quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Macron quer que os europeus plantem mais soja e menos uva. Obsedado pela Amazônia, estará pensando em ampliar a Guiana Francesa?

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 13 DE JANEIRO DE 2021 – O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a atacar o Brasil. Afirmou que agricultores brasileiros estão desmatando a Amazônia para plantar soja e defendeu que os países da Europa plantem soja para não ter que comprar a oleaginosa brasileira. No Twitter, afirmou: “Continuar a depender da soja brasileira seria endossar o desmatamento da Amazônia. Somos consistentes com as nossas ambições ecológicas, lutamos para produzir soja na Europa!” 

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) rebateu logo: a soja produzida no bioma amazônico do Brasil é livre de desmatamento desde 2008, graças à Moratória da Soja, pacto ambiental entre as entidades representativas dos produtores de soja no Brasil, ongs ambientais e o governo, prevendo a adoção de medidas contra o desmatamento na Amazônia, que proíbem a compra de soja proveniente de áreas recém desmatadas na região. Em maio de 2016 a Moratória foi renovada indefinidamente. 

A Moratória, reconhecida internacionalmente, monitora, identifica e bloqueia a aquisição da soja produzida em área desmatada na Amazônia, impedindo a exportação de soja de área desmatada para mercados externos. Para a Abiove, Macron está apenas querendo puxar a brasa para sua sardinha: “A Abiove lamenta que o presidente da França, Emmanuel Macron, busque justificar sua decisão de subsidiar os agricultores franceses atacando a soja brasileira” – disparou. 

Hoje, o vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia, um dos generais brasileiros que mais conhecem a Amazônia, rebateu Macron. Explicou que a produção agrícola da Região Amazônica é “ínfima” e que o presidente francês “externou interesses protecionistas dos agricultores franceses”. Com efeito, bem que os amazônidas poderiam plantar mais. Parte dos produtos agrícolas que abastecem os supermercados e verdurões das grandes cidades da Amazônia segue de São Paulo.

Talvez para manter o clima francês da reclamação de Macron, Mourão começou a falar em francês. “Monsieur Macron? Monsieur Macron ne pas bien. Monsieur Macron desconhece a produção de soja no Brasil. Nossa produção de soja é feita no cerrado ou no sul do país. A produção agrícola na Amazônia é ínfima”. 

Mourão voltou a informar que os agricultores brasileiros utilizam menos de 8% do território brasileiro, enquanto a França utiliza mais de 60%. Para Mourão, a França não tem a menor condição de competir com o Brasil na agricultura: “Neste aspecto, na questão da produção agrícola, damos de 10 a zero neles, franceses”. 

Com efeito, francês entende muito de uva, mas agora até o Nordeste está produzindo uva em escala e vinho, inclusive champanhe. O Sul já tem expertise. 

Ainda Mourão: “Nada mais, nada menos, Macron externou interesses protecionistas dos agricultores franceses; faz parte do jogo político”. Para o vice-presidente, Macron não deverá influenciar outros líderes mundiais: “Acho que foi discurso interno”. 

O fato é que Macron não quer que a União Europeia faça acordo com o Mercosul, e aí martela a tecla do desmatamento. Mas não sei como a Europa, que não tem mais o que desmatar, vai produzir soja. Só no ano passado a França comprou do Brasil 27,1 milhões de dólares de soja 544 milhões de dólares de farelo, total de 1,983 bilhão de dólares. Fora a soja brasileira que a França pega em portos da Espanha e dos Países Baixos. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, cerca de 20% das exportações para a União Europeia são de soja e farelo do Brasil. 

Mas por que será que Macron não planta soja na Guiana Francesa, a última colônia europeia na Amazônia? 

Após o histórico discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 24 de setembro de 2019, esclarecendo que a Amazônia não está à venda e que o Brasil não é a casa da mãe Joana, Macron, com aquele seu jeitinho de garoto perdido da mãe, citou a Amazônia como cavalo de uma “batalha essencial para reduzir a emissão de carbono”, ignorando solenemente que os europeus arrasaram suas florestas e que mais da metade do território francês é usado para a agricultura, enquanto que o Brasil só utiliza para isso menos de 8% do seu território e que a maior parte da Hileia está conservada. 

Macron se especializou em acusar os brasileiros de tocar fogo na floresta, insinuando que deveria haver uma intervenção dos países hegemônicos na região. 

Bolsonaro afirmou que “é uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a Amazônia, a nossa floresta, é o pulmão do mundo; valendo-se dessas falácias um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa e com espírito colonialista. Questionaram aquilo que nos é mais sagrado, a nossa soberania”. 

Macron, que dispõe da bomba atômica e de colônia na Amazônia, a Guiana Francesa, esperneia. 

Sente-se, nas entrelinhas do que diz Macron, para a mídia que come nas mãos dos comunistas, a arrogância do colonizador. A França é um dos países que mais sofrimento infringiu, e continua infringindo, nas suas colônias, especialmente na África. Na América do Sul, sua colônia é cinicamente chamada de departamento ultramarino, mas é refém das políticas da União Europeia em um continente estranho à Europa. 

A verdade é que a Guiana Francesa é governada pela França em regime colonialista linha-dura, obrigada a exportar 70% de seus recursos naturais – especialmente minérios – para a França e importar 90% de todos os bens de consumo da metrópole, segundo o secretário de relações internacionais da União dos Trabalhadores da Guiana Francesa, Jean-Michel Aupoint, que luta pela independência da Guiana Francesa. Rafael Pindard, do Movimento de Descolonização e Emancipação Social da Guiana Francesa, afirma que os guianenses não têm o direito de utilizar os recursos naturais e a terra sem pedir autorização ao governo francês. 

A França mantém várias colônias mundo afora, mas a Guiana Francesa é estratégica, por três motivos: é lá que a França mantém uma das maiores bases de lançamento de foguetes da União Europeia; a França mantém na região um aparato militar capaz de rápida e eficiente intervenção na Amazônia; e tem acesso a recursos naturais inimagináveis, muito dos quais ainda intocados. O que os guianenses recebem em troca disso é quase nada. 

A França governa a Guiana Francesa com mão de ferro, com total controle político e militar. Não interessa à França munir a colônia com infraestrutura, nem desenvolvimento; interessa manter sua população em casa, com bastante enlatados para comer e euro para comprar cachaça. Esqueçam saúde e educação. Segundo Aupoint, o interior da colônia está abandonado. 

Mas ninguém é besta de sair falando por aí sobre a situação dos guianenses. A repressão francesa é famosa. Basta um rápido olhar sobre a Argélia, por exemplo. Assim, o estado francês desestimula qualquer movimento de independência da última colônia europeia na América do Sul. 

A Guiana Francesa é colônia, ou casa da mãe Joana da França, há mais de 400 anos. Ocupada originalmente por índios aruaques, a região já foi explorada por ingleses, holandeses, espanhóis e portugueses, até ser reivindicada para a França por Daniel de La Touche, o mesmo que fundou São Luís do Maranhão. De 1852 até 1938, foi um dos presídios mais degradantes do mundo; os franceses enviaram para lá, para morrer, cerca de 80 mil presos. 

Durante muito tempo, a França ambicionou o atual estado do Amapá, chegando, inclusive, a invadir o território, então pertencente ao atual estado do Pará. 

A maior parte da população é descendente de escravos e indígenas. A taxa de desemprego é de 22% e a expectativa de vida é de 58 anos. Cerca de 40% das crianças vivem abaixo da linha de pobreza. A violência também é explosiva. Uma rápida pesquisa em sites de instituições internacionais confirmam esses dados. 

A ONU é cheia de falácias: “Todos os povos têm o direito inalienável à liberdade absoluta, ao exercício de sua soberania e à integridade de seu território nacional. Proclama-se solenemente a necessidade de pôr fim rápido e incondicional ao colonialismo em todas as suas formas e manifestações” – diz trecho da Carta de Concessão à Independência aos Países e Povos Coloniais da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1960.

Hoje, mais de 61 países ainda são colônias: 16 da França, 15 da Grã-Bretanha, 14 dos Estados Unidos, seis da Austrália, três da Nova Zelândia, três da Noruega, dois da Dinamarca e dois da Holanda. A China, por exemplo, tem outras tantas colônias. Mas é mais negócio para muitas dessas colônias continuarem comendo nas mãos dos colonizadores porque suas economias não têm potencial para prosperar. Será esse o caso da Guiana Francesa?

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