segunda-feira, 12 de junho de 2023

Os 70 anos da Academia Amapaense de Letras serão comemorados com palestras e lançamento de livros dos escritores Leão Zagury e Ray Cunha

BRASÍLIA, 12 DE JUNHO DE 2023 – O Amapá comemora os 70 anos da Academia Amapaense de Letras (AAL), fundada em 21 de junho, com palestras e lançamento de livros dos escritores Leão Zagury e Ray Cunha, a partir das 18 horas de terça-feira 20, no auditório do Senac, na Avenida Henrique Galúcio 1999, Centro. 

Leão Zagury autografará o volume de memórias É Assim que Eu Conto (Editora Jaguatirica, 283 páginas), reminiscências de um garoto judeu em Macapá, a capital do Amapá, que tem a singularidade de se debruçar para o Canal do Norte do maior rio do mundo, o Amazonas, seccionada pela Linha Imaginária do Equador. 

– Minha trajetória foi marcada por uma sucessão de histórias que contei para amigos. Provoquei risos e lágrimas. Resolvi fazer parecer mentiras as verdades que vivi – diz Leão Zagury. 

Natural da vizinha Belém do Pará, Leão Zagury passou a infância em Macapá. Vive no Rio de Janeiro. Mestre em Endocrinologia, presidiu a Academia de Medicina do Rio de Janeiro e foi fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. Autor de Diabetes sem Medo, O Menino e o Macaco Caco e O Jacaré que Comeu a Noite, conquistou o primeiro lugar no concurso de poemas e segundo no de contos da Academia Brasileira de Médicos Escritores, em 2016. 

Ray Cunha autografará o romance ensaístico JAMBU (Clube de Autores, 190 páginas, 50 reais). Para chegarem a tempo ao evento, os livros já foram despachados pelos Correios, em São Paulo, via Sedex, para Macapá, pela Editora Clube de Autores. 

A trama de JAMBU se desenrola durante o Festival de Gastronomia do Pará e Amapá, no monumental Hotel Caranã, no bairro do Pacoval, em Macapá. É julho, mês de férias de verão na Amazônia. Enquanto o Festival Gastronômico do Pará e Amapá revela ao mundo a cozinha mais saborosa do planeta, o oceanógrafo, arqueólogo, taxidermista e jornalista João do Bailique, editor da revista Trópico Úmido e que trabalha numa edição especial sobre a Hileia, juntamente com sua esposa, a chefe de cozinha e oceanógrafa Danielle Silvestre Castro, dona do Hotel Caranã, investiga também o tráfico de crianças e mulheres para escravidão sexual. Ambos estão à caça do traficante de crianças e de grude de gurijuba Jules Adolphe Lunier. 

Nos salões do Hotel Caranã são servidos pratos da mais saborosa culinária do planeta: a paraense. Personagens de ficção misturam-se a personagens reais, vivas e mortas, como o pintor amapaense Olivar Cunha, que decora o cenário do Festival de Gastronomia do Pará e Amapá; o compositor paraense Waldemar Henrique; o filósofo japonês Masaharu Taniguchi; o escritor, astrofísico e médium Laércio Fonseca; o escritor, psicanalista e acupunturista Jorge Bessa; os jornalistas Walmir Botelho e Carlos Mendes; a cantora lírica Carmen Monarcha; a pianista Walkíria Ferreira Lima, cofundadora da Academia Amapaense de Letras, e seu filho, o poeta Isnard Brandão Lima Filho, também acadêmico. 

Macapá é uma das cidades mais emblemáticas da Amazônia. Encravada na beira do Rio Amazonas, a Fortaleza de São José de Macapá, maior forte colonial português, é a tradução perfeita da cidade, pois foi construída por escravos – negros e índios –, debaixo do látego do colonizador português, o cadinho no qual se forjou a etnia macapaense. 

Os portugueses cruzaram com africanos e geraram mulatos, e fornicaram com os índios, formando uma população de mamelucos; os africanos fundaram os bairros do Curiaú e do Laguinho, misturaram-se com os índios e legaram cafuzos; e mulatos, cafuzos e mamelucos misturaram-se, fechando o círculo, numa diversidade étnica viva nas ruas de Macapá, nas nuanças de peles que vão do alabastro ao ébano, passando pelo bronze e jambo maduro, unidos pelo sotaque caboco: a fusão do português falado em Lisboa, doces palavras tupis, línguas africanas, patoá das Guianas, tudo triturado em corruptela. 

Nesse cadinho étnico, o jambu é a erva que melhor sintetiza a Amazônia. Os amazônidas, sedados pelo sol equatorial, que, apesar dos 100% de umidade relativa do ar, esturrica tudo, e acossados pela grande floresta, microrganismos, insetos e animais peçonhentos, agem como as papilas gustativas entorpecidas por espilantol, presente no jambu, principalmente na sua flor: anestesiados, baixam a cabeça e se entregam aos seus carrascos, especialmente os políticos, que, independentemente de serem da própria terra, ou de fora, são inclementes como os antigos ibéricos. 

Os políticos uniram-se a um tipo de empresário escravocrata e que adora dinheiro, e passaram a gerir a senzala sem paredes, ampliando a Fortaleza de São José de Macapá a ventre da besta. A Amazônia está sempre coalhada de colonos e aventureiros, tecnocratas de Brasília, políticos, narcotraficantes, sequiosos em negociar até a última árvore, a última pedra preciosa e todas as mulheres e crianças que puderem. 

Nesse cenário, do suplício imposto pelos ibéricos, da morte decretada pelos microrganismos e o assalto e o desprezo perpetrado pelos políticos, os macapaenses se tornaram símbolo de um tempo antigo, persistente, de espanhóis e portugueses, colonos e colonizados, o drama que perpassa a Ibero-América, a tragédia da Amazônia, alicerçado pela crença de que os colonos são deuses e os colonizados, seres inferiores, que existem para servir aos sangues-azuis. 

Para os colonos, a Amazônia só serve para três fins: construção de hidrelétricas; extração de madeira e mineral; e reserva de caça, pesca e escravos, especialmente para a triste realidade de crianças e mulheres, que, diferentemente do mito das amazonas, são criaturas fracas, subjugadas, escravas compradas à base de comida, de uma boneca, de uma balinha. 

Em JAMBU, a Amazônia fica literalmente nua. Todas as questões que vêm sendo discutidas em torno da grande floresta são dissecadas, inclusive à indagação cada vez mais frequente: a Amazônia é mesmo do Brasil?

É nesse cenário que a Academia Amapaense de Letras se legitima como a instituição cultural mais importante do Estado, já que está nas mãos dos seus membros zelar pela literatura, ensaística, de ficção e poética, que se produz no Setentrião, colocá-la à disposição dos estudantes e pesquisadores, e estimular a produção literária, pois é nos livros que a raça humana registra sua história, sua tecnologia e avança no seu conhecimento filosófico e espiritual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário