Ray Cunha e Fernando Canto na Linha Imaginária do Equador
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 22 DE MAIO DE 2023 – O Amapá comemora, de 19 a 21 de junho, 70 anos da Academia Amapaense de Letras (AAL), fundada em 21 de junho (nascimento de Machado de Assis) de 1953, graças à influência da Academia Paraense de Letras, na Biblioteca Clemente Mariani do Grêmio Literário e Cívico Rui Barbosa, de alunos do Colégio Amapaense. A posse da diretoria ocorreu no dia 5 de julho de 1953, no antigo Cine Teatro Territorial, anexo ao Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Se hoje a literatura no Amapá é ainda um clube anônimo, imaginem naquela época. A academia não abriu as portas por muito tempo; ficou fechada por 30 anos e só voltou em agosto de 1988. Em 21 de novembro do ano passado, o poeta, contista, ensaísta, compositor e doutor em sociologia Fernando Canto assumiu a presidência do silogeu.
Trata-se do maior ícone cultural do estado, mas é o mais ignorado pelos políticos e pela sociedade amapaense em geral. Não tem sequer um site, muito menos uma sede.
Jamais alguém ouviu um político amapaense dizer que vai fazer uma emenda de 10 milhões de reais exclusivamente para a construção da sede da AAL, para que ela sobreviva como a Academia Brasileira de Letras (ABL), que aluga parte de sua sede, no Rio de Janeiro, e com isso não precisa andar de pires na mão, de gabinete em gabinete. Também nunca se ouviu um megaempresário amapaense dizer que vai desembolsar 500 mil reais para a AAL comprar um terreno e nele construir sua sede.
Macapá já tem uma universidade federal e faculdades de Letras, mas nenhuma jamais criou uma cadeira de literatura da Amazônia, muito menos do Amapá. Também nunca governo algum do Amapá criou uma premiação literária.
Se a Amazônia não aplaude seus escritores, quanto mais o Amapá, que foi, até 13 de setembro de 1943, interior do Pará. Os escritores consagrados da Amazônia fizeram seus nomes no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Os que vivem no Amapá se tornam conhecidos apenas no seu quintal.
Isso acontece por uma razão: Macapá, a capital do Amapá, não dispõe de editora, nem divulgação, nem distribuição de livros em nível nacional. Assim, poucos escritores locais conseguem vender seus livros, caso de Fernando Canto, que já vendeu mil volumes em uma sessão de autógrafos.
Mas, apesar de ser um dos mais lúcidos artistas amapaenses, autor de 16 livros e mais de 100 composições musicais, vencedor do I Concurso de Contos das Universidades do Norte, em 1992, com o conto O Bálsamo, Fernando Canto é recusado pelas livrarias locais, ligadas a redes sediadas em São Paulo.
Saí de Macapá logo depois do lançamento do livro de poemas XARDA MISTURA, de José Edson dos Santos (Joy Edson), José Montoril e eu, em 1972. Eu tinha 17 anos e já sentia na pele a discriminação de ser escritor: Macapá, à época, nem livraria tinha; havia uma papelaria com alguns livros didáticos. Essa situação só melhorou com a internet.
Graças à informática, vou lançar, durante as comemorações da
AAL, meu romance ensaístico JAMBU, publicado nas editoras eletrônicas Clube de Autores, amazon.com.br e amazon.com. JAMBU é um mergulho no Amapá, e na
Amazônia, com pessoas reais conversando com personagens de ficção, e uma
homenagem a dois acadêmicos: a pianista Walkíria Lima, cofundadora da AAL, e o
maior poeta amapaense, Isnard Brandão Lima Filho.
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