segunda-feira, 1 de junho de 2020

Outono


RAY CUNHA 


BRASÍLIA, 1 DE JUNHO DE 2020 – O outono está lá fora, até 20 de junho. As noites são frias, mas os dias são, quase sempre, ensolarados, embora não haja estudantes nas ruas; eles sumiram em abril, quando a morte, que veio da China, começou a rir. 

Ando pelo apartamento, aliso a lombada dos livros na estante, olho pela janela e vejo na pracinha defronte ao meu bloco alguém de máscara e conduzindo cachorros, e logo depois desaparece. A manhã volta ao silêncio e à solidão. Há angústia nesta espera. O mundo deixou de ser ruidoso e colorido, e não há pessoas caminhando no Parque da Cidade.

Os depravados, que adoram as bacanais diárias, viciados na teta da burra, fazem tudo para assassinar o presidente, que os impedem de devorar os cidadãos. As hienas comem os cidadãos ainda vivos, nem bem eles caem, e, ainda moribundos, vêm os urubus lhes darem bicadas. Querem engolir a democracia do jeito das hienas, que mordem a presa no sexo e no estômago, nas vísceras, enquanto a presa estrebucha.

A democracia é como um animal herbívoro, que, em vez de dentes afiados, são cegos, e em vez de garras contam com cascos. As hienas, e os urubus, estão sempre com fome, como se as bactérias devorassem imediatamente tudo o que lhes caem no ventre; mordem os herbívoros com fúria, rasgando-os do ânus ao umbigo e engolindo, rapidamente, seus intestinos.

As hienas, e os urubus, são comunistas. O que uma, ou um, come, os demais do bando também comem; não ficam sequer ossos. Os ossos são devorados também. Mas aos líderes das hienas, e dos urubus, cabe ficar com os trilhões de reais roubados; aos demais é atirado pão com mortadela.

A quarentena já se estende por dois meses. Assim, com as manadas presas em casa, fica ainda mais fácil assaltar, e devorar as presas a partir do hímen. Furtaram as armas de fogo por meio de decreto, e arrancaram a honra das crianças e das famílias nas escolas, para que, ao dar o bote, os jacarés e as sucuris não errassem a bocada, como em Cuba, onde prostituíram tudo, e na Venezuela, onde se mata na rua, de dia, à vontade.

Assim, o comunismo vai prosperando, até fazer como na União Soviética, onde explodiram até Deus, e na China, onde os prisioneiros mais saudáveis têm seus órgãos retirados e vendidos. Há tanto horror nisso tudo que me pergunto por quanto tempo as hienas, e os urubus, terão que reencarnar e vagar no umbral.

Mas eles não sabem que há luz nas rosas e perfume nos jasmineiros, e que o riso das crianças são naves que levam a Deus. E isso os comunistas não me podem tirar, por mais que me mordam.

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