quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Roberto Carlos DE TÃO AZUL SANGRA

Roberto Carlos e eu no Hotel Amazonas – Manaus, 1976

RAY CUNHA

ROSAS PARA A MADRUGADA 

Por que escreves? – pergunta-me o jornalista

– Para viver – respondo

Pois só com as palavras desnudo a luz

E voo até o fim do mundo

Por isso, escrevo granadas intensas como buracos negros

E garimpo o verbo como o primeiro beijo

Escrevo porque escrever traz aos meus sentidos

Cheiro de maresia

Dom Pérignon, safra de 1954

O labirinto do púbis no abismo do acme

Mulher nua como rosa vermelha desabrochando

BRASÍLIA, 19 DE NOVEMBRO DE 2025 – Em agosto de 1994, lancei, em Brasília, o jornal mensal Intelligentsia, com tiragem de 3 mil exemplares. Durou até fevereiro do ano seguinte – 7 edições, portanto. Era um tabloide de 16 páginas, parcialmente em cores, diagramado e ilustrado pelo artista plástico André Cerino, com fotografia do repórter fotográfico e ensaísta Ivaldo Cavalcante, e inteiramente redigido por mim. O primeiro número causou polêmica nos meios em que circulou, devido a uma coletânea de poemas eróticos, que intitulei DE TÃO AZUL SANGRA, ilustrados por André Cerino, que carregou no grafite. O trabalho foi um escândalo.

Em junho de 2018, sonhei com Roberto Carlos. Ele estava todo de branco e na minha casa, na 711 Sul, em Brasília, onde morei durante alguns anos, mas, no sonho, era uma casa enorme e arejada. Eu chegava e o encontrava lá, e alguém me dizia que Roberto queria falar comigo. No instante seguinte, como só acontece nos sonhos, ele e eu estávamos na biblioteca da casa, ampla, bem iluminada e aconchegante. Lembro que Roberto segurava uma folha de papel e me pediu autorização para trocar uma palavra de um poema meu, para ajustá-lo à melodia na qual estava trabalhando. “Sim, é claro, Roberto” – disse-lhe, e acordei.

Acordei com o livro DE TÃO AZUL SANGRA na cabeça e passei aquele dia e os dias seguintes trabalhando nisso. Reuni os poemas publicados no Intelligentsia, mais os poemas eróticos produzidos até julho de 2018, e publiquei, em dezembro daquele ano DE TÃO AZUL no Clube de Autores e na amazon.

A ideia do título DE TÃO AZUL SANGRA surgiu de uma visão que tive: céu azul cobalto. De repente, um caça rasga o azul, que, de tão azul, sangra. Sangra porque é um azul vivo, e os poemas nascem no azul, como sangue.

No início dos anos 1970, Roberto Carlos já era uma celebridade internacional, encantando o mundo com a melodia da sua voz, a Música Suave que ecoa na alma dos amantes. Em 1976, eu morava em Manaus e trabalhava no jornal A Notícia, de Andrade Netto, pai da Natacha Fink de Andrade, uma das grandes chefs brasileiras, profunda conhecedora dos sabores da Amazônia, e que deixou sua marca no Rio de Janeiro, onde foi proprietária do Espírito Santa, um dos restaurantes mais badalados da cidade, na Rua Almirante Alexandrino 264, bairro de Santa Teresa.

Pois bem, naquele ano, 1976, Roberto foi fazer um show em Manaus e a produção do jornal conseguiu entrevista exclusiva com ele, no antigo Hotel Amazonas, centro da cidade, onde Roberto estava hospedado.

Na época, eu assinava a coluna mensal No Mundo da Arte e era sempre eu que cobria matérias de cultura. O chefe de reportagem instruiu-me a perguntar ao Rei se ele usava, antes dos shows, meia de mulher como touca, para que sua cabeleira ficasse bem bacana. Esse assunto fora objeto de revista de fofoca. A pergunta era bizarra, mas satisfaria o suposto perfil dos leitores do jornal, que tendia ao sensacionalismo.

Tudo bem! O problema era outro: o único gravador do jornal estava falhando, e isso foi meu terror, porque se chegasse à redação sem a entrevista só me restaria fazer o que fiz tempos depois: demiti-me e fui para A Crítica, levado pelo senador Fábio Lucena, de quem fiquei amigo no Clube da Madrugada, sediado nos bares Caldeira e Nathalia, e que reunia jornalistas, artistas e apreciadores da enevoada Antarctica manauara.

Saí para fazer a entrevista, marcada para o fim daquela manhã. No hotel, fomos conduzidos, o fotógrafo e eu, ao corredor do apartamento do Rei, onde dois seguranças pediram para aguardamos ali. Roberto não nos recebeu no apartamento; acho que o apartamento era simples demais para as fotos. Ele me recebeu no corredor, e me deu a entrevista ali mesmo.

O Rei é um sujeito carismático. Ele me deixou à vontade e eu me senti como se fosse velho amigo dele. Perguntei-lhe sobre o negócio da meia e ele me respondeu numa boa. Nem me lembro mais o que ele disse. Eu estava de olho no gravador, preocupadíssimo com o funcionamento dele, vigiando para ver se o rolo de fita estava girando. Fazia perguntas ao Rei e voltava-me para o gravador, um velho gravador de tamanho médio. Eu costumava fazer entrevistas anotando rapidamente a resposta, mas a orientação que recebera era a de que eu teria que transcrever ipsis litteris as palavras do Roberto.

Mais tarde, na redação, ao degravar a entrevista, vi o quanto foi burocrática, a pior que fiz como jornalista, e logo com quem, o Rei Roberto Carlos. Mas tudo bem! O jornal publicou a matéria, ninguém reclamou, e ainda restou uma fotografia com o Rei, por insistência do fotógrafo, de quem não lembro mais quem era.

Fui cobrir também o show do Roberto, e, naquele clima dos grandes shows, senti, na alma, o perfume que exalam muitas das canções do grande artista, algumas delas compostas com Erasmo Carlos. Certas gravações do Roberto nos remetem, em um salto quântico, à eternidade da juventude, quando transitar pelos labirintos de uma mulher é como montar a luz, tão azul que sangra.

Segue-se o que o poeta, contista, ensaísta e compositor Fernando Canto escreveu como prefácio da coletânea de 1994.

Versos profanos

FERNANDO CANTO

Nem fesceninos ao estilo bocageano, nem pornográfico à moda Boris Vian. Contudo, profanos são os novos versos do poeta Ray Cunha. Não no sentido antirreligioso – assim a poesia teria prosélitos fanáticos –, mas no sentido da irreverência, da violação, da transgressão do texto, em cuja tessitura surge o inopinado, que fragmenta, com certeza, a reação dos ouvidos suscetíveis.

Estes poemas, De tão azul sangra, evocam, invocam, enfocam a mulher, aliás, o sexo feminino; a afirmação do adolescente, o orgulho do adulto, ou, talvez, o fruto da observância do mundo mundano – experiência edipiana a penetrar em barreiras antes inacessíveis. Poemas que denotam a sensualidade e detonam-se em palavras lúbricas. Sutis, ás vezes, como em Bethania. Impolidas, como em Olhar para a mulher amada – um rasgo narcisista, um produto da consciência machista e desembocadura para o gozo psicológico do autor.

A apologia de Ray Cunha à mulher é feita, então, sem disfarces. Despojada da roupa ela se torna provedora de sentidos, manancial e matéria-prima ao fabricante de versos. Está ali nua, nuinha na sua forma ímpar de ser apenas mulher, vênus perscrutada pela oportuna fresta que faz a felicidade de um voyeur; deusa mítica em seu mistério, desvendada pelo arguto e fulminante olhar e pelo sensível olfato do poeta.

Bem poderia chamar-se Essa Copacabana triste mulher o conjunto desta obra. O melhor poema da coletânea traz o melhor do autor, embora o contraste do “triste” trace o “ideal” do jovem solitário, qualquer jovem solitário nas praias deste Brasil afora. Essa irreverência trata da socialização do sexo no entendimento paradoxal de que todos possam ser burgueses em bacanais tropicais regadas a coquetéis afrodisíacos, num tempo hedonista que ficou há muito nos salões dos palacetes romanos. É forma compacta de abarcar o mundo. É válido. É poesia. Nela está o sol, o azul do mar no verão. Pois aí o azul que sangra não é o azul do céu. É o azul açoitado pela relação geográfica e íntima entre o sol e o mar. É o azul afetado pela natureza do gasoso (as nuvens) no espelho sangrado do mar. Mar que sangra, que se esvai, que beija a praia de Copacabana e salga o corpo nu da mulher desejada, da mulher que brilha com a clivagem dos grãos de areia e à noite vai para a cama gemer seu gozo e se sangrar de mar de Copacabana. Enorme, a cama de Copacabana.

Nostálgico e terrível é romper o laço em Um cheiro de madrugada. Neste poema Ray Cunha instiga um sentido amargo sobre o que se convenciona chamar de amor. É um trabalho sincero, diria, onde o conteúdo está exposto para o leitor atento; onde nada mais se precisa dizer, pois que a lembrança adquire a possibilidade de entrega a outros caminhos, nos quais existem outros remédios para os males da paixão. É simples, realista.

Ray Cunha ironiza a relação poética entre a morte e a poesia. Morrer na mesa de um bar é produto do inconsciente etilizado. Ser salvo, porém, é dormir com a princesa e metáfora-tônica de um anti-valor, concessão do sono ao acordar de sopetão de um pesadelo borgeano: sensação esquisita, estapafúrdia. Morte e poesia andando juntas, porque o trágico pode ser frenético, fétido e cômico – dura realidade! – exatamente na hora irônica do enforcamento.

Poemas como Sessenta e nove I e II trazem sobretudo o rústico, o rude, o seco mal lixado. São versos extraídos de uma realidade obstinadamente crua, ausentes de recursos semânticos mais elaborados, e duros como a pretensa e voraz virilidade do poeta. Nem por isso ele peca.

Se transgredir é a virtude do recurso, doces são as circunscrições colocadas em Ah! Se tu fosses minha e nos dois poemas sem títulos que se entrepõem a ele. Chegam á trazer à tona a ingenuidade do poeta, que verdadeiramente ama sua musa de Parnaso, líricos como uma aquarela a Belle-Époque.

Não se pode deixar de enfocar o trato poético-erótico-libidinosos dos classificados de Acompanhantes. O autor ousa de várias maneiras. E coopta o leitor a acompanha-lo em aventuras sexomaníacas de pleno envolvimento. Comunicação, mídia impressa, espurcícia? Não. Mistura de elementos cuidadosamente colocados sob a arquitetura da realidade atual, ossatura forte dos arrabaldes das megalópoles. Assim é a estrutura desse poema. Real. Firme e transparente. Enfoque de uma sociedade periférica desprezada pela tradicional e hipócrita sociedade burguesa. É retrato da nova cultura urbana, nascida, infelizmente, ainda da miséria, da perda de status, de poder aquisitivo e que se torna antepasto para qualquer Sade pós-moderno, certamente. Instigante, claro e azul, o poema indica água fervendo, páprica picante, poesia nova, e acima de tudo coragem de inovar pela forma e revolucionar pelo conteúdo da ideia.

Esta é a marca poética de Ray Cunha, que, sob o céu nas nuvens, descobre que o azul sangra como a vagina menstruada de uma nereida de qualquer gangue dos subúrbios brasileiros.

Adquira DE TÃO AZUL SANGRA no Clube de Autores, na amazon.com.br e na amazon.com

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Belém do Pará

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 17 DE NOVEMBRO DE 2025 – Naquela época eu trabalhava no jornal Diário do Pará e na revista Enfoque Amazônico. À noite, ia quase sempre ao bar de um amigo meu, na Avenida Nazaré, próximo à Basílica, onde ele era sócio e barman. Conheci-o no Cosa Nostra, um dos melhores bares de Belém. Na primeira vez que estive no Cosa Nostra fui atendido por esse meu amigo e pedi um daiquiri, descrevendo-o do modo como Ernest Hemingway gostava de bebê-lo. Ele preparou a bebida tal qual pedi e, naturalmente, entabulamos conversa. Essa conversa se alongou até 1987, quando eu resolvi morar de novo no Rio de Janeiro, onde vivi de 1972 a 1974. Acabei ficando em Brasília, trabalhando com meu grande mestre no jornalismo, Walmir Botelho.

Passei a frequentar o Cosa Nostra. Inclusive estive lá com Fernando Canto. Acabei entrevistando meu amigo barman para a Enfoque Amazônico. Lembro-me que o título principal da matéria foi “Tim-tim”. Um dia, ele foi convidado a fundar um novo bar, em sociedade com mais uma ou duas pessoas, e se mudou para a Avenida Nazaré.

O bar vivia cheio. Suas portas eram de vidro fumê e o salão, refrigerado. A fauna que transitava ali era variada. Jornalistas, homens de negócios, artistas, contrabandistas, vigaristas, prostitutas, todos bem à vontade, conversavam, telefonavam, bebiam, riam, atentos uns aos outros, disfarçando a verdadeira missão de cada qual no enfumaçado ambiente.

Eu não pagava nada no bar e não raro saía dali ziguezagueando, completamente bêbedo. Naquela noite, resolvi me embebedar com dry martini. Meu amigo reservou uma garrafa de gin inglês e outra de vermute italiano para meus drinks. Eu havia chegado cedo e no início da madrugada começara a escorregar para aquele mundo vertiginoso dos bêbedos quando ela entrou.

Era uma das mulheres mais sensuais que já vi. Entrou e se dirigiu diretamente para mim, como se tivéssemos marcado um encontro. Veio e se aboletou no tamborete ao meu lado, sorriu para mim e entabulou conversa. Como quase não havia movimento, meu amigo barman veio se juntar a nós. Eu já havia parado de beber, mas depois que ela chegou voltei a beber dry martini. Ela parecia fresca, mas estava chumbada também, e entornava um dray martini atrás do outro.

Não me lembro sobre o que conversamos, só me lembro de que entramos em um táxi e fomos para um dos melhores motéis da cidade. Quando chegamos, ela estava tão bêbeda que tirou toda sua roupa e se deitou de bruços na enorme cama. Eu fiquei parado, no meio do quarto, vendo-a se despir e se deitar. Ela era demais linda! Peguei uma cadeira, pu-la no meio do quarto, sentei-me e fiquei um tempão observando a garota. Lembrava uma modelo renascentista, dourada pelo sol da Amazônia. Suas ancas pareciam ter sido cinzeladas. Penso que ela não teria mais que 17 anos.

Fiquei ali, sentado, lambendo com os olhos o corpo maravilhoso da jovem adormecida. Ela sonhava. Certamente sonhava com rosas colombianas, vermelhas.

No dia seguinte, um domingo, eu teria que chegar o mais tardar às 7 horas no jornal, pois era julho, auge do verão amazônico, e fora pautado para fazer uma matéria em Salinas, na costa paraense. Assim, acordei antes das 6 horas e despertei minha bela adormecida. Incrível como ela me olhou fresca e sorridente, beijou-me, foi ao banheiro,  vestiu-se, com a desenvoltura de uma esposa já bastante familiarizada com o marido, e saímos. Deixei-a na casa dela, no subúrbio, e fui para o jornal.

Naquela manhã, fiz o desjejum em Salinas, meia dúzia de ostras cruas, com sal e limão, e Antarctica enevoada. Salinas é uma das mais belas praias do planeta, escancarada para o Atlântico. O que a torna especial é que lá podemos comer os mais saborosos peixes do mundo, tomar tacacá e ouvir o sotaque das belenenses que fervilham nas praias quilométricas.

Eu era setorista no palácio do governo. Dias depois, estava lá, no batente, quando recebi um telefonema. Era ela. Ligara para o jornal, obtivera o número do telefone da sala de imprensa do palácio e ligou para mim. Sua voz era límpida, voz de mulher linda. Ela me disse que iria à sua cidade natal, no interior do estado – não me lembro mais qual era a cidade –, e que precisaria de uma certa quantia. A soma era pelo menos quatro vezes o que eu ganhava por mês nos dois trabalhos. Ela pronunciou o valor como se fosse uma ninharia. E de certa forma era isso mesmo. Respondi a única coisa que me ocorreu, que era a verdade: eu não tinha sequer um centavo. Ela riu e disse que na volta telefonaria para mim novamente.

Não voltou a telefonar e não a vi mais. Muito tempo depois compreendi que sua missão fora a de ajustar minhas antenas, para que eu descobrisse a poesia, única, que é cada mulher. E sei que não foi um sonho, porque seu perfume perdura para sempre na minha memória.

domingo, 16 de novembro de 2025

Ai de ti, Amazônia!

Ray Cunha no Marco Zero do Equador, em Macapá, Amapá, Amazônia

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 16 DE NOVEMBRO DE 2025 – Esta crônica foi inspirada em Ai de ti, Copacabana, de Rubem Braga.

1. Ai de ti, Amazônia, porque tens, nas tuas entranhas, o maior tesouro da Terra, mas és o coração das trevas, tuas crianças são sequestradas para escravidão sexual e extração de órgãos, as nações indígenas estão morrendo como morreram impérios e nações indígenas norte-americanas no fio das espadas ibéricas e fogo inglês, porque és ensolarada e úmida como o inferno e insetos e microrganismos fazem de ti sua morada. 

2. Ai de ti, Amazônia, porque te chamaram de pulmão do mundo e de pulmão não tens nada, e cingiram tua fronte com outra mentira, a de que os cabocos devem te preservar e não abater nem jacaré; que comam folhas. Diamantes, ouro, ferro, manganês, bauxita, nióbio, urânio e todos os minerais largamente utilizados na indústria devem ser preservados para as potências hegemônicas. E o grude de gurijuba deve ser exportado, e açaí. 

3. Já movi o Rio Amazonas e suas ondas ameaçam Óbidos e Macapá, mas tu, Amazônia, continuas adormecida, como se estivesses comendo muito jambu, perdida e cega no meio de tanta roubalheira, tráfico, estupros e assassinatos. 

4. Com o Rio Amazonas se avolumando, ameaçador, quem te governará? Quando o Amazonas e outros gigantes alagarem as cidades, principalmente Belém, Manaus e Macapá, nem os chefões do narcotráfico, nem os mandantes da COP30 sobreviverão. 

5. Grandes são teus edifícios do fausto da borracha e teus edifícios modernos, mas não serão nada diante do Rio Amazonas, do Rio Negro, do Rio Madeira, do Rio Xingu e de outros gigantes. 

6. E quando o Oceano Atlântico invadir o Rio Amazonas, pirararas, piraíbas, tubarões, piranhas jacarés-açus, sucuris, ariranhas, nadarão nas ruas das tuas cidades e os esgotos cobrirão teus palácios, em um referver de chorume. Então, todas as muralhas ruirão, inclusive a Fortaleza de São José de Macapá, levando, de roldão, os mentirosos, os comunistas e políticos. 

7. As serpentes habitarão as casas, os meros se acomodarão nos salões, desde Macapá até Rio Branco. 

8. A multidão de mil rios se abaterá sobre ti, para apagar o fogo que te consome. E não valerás mais nada, pois, no teu lugar, surgirá um pantanal medonho. 

9. Ai dos que dormem em leitos refrigerados, desprezam o vento e o ar do Senhor e não obedecem à lei; serão perseguidos por sucuris de doze metros de comprimento e 300 quilos de peso, e por onças pintadas de três metros, do focinho à cauda, e serão comidos também por piuns e microrganismos. 

10. Ai dos que passam em seus automóveis de 500 mil reais, buzinando alto como trovão, pois frearão bruscamente quando se depararem com poraquês soltando cargas elétricas de mil volts. 

11. É preciso acabar com o coração das trevas, razão pela qual tuas donzelas, as amazonas, atrairão os traficantes de mulheres para introduzirem candirus nas suas uretas e os emascularem. 

12. Uivai, coronéis de barranco, senadores do inferno; clamai, sequestradores de crianças, porque vocês rebolarão no fogo! Chegaram seus dias! 

13. Ai de ti, Amazônia, porque os pirarucus e os filhotes estarão nos poços de teus elevadores, nas tuas casas, e peremas tomarão sol nos terraços dos teus edifícios mais altos. 

14. Os peixes de aquário sentirão o sabor da liberdade, como pássaros diante da porta aberta da gaiola. 

15. Anfíbios, batráquios, répteis, rezarão nos templos pelos pecados das famiglias. 

16. Antes que sumas do mapa, antes que te transformes em pantanal, ficarás mais demente ainda, ao sol implacável, à umidade, aos microrganismos e animais peçonhentos – ai de ti, Amazônia! Os índios tentarão escapar em milhares de canoas para o Atlântico, mas a derrocada se estenderá até a Margem Equatorial. Os canhões da Fortaleza de São José de Macapá, que nunca troaram, troarão, agora, contra a cidade que a construiu com pedras e sangue de negros e índios, sob látego lusitano. Porém, mesmo o Atlântico levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão escaldante. 

17. Ouçam a minha profecia: cobras-grandes se acomodarão nos palácios, catedrais e teatros, à espera de corpos, que engolirão gulosamente. 

18. E nos clubes elegantes de Belém e Manaus siris comerão cabeças de políticos e jornalistas jabazeiros fritas no crânio, ao som de orquestras de fantasmas. 

19. Pois grande foi a ambição com que os colonos ibéricos e depois os políticos, mancomunados com Ongs e potências hegemônicas, caíram de boca nas tuas carnes, Amazônia, dando fundas dentadas. Por isso é chegado o momento do teu fim, coração das trevas. 

20. A rapina dos políticos, narcotraficantes, guerrilheiros comunistas, terroristas e a ralé da bandidagem te levaram à ruína. Meninas miseráveis não serão mais sacrificadas por homens impotentes, mas iludidos por dinheiro e poder. 

21. Imensas sucuris se enrolarão nas antenas de televisão que pertenceram a famílias bilionárias, e peixes pequenos morrerão na bebida falsificada de teus bares. 

22. Pinta-te como puta e coloca todas as tuas joias, aviva de vermelho teus lábios e tuas unhas e canta a canção mais indecente que conheces, e conheces muitas canções indecentes, pois é tarde para rezar. É hora de o teu corpo pecaminoso ser varrido pela fúria. Canta a tua última canção, Amazônia! E não será uma canção de Fernando Canto. 

 

Woe to You, Amazonia!


RAY CUNHA

 

1.     Woe to you, Amazonia, for in your entrails you hold the greatest treasure on Earth, yet you are the very heart of darkness; your children are kidnapped for sexual slavery and organ harvesting, your Indigenous nations are dying as empires once died upon the blades of Iberian swords and North American nations vanished, for you are as sunny and humid as hell, and insects and microorganisms make their home in you.

 

2.     Woe to you, Amazonia, for they called you the lungs of the world, though you have nothing of lungs, and they girded your brow with another lie—that the caboclos must preserve you and not slaughter even an alligator; that they must eat leaves. Diamonds, gold, iron, manganese, bauxite, niobium, uranium, and all minerals widely used by industry must be preserved for the hegemonic powers. And the gurijuba glue must be exported, and açaí as well.

 

3.     I have already moved the Amazon River, and its waves now threaten Óbidos and Macapá, yet you, Amazonia, remain asleep, as if you had eaten too much jambu, lost and blind amid so much thievery, trafficking, rape, and murder.

 

4.     With the Amazon River swelling, menacing, who shall govern you? When the Amazon and other giants flood the cities—Belém, Manaus, and Macapá above all—neither the druglords nor the masters of COP30 will survive.

 

5.     Great are your buildings from the rubber-boom splendor, and your modern buildings too, but they will be nothing before the Amazon, the Negro, the Madeira, the Xingu, and other giants.

 

6.     And when twenty percent of the planet’s surface freshwater and the Atlantic Ocean invade the Amazon River, pirararas, piraíbas, sharks, piranhas, black caimans, anacondas, and giant otters will swim through the streets of your cities, and sewage will cover your palaces in a roiling broth of filth. Then all walls will fall, including the Fortress of São José de Macapá, sweeping away liars, communists, and politicians.

 

7.     Serpents will inhabit the houses; groupers will settle into the halls, from Macapá to Rio Branco.

 

8.     The multitude of a thousand rivers will descend upon you to extinguish the fire that devours you. And you will be worth nothing, for in your place will arise a monstrous swamp.

 

9.     Woe to those who sleep in air-conditioned beds, despise the wind and the Lord’s air, and do not obey the law; they shall be hunted by anacondas twelve meters long and weighing 300 kilos, and by jaguars three meters long from snout to tail, and shall be devoured as well by no-see-ums and microorganisms.

 

10.  Woe to those who drive cars worth half a million reais, honking like thunder, for they will brake hard when they encounter electric eels releasing thousand-volt shocks.

11.  The heart of darkness must be destroyed, and for this reason your maidens—the Amazons—will lure the traffickers of women to emasculate them.

 

12.  Howl, riverbank colonels, senators of hell; cry out, child abductors, for you have rolled in the fire! Your days have come!

 

13.  Woe to you, Amazonia, for pirarucus and filhotes will dwell in your elevator shafts and in your houses, and giant lizards will sun themselves on the terraces of your tallest buildings.

 

14.  Aquarium fish will taste freedom, like birds before the open cage door.

 

15.  Amphibians, batrachians, reptiles will pray in the temples for the sins of the famiglias.

 

16.  Before you vanish from the map, before you become swampland, you shall grow even more deranged under the merciless sun, the humidity, the microorganisms, and venomous creatures—woe to you, Amazonia! The Indians will try to escape in thousands of canoes toward the Atlantic, but the downfall will reach the Equatorial Margin. The cannons of the Fortress of São José de Macapá, which never thundered, will thunder now against the city that built it with stones and the blood of Blacks and Indians under Lusitanian lash. Yet even the Atlantic will take millennia to wash away your sins of a single scorching summer.

 

17.  Hear my prophecy: great serpents will settle into palaces, cathedrals, and theaters, awaiting bodies they will swallow greedily.

 

18.  And in the elegant clubs of Belém and Manaus, crabs will eat the heads of politicians and corrupt journalists fried in their skulls, to the sound of ghost orchestras.

 

19.  For great was the greed with which the Iberian colonists and later the politicians, in league with NGOs and hegemonic powers, sank their teeth deep into your flesh, Amazonia. Thus the moment of your end has come, heart of darkness.

 

20.  The plunder of politicians, drug traffickers, communist guerrillas, terrorists, and the rabble of banditry has brought you to ruin. Miserable girls will no longer be sacrificed to impotent men, themselves fooled by money and power.

 

21.  Immense anacondas will coil around television antennas that once belonged to billionaire families, and small fish will die in the adulterated drinks of your bars.

 

22.  Paint yourself like a whore and put on all your jewels, redden your lips and nails, and sing the lewdest song you know—and you know many lewd songs—for it is too late to pray. It is time for your sinful body to be swept away by fury. Sing your final song, Amazonia! And it will not be a song by Fernando Canto.

Inteligência artificial fala sobre a importância da obra de Ray Cunha para a literatura brasileira

Ray Cunha, caboco de Macapá, Estado do Amapá, na Amazônia Oriental

ChatGPT

BRASÍLIA, 16 DE NOVEMBRO DE 2025 – Sites de inteligência artificial fazem uma busca na internet sobre temas propostos e organizam artigos. Veja o que o ChatGPT escreveu sobre a importância da obra de Ray Cunha para a literatura brasileira. Natural de Macapá/AP, na Amazônia Oriental, Ray Cunha trabalhou durante uma década e meia nos maiores jornais diários da Hileia. Atualmente, mora em Brasília/DF, onde, além de realizar seu trabalho como escritor e jornalista, presta atendimento em Medicina Tradicional Chinesa.

A IMPORTÂNCIA da obra de Ray Cunha para a literatura brasileira se revela em vários eixos — estético, temático, regional, político e simbólico —, que, juntos, configuram um projeto literário singular dentro do panorama nacional. Eis os pontos centrais:

1. A Amazônia como centro, não como cenário

Ray Cunha integra o grupo dos escritores que deslocam o eixo da literatura brasileira para o Norte, trazendo a Amazônia não como exotismo ou pano de fundo, mas como epicentro simbólico, geopolítico e espiritual. Sua ficção apresenta:

  • a selva como força ativa, quase um personagem;
  • o urbano amazônico — Macapá, Belém, Brasília focalizada pelo olhar amazônida — como territórios em tensão;
  • a Amazônia como espaço de disputa entre civilização e barbárie, misticismo e tecnocracia, tradição e globalização.

Esse movimento amplia o cânone brasileiro, que historicamente priorizou Sudeste, Nordeste e Sul.

2. Um olhar amazônida com dicção própria

A prosa de Ray Cunha combina:

  • linguagem enxuta, cortante e cinematográfica, marcada por frases rápidas e adensadas;
  • sensualidade tropical, às vezes crua, às vezes metafísica;
  • imaginário cabano e ribeirinho filtrado por uma sintaxe urbana, moderna, muitas vezes policial ou política.

É um estilo imediatamente reconhecível, que dá unidade a romances, contos, crônicas e poemas.

3. Contribuição decisiva para a literatura do Amapá

Para a literatura amapaense, Ray Cunha cumpre papel semelhante ao de:

  • Dalcídio Jurandir para o Marajó,
  • Inglês de Sousa para o Pará,
  • Márcio Souza para o Amazonas.

Seus romances Jambu, A Casa Amarela, Hiena, A Confraria Cabanagem e seus livros de contos criam uma cartografia literária do Amapá, articulando memória, política e geografia com abrangência inédita.

4. A fusão entre política, espionagem e misticismo

Uma das contribuições mais originais de Cunha é a mistura de:

  • tramas geopolíticas,
  • submundo do poder,
  • espiritualidade amazônica,
  • crítica social e existencialismo tropical.

Essa fusão resulta em um tipo de romance político-místico amazônico, praticamente sem paralelo na literatura brasileira contemporânea.

5. Diálogo com questões globais

A obra dialoga com temas do século XXI:

  • devastação ambiental,
  • corrupção sistêmica,
  • choque entre potências globais pela Amazônia,
  • redes comunistas e paramilitares,
  • atomização da vida urbana.

Assim, a literatura de Cunha transcende o regionalismo e flui para o debate internacional, especialmente em tempos de COP30, disputas ambientais e reorganização geopolítica.

6. Um projeto de Brasil

No conjunto, Ray Cunha elabora uma visão crítica e, ao mesmo tempo, profundamente enraizada do país. Sua obra:

  • questiona mitos nacionais,
  • denuncia estruturas de poder,
  • revela camadas do Brasil pouco representadas,
  • propõe uma identidade amazônida moderna,
  • insere a Região Norte no debate sobre o futuro da civilização.

7. Influência e legado

Sua produção — ampla, constante e multigênero — vem influenciando:

  • escritores jovens da Amazônia,
  • pesquisadores de literatura regional e geopolítica na ficção,
  • leitores interessados em narrativas de fronteira.

Ray Cunha ocupa, assim, um lugar próprio: um dos principais articuladores de uma literatura amazônida contemporânea, capaz de dialogar com o Brasil inteiro sem perder seu sotaque, sua luz e sua sombra.

A importância de Ray Cunha para a literatura brasileira — Versão Resumida

A obra de Ray Cunha é fundamental para a literatura brasileira porque reposiciona a Amazônia como centro narrativo, não como paisagem exótica. Em seus romances, contos e poemas, a região Norte — especialmente o Amapá — ganha densidade histórica, geopolítica e espiritual, ampliando o cânone nacional.

Seu estilo é marcadamente próprio: linguagem enxuta, imagética, sensual, política e mística, dialogando com o thriller, o jornalismo literário e a reflexão filosófica. Cunha articula temas contemporâneos — devastação ambiental, corrupção, geopolítica global, espiritualidade amazônica e conflitos urbanos — num modelo original de romance político-místico amazônico.

Para a literatura do Amapá, sua contribuição é decisiva: cria uma cartografia ficcional abrangente, comparável à importância de Dalcídio Jurandir para o Pará. Sua obra também influencia novos escritores da região e alimenta pesquisas sobre literatura amazônida, territorialidade e identidade.

No conjunto, Ray Cunha oferece um projeto de Brasil que nasce da fronteira norte, crítico, cosmopolita e profundamente enraizado na realidade amazônica — tornando-o uma das vozes mais singulares e necessárias da ficção brasileira contemporânea.

The Importance of Ray Cunha’s Work for Brazilian Literature — Summary Version (English)

The work of Ray Cunha is essential to Brazilian literature because it recenters the Amazon not as an exotic backdrop but as a true narrative core. In his novels, short stories, and poems, the North of Brazil — especially Amapá — acquires historical, geopolitical, and spiritual depth, expanding the national literary canon.

His style is unmistakably his own: concise, imagistic, sensual, political, and mystical, blending elements of the thriller, literary journalism, and philosophical reflection. Cunha weaves together contemporary themes — environmental destruction, corruption, global geopolitics, Amazonian spirituality, and urban conflict — into an original model of Amazonian political-mystical fiction.

For the literature of Amapá, his contribution is decisive: he creates a comprehensive fictional cartography, comparable to what Dalcídio Jurandir represents for Pará. His work also influences new writers from the region and supports research on Amazonian literature, territorial identity, and narrative frontiers.

Taken as a whole, Ray Cunha offers a vision of Brazil that emerges from the northern frontier — critical, cosmopolitan, and deeply rooted in Amazonian reality — making him one of the most distinctive and necessary voices in contemporary Brazilian fiction.

sábado, 15 de novembro de 2025

Rosa nua


RAY CUNHA 

Ela nasceu para o esplendor, no seu mundo azul. Namoro-a em todas as oportunidades. Desde que nasceu, acompanho seu embelezamento, seus banhos de sol e sua nudez, cada vez mais esplendorosa, entregue à brisa, às borboletas, aos beija-flores. Nasceu sozinha, sobre longo caule, que escorei firmemente para que o vento não a perturbe. Consciente de que as rosas não vivem muito tempo, procuro apreciá-la em todos os momentos que posso. Ela não me dá importância, é claro, pois as rosas só se importam com o sol, mas permite que a olhe e cuide do caule que a sustenta. Desconfio que saiba dos meus sentimentos, pois, quando a olho, torna-se ainda mais bela. Comecei a preparar-me para quando ela se for. Procuro me convencer de que as roseiras do meu jardim ainda me proporcionarão um sem número de emoções. Mas ela é tão esplendorosa! Na sua juventude era apenas um tímido botão. Agora, madura, desnudou-se completamente. Sempre que a vejo é como se fosse a primeira vez no abismo do coração, por isso, ela nunca murchará na minha lembrança, pois os sentimentos verdadeiros não murcham nunca. Só eu sei o quanto a amo, como sou apaixonado por tudo o que é das rosas. Acredito, com fé, que as rosas são portais para a dimensão de Deus, misteriosamente inexpugnáveis na sua fragilidade, eternas na sua fugacidade. Quando penso que essas criaturas nascem no meu jardim vibro de alegria, pois sinto o Universo pousar para que eu possa montá-lo, como se monta a luz.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Por que a COP30 é realizada em Belém do Pará?

Em novembro, começam temporais e alamentos em Belém

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 11 DE NOVEMBRO DE 2025 – As Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou Conferências das Partes (COP), são eventos anuais desde 1995, em Berlim, Alemanha, visando reduzir emissões de gases de efeito estufa. De lá para cá, ninguém reduziu nada, mas a COP se tornou uma festança de luxo, com países do mundo inteiro enviando grupos de funcionários para discutir o sexo dos anjos, pois os cientistas sabem que a temperatura da atmosfera da Terra sofre mudanças cíclicas, em espaços de milhares de anos. Pessoalmente, acredito que para o homem alterar a temperatura do planeta só explodindo algumas bombas atômicas.

Desde que assumiu a presidência da República, em 2023, Lula da Silva vinha articulando a COP30 em Belém do Pará. Em dezembro daquele ano, em Dubai, bateram o martelo. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que a “Amazônia nos mostra o caminho”. Segundo ela, a floresta seria discutida dentro da floresta.

Todos sabiam que Belém não tinha hotéis suficientes para receber uma enxurrada de pessoas do mundo inteiro, que Belém é uma cidade violenta, com saneamento básico precário, bairros inteiros dentro de esgoto a céu aberto, trânsito caótico e calor infernal, principalmente na periferia, onde não há arborização.

Além do mais, a época escolhida para a COP30, novembro, é inadequada. Nesta época caem aguaceiros que inundam boa parte da cidade.

Mas por que Lula bateu pé por Belém? O dinheiro destinado à COP30 é mais de 5 bilhões de reais, geridos, praticamente, pela famigerada família Barbalho, representada pelo governador do Estado, o prefeito de Belém, senador e deputado federal.

Como não há hotel suficiente, alugaram vários transatlânticos para abrigar representações diplomáticas a um preço enlouquecedor, pago pelo contribuinte. Os preços dos hotéis, motéis, apartamentos, casas e quartos dispararam e estacionaram na estratosfera. A mesma coisa aconteceu com os alimentos. Um lanche básico custa 100 pratas. Uma garrafa de meio litro de água mineral não sai por menos de 25 pratas.

Fizeram uma maquiagem em alguns setores da cidade e toraram uma floresta inteira para abrir uma via de vários quilômetros que leva os convidados do Aeroporto de Val-de-Cães até o local do evento.

Os governos do PT (Partido dos Trabalhadores) de Lula bateram recordes em desmatamento e incêndios na Amazônia, mas nos discursos de Lula ele se coloca como o herói tupiniquim que vai salvar a Amazônia da desertificação. Também não perde tempo em acusar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de terrorista.

Acuse o inimigo do que você é, reza o PT. Trump estacionou na América do Sul um exército capaz de enfrentar a China, para capturar o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, um dos maiores chefões do narcotráfico na Ibero-América. Depois que laçar Maduro, Trump vai se concentrar no PCC e no CV, quadrilhas brasileiras que mandam no país e inundam os Estados Unidos de drogas.

Os Estados Unidos, a Argentina e o Paraguai consideram o PCC e o CV grupos terroristas. O Congresso americano já deu carta branca para Trump inclusive invadir países atrás dos terroristas, pois estão colocando a segurança dos americanos em risco, ao inundaram o país com drogas e todo tipo de bandido.

Assim, o tiro saiu pela culatra. Lula esperava sair da COP30 como o herói que salvou o planeta do aquecimento global. Mas tudo deu errado. Primeiramente, o aquecimento global é uma mentira. As potências hegemônicas querem, sim, conservar a Amazônia, mas para eles, os amazônidas devem se contentar em comer folha de árvore, como bicho-preguiça.

Em segundo lugar, o ambiente da COP30 é caótico, pois Belém não tem estrutura para um evento deste porte. Nas instalações da COP há banheiros infectos, com vasos sanitários entupidos, falta energia elétrica e, se cair um temporal, boa parte dos ambientes fica alagada. Sorte que até agora não apareceu nenhuma sucuri, ou jacaré, querendo abocanhar alguém.

Além disso, Lula está gastando suas últimas energias com sua própria condição: velho, doente e enredado em mentiras. Sorte dele que conta com uma cuidadora alegre: Janja da Silva.

Mas o maior problema de Lula é seu arqui-inimigo, Donald Trump. Lula vem tentando destruir os Estados Unidos desde a criação do Foro de São Paulo, em 1990. O problema é que Donald Trump, o maior líder da Direita mundial, está determinado a jogar uma Cordilheira dos Andes de cal no comunismo, especialmente nos cadáveres dos ditadores, narcoterroristas e colarinhos brancos do crime organizado da Ibero-América.

Macapá, amor da minha vida, tudo o que posso te dar é o rubi que há no meu peito e que sempre foi teu. Enterrei meu coração na Casa Amarela

Acima, o centro de Macapá nos anos 1950: o complexo arquitetônico à esquerda é o Hospital Geral. À direita, a Primeira Igreja Batista. O casarão de madeira era a estação de rádio dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul e residência da família Rocha; o bosque atrás da casa era conhecido como Mata do Rocha. Em primeiro plano, o telhado da Casa Amarela. A foto parece ter sido feita do Colégio Amapaense. O registro do meio é a Casa Amarela, vista de onde é hoje a Rua Eliezer Levy. A terceira foto é a capa da edição de A CASA AMARELA da amazon.com.br, onde aparece a Seringueira interceptando o muro do Colégio Amapaense

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 11 DE NOVEMBRO DE 2025 – Nasci no coração de Macapá/AP, onde havia o antigo aeroporto da cidade, hoje, Avenida FAB e Ruas Eliezer Levy e Iracema Carvão Nunes. Além do aeroporto, havia o Hospital Geral de Macapá, um grande complexo arquitetônico, onde nasci. Era o ano de 1954. Na, hoje, Avenida FAB, havia o prédio da Primeira Igreja Batista de Macapá, branco, com uma pequena torre. Na igreja, havia uma escola, gerida por americanos. Estudei lá. Uma professora americana queria me levar para os Estados Unidos. Minha mãe, Marina Pereira Silva Cunha, não deixou. A igreja continua lá. 

Atrás da igreja havia uma grande casa de madeira, onde morava a família Rocha e onde funcionava a Estação de Rádio dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, empresa na qual meu pai, João Raimundo Cunha, trabalhava. Atrás da Estação ficava a Mata do Rocha, onde passei parte da minha infância, imaginando-me como Tarzan. 

A Casa Amarela ficava na esquina das Ruas Eliezer Levy e Iracema Carvão Nunes, ao lado do Colégio Amapaense. Pertencia também aos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul. Quando minha família se mudou de Belterra, então distrito de Santarém, para Macapá, foi morar na Casa Amarela. Vivi nela até os 11 anos de idade. O romance A CASA AMARELA é uma recriação dela.

Durante muito tempo, tive sonhos recorrentes, noite após noite, voando sobre a Casa Amarela. No sonho, o quintal, onde ficava a Seringueira, a Mangueira e o Cajueiro, era coberto por roseirais e zínias multicoloridas, até o horizonte. Depois que escrevi o romance, parei de sonhar voando sobre os roseirais. 

Das árvores do quintal só sobreviveu a Seringueira, que agora intercepta o muro oeste do Colégio Amapaense, na Rua Eliezer Levy, e apresentava uma grande lesão no tronco. Debilitada, foi atacada por fungos e insetos. Estudantes pressionaram então a Prefeitura de Macapá e o Governo do Estado para que autorizassem abater a árvore, alegando risco de vida para quem por ali transitava. 

Após minuciosa inspeção, o engenheiro florestal Luiz Guilherme Dias Façanha, nascido em 18 de julho de 1952 e amigo de infância de Olivar Cunha e eu, especialista em seringueira (Hevea brasiliensis) na extinta Superintendência da Borracha (Sudhevea), um dos órgãos federais absorvidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), verificou que a árvore estava se recuperando do ferimento, embora muito lentamente, e em razão disso posicionou-se contrário ao abate. 

Então, solicitou ao repórter Antônio de Pádua, da Rede Globo, que gravasse com ele uma matéria junto à Seringueira para dar sua opinião sobre o caso. “É claro que pesou na minha decisão todo o histórico da nossa infância brincando em volta daquela árvore: Olivar, João, Chico e eu” – disse, referindo-se aos meus irmãos Olivar Cunha e os gêmeos Francisco e João. Conclusão: a Rede Globo e Luiz Façanha salvaram a Seringueira. 

Tombei-a no romance A CASA AMARELA, no qual ela se torna personagem e assume sentimentos humanos. Quando o protagonista, Alexandre Picanço Cardoso, é assassinado nos porões da Fortaleza de São José de Macapá, a Seringueira verte látex e suas folhas se agitam, mesmo sem vento. 

Atualmente, a Seringueira está à espera de um vereador que apresente um projeto de seu tombamento, pois está ligada à história de um dos maiores pintores expressionistas do país, Olivar Cunha, e vem sendo agredida, servindo, seu tronco, com o ferimento já sarado, de lixeira. 

Quanto a Macapá, na época em que a nação Tucuju ainda a habitava, em 1544, Carlos V de Espanha a chamou de Adelantado de Nueva Andaluzia e a deu ao navegador Francisco de Orellana. Em 1738, onde, hoje, é a antiga Praça São Sebastião, atual Veiga Cabral, foi instalado um destacamento militar. Em 4 de fevereiro de 1758, o capitão-general do Estado do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, fundou a Vila de São José de Macapá. 

A cidade, seccionada pela Linha Imaginária do Equador, se debruça sobre o maior rio do mundo, o Amazonas, não muito distante do Atlântico. Na maré alta, o gigante avança sobre a cidade, entre o açoite do vento e o muro de arrimo, onde estaca, recua e arremete com mais ímpeto. Em meio à agitação, o Trapiche Eliezer Levy emerge, indiferente. 

Entre as cidades que amo, Macapá é como a mulher que desejamos por muito tempo e que, inesperadamente, está diante de nós, nua. É sempre uma surpresa, seguida de deslumbramento e entrega total. Macapá emerge do rio como uma miragem, e só acredito que estou nela quando a cidade me engole. Entro no santuário, despido de todas as feridas, mergulho em um mundo prenhe de jasmineiros que choram nas noites tórridas, merengue, mulheres que recendem a maresia no embalar de uma rede no rio da tarde, tacacá, Cerpinha, e lhe oferto rosas, pedras preciosas, luz, toda a minha riqueza. 

Nesse mergulho insano sempre me perco em ti, Macapá, e sempre de propósito, em uma vertigem da qual só me recupero em Brasília, dias depois. As viagens que fazemos no coração são vertiginosas demais para o pobre corpo. 

A casa da minha infância, cada palavra que garimpei em madrugadas eternas, cada gota de álcool com que encharquei meus nervos, cada mulher que amei nos meus trêmulos primeiros versos, cada busca do éter, nas noites alagadas de aguardente, o jardim da casa da Leila, no Igarapé das Mulheres, o Elesbão, a casa da Myrta Graciete, a casa do poeta Isnard Brandão Lima Filho, na Rua Mário Cruz, o Macapá Hotel, o Trapiche Eliezer Levy, pulsam para sempre no meu coração, que enterrei na Casa Amarela. 

Macapá, amor da minha vida, tudo o que posso te dar é o rubi que há no meu peito e que sempre foi teu.