sábado, 8 de janeiro de 2011

Acme

Em movimento imperceptível, como estrelas nascendo, pouso o olhar nas penugens do teu corpo. Durante muito tempo meu olhar permanece imóvel, e agora é navalha te lambendo, avião rasgando o azul do céu de agosto da Amazônia, que, de tão azul, sangra. Meu olhar desliza no dorso imobilizado, e tu suplicas ação, mas meu olhar te lambe pacientemente, até deixar tua pele penugenta úmida de saliva. Tu cheiras a Mateus Rosé e tua pele é alva como jambo maduro. Meus sentidos são nervos expostos enquanto percorro os abismos da mulher amada, tocando-a, lambendo-a, cheirando-a, observando-a, ouvindo seus gemidos, mergulhando cada vez mais na sexta dimensão. Meu olhar é como uma boca. Toco-a e sinto botões desabrocharem instantaneamente. Meu olhar estaciona no teu olhar, que é sorridente e doce, mulher amada. Meus olhos te sugam, avidamente, como bebê faminto. Tentas pegar-me. Mas ainda não deixo. Por enquanto ficarás presa apenas ao meu olhar luxuriante. “Querido!” – tu sussurras, pegando-me na cabeça e me conduzindo para o abismo. Tu lambes teus lábios, e depois voltas a murmurar sons que só as rosas entendem. Lembram música de Debussy, com a sensualidade de Mozart. Os murmúrios flutuam, atravessavam as paredes, e morrem na rua imersa na madrugada. Aqui dentro tudo está mergulhado em perfume, cheiros de madeira e de mar. Faço pressão, com minhas papilas gustativas, numa espécie de pequena uva, até sentir sabor de ostra e de leite da mulher amada, e ouvir, alto, teus gemidos. Ainda te agarrando com as tenazes do meu olhar começo a imaginar tua boca, fera faminta. Tu pareces adormecida, mas estás atenta, à beira da explosão. E como se fora atingida por um fio elétrico desencapado, tu te voltas e me abocanhas. Teus lábios são uma flor carnívora, sem pressa, farejando a presa, degustando néctar, esfregando o rosto no pássaro cativo, hipnotizada, deixando escapar mudos gemidos que morrem na calçada. De vez em quando saboreias o leite misterioso que verto, às gotas, em transe. Então acordo como um leão, pego-te como a uma pluma e volto a mergulhar na sexta dimensão. Lá, encontro a porta que se abre para meu olhar latejante. Ordeno que te mexas, porque meu olhar é uma chicotada no teu ser. E tu cavalgas madrugada adentro, como amazona livre, vento que avança para o horizonte, dançando como sereia recém-capturada, fresca, debatendo-se no convés do iate, entoando gemidos em ré menor, potra cor de jambo, que me cavalga como a um leão.

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