domingo, 15 de maio de 2022

Minha namorada

RAY CUNHA 

BRASÍLIA, 15 DE MAIO DE 2022 – Quinze de maio de 1988 foi um domingo como hoje, ensolarado. Naquele dia, há 34 anos, comecei a namorar minha gata, Josiane Souza Moreira Cunha. Ela tinha 19 anos. É a cafuza mais linda que já vi na galáxia. Pode ser que em outra galáxia haja uma ainda mais charmosa, mas não na Via Láctea. Eu já ia pelos 33 anos; 19 anos só de álcool, 17 do meu batismo de fogo como escritor e 13 de jornalismo – um gato escaldado. E ela, uma ninfeta. 

Naquele dia, levei-a para ver O Último Imperador da China, de Bernardo Bertolucci, no Cine Márcia, um cinema antigo, enorme, que havia no Conjunto Nacional. Naquela noite, embarquei na nave da gata e nunca mais paramos de viajar, de nos beijar, de namorar. Só não saímos ainda da galáxia porque é muito grande. 

Hoje, tomamos café juntos, bem juntinhos, torteletes de morango e o blend que eu preparo, com café gourmet do sul de Minas, encorpado, misturado a um arábica mais torrado. Depois, fomos caminhar no Parque da Cidade, dentro da manhã azul do outono de Brasília. Mais tarde, bem, mais tarde há um mundo de perspectivas para nós dois. Sempre houve. 

Ela e eu vivemos intensamente, porque agora. Nem o passado nem o futuro nos interessa. Curtimos tudo agora. Sempre foi assim. Aqui, no planeta, cavalgamos a luz; as viagens estelares são movidas em velocidade quântica e energia tântrica. 

De modo que é como se nos conhecêssemos agora, sempre agora. Estamos permanentemente em sintonia, nossos espíritos, e nem reparamos nos nossos corpos, a não ser para viajarmos neles para um plano onde só há luz, jardins infinitos, fadas e animais fantásticos. Um mundo como o primeiro beijo.

 

O primeiro beijo que me deste explodiu

Como relâmpago na minha alma

Feriu-me, doce como brisa,

Pétalas pousando no púbis de um anjo

 

Desde então, flor da minha vida,

Voo na tua dimensão

Grávido de ti, como um abismo,

Mulher amada!

 

Segue-me, pois te mostrei quase nada

E tenho a chave dos sonhos

Que conduzem à eternidade

 

À fogueira do nosso amor, minha namorada,

Ao voo vertiginoso

Da luz movida a acme

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