segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Viagem sentimental a Belém e a Manaus

Belém, capital da Amazônia Oriental, e Manaus, capital da Amazônia Ocidental, são as cidades mais cosmopolitas da Hileia, as metrópoles do Trópico Úmido, as mais feéricas e requintadas da mais bela e fantástica província da Terra.

Santa Maria de Belém do Grão-Pará, Cidade das Mangueiras, Cidade Morena, Portal da Amazônia, foi fundada em 12 de janeiro de 1616, pelo capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco, incumbido pela coroa portuguesa de conquistar e colonizar o mundo das águas, que tem como maiores tributários, ao norte, o rio Amazonas, Mar Doce, que despeja pelo menos um quinto da água doce do planeta, até 600 mil metros cúbicos de água por segundo, na Amazônia Azul, e, ao sul, a baía do Marajó, alimentada principalmente pelo rio Tocantins. No meio do Mar Doce emerge o arquipélago flúvio-marítimo do Marajó, divina obra da natureza.

O militar português acampou numa península habitada pelos índios tupinambás, à margem direita da foz do rio Guamá, que deságua na baía do Guajará, alimentada, por sua vez, pelos rios Tocantins e Pará. Naquele sítio, Francisco Caldeira Castelo Branco ergueu o Forte do Presépio, marco inicial da cidade, uma jóia arquitetônica colonial. Do forte, caminhando para leste sobre os paralelepípedos da primeira rua da cidade, chega-se ao Ver-O-Peso, a maior feira da Amazônia, um mundo de peixes, frutas, cheiros, sensações, debruçado para o rio e o horizonte que se abre para o Caribe, no Atlântico norte. Belém é uma cidade portuária e portuguesa, a mais portuguesa da Amazônia, e também caribenha. Cidade peninsular, península que avança no mundo das águas, Belém é o porto de chegada e de partida para dentro da Amazônia, e da Amazônia para todos os lugares do mundo.

Além dos portos, a bela e sensual cidade cabana conta, também, com o Aeroporto Internacional de Val-de-Cães, bem como a BR-010, que a liga com Brasília, a capital da República, a Ilha da Fantasia, distante 2.120 quilômetros. Ao entardecer, se estamos na Estação das Docas, navegando no rio da tarde, mergulhamos na mornidão até emergir no azul escuro do anoitecer, no lento nascer das estrelas. Sentimos o perfume de uma mulher que transita por ali, no seu vestido de seda estampada e seus segredos de mulher bonita. No fim da tarde podemos também tomar tacacá na banca do Colégio Nossa Senhora de Nazaré, observando as mulheres que trotam no calçadão, e que são as mais belas do mundo, por razões as quais somente quem entende Belém poderá compreender.

Belém pode ser contida numa cuia de tacacá, numa tigela de açaí, num suco de taperebá, num sorvete de tapioca, na palavra mano, que é o mesmo que dizer querido, sussurrada por uma belenense. Belém está contida numa rede, numa noite prenhe de jasmim, no Círio de Nossa Senhora de Nazaré, numa prece.

Dentre os povos que habitavam o rio Negro, à margem do qual Manaus emergiu da selva, três se destacaram porque fizeram frente à espada do português conquistador: os manáos, os barés e os tarumãs. Os manáos bateram-se contra os portugueses valentemente, mas os conquistadores vieram para ficar, e ficaram. Em 1639, Pedro Teixeira tomou posse do rio Amazonas, o Mar Doce, em toda a extensão do gigante. Em 24 de outubro de 1669, foi construída a Fortaleza de São José do Rio Negro, para assegurar aqueles domínios à Coroa Portuguesa. Ao redor do forte, surgiu o povoado de São José da Barra do Rio Negro, hoje, Manaus.

No século XVII, os portugueses mataram cerca de 2 milhões de índios, somente na região do rio Negro. Os manáos, liderados por Ajuricaba, resistiram o quanto puderam. Por fim, segundo a lenda, Ajuricaba se suicidou se jogando, acorrentado, no rio Negro. Não queria cair, vivo, nas mãos dos guerreiros brancos. 

Em 1848, a Vila da Barra é elevada à categoria de cidade, ainda com o nome de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, e, em 1850, torna-se a capital da nova Província do Amazonas. Em 1874, chega a Manaus o navio Mallard, iniciando o ciclo de navegação entre Manaus e portos da Europa. A borracha começa a tornar Belém e Manaus as cidades mais ricas do país. Em 1856, Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro adota o nome de Manáos.

Em 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, morre o Império e é proclamada a República Federativa do Brasil. A Província do Amazonas passa a ser Estado do Amazonas. A borracha é cada vez mais exportada e Manaus recebe levas de nordestinos e brasileiros de outras regiões, portugueses, franceses, ingleses, italianos, espanhóis, gregos e judeus.

Entre 1890 e 1910, fase áurea da borracha, Manaus conta com bondes elétricos, telefonia, eletricidade, água encanada e porto flutuante, que recebe navios dos mais variados calados e diversas bandeiras. Em 1900, com 20 mil habitantes, as vias de Manaus eram urbanizadas, e contava com praças, jardins, fontes, monumentos, o belo Teatro Amazonas, cassinos, hotéis, bancos e palácios. Em 1910 começa o declínio do mercado da borracha amazônica e a lenta agonia econômica de Manaus e de Belém.

Na segunda metade do século XX, a cidade se recuperou, abrigando uma zona franca e parque industrial. Hoje, além do porto, que recebe grandes navios, a cidade conta com o moderno Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e com a BR-174, a Manaus-Boa Vista, que a liga à América Central.

Bela, feérica, rica, Manaus é como Belém, um relicário de pedras preciosas, que se guarda no coração. O frufru de seda numa noite de gala no Teatro Amazonas, os segredos que as cunhantãs guardam na sua beleza estonteante, o anoitecer em Manaus, tudo isso contém a cidade, e só então podemos captá-la plenamente além dos sentidos.

Chove copiosamente, dias a fio, aguaceiros que desabam como dilúvios, tempestades que escurecem o céu, de dezembro a maio. Em junho, começa a estiagem, que dura até novembro, quando as chuvas voltam com abundância. De madrugada, a temperatura é amena, em torno de 25 graus centígrados, mas no início da tarde chega aos 40 graus, facilmente, à sombra, e a umidade relativa do ar é quase de 100%.

Cada cidade tem seus segredos, e cada cidadão tem seus segredos com a cidade. Se a ama, sabe quando e como procurá-la, sente sua respiração, ausculta seu coração, extrai dela os sabores mais preciosos. Nos shoppings, essas catedrais pós-modernas, tudo o que a urbe pode oferecer está ali, no conforto refrigerado das praças de alimentação, nos cafés, nas livrarias, nos corredores, nos bancos dos átrios.

Nas avenidas, a vida das duas grandes cidades da Hiléia pulsa e se impõe a cada um dos seus habitantes e aos visitantes, muitos dos quais imersos na fantasia do exotismo. E nesse santuário em chamas, as rosas colombianas, as amazônidas, perfumam a vida para sempre.

Um comentário:

  1. O meu Pai é de Belém, Tupinanbá,
    meu avô do Acre nascido no Ceará,
    meu tataravô Portugûes, de trás dos Montes.

    Sou Tupinanbá de Belém do Pará.

    AmaZônida da Baia do Guajará.

    Amo AmaZônia
    quero te penetrar pelo Xingu
    gosar em Marabá
    sentir teu calor
    suar com Voçê.

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