domingo, 8 de abril de 2012

História maldita


Não sei quando terminarás, ou se terminarás
Sei que começaste ao abandono de uma tarde estrangeira
Quando a esperança quebrou-se como cristal fino
A este medo insinuante.
Começaste sem saída.
Tentarei manter-me vivo e lúcido
Enquanto escrevo esta história curta e angustiante
Tentarei não pensar no abandono
A ansiedade e a angústia que me tomam
Talvez me desesperem
É pena eu ter coração e ser fraco diante de certas cenas.
Às vezes preciso chorar porque o mundo me magoa.
Essas são coisas que acrescentamos num poema
Corrigido e circunspecto.
Enfim, tudo é relativo.
Relativo a este caso estrangeiro.
A eventualidade é um conto fantástico
Dentro da retórica de um judeu-argentino.
Sou um a mais na caravana em desespero
Não tenho mais o sentido das coisas
Dentro de um âmbito de soluções.
Sou um pontito escuro
No porto de chegada.
Ilusão estremunhada
Cansaço num caminho curto.

Do livro Sob o céu nas nuvens, 94 páginas, publicado em 1980, em Belém do Pará, edição do autor, esgotado. Os poemas desse livro foram escritos nos anos 1970. História maldita, por exemplo, foi trabalhado em Buenos Aires, concluído em 9 de outubro de 1974. Eu tinha 20 anos e estava na estrada, como milhões de jovens, em busca de si mesmos. Encerrei essa fase, que iniciara em 1972, aos 17 anos, em 1982, aos 26 anos. Lendo Ernest Hemingway, descobri que aonde quer que vamos, levamos sempre nós mesmos. Assim, Papa me ensinou que o que estamos vendo como problema está em nós mesmos, e nunca nos outros, ou no lugar onde vivemos. Lembro-me que em 1972 estive na casa do teatrólogo Paschoal Carlos Magno, em Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Ele foi uma espécie de guru de jovens artistas. E eu “fugia” de Macapá. Disse-lhe que queria ir para Paris. Ele me perguntou por quê.

- Para escrever um romance – respondi-lhe.

- E por que você não o escreve aqui? – indagou.

Não soube responder, e escrevi o romance A Casa Amarela (Cejup, Belém do Pará, 2005, 158 páginas), 33 anos depois, em Brasília. Ele é Macapá, que guardo no meu coração, como um raio de sol, ao amanhecer, transformando gotas de orvalho numa rosa vermelha em imenso rubi cravejado de diamantes.

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