Minha gata, Josiane, e eu, tendo ao fundo A Arlesiana, de Vincent van Gogh |
RAY CUNHA
BRASÍLIA, 16 DE JUNHO DE 2024 – Quando nasci, em 1954, Macapá/AP tinha 21 mil habitantes distribuídos em 6.407 quilômetros quadrados, três habitantes por quilômetro quadrado. Não sei se o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) chega à firula de registrar a população na sede do município, mas nos anos 1960, aos 6 anos de idade, lembro-me dos prédios de alvenaria do Centro, principalmente a casa do governador, o Macapá Hotel, o Fórum, o Grupo Escolar Barão do Rio Branco e a primeira metade do Colégio Amapaense.
O subúrbio era um mundo desconhecido para mim, pois nasci na Maternidade do Hospital Geral, na Avenida FAB, e de lá fui para casa, ao lado do Colégio Amapaense, na esquina das ruas Iracema Carvão Nunes com a Eliezer Levy, onde ficava o Aeroporto de Macapá. Nasci e passei os primeiros 11 anos da minha vida no coração de Macapá.
Trata-se de uma cidade facilmente encontrada no mapa, pois está situada na esquina, ou cruzamento, da Linha Imaginária do Equador com o maior rio do mundo, o Amazonas, na sua margem esquerda. Turistas pensam que a baía defronte a Macapá é o oceano Atlântico. Quanto à Linha do Equador, secciona a cidade. No Marco Zero, turistas gostam de passar de um hemisfério para o outro.
Também como ribeirinho, aos 13 anos de idade fugi de casa para acompanhar uns vizinhos (na época, eu morava na Avenida Ataíde Teive, entre as ruas Leopoldo Machado e Hamilton Silva) em uma pescaria no rio Matapi. Pegamos algumas centenas de quilos de peixe e eu levei para casa uns 10 quilos, para agradar minha mãe, minha rainha, Marina. Pensei que ela estaria bravíssima comigo, mas ficou imensamente aliviada quando me reviu.
Aos 14 anos, passei uns dias na ilha do pai do José Montoril, que participou comigo, e com o Joy Edson (José Edson dos Santos), do livro de poemas XARDA MISTURADA. Na ilha, no arquipélago do Marajó, participei de uma caçada a porcos domésticos que ficaram selvagens e de pescaria com timbó. Uma vez, deixei o anzol armado no trapiche e fisguei uma arraia, que foi apreciada no prato. Comi jacuraru, um tipo de camaleão, comum no Marajó; soiá, um tipo de rato do mato; e quandu, porco espinho. Ainda, zanzei bastante de barco e navio entre Macapá, Belém, Santarém e Manaus.
Esta introdução é para justificar que sou ribeirinho. Bem que eu poderia começar esta crônica assim: meu querido diário. Mas achei que seria melhor primeiro esclarecer o título. Na verdade, moro atualmente em Brasília/DF, mas jamais deixarei de ser macapaense, pois nasci e fui educado em Macapá. Simples assim.
Sou da geração de escritores que teve como guru o poeta Isnard Brandão Lima Filho, e foi influenciada por outros artistas, como Alcy Araújo e Raimundo Peixe. Naquela época, em que as comunicações andavam de carroça, era chique ser comunista. Hoje, sabe-se que o comunismo é a pior máfia que existe, organisadíssima, a ponto de tomar conta de regiões inteiras do mundo, como aconteceu com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) no leste europeu, e, vizinhas a nós, Cuba e Venezuela.
Até hoje, quando, com determinação e paciência, temos a oportunidade de pesquisar, refletir e chegar à verdade histórica e consciência moral, ainda há os fãs de Fidel Castro, Che Guevara e Lule. Sou conservador, daí que a academia e a mídia de Macapá, progressistas até a medula, lavaram meu nome com thinner. Contudo, após uma década e meia trabalhando como repórter, redator e editor nos maiores jornais da Amazônia e sete romances, dois livros de contos e um de poemas publicados, meu nome não foi registrado com tinta, mas esculpido.
Se não vendo livros em Macapá, vendo-os no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e para alguns brasileiros ou falantes de língua portuguesa na Europa. Antes da internet, escritores só se tornavam conhecidos quando dominavam marketing tipo Paulo Coelho. Agora, com editoras virtuais como a Amazon e Clube de Autores, não só temos o potencial de sermos lidos em qualquer ponto do planeta, como também de vender. A qualidade do que escrevemos, é claro, é que faz toda a diferença.
Dito isso, esse diário, para ser franco, abarca mais de um dia, mas, como sou escritor, e escritores podem muito no mundo da criação, vou abarcar mais de um dia. No Dia dos Namorados, almocei, com minha gata, Josiane, na Pães e Vinhos, a melhor, na minha opinião, cafeteria, e também restaurante, do Sudoeste, bairro onde moro, em Brasília. À noite, fomos à palestra Marido e Mulher Eternos Namorados!, pelo preletor da Seicho-No-Ie, Gilberto Lima Jr. Extraordinária! Quando saímos do templo da Seicho-No-Ie fomos novamente a Pães e Vinhos, bater papo e bebericar.
Após mais de 40 anos de bebedeira pesada e um infarto, parei de beber, mas não resisti e degustei três Cerpinhas enevoadas. Cerpinha é a melhor cerveja do planeta; paraense. O papo com minha gata foi longe. Adoro conversar com ela. É brilhante. Minha luz!
Ontem, tivemos mais uma reunião de criação da Abrajet/DF. A Abrajet é a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Nossa reunião foi na casa da jornalista e empresária Wera Rakowitsch, sob o comando do jornalista e pioneiro Wílon Wander Lopes. Assinamos os documentos exigidos pelo cartório e em breve teremos a Abrajet/DF.
Como estamos em Brasília, nossa pauta será local e nacional. Quanto à distrital, nunca tivemos política de turismo. O Teatro Nacional Claudio Santoro, que reputo um dos mais belos do mundo, é um três por quatro da política de turismo do DF: está ruindo. Sobre a pauta nacional, temos a legalização do jogo de azar. É claro que é fundamental que isso ocorra em plena democracia. Atualmente, não dá.
Até outro dia, meu querido diário!
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