contraponto, a intimidade que descobrimos em certas composições dos Beatles. O hímen rompeu-se no início do rondó, com a primavera ocupando todo o éter da consciência. Estavam os dois, agora, cavalgando um dragão de elétrons, além das galáxias, onde só se sentia o azul da eternidade. Os gemidos dela enchiam o quarto, muito, muito mais sublimes do que a música de Mozart, durante toda uma eternidade, até se diluírem, quase em choro, em silêncio. Ele descansou um pouco. Depois a pôs de lado e penetrou-a de novo, instruiu-a a ficar numa posição em que ele pudesse cavalgá-la, seguro nas ancas esculpidas por Benini, ele, o próprio dragão, leão de asas, relinchando como garanhão, um lamento alto de tanto prazer, batizando-a para sempre, iniciando-a em outra fase da sua vida, pois acabara de promover mudanças na sua roupa carnal, a despertar novos sentidos, não nominados pela ciência, mas que sabemos, pela intuição, que existem. O sol já se erguera quando, exaustos, adormeceram profundamente. 

Acordaram às 10 horas da manhã e ela estava ainda mais linda do que na noite anterior. Levantaram-se e foram para o banheiro, onde demoraram-se, e só foram fazer o desjejum, que ele preparou, lá pelo meio-dia. Nesse meio tempo, ela projetou, indiretamente, todo um noivado e casamento; ele era capaz de ouvir, enquanto comiam a macarronada que ele preparou, a Marcha Nupcial de Mendelssohn, da peça Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare, e a de Wagner, do coro nupcial da ópera Lohengrin. No meio da tarde, ela se foi, ao som da Tocata e Fuga em Ré Menor, de Johann Sebastian Bach.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Donald Trump ataca o serpentário da Ibero-América: o Foro de São Paulo, criado por Lula


RAY CUNHA

BRASÍLIA, 6 DE NOVEMBRO DE 2025 – A Ibero-América, principalmente o Brasil, estão recebendo o pior ataque da máfia comunista global, mas o líder mundial da Direita, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responde com força total – econômica, tecnológica e militar –, atacando o ovo da serpente, o Foro de São Paulo, criado por Fidel Castro e Lula da Silva, para varrer os Estados Unidos do mapa. A seguir, trecho do livro O OLHO DO TOURO. 

O OVO DA SERPENTE eclodiu em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo, quando um grupo de comunistas, sindicalistas, guerrilheiros, intelectualoides – como grafou o ex-espião e escritor Jorge Bessa –, artistas e militantes da Teologia da Libertação, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), surgindo, daí, Lula da Silva, a hiena de nove garras, engenheiro do Foro de São Paulo, seguindo orientação do arquiteto dessa organização: Fidel Castro. 

Fim de 1988. Fidel Castro, ditador de Cuba, se reúne, pela manhã, no seu gabinete de trabalho, no Palacio de la Revolucion, em Havana, com seu ministro do Interior, o general José Abrantes, um de seus homens de confiança. O tema da reunião: tráfico de cocaína do Cartel de Medellín, de Pablo Escobar, para os Estados Unidos, segundo testemunho de Juan Reinaldo Sánchez, guarda-costas do ditador durante 17 anos, no seu livro de memórias A Vida Secreta de Fidel. 

Três anos antes, em março de 1985, Mikhail Gorbachev assumira o comando da União Soviética e tentara salvar o império, cortando gastos e guinando para o capitalismo. Em 2 de abril de 1989, o líder soviético desembarca em Havana e comunica a Fidel Castro que a União Soviética não poderia mais arcar com as despesas de Cuba, em troca de manter o enclave soviético nas costas dos Estados Unidos. Que Fidel se virasse; a União Soviética estava agonizando, vítima do próprio comunismo. Fidel empalideceu, pois se acostumara a mamar na generosa teta soviética, tornando-se, graças ao comunismo, um dos maiores playboys do mundo. 

Naquelas alturas, a União Soviética já tinha reduzido substancialmente a ajuda a Cuba, daí porque Fidel se tornara um dos barões do narcotráfico, de modo que a Disneylândia das esquerdas na América Latina só contava, agora, com os dólares do Cartel de Medellín. Acobertado pela celebridade internacional do seu nome, como o revolucionário que desafiou os Estados Unidos, Fidel fizera um pacto com traficantes da Colômbia para que Cuba se tornasse o principal entreposto comercial da droga rumo aos Estados Unidos. 

Mas, ainda naquele ano, 1989, Fidel sofreu novo golpe. A poderosa Drug Enforcement Administration (DEA), órgão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos responsável pelo controle e combate às drogas, descobriu o esquema de Fidel, por meio de cubanos detidos nos Estados Unidos, que confessaram como a coisa funcionava. As investigações da DEA conduziram ao Cartel de Medellín e ao coração do governo cubano. 

John Jairo Velásquez, o Popeye, homem de confiança tanto de Fidel como de Pablo Escobar, chefe do Cartel de Medellín, fez um relato minucioso sobre o envolvimento dos irmãos Castro com a droga de Pablo Escobar à jornalista Astrid Legarda, que escreveu o livro El Verdadero Pablo. Popeye assegura que Raúl Castro, irmão do ditador de Cuba e que o sucederia na chefia da ditadura cubana, era quem recebia os carregamentos da droga, acobertado pelo seu posto de comandante das Forças Armadas. Eram embarcadas de 10 a 15 toneladas de droga em cada operação. 

Quando Fidel soube que a DEA tinha descoberto tudo, ficou apavorado, pensou rápido e descobriu um jeito de se safar, matando dois coelhos com uma só cajadada. Bolou um plano diabólico. Segundo o historiador britânico Richard Gott, em seu livro Cuba – Uma Nova História, visando se livrarem da prisão nos Estados Unidos, os irmãos Castro acusaram o general Arnaldo Ochoa. 

Herói da revolução cubana, histórico e popular, um dos militares mais condecorados da história do país, além de ser um dos grandes líderes militares de Cuba, Ochoa tinha potencial para se tornar o Fidel Castro da Perestroika. Razão pela qual Fidel decidiu acabar com Ochoa, acusando-o de ser o comandante das operações de narcotráfico com Pablo Escobar, “alta traição à pátria e à revolução”. 

Fidel usou o jornal oficial de Cuba, o Granma, para anunciar que uma investigação fora iniciada em abril de 1989, mandando prender, a partir de 12 de junho, seus próprios companheiros que faziam o trabalho do narcotráfico: cinco generais, entre os quais o ministro José Abrantes, 15 oficiais superiores e vários funcionários do Ministério do Interior, realmente envolvidos com o tráfico de drogas, porém sob o comando de Fidel. Traição suprema do líder cubano: prendeu, entre os generais, o herói Arnaldo Ochoa, recém-chegado de Angola, onde comandava uma guerra. 

Ochoa foi preso dois meses depois da visita de Gorbachev, sob a acusação de comandar as operações de tráfico de drogas do Cartel de Medellín. Em 25 de junho, começou a encenação de um processo, durante quatro dias. Fidel presidiu a encenação no anonimato, dirigindo secretamente as sessões, instalado confortavelmente em uma sala do prédio onde se desenrolou a encenação. 

Mario Riva, ex-tenente-coronel do Exército cubano e que migrou para Portugal, afirma que Arnaldo Ochoa foi usado como bode expiatório, que Fidel aproveitou para se livrar dele devido às críticas que Ochoa vinha fazendo ao regime, e que Ochoa assumiu a liderança do narcotráfico para salvar a vida de seus familiares, que seriam massacrados se ele não colaborasse. 

Eu tinha conhecimento dos aviões que aterrissavam em Cuba vindos da América Central, mas Ochoa, não – afirmou Tony de La Guardia, também executado, e que estava realmente envolvido no tráfico, segundo Mario Riva, em declaração ao jornal Diário de Notícias, de Portugal, edição de 13 de julho de 2009. 

No livro El Magnífico — 20 Ans au Service Secret de Castro, Juan Vivés, ex-agente do serviço secreto cubano, afirma que Raúl Castro era o chefe do acordo com Pablo Escobar. Vivés revelou que Raúl mantinha ainda relações com narcotraficantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e que os sandinistas da Nicarágua estavam também envolvidos com o narcotráfico, por meio do capitão cubano Jorge Martínez, subalterno de Ochoa, e contato entre Raúl Castro, o ex-presidente nicaraguense Daniel Ortega e Pablo Escobar. 

Um lote dos acusados foi assassinado ante o pelotão de fuzilamento e outro lote morreu na prisão. As prisões de Cuba são matadouros. Ochoa, juntamente com mais três condenados à morte, foi assassinado pelo pelotão de fuzilamento no dia 13 de julho de 1989, uma quinta-feira, por volta das 2 horas, no aeroporto de Baracoa, em Havana. 

Assim, os irmãos Castro se livravam de uma invasão americana e prisão perpétua nos Estados Unidos, e ainda afastaram Arnaldo Ochoa da sucessão de Fidel. 

– Um homem dominado pela febre do poder absoluto e pelo desprezo ao povo cubano – declarou o guarda-costas de Fidel, Juan Reinaldo Sánchez. 

Fidel precisava, desesperadamente, pensar em novo meio de manter sua boa vida. Sem a União Soviética e o Cartel de Medellín, tirar dinheiro de onde? E que tal sua própria União Soviética? A solução: o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, também ególatra, narcisista e ávido por poder e fama, se bem trabalhado tinha potencial para se tornar presidente do Brasil, o celeiro do mundo e maior país da Ibero-América, um continente que poderia se tornar a União Soviética tropical, um grande puteiro das esquerdas. Era só criarem um organismo que, a exemplo do Comintern de Lênin, serviria para apoiar movimentos comunistas em todo o continente, para o que só precisariam criar uma base de apoio confiável e com gente confiável. 

Foi aí que Fidel teve a ideia de pôr as garras no Brasil, associando-se a Lula. E assim eclodiu mais um ovo da serpente: o Foro de São Paulo. 

Sob a inspiração de Fidel Castro, Lula realizou um encontro, de 1 a 4 de julho de 1990, no extinto Hotel Danúbio, em São Paulo, reunindo 48 partidos políticos e organizações de esquerda, guerrilheiros e narcotraficantes, de 14 países latino-americanos e caribenhos, visando debater o mundo pós-queda do Muro de Berlim, que foi pulverizado em 1989. O mote central era: como fazer frente aos Estados Unidos? O Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe ficou conhecido como Foro de São Paulo. 

O próximo passo era tornar Lula presidente da República. Jorrou dinheiro para isso, e, em 1 de janeiro de 2003, Lula chega à Presidência da República, por meio de urnas eletrônica, impossíveis de auditar, e começa a aparelhar o Estado, mas, em 6 de junho de 2005, é flagrado em um esquema de compra de votos no Congresso Nacional, o Mensalão, manejado pelo ministro-chefe da Casa Civil, o deputado José Dirceu, condenado, em 2012, a 10 anos e 10 meses de prisão. 

Porém, Lula já havia armado uma blindagem em torno de si que dificilmente seria rompida, e, novamente com urnas eletrônicas que não poderiam ser auditadas, se reelege, em 2006, e, em 2010, faz sua sucessora, a ex-guerrilheira Dilma Vana Rousseff, reeleita, com as famigeradas urnas eletrônicas, em 26 de outubro de 2014. Em 2016, Dilma é afastada da Presidência da República em processo de impeachment. O PT estava fora do poder, mas Lula já havia aparelhado tudo, incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF). Assume o vice-presidente, Michel Temer, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que nomeia como ministro da Justiça e Segurança Pública o professor Alexandre de Moraes, em sinal de gratidão por Moraes ter impedido a publicação de fotos da bela jovem esposa de Temer, Marcela, de lingerie. 

Em 2016, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o telhadista e hacker Silvonei José de Jesus Souza comprou, na Rua Santa Efigênia, epicentro do comércio eletrônico de São Paulo, um CD com informações sobre centenas de pessoas, entre as quais Marcela Temer, de quem invadiu o celular e localizou o telefone do irmão dela. Passando-se por Marcela, imitando seu estilo de texto, enviou uma mensagem ao irmão dela pedindo dinheiro emprestado para fechar um negócio. O irmão de Marcela respondeu que não tinha todo o dinheiro, mas que poderia transferir 15 mil reais, e fez a transferência. Aí, Silvonei descobriu que Marcela era a esposa do vice-presidente, prestes a se tornar presidente, e então fez contato diretamente com ela, exigindo 300 mil reais para não divulgar fotos íntimas dela e mensagens comprometedoras. Marcela gelou. 

Alexandre de Moraes, secretário de Segurança Pública de São Paulo, ordenou ao Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) que resolvesse o caso para ontem. Foi criada uma força-tarefa sob o comando do delegado especial Rafael Correa. 

Em 11 de maio de 2016, 40 policiais à paisana em 11 carros cercaram a casa de Silvonei, no bairro de Heliópolis, em São Paulo, e prenderam a mulher dele, no momento em que ela saía para levar o filho para a creche. Pegaram o telefone dela e enviaram uma mensagem a Silvonei, identificando sua localização, e o prenderam também. Ambos foram levados para a cadeia, após decisão do juiz que coordenava o Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), Antônio Carlos Patiños Zorz, que escreveu, no mandado de prisão, que o casal mantinha uma “organização notável”, em uma cidade que é “fértil campo para que marginais da pior espécie disseminem o terror, a violência e a maldade”. 

O chantagista foi preso em 40 dias e as fotos de Marcela jamais vieram a público. O processo correu a mil por hora e a sentença foi exagerada: 5 anos, 10 meses e 25 dias no presídio de Tremembé, em regime fechado, condenado por estelionato e extorsão. 

Quando Silvonei foi preso, Michel Temer estava quase para assumir a Presidência da República, e, quando assumiu, foi grato a Alexandre de Moraes, dando-lhe o Ministério da Justiça e, depois, o Supremo Tribunal Federal. 

Michel Temer e Alexandre de Moraes já eram velhos conhecidos, havia mais de 20 anos. 

Alexandre de Moraes foi promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, de 1991 a 2002; secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, nomeado pelo governador Geraldo Alckmin, de 2002 a 2005; e secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, de 2014 a 2016, nomeado novamente pelo governador Geraldo Alckmin. Em 12 de maio de 2016, Alexandre de Moraes assume o Ministério da Justiça. Em 2017, Temer indica Moraes para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), na vaga do ministro Teori Zavascki, que morrera em acidente aéreo desconcertante, em 19 de janeiro de 2017.

Donald Trump Strikes the Serpent’s Egg: The São Paulo Forum

RAY CUNHA/CHATGPT

BRASÍLIA, NOVEMBER 6, 2025 – Ibero-America, especially Brazil, is under the fiercest attack ever launched by the global communist mafia. Yet the world leader of the Right, the President of the United States, Donald Trump, responds with full force — economic, technological, and military — striking at the serpent’s egg itself: the São Paulo Forum, conceived by Fidel Castro and Lula da Silva to erase the United States from the map. What follows is an excerpt from the book THE EYE OF THE BULL.

The Serpent’s Egg hatched on February 10, 1980, at Colégio Sion, in São Paulo, when a band of communists, labor leaders, guerrillas, pseudo-intellectuals — as former spy and writer Jorge Bessa once called them — artists, and Liberation Theology militants founded the Workers’ Party (PT). From that nest crawled Lula da Silva, the nine-clawed hyena, engineer of the São Paulo Forum, following the designs of its chief architect: Fidel Castro.

Late 1988. Fidel Castro, dictator of Cuba, sits in his office at the Palacio de la Revolución in Havana with his Minister of the Interior, General José Abrantes, one of his most trusted men. The subject: cocaine trafficking from Pablo Escobar’s Medellín Cartel to the United States — as later revealed by Juan Reinaldo Sánchez, Castro’s bodyguard for seventeen years, in his memoir The Secret Life of Fidel.

Three years earlier, in March 1985, Mikhail Gorbachev had taken command of the Soviet Union and tried to save the empire by cutting expenses and turning toward capitalism. On April 2, 1989, the Soviet leader landed in Havana and informed Fidel that the USSR could no longer subsidize Cuba in exchange for maintaining a Soviet outpost at America’s doorstep. The Soviet Union was dying, devoured by its own communism. Fidel turned pale. He had grown accustomed to feeding on the generous Soviet teat, becoming, thanks to communism, one of the world’s great playboys.

By then, Soviet aid to Cuba had already been drastically reduced. To keep his paradise of the Left alive, Fidel turned to drug trafficking. The Medellín Cartel’s dollars became the last fuel of the revolutionary dream. Shielded by his international fame as the man who defied America, Fidel made a pact with Colombian traffickers, turning Cuba into the main commercial hub for cocaine headed to the United States.

But 1989 would bring another blow. The mighty Drug Enforcement Administration — the DEA — uncovered the entire network through Cuban detainees in the U.S., who confessed everything. The DEA’s investigation reached the heart of the Cuban government and the Medellín Cartel itself.

John Jairo Velásquez, known as “Popeye,” Escobar’s lieutenant and confidant of Fidel, told journalist Astrid Legarda — in her book The Real Pablo — that the Castro brothers were deeply involved in Escobar’s trade. Raúl Castro, Fidel’s brother and successor, personally received shipments of 10 to 15 tons of cocaine per operation, shielded by his position as head of the Armed Forces.

When Fidel realized the DEA knew everything, he panicked — but thought fast. To save himself and kill two birds with one stone, he devised a diabolical plan. According to British historian Richard Gott, in Cuba: A New History, the Castro brothers accused General Arnaldo Ochoa to deflect blame and avoid extradition.

Ochoa was no ordinary man. Hero of the revolution, the most decorated soldier in Cuban history, commander in Angola — he was seen as the “Fidel Castro of Perestroika.” That made him dangerous. So Fidel destroyed him, accusing him of commanding drug operations with Escobar — “high treason against the homeland and the revolution.”

The Cuban newspaper Granma announced an investigation. On June 12, 1989, the arrests began: five generals, including Minister José Abrantes, fifteen senior officers, and several Interior Ministry officials — all indeed involved in trafficking, but all following Fidel’s orders. Among them was Ochoa himself, arrested two months after Gorbachev’s visit.

On June 25, a four-day show trial began. Fidel, hidden from view, directed the spectacle from a nearby room. According to former Cuban lieutenant colonel Mario Riva, who defected to Portugal, Ochoa was a scapegoat. He confessed to save his family from execution. “I knew about planes landing from Central America — Ochoa did not,” declared Tony de la Guardia, who was indeed involved and was executed as well.

In El Magnífico — 20 Years in Castro’s Secret Service, ex-agent Juan Vivés revealed that Raúl Castro was in charge of the pact with Escobar and maintained ties with Colombia’s FARC and Nicaragua’s Sandinistas through Captain Jorge Martínez.

A batch of the accused was executed by firing squad; others perished in prison — slaughterhouses of human flesh. Ochoa was executed at 2 a.m., July 13, 1989, at Baracoa Airport, Havana. Thus the Castro brothers avoided an American invasion — and removed Ochoa from the line of succession.

“A man consumed by the fever of absolute power and contempt for his people,” said Juan Reinaldo Sánchez, Fidel’s bodyguard.

Now Fidel needed a new source of wealth. Without the Soviet teat and Escobar’s dollars, how would he sustain his empire of pleasures? He needed his own Soviet Union. And so emerged the Brazilian trade-unionist Luiz Inácio Lula da Silva — egocentric, narcissistic, power-hungry. Properly molded, he could become president of Brazil, granary of the world and giant of Ibero-America — the perfect tropical USSR, a grand brothel of the Left. All Fidel needed was an organization, a Comintern reborn in Latin America, with a trustworthy base and loyal men.

Thus Fidel reached his claws into Brazil, joining forces with Lula. And another serpent’s egg hatched: the São Paulo Forum.

Under Fidel’s inspiration, Lula organized a meeting from July 1 to 4, 1990, at the extinct Hotel Danúbio, São Paulo — gathering 48 left-wing parties, guerrilla groups, and traffickers from 14 Latin American and Caribbean nations. The agenda: how to face the United States in the post–Berlin Wall world. The meeting became known as The São Paulo Forum.

The next step: make Lula president. Money flowed like a river. On January 1, 2003, he reached the presidency through unauditable electronic voting machines and began to seize the state apparatus. In 2005, the Mensalão scandal erupted — a massive vote-buying scheme run by José Dirceu, his Chief of Staff, later sentenced to prison.

But Lula had already built his armor — impossible to pierce. Reelected in 2006, he installed his successor, the former guerrilla Dilma Rousseff, in 2010. Reelected again in 2014, Dilma was impeached in 2016, yet the Workers’ Party remained entrenched in the judiciary and bureaucracy — especially the Supreme Federal Court.

Vice President Michel Temer assumed power and appointed his ally Alexandre de Moraes as Minister of Justice — the same Moraes who had shielded Temer’s wife, Marcela, from a blackmail scandal.

In May 2016, police raided Heliópolis and arrested hacker Silvonei José de Jesus Souza, who had extorted Marcela after stealing her private data. The case was solved in forty days; the blackmailer sentenced to five years in prison. Gratitude sealed Temer’s loyalty: Moraes became Minister of Justice — and, in 2017, a Supreme Court Justice, nominated after the mysterious plane crash that killed Minister Teori Zavascki.

And so, in this vast tropical chessboard, the same shadow still moves the pieces — born from the Serpent’s Egg that cracked open in São Paulo, February 1980.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Estou só, na tarde, à espera do genuíno mistério


RAY CUNHA

A tarde é sempre cheia de mistérios, e estou só. Visto uma camisa branca, de algodão, calças e blazer azuis, de linho, e sapatos pretos, de couro. Meu rosto está bem barbeado e recendo a La Nuit de L’home, e, assim, misturo-me aos murmúrios e cheiros da tarde.

Fragrâncias do mar, vindas do meu coração, amalgamam-se ao perfume das virgens ruivas. A tarde é azul como uma tela de Olivar Cunha. Ouço sussurros, imagino o roçar dos lábios de uma mulher de olhos verdes, mas sei que são apenas sons da tarde. 

Estou só, na tarde, pois minha amada viajou. Assim, navego o rio da tarde ao encontro da noite. Meus passos me levam a um café no Setor Hoteleiro Sul. Há tantas mulheres lindas no café! Duas conversam sentadas em um sofá. Uma é loira e seus olhos são azuis como a tarde; a outra é ruiva, e seus olhos se confundem com esmeraldas. Riem. Seus risos são cristalinos como crianças recém-lavadas ao sol matinal da primavera. Conversam tão animadamente que seus lábios, grandes e vermelhos, parecem uma dança. Conversam em russo e francês. 

Degusto o primeiro coquetel do dia. Preparo-me para a noite. A tarde agoniza. Morre como uma rosa, que deixa eterno rastro de luz. Assim desliza o rio da tarde. Logo a cidade será um transatlântico iluminado, com as criaturas mais esplendorosas do Universo, que são as mulheres, espargindo perfume, como jasmineiros em tórridas noites em Manaus. 

Uma jovem mulher passa ao meu lado, quase roçando em mim. Volto-me para vê-la. É uma negra em vestido de seda; lembra-me uma que vi na Estação das Docas, em Belém. Talvez fosse da Guiana Francesa, ou de Trinidad e Tobago, ou da Martinica. Falar em Martinica, se Hemingway estivesse aqui comigo eu o convidaria para pescar ao largo de Sucuriju, no Amapá. 

Bem que Fernando Canto poderia estar comigo nesta tarde, que morre. Mas o poeta tem suas próprias tardes, que são, certamente, emersas no perfume e tepidez cafuza. Não tenho nem Hemingway, nem Fernando Canto, nem a mulher amada. Só me resta esperar mais um pouco a noite. 

Ela chega suavemente, sua luz ofuscante entra nos meus sentidos e me conduz à dimensão do mistério. Nunca estamos preparados para o genuíno mistério, prenhe de possibilidades infinitas, a noite.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Cai a noite na minha alma

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 3 DE NOVEMBRO DE 2025 – O poeta Isnard Brandão Lima Filho ofertava rosas para a madrugada, quando, na sua alma, a noite caía, noite de tormenta, trechos tortuosos do caminho, quando a força se esvai e já não suamos água, mas sangue. Só podemos dar o que temos, e era o que tinha o poeta, rosas. 

Às vezes, cai a noite na minha alma. Sem astrolábio, navego na escuridão. Não reclamo. Não emito som algum. Apenas espero, como quem olha para uma parede horas a fio. Então, percebo que faz escuro na minha alma. Ah! se uma quantidade absurda de estrelas cintilasse no meu olhar! – penso. Mas quando nos sentimos assim, afogados na noite da vida e no silêncio, não há estrelas. 

Porém não há noite que não termine. Massaharu Taniguchi alertou: a hora mais escura antecede a manhã. Sei também que depois da tempestade vem a bonança. De modo que se sobrevivemos ao negror, ao silêncio e à tempestade, se pisamos terra firme ao sol, é porque começa a primavera. Pode ser a última primavera, mas primavera. 

Os sobreviventes não têm mais vícios, nem apego, são livres como leões de asas, como a luz, os elétrons, vão aonde querem e nada pode matá-los, nem deixá-los tristes. Poeta, farei como tu, ofertarei rosas para a madrugada, e também o azul, além de uma pedra de rubi que garimpei no meu coração. 

A escuridão e o silêncio são os trechos de difícil transposição no caminho, com abismos, desertos, noites eternas. Então, o passado volta para nos resgatar. Perfume de jasmineiros, risos de crianças, cheiro de maresia, o sabor da mulher amada, os livros que lemos e relemos incansavelmente, merengue, mambo, o Concerto Para Piano e Orquestra em Ré Menor, de Mozart. 

Há muitas coisas que eu queria fazer e não pude, como, por exemplo, já adulto, bater papo com meu pai em um bar, e sonhar com tudo o que ele me contaria. Também gostaria de bater papo com Ernert Hemingway, bebendo daiquiri. E se pudesse voltar à juventude pediria perdão à cada mulher que fiz chorar, porque eu era uma besta quadrada. 

Se ainda fosse possível, eu seria paraquedista, atiraria bem e seria exímio em kendo, escalaria o Pico da Neblina e pescaria no Arquipélago das Cagarras. E uma coisa que certamente faria seria ler muito mais do que já li, pois ler é a viagem mais top. 

Pensando bem, quando cai a noite na minha alma, basta beijar a mulher amada, procurar, na minha estante, um desses livros cheios de mistérios e luzes, e tomar cerveja com José Aparecido Ribeiro, em Belo Horizonte, bater perna em Copacabana, tomar tacacá na Avenida Nazaré, em Belém, e visitar a casa de Fernando Canto, em Macapá, para apreciar telas de Olivar Cunha. O melhor de tudo é o encontro com os personagens que nascem de madrugada. 

De modo que só cai a noite na alma de um escritor quando ele está impedido de escrever, e um escritor classe A escreve mesmo que esteja preso em uma penitenciária, até doente em uma cama. Escreverá, mesmo assim, enquanto tiver força. 

Quando a noite cai sem estrelas, sem rosas, sem a voz da mulher amada, basta lembrar-se que as noites, todas elas, são navios feéricos, pois escritores contam sempre com uma estante, um computador, uma galáxia de imaginação.

sábado, 1 de novembro de 2025

EUA já estão em guerra contra o Brasil e outros narcoestados. Uma imprensa sem rabo-preso

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 1 DE NOVEMBRO DE 2025 – O termo narcoestado, narcocapitalismo ou narcoeconomia, foi usado pela primeira vez depois do golpe de Luis García Meza, em 1980, na Bolívia, financiado por chefões do tráfico de drogas. Segundo Hugo Armando Carvajal Barrios, El Pollo, general venezuelano que foi chefe da Inteligência de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro e um dos chefões do Cartel de los Soles, preso nos Estados Unidos, o presidente Lula da Silva recebeu dinheiro do narcotráfico para campanhas políticas, bem como o Foro de São Paulo.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do Partido Republicano, descobriu que ex-presidentes democratas vinham apoiando a Esquerda latino-americana e ditadores. Por extensão, estavam apoiando o narcotráfico, porque os ditadores da Ibero-América, todos eles, vivem do narcotráfico. Para a Esquerda mundial isso é bom, pois inundam os Estados Unidos com drogas, acabam com famílias e a juventude, e só assim poderão, finalmente, concretizar o sonho dos comunistas: varrer os Estados Unidos do mapa.

Trump fez esta leitura e, como um dos maiores estrategistas pós-modernos da História, abriu fogo. Porém, as guerras atuais não são como os comunistas, que vivem em 1917, pensam. As guerras de hoje são econômicas e tecnológicas. Os Estados Unidos gastam, atualmente, um trilhão de dólares em defesa, e detém a mais moderna e poderosa artilharia do planeta.

Vejam o caso da Venezuela. Está cercada, por terra, água e ar. A hiena venezuelana, Nicolás Maduro, será capturada como quem pega um rato na ratoeira ou uma barata com uma chinelada. A chinelada poderá deixá-lo apenas tonto, e ele ser capturado vivo, ou esmagá-lo. Por enquanto, Trump vem explodindo embarcações venezuelanas entupidas de drogas, no Caribe. Logo, fará ataques cirúrgicos em território venezuelano, como fez, recentemente, no Irã, Estado terroristas com quem Lula anda de braços dados.

Quanto ao Brasil, Trump considera as máfias Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) organizações terroristas, assim como a Argentina e o Paraguai também consideram, e vem cercando a ditadura tupiniquim econômica e tecnologicamente. Não se enganem, quando for necessário, haverá também ataques cirúrgicos no Brasil.

Outro problema da ditadura é que alguns Estados da Federação estão se insubordinando contra os desmandos autoritários. As Forças Armadas ocuparão esses Estados? Tio Sam ficará de braços cruzados? Ou enviará o USS Gerald R. Ford e um USS Seawolf para a Amazônia Azul?

Outro problema que os comunistas brasileiros enfrentam, atualmente, é que a Direita se organizou, lendo o filósofo Olavo de Carvalho, entendeu o estrago que o italiano Antonio Gramsci promoveu e está atacando a Esquerda com uma dose cavalar de antídoto, a verdade, contra o veneno de Gramsci, a mentira.

Durante o contragolpe dos generais (1964-1985) contra a iminência de golpe dos comunistas, a Direita não produziu absolutamente nada, nenhuma propaganda conservadora, enquanto a Esquerda aparelhava imprensa, universidade e artistas. Os militares anistiaram todos os esquerdistas, incluindo assassinos, ladrões e sequestradores.

Nem bem o patrimonialista José Sarney assumiu a presidência da República os comunistas começaram a trabalhar para tomar o poder. Aí, o esquerdista Fernando Henrique Cardoso, da Social Democracia Brasileira (PSDB), uma espécie de Partido dos Trabalhadores (PT) camuflado, elegeu-se presidente e ficou no poder de 1995 a 2003, apoiou Lula da Silva (PT) e deu no que deu, Lula chegou ao poder e nele está até hoje, embora condenado por corrupção e preso, mas solto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Pois bem, a velha imprensa, especialmente a TV Globo, tornou-se porta-voz dos comunistas, mas surgiu uma imprensa impossível de ser suprimida e que é o terror das ditaduras: as redes sociais. É nelas que jornalistas autênticos, éticos e justos, trabalham, jogando luz nas trevas da bandidagem, do narcotráfico, da ditadura, do comunismo. Jornalistas vêm se organizando em canais do YouTube, como o Timeline, e em entidades, como a Associação Brasileira de Jornalistas Independentes e Afiliados (Ajoia), sediada em Belo Horizonte, da qual sou associado.

A busca da verdade é uma luta do bem contra o mal, da luz contra as trevas. Apoiar narcotraficantes, terroristas, ladrões de colarinho branco, o crime organizado, é cumplicidade; combatê-los é acreditar em soberania, liberdade.

Há dois livros que esmiúçam o presente artigo: O CLUBE DOS ONIPOTENTES e O OLHO DO TOURO. Trata-se de uma trilogia, e o terceiro volume será publicado em 2026.

Brasília sediará congresso de jornalistas de turismo, em 2026. Os mortos é que estão vivos

Reunião no Libert Mall: Wera Rakowitsch, Wílon Wander
Lopes, Ray Cunha, Luiz Pires e 
Aneris Alves dos Santos 

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 31 DE OUTUBRO DE 2025 – A Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet), Seccional do DF, costuma se reunir em um dos locais mais aprazíveis de Brasília: o shopping Liberty Mall (Centro Comercial Liberdade). Localizado no Setor Comercial Norte (SCN), a poucos minutos da Rodoviária do Plano Piloto, conta com segurança, temperatura agradável, cafés, restaurantes, dois cinemas de arte e um espaço cultural, que é onde nos reunimos.

Ontem, tivemos a primeira reunião para tratar do quadragésimo primeiro congresso anual da Abrajet, que será realizado provavelmente em novembro de 2026, com total apoio do Governo do Distrito Federal (GDF). À reunião, compareceram o presidente nacional, Luiz Pires; o presidente distrital, Wílon Wander Lopes; a diretora de Eventos, Wera Rakowitsch; a secretária executiva, Aneris Alves dos Santos; e eu, vice-presidente.

O Congresso da Abrajet é o evento brasileiro mais importante na área de turismo, pois reúne mais de 200 jornalistas e profissionais da indústria do turismo de todo o país. Os associados estão comprometidos não só com a divulgação dos polos turísticos do Brasil, mas também com a infraestrutura da indústria turística e com a legislação. Assim, influem no trade turístico, veiculando reportagens, artigos e vídeos nos diversos meios de comunicação social.

Em Brasília, além das visitas técnicas relativas à história da construção de Brasília e de sua arquitetura peculiar, os jornalistas conhecerão a rota do vinho (sabiam que o DF é premiado em Paris com vinho produzido, aqui?), o Lago Paranoá, o Teatro Nacional Cláudio Santoro; uma das mais belas catedrais do mundo; e, certamente, o Congresso Nacional. Por que uma bacia é emborcada e a outra está de boca para cima?

Também o escritor e crítico literário Maurício Melo Júnior, que é abrajetiano, fará uma palestra sobre a literatura candanga, bem como Wílon Wander Lopes, nosso presidente, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF), falará sobre Brasília e o Distrito Federal.

Aos sábados, de manhã, realizo trabalho voluntário como terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa, juntamente com o grupo de terapeutas do Ambulatório Fernando Hessen, no Centro Comunitário da Candangolândia, sob a coordenação do professor Ricardo André. Hoje, não fui. Fui às Ceasa (Centrais de Abastecimento), grandes mercados atacadistas que funcionam como um elo entre o produtor e compradores, ajudando a escoar a produção e a oferecer produtos de qualidade e mais em conta. Criadas no início da década de 1970, pelo Governo Federal, hoje, estão presentes em todo o Brasil.

Vivi em Belém do Pará uma década e meia, e um dos meus programas favoritos era tomar café da manhã no Ver-O-Peso, a maior feira livre da Ibero-América. Depois do desjejum, ainda cedo da manhã, ia ver os peixes. Os pirarucus, de dois metros, estendidos nos balcões de mármore, com suas escamas brilhando como pedras preciosas, a cauda tocando o chão, são os mais bonitos. Meros, os de 300 quilos, são também maravilhosos. Há as pescadas, os tambaquis, os tucunarés, os filhotes, a piramutabas, os tamuatás, os maparás. Também gostava de ver as frutas.

Aos sábados, nas Ceasa de Brasília, que ficam no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), há um galpão central, conhecido como Pedra, onde produtores locais vendem de tudo. É um espetáculo! As frutas, todo tipo de fruta tropical, são simplesmente lindas, e há peixes, também, iguarias mineiras e até paraenses, como açaí, pupunha, empada de camarão e, acreditem, tacacá, servido em torno das 10 horas na banca da paraense Rosana Mota.

Comprei orquídeas lilases para os mortos. Os mortos é que estão vivos. A Humanidade é uma experiência do espírito na matéria, que é impermanente e morre. Os espíritos reencarnam até alcançarem a liberdade. O que é liberdade?! É quando vencemos todos os vícios e nos desapegamos de tudo. Então ascendemos. Há médiuns capacitados a realizar projeção astral, ou desdobramento, que é a experiência de se sentir fora do corpo físico, com a consciência se deslocando para outro plano.

Imagine desdobrar-se e encontrar Fernando Canto, Ernest Hemingway, Wolfgang Amadeus Mozart, Van Gogh, Albert Einstein, Nikola Tesla... Eu faria uma farra com Fernando Canto e Hemingway. Falaríamos sobre grandes peixes. De Mozart, ouviria seu mais recente concerto. A mesma coisa com Van Gogh. Se Van Gogh ainda está no astral imagino o que ele anda pintando! Nikola certamente falaria sobre os espíritos e Einstein, sobre Deus.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O clube dos onipotentes

Ponte JK, DF (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

RAY CUNHA

De vez em quando vou ao Congresso Nacional para fazer algum freelance. Até certo tempo atrás, passava boa parte do dia, lá, cobrindo as atividades para jornal ou portal, ou assessorando parlamentares. Para um escritor, o Congresso é um laboratório, pois abriga uma fauna riquíssima em tipos, capaz de satisfazer os mais criativos ficcionistas. Foi assim que conheci um senador inesquecível, que evoca aquele fedor de ácido úrico que, às vezes, sentimos nas paradas de ônibus. 

Era o tipo que carrega consigo, sempre, uma saca de confete. Seu corpanzil esparramado na poltrona atrás da sua mesa de trabalho lembrava um animal híbrido, com cabeça de ratazana e, do pescoço aos pequenos pés, um yorkshire. Quem o via, mesmo uma única vez, jamais o esquecia, muito menos quem convivia com ele; aí, se tornavam puxa-sacos, embora cultivassem contra ele o sentimento que oscila da bajulação ao ódio, movidos pelo interesse, pois só assim era possível conviver com ele, já que seria impossível sentir amor por uma criatura tão mesquinha e odiosa. 

Nesses casos, o interesse transforma os interessados em diplomatas, sempre com um facão mental pronto para o golpe, com a peixeira entrando pela saboneteira e mergulhando até o coração. Mas, para não exaurir a fonte de corrupção, vão golpeando aos pouquinhos o objeto do seu ódio contido, procurando tirar alguma espécie de proveito, alimentando a esperança de vê-lo exangue, pilhado, morto. Um jogo no esgoto. 

O senador era quase uma unanimidade, incensado pela imprensa setorizada no Congresso Nacional. Os que transcendiam o olhar de mero jornalista logo percebiam o jogo. Se os gabinetes dos senadores do baixo clero são conjuntos principescos de salas, os gabinetes dos incensados pela mídia são mais impressionantes ainda, caso do senador em questão. Seu gabinete estava sempre de portas abertas para jornalistas, à disposição para a prestação dos mais variados serviços, de xeroxes a telefonemas internacionais e passagens aéreas, até presentes em dinheiro, o que alguns repórteres adoravam, e se entregavam ao jogo com o mesmo brilho nos olhos dos glutões nos banquetes. 

Falar em glutão, essa era outra das características do senador que o tornavam tão inesquecível, e ultrajante. Ele praticamente não mastigava. Comia no almoço, facilmente, um quilo de boia, que ia se acamar numa pança roliça, um tonel, rijo de tão inflado, o intestino grosso transformado em uma fossa, com, seguramente, meia centena de quilos de dejetos presos nas dobras da tripa, somados aos 100 quilos de peso do paquiderme, muitos dos quais armazenados na barriga, fígado, quadris e coxas. 

Outro fator impressionante era sua história, real ou imaginária, que ele contava para a plateia amestrada. Afirmava que herdara do seu pai, desempregado crônico, sua prodigiosa energia sexual e instrumento asinino, e, da mãe, dona de um mercadinho, o tino para os negócios. O fato é que desenvolveu o desprezo com que tratava as mulheres observando como seu pai se comportava com sua mãe; ela passava o dia trabalhando e era trabalhada, assim que se deitava, por um macho bem-disposto. Ela costumava dormir quase que imediatamente, embora mantivesse a consciência de que era penetrada ardência no dia seguinte. 

– Meus caros, diletos amigos, chegou a hora de nos assenhorearmos deste fabuloso país, chegou a hora de ocuparmos nosso bunker, o bunker da elite do sistema, que somos nós. Precisamos terminar de construir nossa Havana, cercando a Praça dos Três Poderes com uma verdadeira Muralha da China. Precisamos, juntamente com Lula no Palácio do Planalto, instalar logo a ditadura totalitária e se espojar em uma bacanal jamais sonhada, tudo com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, e da burra, é claro – ele disse, segundo me foi descrito pelo seu segurança, que era gente minha. 

Ele continuou: 

– Tudo será pago: os estacionamentos públicos, a manutenção dos cemitérios, o setor de saúde, a segurança, a exploração de água, esgoto e luz, alimentos a materiais em geral utilizados no setor público, principalmente nas escolas e hospitais, e partilharemos as terras devolutas – o animal híbrido fez uma pausa e olhou para a plateia. Tinha consciência de que a fala de radialista era sua melhor ferramenta; mastigava as palavras, burilava-as, tornava-as uma mentira convincente para ele mesmo. Treinara a exaustão o falar com fluência, flexionando os verbos e os pronomes corretamente. 

À mesa, à frente e à direita do senador, estava o bilionário mineiro Boca Mole, que parecia beber as palavras sopradas pelo paquiderme. Boca segurava impecável lenço de linho branco para limpar a baba que teimava em escapulir entre os lábios frouxos; às vezes, lambia os beiços arroxeados com uma língua de boi. Comentava-se que tinha uma ferramenta tão poderosa quanto a língua, e que era mais perigoso, nesse quesito, do que o senador, pois não deixava escapar nem o diabo de saia. 

Fizera fortuna durante a construção de Brasília, afinal, sempre estivera certo de que o DF estava destinado aos mineiros; não fora um mineiro que demarcara o Distrito Federal e construíra Brasília? E não se tirou sequer um naco de Minas Gerais; o DF foi arrancado, ou melhor, implantado, em Goiás. O senador seria apenas mais uma catapulta para seus negócios, rumo a se tornar o homem mais rico do país. Aquele porco catapultaria seus negócios de tal maneira que lhe dava a perspectiva de se tornar até o homem mais rico do mundo. 

À esquerda do senador, o rei do transporte público, goiano, fumava um Cohiba. Mandara fazer implante de cabelos e pintava-os, juntamente com os que lhe restavam, tão negros que resvalavam para um tom azulado. Os cabelos ralos e manchas escuras que lhe malhavam o rosto encovado lhe davam aspecto sinistro. Comentava-se que teria mandado matar o pé de pano que dava à mulher dele o que ele não podia mais proporcionar a uma potra meio século mais jovem. 

Entre os dois, flutuava a deputada, mineira, dona de uma das maiores empresas de segurança e limpeza do país. Lembrava Jéssica Rabbit; toda vez que Boca Mole olhava para ela a baba teimava em sair dos lábios em prolapso. Seguramente, um bom naco do país pertencia àquele quarteto. 

No outro lado do salão, perto da porta principal, o segurança e motorista do senador, homem de sua estrita confiança, estava sentado numa poltrona, imóvel como uma estátua, de óculos escuros e empacotado em um terno preto de nylon. Tinha cerca de 50 anos e lembrava todinho um búfalo com garras de leão. Estava ali, imóvel como uma estátua, mas era capaz de ouvir até sussurros e podia enxergar através das paredes, por meio do faro. Dizia-se descendente de Lampião e havia o boato de que estripara uma família inteira em Pernambuco, antes de migrar para Brasília, onde foi acolhido pelo senador. 

Chegou a Brasília no fim dos anos 1980, atraído pelo lote, pão, leite, hospital e escola que o governador Joaquim Roriz estava oferecendo para migrantes de todo o Brasil, que formariam seu curral eleitoral ao transformar o Distrito Federal em Estado. Na época, o senador ainda não era senador; tinha um devezenquandário. Quando viu Lampião reconheceu de imediato que aquele gigante tinha potencial para se tornar seu segurança e motorista, e, se precisasse, matador. 

Acolheu o búfalo, que viera com mulher e um casal de crianças, e providenciou-lhe aula de volante e um curso especial em uma empresa de segurança, onde Lampião se aprimorou zelosamente em artes marciais e armas brancas – principalmente katana, pois um de seus instrutores era mestre em espada japonesa –, e de fogo, além do curso de Direito no Centro Universitário de Brasília (Ceub). 

Nessa época, o sócio do futuro senador no devezenquandário sacou o que estava acontecendo e publicou uma matéria profética sobre o inchaço que Brasília viria a sofrer. Foi um tiro no pé; ou melhor, no timo, o que se tornou a marca registrada de Lampião. 

– Para isso, meus irmãos, para que tomemos conta deste país, para que este país seja completamente nosso, para que possamos fazer o que quisermos no nosso país, para que nos tornemos intocáveis no nosso país, precisamos tomar posse, de fato, dele; e eu sou o homem que vai nos proporcionar essa chegada total ao poder. 

Fez uma pausa, e continuou. 

– Mas, para que nos tornemos – fez outra pausa –, para que nos tornemos onipotentes, sim, onipotentes, precisamos acabar com ele, vocês sabem quem, e fortalecer o nosso grande comandante. Para isso, senhores, precisamos depositar, cada um de nós, um milhão de reais na conta do nosso clube, dinheiro que será usado, desde agora, para derrubar... vocês sabem quem, para extirpar da Humanidade a ameaça que paira na Esplanada dos Ministérios, e que deveria ter sido arrastado para o inferno, mas que sobreviveu graças à incompetência de terceiros. 

Fez de novo uma pausa. 

– Também precisamos, desde agora, planejar a campanha vitoriosa e eleger nosso líder, além de mim, e o máximo de deputados e senadores. Aqui está o número da conta em que deverão depositar o dinheiro – o senador passou um papel com as anotações para cada um deles. E voltou a falar. 

– É claro que, assim como nós, há, no Brasil inteiro, alguns líderes, homens de bem, trabalhando para recolocarmos nosso grande chefão de volta de onde ele nunca deveria ter saído; o trabalho principal ficará a cargo da quase uma dúzia de aves de rapina que pousam na Praça dos Três Poderes. Nessas alturas dos acontecimentos, o palhaço não será eliminado fisicamente, mas desmoralizado e, mais para a frente, apodrecerá na prisão. Morrerá pelo desgaste, e levará consigo seus filhotes para o inferno. 

Silêncio. 

– E as forças...? Você sabe... – Jessica Rabbit perguntou. 

– Desde 1985 que não querem se meter na vida política do país – o senador respondeu, e, baixando a voz. – Não podemos perder a oportunidade de aumentar nossa força de pressão; temos que devolver o Palácio ao molusco, de onde ele nunca deveria ter saído. Por isso, precisamos ser generosos, porque temos que tomar conta do Congresso Nacional e de aparelhar todos os poderes do nosso querido Brasil. Para isso, será necessário muito dinheiro, desde agora. Mas esse dinheiro será multiplicado e restituído. Porém o melhor de tudo, meus amigos, meus sócios, membros diletos deste clube exclusivíssimo, é que nós é que faremos e aplicaremos a lei, e perpetuaremos isso, indefinidamente, por meio dos nossos descendentes, como em uma dinastia. 

Seguiram-se uns seis segundos de silêncio, rompido por aplausos entusiasmados. 

– Criaremos a Bolsa Futuro, de um terço do salário-mínimo, para meu curral eleitoral. Não esqueçamos a esperteza de Roriz, que criou, e cultivou, durante seu reinado, um curral eleitoral fiel, dando lote, pão, leite e restaurante boca-livre; criou o Legislativo e se perpetuou governador por duas décadas. E não esqueçamos da Bolsa Família e do aparelhamento do Estado. O Brasil é rico, muito, muito rico, e homens, e mulheres, como nós, de visão, precisamos tomar conta desta imensa riqueza. 

Mais aplausos, tão entusiasmados que fez Maurício Virgulino da Silva olhar, rapidamente, para os homens e a mulher reunidos em torno da imponente mesa. 

O senador havia se levantado para pegar uma garrafa de licor de jenipapo, maturado em cachaça Havana, ou Anísio Santiago. Jessica Rabbit mexera-se, expondo ainda mais o colo e as coxas, o que fez Boca Mole se engasgar. Do outro lado, o czar goiano parecia fazer contas mentalmente; era quase audível o tilintar que saía da sua boca trancada, quase um bico. Sonhava com o futuro, uma Mônaco no Planalto, com cassinos cheios de magníficas goianas e mineiras de biquini servindo champagne e licores mineiros e do Cerrado. 

– Governador, pode contar comigo. Hoje mesmo vou transferir um milhão de reais para a conta – disse Jéssica Rabbit, com voz dengosa, sonhando em ampliar sua fatia de segurança privada e a recolha de lixo em todo o país. Comentava-se que ela matara pessoalmente o velhinho milionário de quem cuidou como enfermeira e depois como esposa, e de quem herdou uma fábula, a qual multiplicou após se tornar deputada. 

O murídeo-suíno riu. Rindo, a cara de rato se transformava em um focinho de hiena. 

Boca Mole lambeu os beiços. 

– Assim como nossa estimada, nossa querida colega, nossa Jéssica Rabbit, vou também depositar, hoje mesmo, um milhão de reais na conta. E pode contar comigo para o que der e vier – disse Boca, lambendo os beiços novamente. 

Jéssica Rabbit se mexeu na cadeira e lançou o olhar dengoso para Boca. Dessa vez a baba escorreu, mas Boca limpou-a logo. 

O escaveirado czar goiano disse, embora com dificuldade, que também disporia de um milhão de reais. 

– E o projeto de lei em tramitação no Congresso legalizando o jogo de azar tem chance de ser aprovado? – perguntou. 

– Está tramitando, mas no momento todo mundo no Congresso está unido para darmos fim ao Messias – disse o senador, degustando as palavras. – Acho que assim que dermos cabo dele voltaremos a mexer com o projeto de lei da jogatina. 

– Já pensaram Brasília transformada numa Mônaco, numa Las Vegas do Hemisfério Sul, e nós controlando tudo? Não vai ter banco que suporte guardar toda a grana que ganharmos! – o czar exclamou, entusiasmado. 

Jéssica Rabbit olhou cobiçosa para o zumbi. 

– Ah! Eu sonho com isso! Sonho com a segurança dos cassinos! Vou mandar uma equipe inteira para Las Vegas para aprender como se faz segurança de cassino! – disse Rabbit, também entusiasmada, fazendo caras e bocas e se mexendo como uma cobra; Boca Mole não perdia nada. 

– E eu vou comandar a construção do trem-bala Brasília-Goiânia; vamos fazer desse polo Brasília-Goiânia o mais sensacional do país! – exclamou o czar. Estava tão emocionado que viram um pouquinho de rubor no seu rosto amarelo e encarquilhado. – E também tem uma coisa muito importante, que é o asfaltamento da cidade. Comecei a produzir um asfalto de primeira categoria em Goiás – ouvia-se o tilintar de moeda sempre que ele falava. 

– E será uma Las Vegas com cultura – interrompeu-o Boca Mole. – Vamos restaurar o Teatro Nacional e trazer para cá as maiores celebridades do mundo, e também vou ganhar a licitação para recuperar o Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Quero ainda o estádio Mané Garrincha para promover os maiores jogos do mundo, principalmente quando a jogatina estiver a todo gás. 

– Vou facilitar tudo; é claro que teremos uma taxa... – disse o senador. 

– É claro! Vamos fazer do Brasil o maior rendez vous do planeta – disse Boca Mole, dando uma gargalhada que contagiou os outros três, e até Lampião, que havia escutado as palavras de Boca Mole; sua boca era mole, mas o tom de voz, alto. 

Jessica Rabbit ficou sonhadora. Imaginava-se em uma Brasília ainda mais fantasiosa do que já é. Descruzou e cruzou as pernas e Boca Mole engasgou-se, com a impressão de ter visto a liga das meias dela. Fizera tudo o que julgava possível para obter os favores de Rabbit, e ela, pelo que lhe chegava aos ouvidos, esfregava-se até nas paredes, mas o evitava. Seria por sua boca mole? Ora, mas a boca mole era o resultado de trabalhar tão bem com a língua de boi; isso, de certa forma, acabou desencadeando aquela produção desenfreada de saliva. 

O senador serviu mais uma rodada de licor de jenipapo. Ele mesmo preparava a bebida. Gostava também de cozinhar, e era bom de cozinha. Vendo o alegre grupo, o senador sonhava: “Afinal, Lula não se tornou presidente? Como eu não poderia sucedê-lo? Ora, sou mestre em Política Internacional! Só terei que conquistar o eleitorado de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Região Sul. O Nordeste será fácil, e a Amazônia é canja! E já sei como vou ganhar São Paulo: é só prometer aos paulistanos que a cidade deles não irá mais para o fundo, no verão, e, aos capiaus do interior, bolsas-família, escola, universidade e até bolsa-puteiro, se for preciso; aos capiaus mineiros basta prometer bolsa-queijo; aos cariocas, e fluminenses, prometerei bolsa-feijoada e bolsa-samba (sorriu), e aos caipiras do Sul, bolsa-linguiça, charque, chimarrão, carne, chucrute, e tudo o que é porcaria da Europa”. 

– Governador! – disse Jéssica Rabbit, acordando o yorkshire. – Quero aproveitar para lhe pedir, usando sua influência, que refresquem lá no meu hotel. As meninas não estão podendo trabalhar direito; afinal, elas atendem senadores e deputados. 

– Pode deixar, minha filha! O meu hotel, o do Setor Hoteleiro Sul, também está sofrendo esse ataque. 

Jessica Rabbit se mexeu na cadeira de tal maneira que Boca Mole melou a cueca. Não resistiu e pôs sua mão sobre a mão de Jéssica. 

– Você está certa, princesa, não estão deixando a gente trabalhar; parece que mobilizaram toda a fiscalização em cima de mim também – disse Boca. 

– Tive que aumentar, substancialmente, a propina destinada a vários setores da administração pública da área federal – Zumbi se meteu na conversa. Referia-se ao jogo de azar que explorava principalmente em Goiânia. 

Jéssica deixou a mão de Boca Mole sobre a dela; com a outra mão, o asno limpou um ponto de baba no canto da boca. A deputada distrital mexeu-se, virando-se para um e para outro, exibindo parte generosa do colo. Boca Mole tirou a mão de sobre a dela, arrumou-se melhor na poltrona, passou o lenço nos beiços e guardou-o. Se não soubesse o que é autodisciplina não seria um dos homens mais ricos do país, e, depois, poderia ter quem ele quisesse; podia pagar por qualquer um; afinal, todo mundo tem um preço. Apesar de que Jéssica Rabbit tirava-o do prumo. Misturem Brigitte Bardot e Marilyn Monroe e terão Jéssica Rabbit, na cabeça do bilionário; melhor ainda, era a própria Jéssica Rabbit, a do desenho. 

O telefone celular do senador começou a vibrar. Ele pediu que continuassem à vontade enquanto atendia à chamada, explicando que aguardava por ela. Atendeu-a indo até uma poltrona no amplo salão, ricamente decorado. Conversou durante uns dois minutos e retornou à mesa. 

– Mais uma rodada de licor de jenipapo? – perguntou. Os três olharam-se. Eram 13 horas em ponto. 

– Eu já estou é com fome – disse Boca Mole, com água na boca. 

– Por que não almoçamos aqui? – Patarrão convidou. 

– Estão me esperando em casa – disse Boca Mole. 

– Preciso almoçar em casa também – disse Jéssica Rabitt. 

Zumbi pareceu avaliar um pouco. Não perdia uma boca livre. 

– Não! Eu, realmente, preciso ir! – disse, quase em um lamento. 

– Então está tudo certo! Estamos entendidos! – disse o senador. 

– Sim! Hoje à tarde o dinheiro estará na conta que você me deu! – disse Boca Mole. 

– É, hoje à tarde todos nós vamos fazer a transferência! – disse Jéssica Rabbit, levantando-se. Realmente, era de parar o trânsito. 

Todos se levantaram, inclusive Lampião, e Patarrão conduziu os visitantes até a porta. 

Quando saíam, Jessica atrasou-se e puxou o senador de lado. 

– Descobri um mimo para você que vai deixar você babando – cochichou no ouvido do porco. – Você terá a vitela mais linda que existe para realizar seus sonhos mais ousados. 

O senador salivou. 

Sozinho, agora, ligou para a pessoa com quem havia falado instantes atrás. Era sua mulher, que lhe fazia marcação cerrada; tornara-se paranoica e Jéssica Rabbit era seu maior pesadelo. Desenvolvera olfato quase canino e cheirava as roupas do seu fogoso marido, principalmente a cueca, em busca de indícios que pudessem justificar sua paranoia, mas era ela a investigada, pois o senador procurava se antecipar a cada passo da sua esposa, criando, para isso, um verdadeiro departamento de inteligência dentro da sua própria casa. Ouviu a voz. Uma sombra de desgosto perpassou-lhe o focinho. A megera, como ele a chamava mentalmente, era seu alicerce e terror. Herdeira de uma das maiores fortunas do país, conheceram-se quando ela começou a tomar aulas de voo com o porco, que era o instrutor; não demorou para que começassem a transar a bordo do monomotor. Casaram-se e ela começou a bancar o futuro senador, de quem se tornara acionista majoritária em quase todos os investimentos do marido. Engordara muito depois que casou e isso a tornou ainda mais alarmada. 

O senador entrou no seu carrão às 13h15. Minutos depois, cruzava o Lago pela Ponte JK, na límpida tarde brasiliense.

Rio de Janeiro, Meca do banditismo. Segundo Lula, narcotraficantes são vítimas da sociedade

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 29 DE OUTUBRO DE 2025 – O Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, é um barril de pólvora, a Meca do banditismo, um três por quatro do Brasil. Em 2023, foram registrados 45.747 assassinatos no país, dos quais 4.292 homicídios só no Rio de Janeiro. Nesta estatística, entra até turistas estrangeiros, mortos à facada na rua. Em 2025, o Rio recebeu cerca de 2 milhões de turistas internacionais e em torno de 13 milhões de brasileiros. É uma cidade tão bonita, tropical e atlântica – pessoalmente, acho-a a mais bela do planeta – que os turistas continuam querendo conhecer o Rio. 

Os bandidos também adoram o Rio. Chefões de todas as facções, ou máfias, do Brasil, não querem outra vida, bem como mafiosos de outros países. De modo que se o presidente americano Donald Trump quiser realmente salvar os Estados Unidos da droga vai ter que fazer alguma coisa com relação ao Rio, um entreposto gigantesco do narcotráfico e de todo tipo de crime que se possa imaginar. 

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, do PL do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, líder da Direita, já pediu ajuda do presidente Lula da Silva (PT), líder da Esquerda, para uma megaoperação nos redutos das facções, inutilmente. Cansado de esperar, deflagrou uma megaoperação, terça-feira 28. A polícia fluminense, 2.500 policiais civis e militares, com a participação do Ministério Público, conseguiu enviar para o astral mais de 100 bandidos e prender 81. A ação queria pegar pelo menos 100 mafiosos do Comando Vermelho nas favelas da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. 

O Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, comentou que não recebeu nenhum pedido de Cláudio Castro para o envio de reforços federais durante a megaoperação. Cláudio Castro disse que fez sucessivos pedidos para as Forças Armadas cederem equipamentos para realizar as operações nas comunidades, mas que todos eles foram negados. 

– Não foram pedidas, desta vez (as Forças Armadas), porque já tivemos três negativas, então já entendemos a política de não ceder. Falaram que tem que ter GLO (Operação de Garantia da Lei e da Ordem), que tem que ter isso, que tem que ter aquilo, que podiam emprestar o blindado e que depois não podia mais emprestar porque o servidor que opera o blindado é um servidor federal, então tinha que ter GLO, e o presidente já falou que é contra GLO – disse Castro. – O Rio de Janeiro está sozinho nesta guerra. 

Castro viu que se ficar esperando por Brasília, o Rio de Janeiro vai explodir de vez, ou melhor, será entregue, todo ele, aos chefões do narcotráfico. 

– A gente entendeu que a realidade é esta, e a gente não vai ficar chorando pelos cantos. O Estado, ao invés de ficar transformando em uma batalha política, tá fazendo a sua parte e tá excedendo inclusive os seus limites e até excedendo as nossas competências. Mas continuaremos excedendo elas. Se precisar exceder mais ainda, excederemos na nossa missão de servir e proteger o nosso povo – sinalizou. 

Lula insiste em dizer que o Brasil é soberano, mas está parecendo que soberano é o narcotráfico. Sem respostas como a do Rio de Janeiro, as facções tomarão conta de toda a República Soberana, do Oiapoque ao Chuí, com capital no Rio de Janeiro. 

 – Isto aqui não é briga política, é um clamor por ajuda. As forças de segurança do Rio de Janeiro estão sozinhas. E é uma tristeza, e, curioso que a gente passou cinco anos com uma liminar proibindo helicóptero com plataforma de tiro e hoje a gente vê um drone com plataforma de bomba, e ainda não vi nenhuma ONG dessas que defendiam o fim do helicóptero criticar, agora, nem o PSB ter enviado nenhuma nota, que foi quem pediu o fim do uso de helicóptero, se solidarizando aos policiais e nem criticando esse tipo de arma – disse Castro, referindo-se ao fato de que tanto o governo Lula quanto o Supremo Tribunal Federal (STF) empenham-se pelos direitos humanos mas dos meliantes. É comum chefes do tráfico serem liberados. 

Em abril deste ano, o STF homologou o uso de câmeras em fardas e viaturas, e a comunicação imediata ao Ministério Público em caso de mortes decorrentes de intervenção policial. Ou seja, burocratizou ações policiais. Não demora e a polícia começará a comprar estoque de rosas para reuniões diplomáticas com as feras do narcotráfico. 

Há bairro no Rio onde a polícia não mete a cara. Chefões do narcotráfico fecham escolas, obrigam moradores a se tornarem distribuidores de droga, estupram qualquer mulher, principalmente adolescentes, e matam como se mata insetos. Aproveitando a situação, bandidos menores aproveitam para aterrorizar as ruas e fazem do conselho de Lula sua bússola: roubar celular para tomar cerveja, ou o drogado é culpado pelo tráfico de drogas, daí que não se deve mexer com os narcotraficantes, que, segundo Lula, são apenas vítimas da sociedade. As verdadeiras vítimas que se fodam!