quinta-feira, 30 de abril de 2015

A eutanásia de cada um de nós

É outono em Brasília, e chove. Tem chovido todos os dias, como se ainda estivéssemos no verão. Os dias amanhecem frios, aquele frio dos trópicos, e entardecem nublados. A cidade é a mesma de sempre, parece que foi bombardeada: ruas esburacadas, calçadas estouradas e mato. O matagal cresce com vigor amazônico, chegando até o passeio público, cobrindo as rotas calçadas e invadindo nossa alma, deixando-nos um travo sutil, ao atingir um nervo exposto do corpo etérico. O ex-governador Agnelo Queiroz, que não logrou reeleger-se, deixou para o sucessor um atoleiro. Até hoje, Rodrigo Rollemberg lembra um pugilista que tomou uma saraivada de jabs e no intervalo entre um round e outro é animado pelo seu staff, que o abana, refresca-lhe a cabeça e lhe dá curtos goles de água. Agnelo, que ficou conhecido como Agnulo, homiziou-se na Argentina, deixando para trás a “cidade mais moderna do mundo” mais sucateada do que nunca.

Brasília é um três por quatro do Brasil, especialmente a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios. A sensação que se tem é a de Alice no País das Maravilhas. Há uma mulher, com nome de homem, Lula Rousseff, cleptomaníaca e megalomaníaca. Não se interessa por milhões de reais, mas por bilhões. Seca facilmente uma garrafa de 51, na intimidade, e exibe, aos capangas, Romanée Conti. É o capo di tutti i capi. A impressão que se tem é de que o povo brasileiro gosta de ser assaltado. Por exemplo: Jeca Sarney, o maior patrimonialista do Brasil, e que inclusive anexou o Amapá ao Maranhão, com a ajuda dos próprios amapaenses, é claro, assalta o país há mais de meio século, da mesma forma que o urubu velho Fidel Castro, e agora o zumbi Hugo Chávez Maduro, chupa o tutano de cubanos e venezuelanos. No Congresso Nacional, os políticos gargalham, nas suas bacanais.

Continuo frequentando o Conjunto Nacional, e a tomar o espresso do Café Doce Café. Robusta. O passa-passa é agora mais agitado e as mulheres ainda mais bonitas. Já notei que as mulheres são sempre mais belas, tão lindas que parecem nuas. Quase toda semana passo na Livraria Saraiva para ler a Veja. Sobre mim, um alto falante toca música americana da atualidade; guinchos. Costumo passar também na Livraria Leitura, onde, com um pouco de sorte, ouvimos até concertos. Nesses meus passeios, folheio livros que ambiciono ler, mas que ainda não chegou o momento de fazê-lo; observo-lhes o número de páginas, leio o início, ou alguma coisa sobre o autor, aprecio a edição como um todo, e fico imaginando como será bom ver um livro de minha autoria em edição tão primorosa. Outro dia, fui premiado com duas descobertas. Lendo o início de O Jardineiro Fiel, de John le Carré, percebi que a literatura classe A é sempre uma teia, e nunca um fio, como o jornalismo. E folheando Na Outra Margem da Memória, autobiografia de Vladimir Nabokov, percebi que o escritor de primeira categoria tem, sempre, um pé na dimensão do espírito.

Frequento também a Escola Nacional de Acupuntura (Enac), uma portinha no Bloco A da 404 Sul, onde faço o curso de Medicina Tradicional Chinesa. Lá, é uma universidade por definição, um centro de debates, um corredor de opiniões. Certa vez, ouvi de alguém que uma pessoa muito doente deve morrer, deixar-se matar, ou matar-se, para não exaurir seus familiares; uma exaltação à teoria de Charles Darwin, contribuindo, assim, para a evolução da humanidade, numa comprovação ao delírio ariano de Adolf Hitler. Mas há sempre as luzes de alguns mestres no corredor, equilibrando as opiniões que resvalam para o caos, como numa dança de yin e yang na espiral.

A propósito, a eutanásia pode significar uma zona de conforto para os que ficam, mas não haveria um propósito em deteriorar-se em cima de uma cama durante anos, dependendo dos outros para tudo? Há mais mistério entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia, como disse William Shakespeare. Creio que haja sempre um propósito em tudo, e que cabe a cada qual descobrir isso; cabe a cada um descobrir sua missão. Talvez o grande entrave de um candidato a terapeuta seja a dimensão física. E esse nó somente será desfeito quando ele descobrir que o plano físico é nada mais do que uma ilusão, semelhante ao mundo virtual do inseparável celular.

Um comentário:

  1. Há mais mistérios entre a cúpula que exaure o Brasil e a URNA ELETRÔNICA - www.vocefiscal.org
    ASOV-Aposentado Solte o Verbo!

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